Todo mundo percebeu

Era tarde de sexta-feira pós aulas, as primas estavam nos jardins, uma falava a mais de cinco minutos seguidos e a outra observava um ponto especifico do jardim carrancuda.

- Ai, o Hugo falou que para mim calar a boca só tinha um caminho: perder a voz...

- Legal – Rose disse sem prestar atenção na prima.

Lily fungou nervosa e prendeu seus dedos no braço de Rose a beliscando.

- Ai! – ela gritou desviando seu olhar da cena que via e encarando a prima – Ficou louca?

- Você não ouviu nada do que eu disse, tava olhando pra... – Lily parou de falar assim que viu um casal que Rose observava.

Scorpius estava sentado debaixo de uma árvore lendo com uma garota loira deitada em seu colo.

- Malfoy arranjou namorada? Que ótimo! – exclamou Lily feliz.

Rose bufou e cruzou os braços.

Elas voltaram a olhar para os dois:

- Scorp to com tédio – a loira disse meio sonolenta.

- Ok! – Scorpius fechou seu livro com cuidado marcando a página que estava lendo e se debruçou encostando seus lábios nos lábios dela num beijo voraz.

- Eca! – gritou a prima mais nova fechando os olhos – Eu podia ter dormido sem essa.

- Isso é repugnante – exclamou Rose nervosa – Sabe esse...esse... – ela apontava para Scorpius tentando achar uma palavra depreciativa – esse...idiota? Ele está sem falar comigo há três semanas, cinco dias e sete horas, e cancelou as aulas particulares do mês de Janeiro, alegando não tinha muita coisa a estudar mesmo e...agora...fica...

- Andando por ai com uma namorada? Devia estar feliz, ele largou do seu pé, está livre desse encosto.

- Eu to super feliz, muito feliz, olha pra mim e veja como estou feliz! – ela gritava raivosa.

- Ok! Mudando de assunto – disse a ruiva tentando fazer Rose acalmar – Amanhã é dia de São Valentim, o que comprou ao Peter?

- O que? Devo comprar alguma coisa? – ela perguntou ainda observando Scorpius beijar a garota, agora, passando a mão por toda barriga dela debaixo da blusa – Ah Merlin! Fazer isso a luz do dia?

- Rose! – Lily voltou a beliscá-la.

- Ai! Caramba Lily! Hoje você está chata, heim?

- Não me diga que você não comprou o presente do Peter do dia dos namorados? – a ruiva perguntou.

- Ah! É amanhã? Eu não comprei. Ah! O que eu faço, Lily? Droga! Como me esqueci disso? – ela passava a mão pelo rosto todo preocupada – O Peter do jeito que é, romântico e perfeito, vai me dar o melhor presente possível e eu? Ah Merlin!

Lily balançou a cabeça negativamente e cruzou os braços:

- Sabe prima, eu vou ser sincera com você, como eu nunca fui na minha modesta vida... – Rose a olhou apreensiva, nunca tinha ouvido a ruiva falar sério dessa maneira – Você não dá o devido valor ao Peter, ele faz tudo pra você, ele é cavaleiro, romântico, ele te deu uma pulseira incrível que você perdeu por sinal...

- Mas eu encontrei! – ela prontamente falou esfregando objeto na cara da prima – Quer dizer o Scorpius...

- EXATO! – Lily gritou assustando Rose – Scorpius...para de falar desse cara, olha só pra ele como é nojento – a ruiva apontou para o casal que continuava o beijo mais devorador da história de Hogwarts.

- Ele fica enfiando a língua na boca dela como se isso fosse...

- PARE DE PENSAR NESSE CARA, DE FALAR NESSE CARA, DE SONHAR COM ESSE CARA!

- Ai Lily, hoje você está perversa. E como sabe que eu sonho com ele?

A prima mais nova bufou e não respondeu.

- Como eu te amo amiga, eu tenho a solução para o presente do Peter que esqueceu de comprar...bom, no Natal eu ia dar um perfume ao Hugo – Lily ficou repentinamente vermelha – Mas ele me disse que se eu ficasse calada ia ser o melhor presente, eu acabei ficando com raiva e não lhe entreguei. Você pode dar o perfume se quiser.

- Ah! – ela abraçou a prima – Obrigada!

- Agora vamos sair daqui? – perguntou Lily olhando com repugnância o casal de loiros que enfim tinham parado de se beijar.

Rose concordou com a cabeça e seguiu a prima para dentro do castelo, mas antes olhou triste para Scorpius que a encarava.

xx

Era inicio da tarde de sábado, vários casais se dirigiam ao grande portão prontos para sair de Hogwarts e passear por Hogsmeade, entre eles um casal especifico andava de braços dados, a moça tinha cabelos castanhos lisos e o rapaz era extremamente alto.

- Vai ser perfeito, passeio a Hogsmeade com parada estratégica na Casa de chá da Madame Puddifoot... – Rose abraçou Peter pela cintura – Já disse que você é o namorado mais perfeito do mundo?

- Hoje não – ele abaixou depositando um beijo nos lábios dela – Eu amei o perfume...

- Ah, jura? – Rose riu nervosa – Achei sua cara quando comprei, eu amei o colar que me deu com um pingente de rosa... Já disse que você é o namorado mais perfeito do mundo?

Peter parou de caminhar e a abraçou pela cintura a erguendo do chão e a beijando como há muito tempo não fazia.

- Eu tava com saudades disso, sabia? – ele disse sussurrando perto do ouvido dela.

Rose não respondeu apenas o abraçou e mordeu seus lábios pensativa.

- Sabia que se tivesse uma eleição de casal mais patético vocês ganhariam?

A voz era de Scorpius, a garota soltou seus braços do pescoço do namorado e voltou ao chão encarando o sonserino com raiva.

- Sabia que se tivesse uma eleição de casal mais falso você e aquela loira ridícula ganhariam? – Rose desdenhou.

- Com raiva Weasley? – Scorpius não deixou de sorrir.

- O que quer Malfoy? – Peter perguntou impedindo Rose de debater.

- Eu to precisando da sua ajuda com as matérias hoje – o loiro disse olhando para a garota e ignorando Peter.

- O que? Achei que não precisasse mais de aulas...

- É, eu também achei, mas preciso de sua ajuda, por favor?

- Hoje não dá, dia dos namorados se não notou – Peter disse abraçando Rose pela cintura.

- É, acho que vou reprovar mesmo, acho que a nossa diretora confiou em pessoas erradas para me ajudar... – ele comentou começando a caminhar para longe do casal.

Rose bufou e virou para o Peter:

- Daqui uma hora e nada mais, ok? – ela ergueu na ponta dos pés e depositou um beijo de leve nos lábios dele.

- Odeio o fato de você ser boazinha demais, sabia?

- Você ama o fato de eu ser boazinha demais – ela sorriu e começou a correr até Scorpius – Espero que o lance dos estudos seja verdade...

Scorpius sorriu e olhou para Rose.

- E eu já menti para você? Venha! – o sonserino a puxou pela mão a arrastando até um ponto deserto dos jardins, debaixo de uma árvore especifica que estava lotada de livros por toda extensão da sombra projetada.

- O que é isso? – Rose perguntou com os olhos brilhando.

- Estudo sobre livros, eu to precisando de novas indicações e você é a melhor para isso.

- Merlin! Você assaltou a biblioteca sem que ninguém tenha notado? – ela gritou sentando-se na grama e pegando uma obra na mão.

- Não, esses são os livros que eu comprei até agora, toda minha surrada coleção.

- É incrível! – Rose exclamou.

Scorpius sentou-se de frente a Rose escolheu um livro qualquer espalhado no chão:

- Melhor livro do Sidney Sheldon?

- Hum... – ela olhou ao redor – Quem tem medo do escuro?

- Jura? – Scorpius levantou a sobrancelhas descrente – É meu preferido também, apesar de muitos odiarem. Ok! Agatha Christie?

- Fácil – Rose riu – O caso dos dez negrinhos.

- Não! Assassinato no expresso do oriente.

- Serio? Você está comparando um clássico da Christie com um livro secundário dela? – Rose falava empolgada.

- Secundário? Hercule Poirot, a única coisa que te digo.

Os dois ficaram discutindo autores e seus livros por um bom tempo, até que a pilha de livros de Scorpius acabou.

- Melhor livro que já leu? – o loiro perguntou para ela interessado.

- Nossa difícil! Acho que vou ficar com um que li recentemente, "O Pequeno Príncipe" – ela respondeu deitando exausta no chão – E você?

Scorpius imitou Rose deitando no chão no extremo oposto que ela, só suas cabeças estavam alinhadas, ele com o corpo para a direita e ela com o corpo para a esquerda.

- O diário de Anne Frank – ele finalmente respondeu.

- Jura? – Rose perguntou surpreendida virando seu rosto para ele – Cadê aquele que achava aquela menina maluca?

- Foi embora junto com aquele da máscara que só cometia vandalismo – ele confessou.

- Eu queria saber o motivo para você gostar tanto de livros, tanto de truques com cartas trouxas, só queria saber...

- Minha mãe – ele confessou – A grande culpada pela melhor parte de mim, ela sempre me desprezou, desde pequeno, tentava me mostrar como os ditos sangues ruins são desprezíveis e inúteis, ai um dia eu fiquei curioso pra ver como os trouxas de fato eram, e andei por um parque situado perto de casa, estava acontecendo um show de mágica trouxa e eu fiquei muito impressionado, o cara conseguia fazer sumir coisas e surgir outras sem varinha. No outro dia eu fui até uma loja e comprei um kit para mágicos iniciantes e comecei a fazer meus truques, do lado da loja tinha uma enorme livraria, lá eu passei boa parte do meu tempo, até os onze anos quando tive que vir para cá, nas férias, lá é praticamente minha casa. Aos dez anos, minha mãe descobriu essa minha paixão secreta e me disse que eu era a maior vergonha da face da Terra. Era manhã de Natal.

Rose mordeu seus lábios e olhou para cima reparando nas nuvens:

- Porque você só é legal comigo? – ela resolveu mudar de assunto.

- Como assim? – ele questionou.

- Semanas atrás, minutos atrás de fato, você estava incomodando o Peter e agora você é totalmente legal comigo.

Ele sorriu, passou os braços envolta de si e fechou os olhos.

- Você não notou? Incomodar o Peter é parte importante para chegarmos aqui e eu ser totalmente legal com você.

- Então era um plano? – ela perguntou mais para si mesma.

- O que?

- Parar com as aulas particulares de repente, começar a namorar aquela loira ridícula e esfregar isso na minha cara?

- Era um plano – ele sorriu ainda mais virando seu rosto para ela que o encarava – O Peter faz seu mundo parar? – ele perguntou de repente.

- Como assim? – ela questionou surpresa.

- Ele mexe com você a tal ponto que nada mais ao redor importa, e seu mundo para?

Ela desviou seu olhar do dele tensa e respondeu:

- Sim... sei lá... – ela voltou a olhá-lo – Tem alguém que faz seu mundo parar?

- Melhor não te responder essa pergunta... – ele sussurrou passando sua mão por todo rosto dela a acariciando.

- Por quê? – ela perguntou, seu peito subia e descia rapidamente.

Eles ouviram palmas e risos sarcásticos ao fundo e se levantaram do chão vendo um rapaz extremamente alto parecendo bastante irritado.

- Peter... – Rose exclamou tentando se aproximar dele.

- Quatro horas Rose, quatros horas já se passaram, o sol já está se pondo praticamente....

- Não exagere – disse Scorpius.

- CALA A BOCA! – Peter urrou virando-se para ele.

Rose olhava para o até então namorado com os olhos marejados.

- Sabe eu realmente, quis fazer a melhor coisa pra você, um passeio romântico a custo de que? Desse cara conseguindo te roubar no dia dos namorados e eu chegar aqui e ver aquela cena? Vocês estavam quase se beijando – ele exclamou raivoso encarando Rose.

- Não exagere – voltou a dizer o sonserino.

Peter se limitou a olhá-lo um segundo e arremessou seu punho de encontro ao queixo de Scorpius.

- Eu disse pra calar a boca!

- Peter! – Rose gritou amedrontada vendo o loiro apalpar seu queixo com sangue saindo de sua boca – Eu sou sua namorada e isso tudo que está fazendo e falando é ridículo – ela dizia chorosa.

- Eu não sou mais seu namorado – ele ergueu os braços no ar se rendendo.

Scorpius começou a olhar a cena com mais atenção.

- O que? – Rose perguntou perplexa.

- Eu tentei fingir que isso não existia, tentei mesmo, mas não sei o que se passava pela minha cabeça – ele balançava a cabeça negando.

- Do que está falando? – a garota voltou a questionar ainda sem entender aonde ele queria chegar.

- Você não quer ficar comigo, Rose! – ele gritou.

- Sim, eu quero!

- Ah, qual é – ele apontou seu dedo para Scorpius – Você está afim desse cara desde que as aulas particulares começaram... – ele voltou seu dedo agora apontando para si mesmo – E eu passei semanas, meses na verdade, tentando, me fazer acreditar que era mentira, que estava tudo bem conosco!

Peter gritava tanto que começou a atrair a atenção de todos ao redor.

- ...Agora eu sei como fui um idiota! Você está afim dele, e ele está afim de você, isso tudo é tão obvio!

- O que é óbvio? Que foi que eu fiz? – Rose sussurrou em meio às lágrimas descendo de seu rosto.

- TODO MUNDO PERCEBEU, ROSE! – ele suspirou cansado – Todo mundo e eu estou exausto...Então vão nessa, fiquem juntos, namorem, não tem nada impedindo vocês agora, pois estou fora!

Ele gritou pela ultima vez se distanciando dos dois. Rose permanecia parada abalada com os últimos acontecimentos.

- O Peter é um babaca – Scorpius sussurrou se aproximando de Rose – Gritando com você, terminando o namoro na frente de todos...O cara é o maior babaca.

Rose o olhou, seus olhos estavam extremamente vermelhos.

- Não, ele não é. Ele tinha razão, em tudo.

Scorpius abriu a boca pronto para falar alguma coisa, mas antes que assim o fizesse Rose começou a correr para dentro do castelo chorando.

- Caminho livre... – ele não deixou de comentar sorrindo.