Enemies do Not Kiss escrita por Yuuki_Cereja, Milky_Potter


Capítulo 7
Room of Requirement


Notas iniciais do capítulo

Não demorei muito não foi?

Enjoy~



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                                    *~ Capítulo VII -  Room of Requirement ~*

Hermione continuou parada, imóvel. Quem estava na sua frente era mesmo quem ela pensara que era? Se fosse, ela teria muito o que explicar. Mas por alguns segundos, eles só se encararam. Ela com a varinha ainda apertada na mão direita por conta do feitiço que ela estava a executar minutos atrás.

Ele segurando a varinha ainda apontando para ela, mas era claro que ele não tinha mais a intenção de atingi-la porque agora seu olhar vagava para algo atrás dela. E que se ela quisesse atacá-lo naquele momento, ele nem perceberia. Mas talvez aquilo só se devesse ao fato de ele confiar demais na ‘’adversária’’. Confiar que ela nunca tentaria nada para machucá-lo.

E com pouca voz, que saiu em um fio um pouco inaudível da boca dela, ela conseguiu balbuciar algo. Seus olhos ainda fixos nos olhos puramente azuis do garoto alto e ruivo a sua frente.

- Ron... você... – Ela dizia mais para convencer a si mesma de que era ele mesmo ali. E para tentar entender.

- O que você estava fazendo? – Perguntou Rony com um pouco de arrogância na voz.

- E-eu... só queria testá-lo... – E apontou para o Armário Semidouro logo atrás dela -  mas o que você está fazendo aqui? – E Hermione perguntou com rispidez a última.

O garoto apenas passou as mãos pela cabeleira ruiva colocando os fios que insistiam em cair por cima dos olhos para trás, suspirando alto, mostrando o quanto odiava aqueles fios.

- Eu? – O Weasley perguntou com ligeira arrogância e um sorriso malicioso como se dissesse ‘’Você não quer saber’’ ou ‘’Tenha medo de mim’’.

A Granger sentiu um medo não existente daquele garoto. Ela nunca havia sentido medo de Ron na vida, ele era sempre tão doce, tão tapado, tão... dependente. E de repente, a voz dele havia ficado mais rouca. Ela não entendeu a princípio, mas depois ficou com uma pontada de dúvida.

- Eu? – Ele tornara a perguntar como se ela não tivesse ouvido. Ele riu. – Eu moro aqui.

Agora ela estava realmente assustada. Não era possível, não podia ser... o que ele quis dizer com ‘’eu moro aqui’’?

E como se fosse para responder a sua pergunta interna, Ron diminuiu uns dois centímetros, mas ainda ficando mais alto que ela. Seus cabelos encurtaram, os olhos se tornaram opacos, frios e tempestuosos mas o sorriso arrogante não deixou seus lábios.

E agora, ela estava realmente chocada. Não olhava mais para um Rony Weasley grosseiro e arrogante. Olhava para um Draco Malfoy, excerto por um pequeno detalhe crucial. Ele estava vestindo o uniforme da Grifinória.

- Malfoy! O que...? Mas como...? – Ela não entendia. Segundos depois, ela clareara a mente e viu que já sabia a resposta para o que ia perguntar. – Poção Polissuco.

- Você demorou um pouco. – E ele suspirou novamente, mas dessa vez guardou a varinha em um bolso nas vestes.

- Por que? – Foi tudo o que conseguiu perguntar. Estava irritada, muito irritada. Com que direito ele, Malfoy, teria de ficar exatamente igual ao seu amado e lhe dar um susto desses?!

- Não sei. Eu estava um pouco entediado, sabe? – Ele riu um pouco, fechou os olhos e murmurou algo que Hermione não conseguiu ouvir. Mas segundos depois, um sofá lustroso coberto por lençóis de seda na cor verde apareceu e quando ele fez menção de ir se deitar, ela se enraiveceu.

Aquela doninha não sabia com quem estava lidando. E uma expressão de puro ódio tomou conta dela. Em um movimento impensado, ela apontou a varinha que ainda tinha em mãos para ele enquanto estava de costas. Claro que era muita covardia atacar um inimigo de costas, mas ela não tinha tempo para ser nobre.

Ela sussurrou ‘’Estupefaça’’ e faíscas vermelhas saíram da ponta da varinha dela e o atingiram em cheio. Em um baque surdo, ele caiu no chão, desacordado. Hermione sorriu vitoriosa. Mas em seguida, a culpa tomou conta dela. Não devia ser tão imprudente!

E correu para ver se ele estava bem. Claro que não estava, estava desacordado, lógico. Então ela com muita dificuldade conseguiu vira-lo de peito para cima e ao apontar a varinha novamente para ele, não  o atacou, mas o fez levitar e deitar graciosamente no sofá.

Agora, a única alternativa restante seria ficar e esperar ele acordar. Tentar se explicar, pedir desculpas, e se não funcionasse, um campo de força em volta dela iria funcionar.

Ela puxou uma almofada ali perto vermelha para o lado do sofá, e se sentou ali. Ficou observando Draco dormir. Bem, não porque ele queria, mas ainda sim... viu uma mecha loura cair sobre o olho esquerdo dele. Rapidamente, levou sua mão a retirar os fios prateados indesejados dali.

Nossa, como eram macios. E a respiração quente dele no seu pulso direito a fez olhar para seu rosto. Ele até que não era feio.E a pele também era macia. E ela se flagrou fazendo um carinho nas maçãs do rosto dele. Não, ele era sim bonito. Por que nunca repara nisso antes?

Devia ser porque todas as vezes que seus olhares se cruzavam vinha uma provocação de qualquer tipo junto. Mas ele não fazia mais isso. Agora, e ela tinha certeza, ele era uma pessoa melhor. Mesmo que ela tenha forçado um pouco ele a aceitar aquela proposta de ‘’namorado de mentira’’. E mais uma vez, ela fazia uma espécie de carinho no rosto dele. E a ponta dos seus dedos, passaram delicadamente pelos lábios dele.

- Que está fazendo? – Ele sussurrou de olhos fechados. Ela imediatamente tirou a mão dali.

- Ahn, nada.

- Nada? – Ele perguntou erguendo uma sobrancelha, e se sentando.

- É. E quanto a... bem, desculpe por isso. Mas entenda, você provocou. E aliás, não disse ainda por que tomou aquela poção Polissuco. – Disse ela, tentando mudar de assunto.

- E você não disse o que estava fazendo com aquele armário. – Ele rebateu, encarando-a com os olhos tempestuosos e ela teve de olhar para outro lado para responder.

- Eu já disse, eram só testes. Queria ver se ainda funcionava. Sua vez.

- Bom, desde que eu disse pra todo mundo que nós estávamos namorando – Ela sentiu uma pontada de possessão na voz dele – Todos tem me procurado, o tempo todo. E eu já cansei disso.

‘’Então eu me aproveito do fato de que o Weasley tá sempre emburrado, e não quer falar com ninguém e me ‘transformo’ nele, só pra ficar sozinho. E sempre, é claro, me certificando de que o verdadeiro está bem longe. Mas como encontrou a Sala Precisa?’’

- Acho que você se esqueceu, de que no quinto ano, Dobby nos mostrou como entrar na Sala para podermos praticar Defesa Contra as Artes das Trevas. E você?

- Do mesmo jeito. – Disse com um olhar cansado.

- Mentiroso. Dobby nunca gostou de servir os Malfoy. – Disse Hermione em tom acusativo. – E por que o faria agora se ele está livre? Quer dizer, estava. Antes de... você sabe.

- Nada que um bom suborno não ajude, e um pouco de gentileza também. É que nunca ninguém soube onde vocês realmente praticavam, e quando ele deu parecer que sabia, só precisei oferecer um dos meus melhores casacos e dizer ‘’por favor’’.

- Você é inacreditável. E agora, eu não me arrependo nenhum pouco de ter estuporado você.

Ela parecia revoltada, mas ele não sabia se era com ele, com Dobby, ou com os dois. Era visível que ela não havia gostado do fato do elfo receber presentes dele. E percebendo que a qualquer momento ela sairia dali, ele falou antes que ela o fizesse.

- Não vai ficar irritadinha agora, vai? Quer dizer que você podia dar a ele gorros, que eram muitos por sinal, a cabeça dele sempre parecia cinco vezes maior do que é, e eu não posso dar um casaco combinando? – Ele riu, de tão ridícula que era essa discussão, e ela percebendo isso, sorriu de leve.

- Então, agora é a minha vez. – Disse Draco, se levantando e segurando firme a varinha na mão direita.

- Vez de quê? – Hermione parecia confusa. Mesmo assim, viu a varinha a cinco centímetros dela no chão, onde deixara para ‘’cuidar’’ de Malfoy.

- Você me estuporou, ninguém nunca me estuporou antes, e agora é a minha vez de me vingar. – Hermione sorriu, achando que era brincadeira, mas a expressão ameaçadora que ele tinha no rosto a fez rever seus conceitos.

- Ahn, Draco... eu sou uma garota. – A Granger esperava que isso surtisse algum tipo de efeito sobre ele, mas não, e quando ele levantou a varinha em sua direção, ela rapidamente pegou a dela e apontou para ele. – Você não é muito cavalheiro sabia?

Ele riu de escárnio.

- Cavalheirismo nunca foi o meu forte. Faço mais o tipo ‘’me provoque e aguente as consequências’’.

Por alguns segundos, os dois em pé, só ficaram se encarando, ainda com a varinha apontada para o outro, até que Malfoy começou a sussurrar um encantamento e ela agiu rápido.

- Expelliarmus! – Disse Hermione, interrompendo o encantamento e fazendo a varinha dele cair longe. – Accio varinha! – E agora a varinha dele voou para a mão livre dela.

A garota sorriu, ele ficou confuso.

- Agora, devolva. – O louro abriu a mão, na intenção de que ela jogasse a varinha, mas ela não o fez.

- Não. Você queria me estuporar, eu não vou devolver. Protego! – Ela fez um escudo para mantê-lo longe, e ele se perguntou o que ela iria fazer pois ele já estava desarmado. – Wingardium Leviosa! – E ela fez a varinha dele flutuar até o teto, onde se prendeu em algo, ficando suspensa por uns seis metros de altura.

- Tudo bem Granger, já mostrou que sabe tanto na prática quanto na teoria, agora dê-me minha varinha.

Não foi um pedido, percebeu ela, mas o que ele pode fazer? Não tem uma varinha pra me ameaçar.     

         

- E o que você vai fazer se eu não der? – E com um aceno da varinha, o escudo se desfez e ela se jogou no sofá ainda observando-o com curiosidade.

- Não devia ter perguntado isso. – Ele estava sério, e ela se deu ao trabalho de perguntar ‘’por que?’’ mas ele nada disse, apenas caminhou em sua direção em passos firmes.

Ele chegou perto dela, a distância de meio metro talvez, e Hermione apertou mais a varinha achando que ele tentaria tomá-la. Mas ele nem olhou para a varinha dela. Depois de ele estar bem perto, ele pode sentir a respiração descompassada dela, e seu hálito fresco.

Ela se sentiu tonta.

- Não me provoque, ainda não me viu com raiva. Minha varinha. – O louro, apesar de estar a centímetros apenas de distancia dos lábios dela, não mostrou que isso provocava algum tipo de reação, ou emoção diferente. Ao contrário dela, que já tinha os lábios entreabertos e olhava fixamente para os lábios dele.

Draco não parece notar, e se notou não se importou nenhum pouco. Ele sorriu de canto.

- De novo: O que você vai fazer? – Ela sussurrou, se encolhendo ainda mais no sofá e sorrindo quase imperceptivelmente.

- Acho que você já sabe, não é? – Draco se aproximou ainda mais da garota, que fechou os olhos esperando o que ela achava que viria a seguir, mas quando roçou seus lábios nos dela, foi para dizer que precisava ir embora e que era melhor ela lhe devolver sua varinha.

Hermione estava sem-graça. Ele não a beijou, e agora ele sabia que ela esperava por isso. E com a desculpa de também ter que ir para revisar alguns assuntos antes de dormir, ela devolveu a varinha dele e saiu, encabulada.

. . .

. . .

Hermione Granger estava frustrada. Correu e se jogou com raiva na cama do dormitório feminino. Por que aquele louro idiota não a havia beijado? E o pior era que ela queria o beijo dele. E agora ele sabia que ela queria beijá-lo. Ele era muito confuso.

Mas então, por que ele a beijara debaixo naquela árvore em Hogsmeade? E não tinha ninguém para nós podermos fingir namorar, refletiu ela. Exceto Pansy Parkinson. Nunca gostou dela, agora era que não a suportava. Bom,talvez Draco a tenha visto de longe e por isso me beijou, para impressioná-la, pensou ela.

Mas uma voz na cabeça dela disse que isso não fazia sentido. E realmente, visto por outro ângulo não fazia. Não tinha como Malfoy vê-la, ele nem sequer havia olhado para trás, e mesmo se tivesse visto, por que iria querer causar ciúmes nela? Quer dizer, a vida toda ela correu atrás dele e ele nunca deu bola. Por que só agora?

Isso também não fazia sentido. Mas também, com Harry e Gina foi exatamente assim. Desde pequena, Gina tem uma paixão platônica por Harry. Ele nunca a correspondeu e, no entanto, no sexto ano, ele começou a reparar nela de forma diferente.

Mas não. Não era nada disso. Draco não era assim. Mas por que ela estava se importando tanto? A vida dele não a importava, ela não dava a mínima para ele. Devia se concentrar nas coisas que eram realmente importantes, como o seu amado ruivo a alguns metros de distância no dormitório masculino.

É, uma hora ou outra, mais cedo ou mais tarde, eles teriam de ter uma conversa séria. Mas ainda não seria agora. Teria de esperar ainda mais algumas semanas. E com os N.I.E.M.s se aproximando... não, tinha de se concentrar no que era importante.

Hermione levantou-se da cama, e foi até a escrivaninha do outro lado do quarto. Estava repleta de livros, tantos dela, quanto de Parvati e Padma Patil, Lilá Brown, e Gina Weasley. É, cada uma tinha a sua montanha de livros em cima da escrivaninha, que se não fosse pelos tantos encantamentos lançados ali, já tinha caído de tanto peso.

Examinou os livros por um tempo. Como já estava tarde, não podia ir à biblioteca pegar um novo, então, procurou algum que ela julgasse ser interessante na pilha de Gina, para se distrair. E acabou achando uns contos dos bruxos em Runa Antiga. Mas a ruiva nem fazia essa aula! De qualquer forma, daria para se distrair.

Deu uma olhada pelo canto do olho para o lado oposto do quarto. No beliche vizinho, dormia Lilá em baixo, Parvati em cima. Mais adiante, dormia Padma em uma cama sozinha. E em cima da cama da Granger, devia estar a cama da ruiva, e estava, mas ela não. Hermione achou que talvez ela estivesse na Sala comunal com Harry, agora que Rony havia ido dormir.

. . .

. . .

- Taylor, não acredito que finalmente tá pronta!

- Você fala como se tivesse sido você a preparar a poção. Desse jeito nem vai parecer que a roub... – Mas a castanha foi impedida de falar o que quer que iria falar por duas mãos finas que lhe tamparam a boca.

- Tá maluca? Fale baixo. Ainda não estamos no dormitório. – Sussurrou Pansy para a colega.

As duas andavam as dez e meia pelos corredores quase chegando a Sala comunal da Sonserina. Olhavam redobradas para todos os lados para se certificarem que não tinha ninguém por perto, tanto ouvindo quanto vendo.

Ouviram pequenos passos. As duas deram um gritinho abafado ao pensarem ser Madame Nora e se apressaram no corredor fazendo pequenos barulhos.

- Ei, desligue essa luz! Estamos tentando dormir! – Dizia um dos quadros da parede se referindo à varinha acesa.

- Menina! Você é surda? – Disse outro quadro vizinho.

Pansy a contragosto apagou a luz da varinha fazendo os quadros calarem a boca e deixando o corredor em um completo breu.

- Peguei vocês. – Disse a voz tão conhecida de forma cruel. Filch.

A Parkinson e a Taylor abafaram os gritos, e saíram depressa do alcance do velho rabugento. Mas ao longe podia-se ouvir as maldições e reclamações que ele lançava a elas, sem realmente saber quem estivera segundos antes ali.

- Voltem aqui! Seus vermes!  - E agora a voz de Filch, o zelador, era só um eco ao longe.

As duas, com dificuldade conseguiram ir apalpando as paredes até chegar a uma parte completamente vazia de quadros. A entrada das masmorras, e então, sussurraram ‘’Lumos’’ e o corredor se iluminou.

Alguns crânios decorativos na parede iluminada pela luz verde que vinha do lago bem acima do teto. Uma parede aparentemente vazia a frente, e elas a atravessaram revelando a sala comunal da Sonserina.

Já não tinha mais ninguém ali, para sorte delas, pois se tivesse alguém elas teriam muito o que explicar. E mais veloz que o vento, elas correram para o dormitório feminino paralisadas de choque de quase terem sido pegas.

. . .

. . .

- Quase, garotas. Mas na próxima eu pego vocês. – Dizia inconformada uma voz no escuro. E Theodoro Nott fechou a mão em punho.

‘’Eu avisei ao Draco, - Pensou Nott – ‘’eu disse que elas estavam armando, mas ele não acredita em mim. Se ao menos o Filch imaginário tivesse pego elas eu teria a prova. Mas o Malfoy já é grandinho, deve saber o que faz, e por isso, que agora eu não vou mais me intrometer’’.

E ele seguiu o mesmo caminho que as colegas fizeram e rumou para o seu dormitório.

. . .

. . .

- Hermione, eu quero falar com você um minuto. – Disse Gina quando todas as garotas já se preparavam para descer para o café.

- Ah, claro. – Respondeu Hermione e as duas esperam a outras saírem com a desculpa de que iam tirar umas dúvidas sobre História da Magia antes do café.

Uma a uma foram saindo do dormitório até só restar Gina e Hermione com um caderno cheio de anotações sobre História da Magia. A Granger o fechou e o colocou no que correspondia ser sua pilha na escrivaninha.

- Então, sobre o que quer falar? – Perguntou a castanha.

- Sobre você, sobre o Malfoy, e sobre ontem à noite. – A ruiva ergueu uma sobrancelha como se perguntasse ‘vai me contar?’

- Ué, nada demais. Eu fiquei no dormitório o tempo todo para sua informação, estudando.  – E Hermione se levantou e penteou os cabelos encaracolados e pôs uma presilha de modo a capturar sua franja castanha, pondo-a para o lado.

- Na verdade, eu passei aqui depois do jantar, e você não estava. Por isso fiquei com Harry lá em baixo, mas no canto perto da escada. Disse a ele que era para o caso de Rony aparecer do nada, ele acreditou, mas era só pra ver quando você ia chegar.

‘’Bom, na hora em que você entrou, nós estávamos nos beijando por isso acho que ele não percebeu. E ficamos assim mais um pouco até eu dizer que estava com sono. Só que quando eu cheguei aqui você já tinha dormido e estava segurando um livro, que a propósito era meu.’’

- Por que você tem um livro sobre contos dos bruxos em Runa Antiga? – Perguntou Hermione tentando mudar de assunto.

- Era da mamãe. Ela me deu no início desse ano, mas eu não faço Runas Antigas. Não sei como vou traduzir isso.

- Deixa que eu traduzo pra você.

- Certo. Mas não pense que vai mudar de assunto. Me diga, o que você fez ontem a noite? Com quem estava? Ah, deixa pra lá a última pergunta, é claro que estava com Malfoy.

A Granger parou de mirar-se no espelho e se sentou na cama ao lado de Gina que continuava a olhá-la com ansiedade.

- Tudo bem, eu vou te contar tudo o que aconteceu ontem à noite. – Disse a castanha com uma voz derrotada.

E mesmo contra vontade, ela contou à ruiva, tudo o que havia de fato ocorrido na noite anterior. Contou sobre a Sala Precisa que havia encontrado, contou sobre o Armário Semidouro, contou sobre o Rony falso, sobre como ela estuporara Malfoy, sobre como ele queria atacá-la depois, e de como se defendeu, arrancando algumas risadas da amiga.

Mas omitiu alguns fatos importantes. Sobre como ela esperara um beijo e ganhara um fora. Mas contou o fato de maneira diferente.

- Ele estava sem a varinha e eu perguntei ‘o que você vai fazer?’ e então ele foi lá e tentou me beijar. Claro que eu não deixei, e entreguei a varinha dele e saí correndo dizendo que tinha que estudar. – Ela completou olhando para um ponto qualquer do quarto, sua voz um pouco hesitante.

Gina notou.

- Não acredito. Tem alguma coisa entre esses acontecimentos todos que não faz sentido. Ou se faz, você esqueceu algum fato importante. – Hermione revirou os olhos para a ruiva.

- Certo. Ele nunca tentou me beijar. – Admitiu.

- Agora sim, esse parece o Malfoy que conhecemos. Mas se ele não tentou te beijar... o que houve?

- Bem, eu achei que ele fosse, porque parecia que ele ia. Então eu esperei e... nada. Ele só ficou com aquele tom ameaçador de sempre, e disse que precisava ir. Eu parecia uma idiota.

Hermione olhou para a janela e contemplou o céu azul, pintado de nuvens brancas. Estava esperando que a ruiva fizesse algum comentário que a deixasse constrangida, mas nada veio. E passado um determinado tempo, ela finalmente encarou Ginny.

- Você está gostando dele não está? – Perguntou Gina. Seu tom de voz estava sério e ela encarava Hermione com um olhar intenso, que de certa forma a obrigava a dizer somente a verdade.

A Granger não conseguiria mentir olhando para esses olhos. Mas também não sabia o que lhe responder. Era claro que deveria dizer não, que não era a verdade, mas ela tinha medo que seus lábios a traíssem.

Mas qual era a verdade então? Ela não sabia mais. Gostava de Rony, sem sombra de dúvida. Mas também havia outra pessoa, havia Draco, e quando ela estava com ele, ela sempre tinha dúvidas sobre gostar realmente de Ron, mas ela só sabia que tinha sentimentos pelo louro. Isso era inegável. Mas bastava ela decidir se esses sentimentos eram bons ou ruins. Claro que ruim para ela, significava gostar dele.

Gostar o suficiente para deixar Ronald.

E ela não conseguiu responder. Abriu a boca, mas nada saiu. Olhou para o chão e piscou duas vezes para reunir coragem e dar uma resposta, qualquer que fosse, mas novamente não conseguiu dizer nada. O que isso significava?

- Está hesitando. – Declarou a Weasley – E se está hesitando isso só pode significar que ou você gosta dele, mas tem medo de falar, ou está em dúvida.

- Eu não sei mais Ginny. – Hermione conseguiu dizer encarando a amiga nos olhos com súplica. – Quando eu estou com o Ron eu tenho certeza de que é ele, de que eu o amo, mas quando eu estou com o Draco, eu... eu fico na dúvida. E eu odeio isso.

- Então você precisa se decidir. E quando fizer isso, você tem que me dizer. Porque eu não quero que encha meu irmão de esperanças para depois ficar com o Malfoy. É só que ele é meu irmão, e eu quero o melhor pra ele.

- Mas como você sabe se eu vou ficar com o Malfoy ou não? Pra ele é apenas um acordo. – Disse parecendo um tanto magoada. – Nada a mais. E eu nunca vou ser mais que uma sangue-ruim sabe-tudo. Não é favorável a ele ficar comigo.

- Você se engana se pensa assim. Malfoy só mostra o lado que quer que as pessoas vejam dele. Arrogante, insensível, intimidador. E ele esconde o lado que ele acha mais vulnerável. O lado mais sensível, que poucos têm a chance de conhecer. Como você.

- Tá brincando não é? Ele simplesmente me detesta. Percebi isso hoje.

- Não. Ele só detesta você porque você não usa uma máscara. Porque tanto você, quanto o Harry, pessoas como vocês, não escondem o que sentem. E ele acha que isso é uma fraqueza. E que se ficar muito tempo com você, pode acabar perdendo o lado mau dele. – Gina completou com um suspiro longo e profundo.

- Você poderia ser psicóloga sabia?

- Eu poderia ser o quê? – Gina manteve os olhos arregalados para a amiga, que apenas jogou uma mecha de cabelo para trás.

- É uma profissão trouxa. Os psicólogos são pessoas que entendem muito bem as outras e que podem dizer qual é o problema delas e tratar. De onde você tirou esse lado que eu nunca conheci?

- Eu só observo muito as pessoas. E tenho observado muito você e o Malfoy ultimamente.

- Então você está dizendo que ele gosta de mim?

- Não é bem isso. Ele ainda tem seus próprios conflitos internos para resolver com ele mesmo. Mas talvez sim, porque é coragem demais da parte dele fingir que está com você por causa do Ron. Isso já passou de um simples acordo, agora é muito mais que isso.

Hermione continuou calada por um tempo. Refletia silenciosamente sobre o que acabara de ouvir. Novamente, observava o céu azul lá fora. Queria mais que tudo que nunca tivesse pedido a Malfoy para namorá-la de mentira. Agora estava num conflito interno. O que deveria fazer afinal?

- Vamos, senão o horário do café termina e a gente vai passar fome. – Comentou a ruiva puxando a amiga pelo braço. Hermione não viu escolha senão acompanhá-la.

E as duas desceram os degraus correndo para chegar a sala comunal, estava vazia, e elas passaram pelo buraco do quadro da mulher gorda e dessa, para o Salão Principal para o café.

Ao entrarem, ninguém mais deu tanta importância assim. Continuaram a fazer o que estavam fazendo antes como se a Granger fosse uma ‘’ninguém’’ e novo.

E logo ela avistou na mesa, Harry sentado de frente para Rony, que estava de costas para a mesa da Sonserina, logo trás. Gina apressou-se em sentar do lado vago de Harry, e sobrou para Hermione sentar ao lado de Ron. Ela achou bom, em parte porque poderia falar com ele.

- Bom dia. – Cumprimentou a todos. Recebeu um ‘’bom dia’’ de volta de todos, menos de Rony. Até Neville e Simas a cumprimentaram. Estava havendo mudanças.

Hermione se sentou do lado do ruivo. Ele virou o copo com suco de abóbora na boca e quando terminou, fez menção de se levantar. Ela não deixou. Puxou seu braço quase imperceptivelmente e o fez continuar sentado. Ela viu, ou pensou ver, um fragmento de sorriso no rosto dele.

- Por favor, não precisa ir embora. – Ela sussurrou para Rony.

- Que seja. Não vai fazer a menor diferença pra você. – Sussurrou de volta, encarando um ponto qualquer na mesa.

Harry e Gina não queriam dar uma de intrometidos, mas também não conseguiam desviar o olhar. Seus olhos passeavam entre Hermione e Ronald esperando mais alguma coisa. A Granger lançou-lhes um olhar ‘’saiam daqui’’, e o casal logo deu a desculpa de ir fazer qualquer coisa.

Mas talvez tivesse sido um erro, porque onde os dois estavam segundos atrás, não sentou mais ninguém, deixando uma margem aberta para o campo de visão da mesa da Corvinal. Algumas garotas não paravam de comentar uma entre as outras e apontar discretamente a eles.

Hermione ignorou.

- Claro que faz, Ron. Você e o Harry são meus melhores amigos. Ou pelo menos, você era. Antes de nós... bem, você sabe.

- É, e antes de você ficar com o Malfoy. – Ela sentiu o quanto ele estava sentido com tudo isso pelo tom de sua voz.

- Ele passa a ser bem legal depois que o conhece direito. Uma boa pessoa.

- Você só diz isso porque agora é a... – O ruivo se auto interrompeu. Ficou calado de repente e ela sabia o por que. Ele não queria ter que dizer ‘’namorada dele’’.

E segundos depois, um pássaro qualquer de papel, voou e pousou graciosamente a frente de Hermione. Ele veio de atrás dela, e ela sabia quem o mandara.

Receou abrir na gente de Rony. Não queria que ele visse o que quer que Draco havia escrito. Mas o ruivo parecia não pensar igual. E pela primeira vez na semana, ele a encarou, deixando-a sem graça e obrigando-a a abri-lo.

Ao desembrulhar o pássaro, viu a seguinte mensagem escrita em tinta preta, rabiscada de leve no papel:

                Sem querer interromper o momento mais importante da vida do ruivinho aí,

mas já interrompendo (como se eu me importasse), eu preciso falar com você, Granger.

É importante. Me encontre no mesmo lugar de ontem, no mesmo horário.

                                                                                                               Draco.

Hermione terminou de ler achando isso um pouco estranho. Tinha certeza de que a letra do louro era mais torta do que essa. Quando ele voltara a lhe chamar de Granger? Mas ela compararia quando chegasse ao dormitório, ainda tinha guardado o bilhete que ele lhe mandara a dois meses atrás.

Mas agora ela não podia mais. O pássaro estava encantado, e começou a pegar fogo deixando apenas cinzas aonde fora papel. Rony ficou carrancudo instantaneamente. Hermione suspirou e olhou para trás, para a mesa da Sonserina.

Viu Draco sentado de frente para ela, mas com um garoto a sua frente tampando-lhe a visão. Mesmo assim, inclinou-se mais um pouco, e quando conseguiu vê-lo perfeitamente bem, ele também se virou para olhá-la. O olhar dela buscava respostas. O olhar dele a desafiava, e ele sorriu de canto.

Tudo bem, estava convencida agora. Era mesmo o bilhete dele.

E ela virou-se de novo para olhar para Rony, mas em seu lugar não havia mais ninguém. Suspirou pesadamente, o horário do café já havia terminado. E como todos os outros alunos, caminhou para o portão mas sem antes lançar outro olhar furtivo a Malfoy.

E mesmo contra sua vontade, estava ansiosa. O que ele pretendia com tudo aquilo? Não podia ser boa coisa, a julgar pelo sorrisinho dele. Mas vindo dele, nunca é boa coisa.

- Ei, Granger! Eu quero ter uma conversinha com você. Tem um minuto?

Hermione congelou e ao virar-se, congelou mais ainda. Era mesmo quem ela pensara que era?

- Pa... - E esse foi apenas um sussurro, quando se esforçou em tentar dizer o resto.

Continua~


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse capítulo tanto quanto eu amei. Ele foi um pouco mais focado no Draco e na Hermione, mas não pensem que tudo cheira a rosas sempre, porque um dia o vento leva. O próximo capítulo terá uma surpresinha.

Kisses ♥



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