Não havia mais nada para suportar o meu peso, a minha alma tinha sido sugada, o meu coração partido, o meu corpo deixado. Já não havia vontade de sorrir, nem de amar. Não havia vontade de chorar nem de sofrer. O vazio era tão grande que não me deixava sentir. Como se estivesse imune a qualquer tipo de sentimento, já não me sentindo um ser normal.

-O que é que disseste?-perguntei num fio de voz. Queria ter a certeza que não estava a sonhar e de facto, que entrei neste pesadelo.

-É verdade queridinha. O teu namoradinho engravidou-me. E eu estou muito magoada... Por ele não te ter dito que nós iríamos construir uma família feliz. Que tu... -e apontou para mim.-Era só um passatempo para ele. Um passatempo muito aborrecido devo acrescentar. Tu não desconfiavas do plano do Jake. Ele só te queria levar para a cama.

-Mas ele te...ve vá...rias oportu...nida...des para o fa...zer. -murmurei gaguejando, não acreditando nas palavras que ela proferia.

-Ele só queria esperar pela opurtunidade certa para o fazer. Mas eu fiquei grávida e ele até que ficou com... pena de ti.

-Então ele já sabia...? -perguntei, engolindo em seco. Isto era demasiado para eu aguentar.

-Não, não sabia! -a voz rouca de Jacob surgiu atrás de nós.-Eu nem sequer me lembro de ter dormido com ela. Eu nunca precisaria de o fazer...

-PORQUE AQUI A IDIOTA TRATOU DE TE ENTRETER, NÃO FOI? -a raiva aponderava-se de mim. Eu já não sabia o que pensar ou o que fazer. Já podia ver o monte de alunos que se fazia à nossa volta.

-Não! Porque ela me drogou... eu não me lembro de nada.

-Pobre e inocente do Jacob!-virei-me para ele.-É sempre a vítima! O beijo que vocês deram antes do acidente, a vítima foi o Jake. Agora a Alex drogo-o. Ela até pode ser a maior cabra que já vi mas não era capaz disso. Toda a gente tem limites... Menos tu! Tu não tens limites para parar de mentir na minha cara.

-Nessie...

-Escuta-me bem Jacob Black! Eu amei-te e ainda te amo, eu confesso. O meu sentimento por ti ainda não é indiferença, é mais forte mas... com sorte irá passar para indiferença. Tu seduziste-me, usaste-me de quase todas as maneiras e no final de tudo, sempre dormiste com a vadia. Estavas à espera do quê? Que conseguisses ir para a cama comigo e continuares com a vadia, era? Ou engravidarnos a nós as duas, para nos tornármos amigas? O que é que esperavas disto! Curtias com ela sem preservativo e nada acontecia? Porque tu és imune a tudo, não é? É deus no céu e Jacob Black na terra! Aleluia! -as lágrimas já lhe vinham aos olhos. -Queres saber uma coisa? A tua choradeira não me comove! Eu vou fazer a minha vida como a mulher forte e independente que sou e tu... fica com a tua “família feliz”. Coitado do vosso filho... Com uma mãe vadia e um pai mentiroso, vai longe... -comecei a caminhar para a mesa onde estavam as minhas amigas, todas me olhavam com uma cara espantadíssima, menos Jane.

-Ele mereceu! -exclamou, levando uma garfada à boca. Todas as outras permaneciam em silêncio.

-Já falaste com o Embry? -queria saber como é que tudo tinha corrido, não quero a minha amiga com o traidor número dois.

-Já... foi uma recaída. O que também quer dizer que não sou suficientemente boa para ele. Precisa de mais!

-Que porco! -exclamei, olhando para as outras. -Tirem isto como exemplo! Qualquer dia acontece-vos o mesmo. -avisei.

-Vocês não estão à espera que nós vos apoiemos nesta loucura, certo? -Leah perguntou, com uma expressão surpresa e de reprovação.

-Não estou á espera de nada! Só estou à espera de paz! -exclamei, dando de ombros.

-Nessie... Podemos falar? -a voz de Jacob ecoou atrás de mim.

-Já falámos! -respondi. -Já te disse tudo o que tinha para dizer. -a minha voz demosntrava dureza. Eu não queria que ele me visse como uma mulher fragulizada que à primeira oportunidade, vai voltar para o rapaz que a traiu.

-Mas não me deixaste falar. Por favor ouve-me! -ele sentou-se ao meu lado, obrigando-me a olhá-lo nos olhos. -Eu nunca dormi com ela! Há dois meses atrás, quando fui aquela festa, ela deu-me uma cerveja que tinha qualquer coisa lá dentro. Não sei... Eu nunca dormiria com ela, tendo-te a ti na minha vida. Todas as vezes que disse que te amava, eu não estava a mentir. Eu falei sempre a sério. Nestes últimos dois meses eu não sabia o que tinha acontecido, era por isso que não te queria tocar daquela maneira mas era por não querer te sujar! A Alex poderia ter feito alguma coisa de muito mau comigo e eu não te queria envolvida. Eu tenho a certeza absoluta que ela não está grávida... Não de mim, pelo menos!

-Bravo! Que linda história da carochinha! Tens mais alguma história de amor para me contar ou é tudo? -eu batia palmas sarcasticamente.

-Eu estou a falar a sério!

-Eu também estou! -garanti. -Nunca falei tão a sério na minha vida! E é exactamente por isso que não te vou perdoar e vou refazer a minha vida. Com alguém que me mereça. Sabes... a minha mãe tinha razão! Eu mereço uma pessoa melhor que tu! -proferi e ele levantou-se.

-Vou assumir as minhas responsabilidades e só quero que saibas que eu queria mesmo ser pai, mas é a mãe errada! Que me dera que fosses tu... -foi como um murro no estômago ouvir estas últimas palavras.

Porquê Jacob? Porquê? Eu só te queria amar!

Levei as mãos à cabeça e respirei fundo. Já nada faz sentido, sem Jacob eu não faço sentido!

-Leah, podes me emprestar as chaves do teu carro? Preciso de sair daqui e respirar fundo. -pedi.

-Claro. Guia com cuidado. -avisou, dando-me a chave. -E como qualquer coisa.-pediu, entregando-me um bocado de pão.

-Obrigada por cuidares de mim. -agradeci, esboçando um sorriso fraco. Fui em direcção à saída da escola, num passe rápido. Passei o parque, entrei no carro e preguei fundo.

…

Cheguei ao penhasco e fui caminhando até à grande pedra que lá havia. Lembrar-me de todos os momentos que passei aqui com Jacob era de cortar o coração. Porquê? Porque é que ele teve que me magoar desta maneira? Porquê?

Eu coloquei o meu amor, o meu futuro, a minha confiança e muito mais nele, para me trair e acabar com o que restava de mim.

-Nessie... -pude ouvir a voz de Claire ao meu lado.-Desculpa mas... segui-te. Queria-me assegurar que estavas segura e não fazias nenhum disparate.

Deitei-me no seu colo e deixei que as minhas mágoas viessem cá para fora.

-Porquê Claire? Será que não sou boa o suficiente? Não chego? -todas as perguntas não me saiam da cabeça.

-É claro que és suficientemente boa Nessie. Não há nenhuma rapariga como tu! És especial de uma maneira muito forte! Determinada, bonita e que não desiste do que ama! Tens que erguer a cabeça e voltar! -disse, olhando-me nos olhos.

-Voltar parece tão difícil! Parece tão difícil voltar a sonhar e fazer planos para o futuro! Eu só amarei um homem na vida e esse homem é o Jake! Não há outro... É simples!

-Eu sei... Sinto o mesmo com o Quil. Ele é especial e faz-me sentir especial. É mágico!

-Pois é... Mas a minha magia tem tendência a acabar! -murmurei, completamente derrotada, sentindo-me uma verdadeira inútil.

-Tu vais encontrar alguém que te faça feliz! Só é preciso esperar. -aconselhou.

-Nunca fui uma pessoa que suportasse a espera mas... acho que mais cedo ou mais tarde, vou ter que aprender.

Ficámos mas algum tempo naquele penhasco, sem proferir uma palavras. Só ouvindo o som do mar e do vento. Voltámos para casa e Claire foi entregar o carro à Leah.

Entrei em casa e fui directo para o meu quarto, não estava com paciência para ninguém. Mas parece que estou com azar!

-Querida, chegaste? -a voz melodiosa da minha mãe ecoou pela sala.

-Sim.-respondi, virando-me para ela. -Estou cansada! Vou para o meu quarto.

-Espera! Anda comer primeiro, não te andas a alimentar como deve ser, ainda apanhas uma anemia se não te cuidas. -ela mandou.

-Talvez amanhã... Estou mesmo cansada! -não dei oportunidade da minha mãe responder e subi as escadas, trancando-me no quarto.

Fui até ao computador, coloquei uma música para afogar as mágoas e depois fui-me deitar na minha caminha.

Embora Doa- Klepht

É a dúvida que resta

Que me leva a perguntar

Qual papel será o meu

O de quem nada faz

Embora doa

Nada fiz para mudar

Embora doa

Nada vai mudar

E revemos nas imagens

Que não passa de um esboço

Escolhem os senhores da guerra

Os motivos a seu gosto

Embora doa

Nada fiz para mudar

Embora doa

Nada vai mudar

Porque nada surpreende

Já vivemos com o medo

Quem nos chama à razão

Ao som de armas adormeço

Embora doa

Não me faz perder o sono

Embora doa

Escorre sangue pelo ouro

Em directo na TV

Explode a carne em mãos

De quem nada fez

Embora doa

Não me sujo desse sangue

Embora doa

Há sempre outro canal

Ohhhhh

Embora doaaa

Embora doaaa

Não me sujo desse sangue

Embora doa

Há sempre outro canal

É a dúvida que resta

Que me leva a perguntar

Nada me irá tirar da minha dor, pelo menos por agora...