Muito Bem Acompanhada escrita por MsWritter


Capítulo 9
Somos Ed e Ginny


Notas iniciais do capítulo

Para Jessica, em profunda gratidão pela recomendação.



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Pepper se olhou no espelho uma última vez. Não estava muito confortável com a maquiagem colorida e as saias curtas em estampa xadrez, mas era o que todos usariam. Ajeitou mais uma vez o batom cor de rosa e conferiu se o cabelo estava bem preso no rabo de cavalo. Bom, era isso.

Saindo do quarto, encontrou Tony conversando com seu pai. Por que Tony podia usar a roupa que quisesse enquanto ela tinha que se fantasiar de... De que mesmo? E lá estava Tony, com roupas para ele discretas, mas muito bem vestido em seu terno cinza escuro e camisa azul claro. E Pepper parecendo... O que ela estava parecendo mesmo?

Tony ergueu os olhos ao ouvi-la entrando no cômodo, mas nada comentou. Depois que a música acabou no dia anterior, voltaram para casa em silêncio. Jantaram ouvindo a mãe de Pepper tagarelar incessantemente sobre o jantar e enquanto Pepper foi verificar seus e-mails Tony, de forma muito suspeita, acabou aceitando uma cerveja de John e sentando-se ao lado do homem para assistir a uma partida de basquete.

Pepper, apesar de nunca em sua vida ter visto Tony tomar cerveja ou assistir ao jogo que fosse na televisão, deixou que os homens seguissem com seu programa, pegou um livro e foi ler na varanda da casa. Quatro capítulos depois, resolveu ir dormir, quando encontrou seu pai cochilando no sofá, o jogo ainda passando na tv.

Subiu as escadas para encontrar Tony dormindo (e estava dormindo mesmo, o reator arc ficava mais fraco quando ele estava dormindo) no seu lado da grande muralha de travesseiros. Sem ter se lembrado de rearranjar os travesseiros quando acordaram, ela se contentou em deitar-se do seu lado da cama e adormecer.

No dia seguinte, não tiveram muito tempo para conversar. Acontece que eles iriam sair para tomar café da manhã num parque e Pepper já estava atrasada quando acordou. Tony nem acordado estava. Entre tomar um banho de dez minutos em que não conseguiu lavar os cabelos e resolveu deixá-los em um rabo de cavalo, achar uma roupa para si (camisa branca e shorts jeans) e gritar com Tony até ele se levantar, ir tomar um banho de surpreendentes 5 minutos e atirar uma roupa na direção de seu-chefe-nem-tão-acordado-assim, Pepper não se lembrou de comentar nada com ele sobre o beijo, sobre a dança ou o que quer que fosse.

E então um Tony de camisa cor-de-rosa, jeans e um all-star preto, com uma barba muito rala no rosto que não teve tempo de barbear (se ele ainda estivesse com o cavanhaque pareceria desleixo, mas agora até que estava dando um ar muito interessante no rosto dele) desceu as escadas, foi até a cozinha, pegou uma xícara de café que John havia feito e ficou sentado no sofá da sala, até que alguém lhe dissesse o que ele tinha que fazer. E aquilo só não cortou o coração dela porque ela estava ocupada demais tentando colocar suas meias e beber café ao mesmo tempo.

Eles saíram para o parque, Tony dirigindo, Pepper no banco do passageiro e Lisa no banco de trás, tagarelando sem parar. Pararam ainda na casa de Adrian para pegá-lo e aí seguiram para o parque, onde John e Vitória (só John, na verdade) estavam arrumando a toalha para o café-da-manhã/piquenique que teriam assim que os pais do noivo (e outros convidados menos favoráveis) chegassem.

Os pais do noivo chegaram, Sarah chegou, os padrinhos de Lisa (Fred e Linda, de acordo com Pepper, ninguém importante) chegaram. Sebastian e Amanda chegaram.

E eles falaram de muitas coisas sem importância. Muitas coisas sobre a vida deles, sobre a pequena cidade deles. Sobre a infância das meninas. Sobre a adolescência de Ginny e de Lisa. Sobre o namoro de Ginny e Sebastian. Sobre a amizade de Ginny e Amanda. Tantos assuntos sobre os quais Pepper não queria comentar e Tony não tinha o que comentar que os dois simplesmente ficaram quietos.

Resolveram jogar depois uma mistura de críquete com Baseball que Tony não entendeu como jogava e não se importava. Bom, não até ele levar uma bolada muito bem direcionada do bastão de Sebastian e desistir do jogo. Pepper não entendeu do que se tratava e brigou com meia família que alegava que acidentes acontecem e que Ed sair do jogo era falta de esportiva, mas ele nada disse.

Desde que voltaram para casa, estavam se arrumando para as despedidas de solteiro dos noivos, e agora que ela estava pronta percebeu que só lhe restava pedir para que seu "namorado" a levasse até o bar onde seria a festa de Lisa. E assim ela o fez:

– Hey, Tony. Estou pronta. Podemos ir?

Tony ergueu os olhos, claramente surpreso. Tentando encontrar sua assistente formal e conservadora na mulher a sua frente. Enquanto ele estava a encarando, John interveio:

– Ele não tem cara de Tony. Tem cara de Ed.

É, sem o cavanhaque ele até tinha cara de Ed mesmo. Mas não importava o que ele fizesse, a roupa que usasse ou quanto cabelo facial. Ele era o Tony para Pepper. Não Anthony Edward Stark, mas Tony.

– O bom de ter dois nomes. - Ele respondeu, ainda encarando sua assistente-mais-parecendo-uma-estranha.

– Ela está linda, não está? - John perguntou, após se levantar e dar um beijo na bochecha dela.

John não ouviu, mas Pepper entendeu perfeitamente bem o "sempre" que ele sussurrou.

E pela primeira vez desde o dia anterior, tiveram um momento para conversar. Enquanto Tony seguia a direção do GPS, Pepper começou:

– Tony, sobre ontem...

– Somos Ed e Ginny... Namoramos e moramos juntos há quase dez anos. Acho que é um comportamento natural trocar um beijo num salão de dança.

Aquilo calou Pepper por alguns minutos. No fundo, ela estava triste. Porque aqueles eram Ed e Ginny. Não eram eles, não tinham as escolhas deles. Acabariam quando voltassem para casa.

E alguns minutos foi tudo o que foi necessário para chegarem ao bar. Pepper saiu sem se despedir. Entrou no bar, deu um beijo em sua irmã e pediu um drinque. Apenas quando foi pegar dinheiro para pagar pela bebida percebeu que tinha esquecido a bolsa no carro. Mas que droga... O que ela ia fazer?

Foi quando ouviu um murmúrio ganhar volume até virar uma coleção de gritinhos agudos e femininos. Quando olhou para a porta, percebeu que os gritos eram para Tony, que passava pelas garota carregando a bolsa dela. Pepper nada conseguiu fazer além de sorrir, porque Tony, apesar de estar recebendo muitos (mas muitos) convites para um drinque, estava com os olhos focados nela, indo diretamente na direção dela.

– Achei que fosse precisar. - Ele disse, depositando um beijo na bochecha dela. - Aproveite a festa.

– Obrigada. Gostaria de poder lhe dizer o mesmo, mas acho que Ed jamais terá uma festa a altura das de Tony Stark. - Ela murmurou no ouvido dele, já que ele ainda estava tão perto.

– Ed não se importa. Nem mesmo o Tony se importa. - Ele suspirou, virando-se para ir embora.

Naquele momento, com todas as meninas que estudaram com ela na escola, com todas que conheciam sua história com Sebastian a olhando, Pepper segurou o braço de Tony. Seu movimento mais arriscado: se expor, na frente de todos e lidar com uma rejeição que poderia, não, que certamente iria acabar com todo o propósito daquela mentira:

– Eu não me importo com o Ed. Só com o Tony. Só o Tony importa.

E puxou ele para si, depositando um beijo muito parecido com o que Tony deu em sua bochecha nos lábios dele.

E por incrível que pareça, não houve rejeição. Não houve exposição. Só o uivo das mulheres do bar e um sorriso ridiculamente grande no rosto de Tony.

– Que bom. Porque Tony e Pepper ainda vão existir na semana que vem.

Tony lhe deu mais um beijo, pagou pela bebida que ela pediu e saiu do bar, em direção a despedida de Adrian. Muito mais leve do que estava há alguns segundos.


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Notas finais do capítulo

Eu sempre me impressiono como esta história acaba ficando mais leve que as outras que eu escrevo. Faz bem também, de vez em quando. Espero que estejam gostando.