Um homem que tinha tudo, mas não tinha nada. Que usou sua vida toda para conquistar uma imagem da qual se envergonhava, em todos os sentidos: da profissão de mercador da morte à reputação com as mulheres. Um homem que por pura necessidade de se provar possuidor de algum valor, alguma utilidade, construiu e vestiu uma armadura com a qual ele era capaz de salvar o mundo de suas próprias criações. Salvar o mundo dele mesmo. Um homem que arriscava a vida todos os dias em missões das quais ele mesmo era o culpado. Que revelou seu rosto por ao mesmo tempo medo de não aguentar a pressão e vontade de ser reconhecido por estar tentando. Um homem cujo rosto todos conheciam, mas ninguém se importava.

Tony acordou mais com a própria respiração ofegante do que com os chamados e cutucões cautelosos de Pepper. Abriu os olhos castanhos, mirando firmemente o pequeno feixe de luz azul que escapava do tecido negro da camiseta justa e regata que usava para dormir, projetado no teto. Aos poucos percebeu o rosto preocupado de Pepper, o olhando por cima da pequena muralha de travesseiros.

– Eu estou bem. – Ele disse, tentando senão acalmar a respiração, fazer com que seu peito e abdômen subissem e descessem de forma mais compassada.

Pepper assentiu com a cabeça, deitando-se novamente em seu lado da cama. Tony fechou os olhos, esperando o sono voltar. A sensação de uma mão encontrar a sua por entre travesseiros e almofadas provavelmente um sonho.

Na manhã seguinte, Tony acordou atordoado o suficiente para se deixar apreciar a visão de Pepper subindo as alças do vestido verde claro sobre as costas e ombros nus, antes de perceber que a estava espionando por entre os travesseiros e fechar os olhos com força, tentando encontrar em sua mente brilhante uma forma de chegar ao banheiro sem que Pepper percebesse que algumas partes de seu corpo tinham ficado muito interessadas na visão da expansão pálida de pele de suas costas.

– Sabe, seu reator arc fica mais brilhante quando você está acordado, então nem adianta fingir que está dormindo só para poder ficar o dia inteiro na cama.

Stark apenas agarrou outro travesseiro, afundando-se mais na cama.

– Tony... Por favor, é importante para mim... Eu sei que pode ser pedir demais, só que muita gente vai estar no salão hoje... Todos chegando de viagem e Sebastian...

Sebastian, Sebastian, sempre Sebastian.

– Você não devia ficar prestando atenção no meu peito sabe... Pode me dar ideias...

– Não tenho culpa se você cortou um buraco em todas suas camisetas na mansão, Sr. Stark.

“Devia ter cortado um nas calças também, Srta. Potts” – Tony pensou em responder, mas acabou enfurnando-se nas cobertas, fazendo uma nota mental de usar seda quando quisesse fingir que estava dormindo, afinal, a camisa funcionou muito bem durante o voo.

– Tony...

Ele murmurou alguma coisa que soava estranhamente como “café” e Pepper se lembrou que apesar de tudo ainda era assistente de Tony e que ele sempre amou sua cama, independentemente da hora do dia ou da atividade exercida. Não custava ir pegar o bendito café se isso o fizesse sair da cama. Após receber um sorrisinho sacana da irmã ao vê-la montando a bandeja para servir o desjejum de seu namorado na cama, com um “A noite foi boa, hã?” murmurado dentro de sua xícara de... Pepper não queria saber o que Lisa estava tomando às 7h00 da manhã.

Pepper preferiu ignorá-la, aceitando que perspectiva de ser a namorada submissa e babona de um multi bilionário-sexy-lindo-charmoso-gênio era melhor que ser a solteira-abandonada-largada-deprimida assistente de um bilionário-sexy-lindo-charmoso-gênio que não estava nem ai para ela. Não que a última parte fosse mentira, ou que a primeira fosse verdade, mas  no meio dessa confusão toda,era uma aparência que Pepper estava quase grata por poder manter.

Bom, ela quase atirou a bandeja na porta do banheiro ao encontrá-la trancada, com o som do chuveiro ligado – afinal, se Stark podia sair da cama sem o café por que não saiu antes? – mas seu temperamento melhorou ao vê-lo sair do banho já vestido em jeans, uma camisa branca e um paletó cinza escuro, com os cabelos pingando e o reator aparecendo por entre os botões ainda aberto da camisa. Casual, mas bom o suficiente para as atividades da manhã. Atirou uma toalha em seu chefe enquanto ele tomava o café já frio, sorrindo ao ver a expressão abobalhada dele.

– Precisa de ajuda para arrumar o cabelo, Sr. Stark?

Tony sorriu, passando a toalha por entre os fios razoavelmente longos e negros.

– Não será necessário, Srta. Potts.

E Pepper estava um pouco mais tranquila em relação ao resto de seu dia. Bom, mas não muito.