Vale Tudo escrita por Anna C


Capítulo 3
Não Dormimos No Mesmo Quarto


Notas iniciais do capítulo

Queria postar antes do Ano Novo por aqui e ufaa! Consegui! Olha, eu não sei vocês, mas fiquei bem satisfeita com esse capítulo, deu pra por tudo que eu queria e não ficou muito longo mas está maior que o anterior em compensação! Espero que gostem ^^



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Narrado por Scorpius

A agitação de início de ano já se tornava menor com o passar dos dias. Na última semana de Setembro, as coisas já estavam bem mais tranqüilas... Porém, uma notícia fez com que todos os alunos ficassem empolgados novamente.

– É com muito prazer que anuncio que este ano a escola contará com um baile de Natal. Qualquer aluno a partir do terceiro ano poderá comparecer – a Diretora McGonagall falava durante o jantar no Salão Principal. – Se trata de um baile de gala, por isso, aviso agora que deverão usar apenas traje a rigor.

Pareceu uma explosão. Quando a palavra “baile” foi dita, ficou quase impossível ouvir o que Mark dizia de tanto barulho.

– E aí? Acha que a uvinha aceitaria ir ao baile comigo? – ele tinha que praticamente berrar pra se fazer entendido.

– Quem? – a mania dele de apelidar cada ser vivo e objeto me deixava confuso às vezes.

– A uvinha mais deliciosa da Corvinal, é claro! – Mark indicou uma garota com o olhar.

Sentada à mesa a nossa frente estava Dominique Weasley. Ah, eu devia ter imaginado que era dela de quem ele estava falando. Provavelmente, deu o apelido graças às mechas roxas no seu cabelo loiro.

– Ela te dispensa desde o quarto ano. Desiste, cara! – falei, revirando os olhos. Não consegui desanimá-lo, na verdade acho que o incentivei a fazer alguma loucura.

– Quanto mais ela me repele, mais eu quero aquela garota. Com licença, meu caro amigo! Tenho um convite a fazer... – deu alguns tapinhas nas minhas costas e contornou a mesa para chegar à sua pretendente.

Eu bem que queria observar o belo fora que Mark levaria, porém as risadinhas histéricas ao meu lado roubaram minha atenção. Era só um grupo de meninas da minha casa me olhando, enquanto abafavam risadas... Apenas uma delas estava mais séria, mas ainda assim sorrindo para mim.

Meu primeiro pensamento foi de que eu tivesse babado molho de tomate na camisa ou estivesse com uma enorme espinha no rosto. Só quando a mais discreta delas se levantou e começou a andar em minha direção que minhas ideias tomaram outro rumo.

– Oi… - a morena de olhos verdes ocupou o lugar do meu amigo. – Você é o Malfoy, certo? – continuava sorrindo.

– Só Scorpius. E você…?

– Wendy Scott. Já é veterano, não é? – ela olhou de relance por cima do ombro para as amigas. – Eu estava pensando… A gente podia sair um dia desses. Tomar uma cerveja amanteigada ou simplesmente zanzar por aí.

Normalmente, eu acharia estranho uma garota chegar em mim. No geral, era eu que fazia esse papel, mas eu não a dispensaria por causa dessa atitude. Admito, o que mais pesou foi o fato dela ser… Como eu posso dizer? Bom… Gostosa. Não tem como expressá-la melhor em palavras. Ela não era realmente bonita, mas tinha um corpo que... Tá, eu sei que vocês não vão querer que eu estenda muito o assunto.

– Ok, quando quiser – falei.

– Então, tá… Tchau, Scorpius – ela piscou para mim. Eu acompanhei as curvas de Wendy até que ela se sentasse de novo no seu assento.

Cara, eu havia me dado bem.

De repente, Mark desabou ao meu lado.

Mark, você nem sabe o que aconte… - tive que parar onde estava. Havia uma tigela de frango com quiabo em sua cabeça… Que porra era aquela?! – Mark, eu devo perguntar, ou…

– É mesmo necessário? – ele tirava uma asa de frango que estava enroscada no cabelo. Examinou-a. – Hum, parece bom – levou o pedaço à boca. – Nossa, tá ótimo! – seus olhos brilhavam. – Quer um pouquinho?

– Er, não – ergui uma sobrancelha. Preferia comer alimentos que não tivessem passado pelo couro cabeludo de ninguém, mas sem frescura.

– Uvinha querida, obrigada por essa refeição maravilhosa! Já disse hoje que te amo?! – Mark berrava para Dominique Weasley, que apenas lhe lançou um olhar de ódio e voltou a comer seu jantar. – Ela gosta de mim, eu sei que sim… - mastigava o frango, enquanto encarava a corvinal.

Sem comentários.

–x--x--x--x-

Um bom tempo depois, fui para o meu dormitório. Quase havia me esquecido de mencionar! Há um detalhe importante que vocês talvez queiram saber… Eu dividia a sala comunal com Rose Weasley. Eu sei o que provavelmente estão pensando, mas vou explicar. Como monitores-chefes recebíamos alguns privilégios e um deles era um quarto só para nós. Mas o único ponto negativo era ter que usufruir da mesma sala comunal que o outro monitor. Não que fosse realmente um problema, era só cada um ir para o seu quarto e fim de história.

Porém, naquela noite seria diferente. Eu a vi numa mesa ao lado da janela, jogando xadrez de bruxo. Ou melhor, apenas treinando lá, sozinha. Enxerguei mais uma oportunidade de desafiá-la naquela situação, é claro.

– Posso? – pedi permissão para me sentar. Eu sentaria mesmo que ela negasse, mas aceitando ela evitava uma discussão longa e irritante.

– Claro, mas não sei por que sequer tentar. Eu sou a melhor nesse jogo.

– Correção: segunda melhor.

– Veremos.

Ficamos horas ali sentados, a maior parte do tempo em silêncio, refletindo possíveis jogadas. O relógio já soava meia-noite quando a ruiva voltou a falar alguma coisa.

– Xeque.

Analisei o tabuleiro. Meu rei estava praticamente encurralado.

Eu não queria dar o braço a torcer, mas ela era boa. Realmente boa. E eu iria perder a partida com toda a certeza.

– Bispo na C7 – eu disse, já ciente da derrota.

A grifinória deu seu infame sorriso vitorioso.

– Rainha na F6. Xeque-mate.

O meu rei se atirou no meio do tabuleiro, se rendendo. Minha frustração era nítida.

– Desta vez, não vou ficar me gabando pra você – ela dizia. – Eu menti. Não sou a melhor, mas aprendi com o melhor… O meu pai – orgulhava-se. – Você não foi tão…

– Ei, ei! – a interrompi. – Não me elogie.

– Quê? Eu nem ia…

– Ia sim, ia dizer que eu não fui tão mal. Sem gentilezas, Weasley. Não vamos tornar a rixa amigável logo agora no nosso último ano…

– Acho que não se pode chamar uma rixa de amigável.

Eu também sentia com mais frequência vontade de elogiá-la. Digo, em relação a inteligência e o sucesso com que ela fazia certas coisas. Em inúmeras delas, ela era mais habilidosa que eu, mas a droga do meu orgulho não permitia que eu dissesse isso. Não poderia dar aquele gostinho a ela.

Silêncio tenso no ar.

– Er… Vai ter o baile, né? Me admira que a McGonagall não nos tenha avisado antes do comunicado oficial. Quero dizer, somos os monitores-chefes – a ruiva estava tentando conversar civilizadamente comigo. Que erva ela havia fumado?!

– Não está satisfeita com as mordomias que recebeu? – olhei incrédulo para ela, indicando o restante da sala. Queria mais exclusividade que aquilo?

– Sou muito grata, tá? Só achei que ficaríamos sabendo.

– Deve ser cedo pra perguntar, mas você já sabe com quem vai? – perguntei por curiosidade. Na realidade, nem estava curioso, a pergunta saiu antes que eu pudesse realmente pensar sobre o assunto.

– É, é meio cedo pra isso mesmo. Por que quer saber em todo caso?

– Calma, não é como se eu estivesse querendo te convidar! – quase ri com aquela possibilidade. Espera, que possibilidade?!

– Bom, isso é um alívio – ela suspirou.

– O que quer dizer com isso? – fiquei um tanto ofendido.

– Ah, é só que nem em um zilhão de anos eu iria com você…

– Mas há muitas outras que iriam.

– Haha, é! Muitas outras sem cérebro, com mau gosto, ou falta de opção…

– Não vou falar nada, porque senão será sobre o tipo de cara que te convidaria. Aí sim seria baixaria.

Weasley semicerrou os olhos em fendas, pronta pra pular no meu pescoço. Entretanto, se limitou a dizer:

– Vou dormir – levantou-se, andando em direção ao seu quarto.

Comecei a rir bem baixinho.

– Cala a boca – a ouvi berrar. Eu já disse que amava irritá-la? Já? Bom, eu continuava amando.

–x--x--x--x-

Narrado por Rose

Eu estava dando uma volta nos jardins com Kate e Lily. As duas falavam animadas sobre algum assunto relacionado a música, mas eu não estava muito atenta. Ah, essa é a oportunidade perfeita para apresentá-las...

Kate era minha melhor amiga desde que havia entrado para a escola. Dividia o dormitório com ela até o ano antes de virar monitora-chefe. Sendo sincera, se eu não me dedicasse tanto para me destacar, eu provavelmente seria ofuscada por Kate e seus olhos esverdeados. A garota tinha cabelos cacheados e loiros e eu me sentia completamente uma “tábua” perto dela e suas curvas. Todos sempre torceram os pescoços no corredor só para admirá-la.

A Lily… Bom, eu adorava aquela garota! O que mais gostava nela era a sinceridade. Ela não tinha medo de ser chata ou grossa, se achava que tinha algo errado ela diria. Mas sincera só até certo ponto. Quando se tratava dos seus assuntos pessoais, Lily dificilmente se abria, pelo menos ultimamente. Não sabia o que havia mudado, mas tinha tido um grande impacto naquela ruiva.

– Rose, você tá péssima! – minha prima comentou, fazendo com que eu me concentrasse nela. Minhas olheiras eram fundas.

– Eu não dormi muito bem, insônia – cocei os olhos.

– Hum… O novo colega de dormitório não te dá descanso? – Kate perguntou, sorrindo maliciosamente.

– Não dividimos o quarto, só a sala comunal. Por que você tem que maliciar tudo? – revirei os olhos.

As duas riram.

– Ok, mas não acredito que esteja sendo a melhor experiência da sua vida.

– Bom, a melhor não é mesmo, mas não é ruim. Ele não me provoca muito, tentamos nos manter distantes, cada um na sua. E é uma honra ter recebido o meu título, então qualquer coisinha à toa vale a pena – só faltava o hino de Hogwarts tocar no fundo.

– Vocês se comportam como duas criancinhas de seis anos – Lily balançava a cabeça negativamente.

– Eu jurei a mim mesma que tentaria superá-lo em tudo, o negócio é pessoal! – como elas não conseguiam compreender a gravidade daquilo?

– Sabe o que eu acho? Que o Malfoy até que pode ser um cara legal – Kate disse. Eu e a outra ruiva nos voltamos para ela, incrédulas. – Se der uma chance pra conhecê-lo pelo menos. Sei lá, ele pode meio que ser a sua versão masculina.

– Acho que você andou cheirando umas coisas e não nos contou… - Lily arqueou uma sobrancelha.

– Deixem eu explicar – a loira parou de andar para que nos focássemos nela. – Veja bem, a Rose pode ser bem irritante de vez em quando com essa mania de competir, não é?

Lily acenou positivamente. Eu cruzei os braços, emburrada.

– Mas nós a adoramos, apesar disso. Porque, mesmo extrapolando, ela é uma amiga incrível, muito divertida, gentil e outra série de elogios que eu não vou ficar falando aqui pro seu ego inflar.

– Obrigada – sorri de lado.

– Agora me digam: por que o Malfoy não pode ser exatamente assim? Nós só vemos um lado do sonserino, que é essa parte irritante e ambiciosa que faz de tudo pra vencer. Mas por trás disso, pode haver um Scorpius legal, ué!

Olhei para minha prima. Ela estava tão descrente quanto eu.

– Claro, Kate… Sério, você tá chapada? – Lily perguntou quase que séria.

– Esqueçam – suspirou. – Vamos mudar de assunto. Lily, seu irmão está um pecado esse ano! Ai, como eu queria aquele sorriso com covinhas pra mim…

– Eca! Acho que prefiro você falando aquelas pirações que isso.

– Ok, não vou falar do seu irmão. Vou falar do da Rose! – fez aquilo de propósito. Por que sempre sobrava pra mim?

– O que você poderia possivelmente falar sobre o Hugo? Ele é só um pirralho quintanista – dei outra revirada de olhos.

– Que nada, virou um baita partido! Se eu já não tivesse dezoito anos… Ai ai…

– Eu concordo com a Lily, isso é simplesmente constrangedor! – fiz uma careta de nojo.

– Mas o Hugo está mesmo muito bem esse ano – a garota ruiva comentou, corando.

Fitei-a por alguns segundos, desconfiada. Ah, não devia ser nada…

–x--x--x--x-

Estava na biblioteca naquela tarde no início de Outubro. Andava frequentando-a mais desde que Malfoy havia me superado em História da Magia. Não queria correr o risco de passar mais um vexame daqueles.

Eu devolvia um livro numa estante, quando vi alguém vindo em minha direção desengonçadamente. Só dava para ver as pernas e as mãos, pois uma pilha de livros a sua frente me impossibilitava de ver quem era.

Corri para ajudar o pobre coitado que por um triz não derrubara tudo no chão.

– Mu-muito obrigado – disse timidamente o garoto.

– Imagine - segurei aquela torre de papel. Para a minha surpresa, era super leve e eu pude colocá-la com sucesso sobre uma mesa. Meu Deus, como ele era fracote…

Olhei para o desajeitado e só então entendi. Ele usava óculos de aros grossos, estava totalmente descabelado, com a camisa para dentro da calça e parecia meio desnutrido. Pela sua postura e pelos livros avançados que estavam na pilha, via que se tratava de um grande nerd, digo, estudioso.

Eu já havia o visto, mas não me recordava de seu nome de forma alguma.

– Me desculpe por isso, Weasley! Eu às vezes sou meio, er, desastrado.

– Tome mais cuidado na próxima, hã… - como era mesmo? – Hum…

– Enzzo, Enzzo McKenzie! – ele disse, empolgado. Continuei com a mesma expressão de confusão. – Do seu ano… Da sua casa… Faço as mesmas aulas que você… - insistia. Suspirou, se rendendo. – O garoto que tropeçou no primeiro ano na seleção, esbarrou num candelabro, que fez a mesa dos professores pegar fogo, o que acabou incendiando a barba do Professor Hagrid – corou, envergonhado.

Aaaah tá, aquele garoto. Droga, eu ia rir.

Pronto, já estava rindo.

– Foi você?! Merlin, aquilo foi hilário!

– É, humilhação pública costuma ser, eu entendo bem do assunto – ajeitou os óculos que escorregavam pelo nariz comprido.

Parei imediatamente.

– Sinto muito, que falta de sensibilidade da minha parte – me repreendi.

– Tudo bem… Depois de sete anos a gente se acostuma com os risos.

– Vamos começar novamente. Rose Weasley, muito prazer! – estendi minha mão para o garoto de cabelos negros, arrepiados e lisos.

Ele encarou minha mão por um tempo, depois voltou seu olhar para o meu rosto. Não sabia por quanto tempo eu ainda conseguiria manter meu sorriso encorajador.

– Enzzo McKenzie – ele enfim aceitou o cumprimento.

Quando soltamos as mãos, analisei suas feições.

– Mas que estranho, eu não sou de esquecer das coisas… Acho que teria me lembrado de te ver, se é do meu ano e da Grifinória, está inscrito nas mesmas aulas que eu…

– Eu tenho o dom de ser meio invisível e não sou de falar muito – deu os ombros. – Mas isso não me incomoda, não se preocupe. Eu sei que toda frase que eu digo parece carregada de rancor e ironia, mas é só meu jeito de falar, isso quando eu falo... Na verdade, sou bastante conformado.

Aquele garoto era uma figura estranha… Mas interessante. Pareceu-me muito solitário, precisando de um amigo... Hum, quem sabe, não é?

– Enzzo, me diga uma coisa… Você gosta de almôndegas?

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Notas finais do capítulo

Eu não acho que vá postar antes do dia 31, então... FELIZ ANO NOVO! *-*