A coisa certa a dizer - SM escrita por Patricia S


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/116286/chapter/1

Era difícil descrever, ainda mais sendo Sirius Black quem era, o que estava sentindo naquele momento. De início deu os ombros e imaginou que aquelas borboletas do estômago fosse resultado do excesso de comida da comemoração dos Dia das Bruxas naquela mesma noite, afinal, era apenas Marlene McKinnon com um namoradinho. Nada sério. Como amigo dela, ele teria que aguentar algumas palavras melosas e aquela sensação estranha de estar sobrando quando se beijassem na frente dele, principalmente porque ele nunca sobrava. Sirius estava sempre com alguma garota aos seus pés, mas já fazia algum tempo que não se animava em levá-las ao Chá da Madame Puddifoot em Hogsmeade.

Contudo, naquela noite Sirius demorou-se a dormir. Imagens de Marlene McKinnon nos braços de Caradoc Dearborn às margens no Lago Negro, no intervalo das aulas, em Hogsmeade ou na sala comunal da Grifinória não paravam de interromper seus pensamentos como se fosse de propósito.

Finalmente, quando pegou no sono, sonhou com uma partida de quadribol onde James Potter fizera noventa pontos em pouco menos de vinte minutos. A Grifinória consagrou-se campeã e todos se uniram depois do jogo para comemorar na sala comunal. Todos tinham com quem comemorar; James tinha Lily, Remus tinha Emmeline, Frank Longbottom tinha Alice e até Peter Pettigrew tinha alguém para lhe fazer companhia. Marlene estava com Caradoc em um canto qualquer da sala, mas Sirius estava sozinho.

No café da manhã, além do “bom dia” arrastado que desejou a todos sem muita emoção, não disse quase nada. Respondia quando lhe dirigiam a palavra e não fazia questão de dar continuação à conversa. Durante todas as aulas rabiscou o pergaminho e o livro com desenhos sem sentido e palavras aleatórias. Quando as aulas terminaram, não quis descer até o Lago Negro como de costume e em vez disso, dirigiu-se até a sala comunal. Pretendia dormir um pouco antes do jantar já que não dormira direito a noite. James Potter o acompanhou.

— Por que não foi junto com os outros? – perguntou Sirius quando James adentrou o quarto atrás dele e se sentou na cama, dando indícios que ficaria ali – Lily não está te esperando?

— No momento, quem precisa mais de mim é você, Almofadinhas.

Sirius, que já despira os sapatos e deitara na cama, levantou o pescoço.

— O que?

— Não se faça de idiota – disse James – Todo mundo notou sua mudança depois que a Lene disse que está namorando. Lily até ficou preocupada.

Sirius, então, se sentou na cama.

— Agora eu não posso ter um dia ruim só porque a McKinnon está de namoro com aquele cara?

— Sirius – disse James calmamente. Sirius hesitou porque James nunca lhe chamava pelo nome – preste atenção no que diz. Você se referiu a Lene pelo sobrenome e ao Caradoc como “aquele cara”. Você acha mesmo que não tem nada de errado?

Ele não disse nada.

— Porque eu acho que tem – completou James.

— Certo, eu não estou contente de ver a Lene namorando – replicou Sirius – e meu dia não foi um dos melhores. Qual o problema nisso?

— O problema é que você não quer admitir que gosta da Lene – disparou o outro.

— Quê? – ele exclamou – Pontas, não veja coisas onde não têm!

James assentiu e se levantou.

— Afinal, você está bem?

— Estou – respondeu – Depois que dormir vou ficar melhor ainda.

— Certo. Se você diz que está bem, acredito, mas caso você queira, enfim, conversar, vou estar no Lago Negro com a Lily e os outros.

Ele fechou a porta ao sair.

Conforme os dias e as semanas se passaram, o namorado de Marlene e Caradoc parecia mais firme e Sirius parecia mais com quem acabara de receber um balaço na cabeça.

Não era certo planejar boicotes a eles e nem usar as piores azarações em Caradoc, até porque Marlene nunca o perdoaria de machucar gravemente o seu namorado, mas o que menos parecia certo era a obsessão de vê-lo o mais longe possível de Marlene. O próprio Sirius não estava mais se reconhecendo. Nunca havia sentido vontade de pular no pescoço de alguém e arrancar-lhe a cabeça com as próprias mãos, ou melhor, não além de membros de sua família e professores na época de final de ano. Ainda assim era estranho.

A tal conversa que James havia lhe oferecido rendeu uma tarde toda de sábado entre insinuações da parte do amigo e negações da parte dele. Ele não poderia ter se apaixonado por Marlene McKinnon, poderia? Afinal era Marlene. Lene, sua amiga, que se desviava de um belo caminho de estudos e bom comportamento ao lado de Lily Evans e Emmeline Vance para aprontar às altas horas da madrugada ao lado dele e James. Lene que passava bilhetinhos para ele durante as aulas debochando da altura do professor Flitwick ou das broncas da professora McGonagall. Daquela também que o metia em confusões diversas vezes e fazia com que a culpa caísse sobre ele, e enquanto ela aproveitava uma tarde de sol nos finais de semana, ele ficava trancafiado na Sala de Troféus polindo os mais diversos prêmios das mais diversas época, e ainda sob os olhos atentos de Filch, o inspetor rabugento.

Talvez fosse impossível sequer pensar em estar apaixonado, ainda mais por Marlene. Não podia, não queria, não estava disposto a encarar um drama daquele calibre. Sirius nunca imaginaria, nem em um milhão de anos, que poderia se apaixonar por ela algum dia. Era quase um pesadelo. Mas um quase pesadelo que acabou se tornando a mais verdadeira vida real porque Sirius Black estava apaixonado por Marlene McKinnon, por mais impossível e absurdo que isso pudesse parecer.

E no dia em que Caradoc terminou tudo com Marlene por causa de outra garota, Sirius teve sérios problemas com Dumbledore depois de azará-lo até sangrar.

— Sirius! – exclamou Marlene McKinnon enquanto corria.

Sirius tinha acabado de deixar a Ala Hospitalar depois de fazer uma visita ao gabinete de Dumbledore na companhia da professora McGonagall.

— Você é louco, surtado ou o quê? Onde você estava com a cabeça? Por pouco você não o mata!

— Se você não notou, Marlene, era exatamente isso que eu pretendia – rosnou ele impaciente – E teria conseguido se aquele monitor na Corvinal não tivesse chegado para interromper.

Marlene o abraçou pelo pescoço quase o sufocando e em seguida lhe deu um tapa no rosto.

— Nunca mais – sibilou ela – Nunca mais... Olhe para mim, Black! Nunca mais saía como um louco de onde quer que esteja para ir atrás de alguém e quase matá-lo só para me defender, entendeu? Eu sei me virar sozinha.

— Não estou com humor para receber sermões agora, Marlene – disse ele.

— Não interessa se está ou não está, idiota! No que você estava pensando?! E se você conseguisse matá-lo?! O que você acha que iria acontecer com você!? O que você tinha na cabeça, Black!?

Sirius não disse nada.

— Responda! – ela explodiu.

— Quer saber mesmo? – quis saber Sirius – Eu estava pensando em você. Estava pensando em você e em mais ninguém, principalmente quando te vi chorando mais cedo porque um imbecil tinha trocado você por outra que não deve nem chegar aos seus pés! Porque eu tive que aguentar calado durante semanas você e ele, juntos, felizes, controlando todas as minha vontades de torturá-lo até a morte porque eu sabia que você iria ficar despedaçada se o amor da sua vida morresse e você o perdesse!

“E então aquele miserável enjoa de você como se fosse um doce, uma peça de roupa, e te troca por outra mais nova causando tudo o que eu temi se caso eu o matasse, sem se importar, nem por um segundo, como você se sentiria! E eu explodi!Eu não podia ficar calado diante de uma situação dessa! Ele não podia ficar impune!”

Marlene abriu e fechou os olhos para ele, perplexa.

— Mas você não podia...

— Não me venha dizer o que eu posso ou não posso fazer, Marlene! – brandou ele – Principalmente quando se trata de você!

Ela respirou fundo.

— Certo – disse ela, calma – Só acho que você podia ter dito, um pouco mais cedo, que gostava de mim, Sirius. Isso nos pouparia de sofrimento e, no seu caso, detenções até a formatura.

— O quê?

— Você ouviu o que eu disse.

— Mas você não estava apaixonada por ele? – perguntou Sirius, confuso.

Marlene sacudiu os ombros.

— Na verdade não – disse ela – Eu estava chorando mais pela rejeição do que por ele. Fui rejeitada por você durante todo esse tempo, Sirius, eu não aguentaria mais uma.

— O que quer dizer com ser rejeitada por mim? Eu nunca te rejeitei! Pelo contrário, eu sempre...

— Você sempre o quê? – ela quis saber. Seu tom era calmo, mas as palavras pareciam sangrar e ferir a Sirius a casa sílaba – Você sempre convidava outras garotas para te acompanhar em Hogsmeade. Você sempre estava aos beijos com outras garotas pelos corredores. Você sempre me viu como sua melhor amiga, como se eu fosse um quinto Maroto que, por um acaso, um erro, tinha nascido menina. Sirius, você nunca olhou para mim, e eu cansei. Fui atrás de outro cara e fui rejeitada, como fui por você.

Ele não tinha palavras.

— Mas está tudo bem agora, não está? – ela continuou em seu silêncio – Eu só queria que você tivesse sido um pouco mais rápido e um pouco mais corajoso em dizer que gostava de mim.

— Lene, eu...

Ela colocou os dedos sobre seus lábios, o impedindo de continuar.

— Só fale – impôs ela – se for a coisa certa a se dizer.

Por um momento ele continuou calado, se questionando sobre o que Marlene acabara de falar. O que seria a coisa certa a se dizer em um momento tão bizarro como aqueles? Mas em seguida, então, Sirius se aproximou, pegou sua mão e disse a ela, olhando bem no fundo de seus olhos, a coisa certa:

— Eu amo você.

E quando Sirius pensou que Marlene fosse dizer o mesmo, ela começou a rir.

— O que foi agora? – perguntou ele, decepcionado.

— Nada – ela disse, rindo.

— Sério, o que eu fiz de errado?

— Nada – garantiu – Só que... É estranho... Ver você assim, todo romântico.

Sirius olhou para o chão. Os ombros caídos, verdadeiramente decepcionado. Até aquele momento, imaginava situações completamente diferentes daquela quando dissesse a uma garota que a amava. E nenhuma delas atribuía a garota rindo dele, bem na sua frente. Talvez fosse compreensível já que também, em nenhuma das situações, imaginava que a garota em questão fosse quem era.

— Não fique assim – disse Marlene então, acariciando seu rosto – como se eu tivesse dado um Avada Kedavra em seu ego.

Ele olhou para ela.

— Mas foi exatamente isso que você fez – ele incriminou.

Marlene riu.

— Viu? E ainda continua!

Ela ainda riu mais uma vez antes de apenas sorrir para ele. As duas mãos estavam em seu rosto agora e uma delas escorregou até o pescoço.

— Talvez isso ajude a curá-lo – foi o que Marlene disse antes de beijá-lo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A coisa certa a dizer - SM" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.