For(n)ever. escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 2
Capítulo 01 - For you I am blinded. For you.


Notas iniciais do capítulo

Traduções nas notas finais.



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Capítulo #1 For you I am blinded. For you.

I stand here face to face with someone that I used to know,
Eu estou aqui frente a frente com alguém que eu costumava conhecer,
He used to look at me and laugh.
Ele olhava pra mim e ria.


Gabriel estava em New York, no meio de uma festa. Na realidade, não estava com clima para tudo aquilo, mas a Cobra Starship havia insistido para que ele fosse, e ele realmente foi. Todos os artistas da Fueled By Ramen estavam naquela festa – inclusive o The Academy Is... e o seu novo vocalista que Gabriel considerava horrível – o que deixava o vocalista da Cobra querendo mais estar em Montevidéu. Eram poucas as vezes que William realmente fazia falta, mas olhar para a tromba de Siska quando lhe encarava lhe fazia lembrar-se do seu marido. Cinco anos ao seu lado. Ele deveria considerar que era muito – e era muito – por tudo o que tinha passado.

A última vez que William viu Gabriel, eles haviam discutido feio. O último, agora, pensava seriamente se valia à pena continuar naquele casamento em que o seu maior tesouro não estava feliz. Haviam se passado três dias e o ex-vocalista nunca tinha passado tanto tempo assim sem tentar consertar uma briga, mesmo quando o errado é Gabe. Aquilo era muito estranho. Ele perdeu as contas de quantos whisky tomou e, por isso, perdeu a noção de espaço-tempo. Seu celular tocou e, em passos lentos, ele andou até um ponto mais remoto da festa, estranhando e – por um momento – agradecido pelo número ser uruguaio. Com certeza, era William, mas se surpreendeu ao ouvir a voz de sua mãe trêmula de choro.

Ei!” Jeanette falava e Gabriel franziu o cenho. “Onde você está, meu filho?”

“Mãe?” Franziu o cenho. “Eu to em New York, numa festa no bar do Wentz. Os meninos me obrigaram a vir pra cá. Por quê?”

“Teu marido...” Começou, falhando por um vestígio de desespero na voz. “Você tem que voltar a Montevidéu, o mais rápido possível, meu filho!”

“O que aconteceu, mãe?” Perguntou aflito. “Joder!* Mamãe, fale de uma vez por todas!”

“Ele sofreu um acidente hoje de madrugada, acabei de saber.” Explicou, em pranto. “Soube que ele passou essas duas noites na rua fazendo alguma coisa e, ao atravessar a rua, um indivíduo passou por cima dele.”

A mulher contava as coisas falhando, com o coração de mãe falhando. Gabriel sentiu o chão lhe faltar sobre os pés. Despediu-se da mãe de forma fraca e saiu arrastando seus companheiros de banda e avisando que a turnê estava encerrada, porque William havia sofrido um acidente em sua cidade natal. Todos compreenderam e decidiram parar a turnê, a final a mãe de Gabe não inventaria uma história assim, certo? Certo.

Quando pisou em terras sul-americanas foi direto para o Hospital de Traumatologia onde William Beckett estava internado, a partir daquele momento, sua vida e concepção de amor mudariam, porque ele ia aprender a amar na ausência, no medo de perder, no perder.

Estava frio dentro daquele lugar. Gabe sentia o coração disparado em seu peito, querendo sair para fora dali. Isso o deixava angustiado, cheio de dor no coração. Ele não conseguia ficar parado naquele lugar extremamente branco e com uma televisão tão baixa que era praticamente impossível de ouvir. Andava de um lado para o outro, angustiado, arrependido, com os olhos completamente baixos. Gabe era o culpado do que estava acontecendo?

Sim, ele era. Claro que ele era! – gritava sua própria consciência dentro de sua cabeça confusa.

Não, não era. Claro que não! – rebatia o coração de forma docemente amargurada. – Todo mundo tem conflitos.

O latino passou as mãos pelos cabelos e se jogou numa das cadeiras completamente fora de si. Os pensamentos, as confusões, flashs de sua vida a dois ao lado de William começaram a vir diante dos seus olhos. Tinha sido muito idiota nos últimos meses que vivera ao lado do seu marido. Estava sendo ridícula a forma de tratamento, as pequenas coisinhas que, agora, ele daria a vida para ficar farto.

“Gabe?” Chamaram-no e ele levantou os olhos, deparando-se com um copo de café. A voz era de Nate, que sentou-se ao seu lado. “Toma um pouco.”

Ele só conseguiu assentir. Mordeu o canto do lábio e segurou fragilmente o copo plástico com as duas mãos. Levou o líquido à boca e, mesmo ele estando fervente, a dor causada não chegava aos pés da culpa que ele sentia. Nada disso teria acontecido se ele não tivesse sido tão tolo. Tão visado em algo que não lhe dava prazer nenhum. Tão visado em... viver para se divertir.

O amor deveria ser prioridade, como era no passado, mas o passado agora não importava, apenas importava em saber como estava William, o que havia acontecido e porque os médicos não diziam como ele iria ficar. Cada pergunta em sua cabeça era como uma nova perturbação e o branco pálido do hospital não ajudava – em nada – acalmá-lo.

Era pra isso que servia o branco pálido em hospitais.

“El chico William Beckett, novio del grandioso cantante de la Cobra Starship, se encuentra en lo hospital especializado en traumas de nuestra ciudad. No hay informaciones de lo estado de salud de él, solamente nos dijeron que Beckett hecho una compleja cirugía en su cabeza y la cirugía fue un gran éxito. El cantante no habló con la prensa, pero él se vía muy abalado con todo eso. Volveremos luego, en vivo, de lo Hospital del Traumatología.”**

Gabe conseguiu ouvir um pouco da televisão e desacreditou que não havia sequer especulações sobre o estado de saúde do seu amor. Talvez o porta-voz daquele hospital fosse bem mais coerente que deveria ser. Ao menos, ele percebeu que o seu garoto estava em mãos de quem não se aproveitaria da situação para promover catástrofes. Ele já tinha uma suficientemente grande para lidar.

Gabriel agora encarava o copo de café. Já havia dois dias inteiros que ele estava ali. Agora já não tinha forças sequer para se mover do lugar. Estava sendo movido a café, suas olheiras ficavam bem maiores por causa da falta de dormir. Seu coração ainda apertava, sua cabeça procurava por respostas e culpados.

Deixe-o! – gritava sua razão. – Você já provou que é burro o suficiente para não conseguir cuidar dele.

Não! Ele precisa de você! – Dizia o coração contrito, fazendo com que lágrimas escorressem pelos olhos de Gabriel. Seu coração estava certo. Beckett precisaria dele quando levantasse da cama. Ele levantou os olhos um momento aos céus e em meio ao desespero, prometeu que nunca mais deixaria um amor tão bonito morrer numa rotina cheia de terríveis discussões e, às vezes, até noitadas sem fim. A Cobra Starship, em peso, havia se mudado para Montevidéu porque Gabe havia pedido, porque seria melhor para William e, no fim de tudo, ele agora estava morrendo.

Mas e se ele morrer? – Pensou sua maldita mente que, na hora que mais precisava que ela fosse calma, estava em plena atividade. Sacudiu a cabeça, discordando dessa terrível hipótese. O acontecido não poderia ser assim tão grave, tão severo com Gabriel. Poderia?

Poderia.

Quanto mais o tempo passava, Gabe ia se afundando naquela cadeira de hospital, mais batia o desespero, mais dúvidas. Os jornais não tinham nada que lhe interessava; eles não falavam sobre o estado de saúde de Bilvy. O café já não tinha mais cheiro, nem sabor, nem cor. Tudo era terrivelmente igual e havia um mês que ele mal comia, tirava apenas cochilos de quinze e vinte minutos. As únicas informações – que eram superficiais – que tinha era que seu namorado estava em coma induzido, apenas dependia de si próprio para acordar e que maiores exames de danos precisavam ser confirmados com ele acordava.

William Beckett estava estável, mas estável era pouco demais pra Gabriel.

Mais uma vez, um médico aproximou-se. Embora Gabriel estivesse se sentindo sozinho, sua mãe o abraçava e seus amigos da sua banda não lhe deixavam um minuto, sempre cuidando para que ele, ao menos, saísse daquela cadeira para tomar um banho e trocar as roupas. Em várias ocasiões, o vocalista do Cobra Starship precisou de medicamentos para poder repor a comida que ele sempre rejeitava. O médico não ia lhe atender, dessa vez. Ele viria lhe dar uma notícia.

“Sr. Saporta?” Chamou cordialmente e Gabe apenas assentiu fraco. “Poderia me acompanhar até minha sala para eu lhe mostrar o real estado do Beckett?”

“Claro.” Forçou um sorriso apático. Levantou com dificuldades e seguiu o neurologista por onde ele ia, até chegar em uma porta branca. O médico a abriu e Gabriel atravessou-a, com as mãos nos bolsos do jeans. Depois de apontadas às cadeiras frente à mesa, Gabriel sentou-se de qualquer maneira e acompanhou o doutor dando a volta na mesa para ficar à frente dele. “O que o Will tem?”

“Saporta, eu queria poder te dar uma notícia melhor que a que vou dar,” Falou, acomodando-se na cadeira confortável “porém eu não posso mentir pra você.”

“Ele acordou?” Perguntou fraco, com um vestígio de sorriso que a muito tempo não se via no rosto do vocalista. O neurologista negou com a cabeça, mantendo apenas o sorriso profissional. Vendo que não conseguiu muito mais que um suspiro do maior, o médico continuou:

“A pancada que o Beckett teve na cabeça foi muito forte, e a região que foi atingida foi o hipocampo. Ou seja, William não se lembra de nada do que houve antes do acontecido. Por muita sorte, a lesão não danificou o hipocampo, ele só precisa de um tempo para analizar e organizar suas memórias. Provavelmente, quando ele acordar, não se lembrará de nada e nem de ninguém.”

“Como assim, doutor?” Perguntou o cantor e o médico apontou algumas ressonâncias magnéticas colocadas contra uma luz. Segurou uma pequena varinha de metal e apontou o local onde o hipocampo ficava localizado.

“Aqui é o hipocampo, é ele quem distribui nossas lembranças para a região onde elas serão armazenadas para que com o longo dos anos, quando pensarmos nessas nossas memórias, o cérebro tem guardado, compreende?” Perguntou, fazendo pequenos círculos na região. Gabriel franziu o cenho por um momento e o médico continuou. “Nossa memória de longo prazo, é comparada a um freezer e nossas lembranças como algo que congelamos, certo?”

“Certo.” Respondeu fraco, olhando fixamente para o ponto indicado pelo médico.

“Essa coisa que congelamos tem um prazo de validade muito maior, mas chega um momento, que mesmo estando em um freezer ela desgasta. Mesmo assim, ela desaparece.” O médico recolheu o metal e calou-se um momento. Gabriel passou a encarar os próprios pés. “O que aconteceu com o Beckett é como se essa pancada tivesse tirado do lugar cada uma das coisas congeladas do freezer. Mas ele só precisa de um pouco de tempo e apoio para que tudo fique no seu devido lugar.”

Saporta fechou os olhos, absorvendo as palavras do médico. Ou seja, o William se lembraria de tudo o que havia acontecido, só não poderia armazenar mais lembranças. Seus planos e sonhos de mudanças foram todos por água a baixo. Porque tudo o que William Beckett não faria era ter lembranças de longo prazo. Talvez medianas, mas nunca permanentes. Nunca mais.

“Eu sinto muito.” O doutor falou profissionalmente, o músico assentiu.

“Obrigado.” Respondeu baixinho.

Fim do Capítulo Primeiro.


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Notas finais do capítulo

* Joder!: Porra!

**: O garoto William Beckett, namorado do grandioso cantor da Cobra Starship, se encontra no hospital especializado em traumas de nossa cidade. Não há informações de seu estado de saúde, somente nos disseram que Beckett passou por uma complexa cirurgia em sua cabeça e que foi um grande sucesso. O cantor não falou com a impressa, mas ele parecia estar muito abalado com tudo isso. Voltaremos logo, ao vivo, do Hospital de Traumatologia.



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