Era apenas um festival, caminhava pelas pedras recém molhadas devido à chuva que havia caído a pouco, deixando para trás apenas uma fina neblina e em meio às barraquinhas de brindes e doces, eu me desviava das pessoas sempre tão apressadas.

Uma música qualquer saia das caixas de som em frente ao palanque, foi quando percebi que era uma daquelas músicas de séculos atrás, já que se tratava de um festival medieval, me senti extasiada por um minuto, até que me recordei, e junto à lembrança senti o desconforto que me causava o espartilho usado por cima de meu vestido, ignorando o incômodo continuei a caminhar, parei em uma barraquinha com algumas jóias confeccionadas naquele estilo de época, dei uma rápida olhada, mas parei vislumbrada em um colar com o Sol e a Lua.

Meus dedos logo se puseram em direção do que parecia um medalhão, mas antes de tocá-lo dedos frios se encontraram aos meus, olhei para ver se reconhecia, mas deparei-me com um estranho que me olhava com um sorriso em meio a uma perceptível falta de paz. Meu coração parecia gritar em reconhecimento ao homem, seus olhos pareciam ver através de mim, e eu sentia como se já o conhecesse de algo a mais que essa vida. Sem reação alguma minha, pude vê-lo fechar a mão em volta do medalhão, palavras rápidas sussurradas, pude perceber que ele pagava o objeto, e sem explicação alguma, o desconhecido simplesmente se virou, lentamente levou a mão ao meu pescoço, tirando meu cabelo do caminho e assim depositando o medalhão ali.

Por que não recusei? Não parecia haver motivo, com um pequeno sorriso, ele me sussurrou próximo ao ouvido:

- Tão bela como sempre. - As palavras, simples, sem sentido para mim, me causaram sensações estranhas. Um frio cortante atravessou meu corpo, enquanto sentia a mão dele em minha cintura me conduzindo a um lugar desconhecido.

Não sentia vontade de lutar, nem de nada. Estava totalmente vulnerável sem nem ao menos saber por que, apenas o seguia como se disso dependesse minha vida. Afastados agora de todo o aglomerado de pessoas, ouvi-o dizer:

- Esperei muito tempo por você. Agora não fugirá mais. - Meus olhos se encontraram com os dele, e me deixei levar por um beijo caloroso. Enquanto nossas línguas dançavam, como uma canção tocada no mais puro desespero, tudo o que sentia era desejo. Um puxar em meu lábio inferior me causou um sussurrado gemido.

Não sabia o que acontecia ali. Não sabia por que correspondia ao beijo de um desconhecido e muito menos porque senti prazer quando o senti roçar os lábios em meu pescoço, esperando por algo ao qual não sabia.

Foi então que a resposta veio, antes de tudo, ele me olhou nos olhos, sua face transformada.

Caninos crescidos, e orbes vermelhos e felinos:

- Não deixarei você escapar mais. Segui-te através dos séculos por esse único momento. - O êxtase que veio em seguida, ainda não era conhecido por mim. Seus caninos perfuraram minha pele, uma onda crescente de dor, logo substituída por puro e simples prazer, memórias de vidas passadas passavam por minha mente, sempre condenados e proibidos de nos amar, era como se tudo o que tivesse vivido até agora, fosse somente para aquele momento a muito marcado em nossos destinos. A transformação estava completa e em um pequeno sussurro pronunciei:

- Finalmente juntos... - E enquanto a Lua se escondia entre as nuvens, o prazer era meu refúgio, onde para sempre contemplaríamos O Último Luar...