Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 2
Dois




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Shunrei abriu os olhos lentamente, acostumando-se à claridade. Vasculhou com o olhar o pequeno quarto impecavelmente branco e organizado, tentando se familiarizar com o ambiente.

Havia uma janela grande, fechada e escondida por grandes cortinas brancas. Uma poltrona confortável em uma das extremidades do quarto e um criado mudo com flores recentes.

Sua consciência voltava aos poucos, e quando tentou levantar, uma dor aguda em seu braço a fez ter medo, foi então que percebeu que ele estava imobilizado.

Então seu corpo todo doeu, como se um botão tivesse sido ligado em seu corpo, extremamente cansado.

— O que? – Pronunciou baixo e sentiu os olhos lacrimejarem graças a uma dor fina em seu lábio...

 Levou a mão até o lábio, sentindo um corte, percebendo que o braço livre estava recebendo algum tipo de medicação.

“O acidente...”, lembrou, já totalmente desperta. Analisou a si mesma com mais cuidado e suspirou agradecida ao notar que, apesar dos machucados aparentes, não havia sofrido nada grave.

Seus pensamentos voltaram para o momento do acidente. Foi tudo tão rápido que Shunrei não conseguia decifrar o que tinha acontecido. E nem teve muito tempo para considerar, pois a porta do quarto se abriu e um rapaz entrou.

— Você finalmente acordou! – Ele disse com um tom de voz aveludado e muito aliviado – Graças à Deus.

Shunrei apenas pode fitá-lo impressionada.

Ele era simplesmente lindo.

Talvez o homem mais lindo que já tivesse visto em toda sua vida. Alto, de pele quase morena, longos cabelos lisos e perfeitamente alinhados, de um tom bem escuro. Totalmente fora dos padrões.

Trajava uma calça social preta e uma camisa branca, com as mangas erguidas até os cotovelos, pouco amassada, e sua gravata azul estava desalinhada, porem isso o deixava ainda mais bonito.

Os olhos, pouco mais claros que o cabelo, fitavam-na interessados. O  que a deixou um pouco inquieta.

— Você está bem? – Ele quebrou o silêncio.

— S-sim, apesar das circunstâncias... – Shunrei disse, um pouco constrangida pela presença marcante do rapaz.

— Fico muito feliz em poder ouvir isso de você – Ele rebateu gentilmente.

— Desculpa, mas você é...?

— Ah, sim. Perdão... Me chamo Shiryu Suyama, senhorita Chang. É uma pena nos conhecermos nessa situação. Mas, fico realmente feliz que já tenha acordado.

— Eu não lembro direito do que aconteceu. Estava indo pra minha casa e, de repente algo me atingiu com força. Foi tudo tão rápido…

— Sim, eu tentei evitar... Sinto muito... – Seu tom de voz era pesaroso.

— Se envolveu-se no acidente também?

— Bom, sim... – Sua voz demonstrava receio – Foi o meu carro que acertou o seu.

 A surpresa de Shunrei foi perceptível então ele tratou logo de continuar.

— Me desculpe. Eu tentei controlar o carro de todas as formas, mas não consegui. Fui fechado por uma moto que derrapou por causa da chuva, um único instante antes e, quando notei, tudo já estava um caos. Novamente, sinto muito. Mesmo.

— Tudo bem... Não tem que se desculpar. Afinal, eu estou bem e você também, então acabou... – Shunrei disse ainda meio surpresa – Você se feriu?

— Eu consegui um corte apenas – Shiryu levantou uma mão até sua própria franja, afastando-a o suficiente para que ela pudesse ver a bandagem com mais clareza. E então seu semblante pareceu entristecer – Mas, você... Você quase quebrou o braço, teve várias escoriações, perdeu a consciência por um longo tempo. Eu bati a cabeça, mas fiquei acordado o tempo todo.

Shunrei ficou comovida com a preocupação evidente no rapaz. As lembranças do acidente ainda tão vívidas balançaram um pouco sua postura firme.

— Assim que eu consegui sair do meu carro, eu vi o seu totalmente virado... Eu meio que me desesperei. Quando me aproximei, você estava desacordada, presa pelo cinto e tinha sangue… Tudo no que eu pude pensar foi em te tirar de lá, nem pensei na hora, se o que estava fazendo era certo.

Ele parecia atordoado, confuso e culpado. Direcionou um sorriso nervoso à Shunrei, fitando-a diretamente. A verdade é que ele estava preocupado com a reação dela.

Shunrei até queria confortá-lo, dizer que estava tudo bem. Contudo levou alguns segundos para assimilar tudo o que ouviu, e tudo o que lembrava.

Era ele... O alguém em sua janela. 

Se lembrava claramente de alguém a olhando, de braços a bsucando e, naquelas circunstancias, claro que considerou ser um anjo. No calor do momento, a única coisa que conseguia pensar era em que morreria ali mesmo.

Mas, era ele. Tinha sido ele.

E não seria difícil confundi-lo com um anjo, sendo tão bonito...

— Você não teve culpa... – Ela finalmente disse – Estamos bem...Vamos esquecer isso – Sorriu, tranquilizando-o.

Shiryu permaneceu fitando-a, por esses momentos... Ela era tão jovem e tão bonita. A culpa o consumiria a vida toda, se algo mais sério tivesse ocorrido.

— Você tem razão... – Ele concordou e um sorriso leve surgiu em seus lábios. Embora soubesse que não conseguiria apenas deixar pra lá.

— Err... Eu preciso avisar minha amiga... Ela deve estar preocupada e...

— A senhorita Kido? Eu entrei em contato com ela, já que os documentos do carro estavam no nome dela. Ela está preenchendo um formulário do hospital, chegou à uma hora, mais ou menos. Ela me explicou que era sua primeira vez… Que tinha acabado de tirar a habilitação. Eu realmente lamento...

— Uma grande estreia, não? – Ironizou, arrancando um sorriso maior de Shiryu – Só lamento ter estragado o carro da Saori. Ela confiou em mim...

— Quanto a isso, não precisa se preocupar, Srta Chang...

— Shunrei... – Disse cortando-o

— Como?

— Shunrei, me chame... Apenas de Shunrei, se não se importar... – Corou levemente.

— Shunrei... – Ele repetiu e fez uma pequena pausa, como se precisasse assimilar – Eu... Vou pagar as despesas do concerto do carro.

— Não, de maneira nenhuma. Não é justo, foi um acidente, Sr. Suyama e...

— O que não é justo é você me chamar de Sr. Suyama – cortou-a – Só Shiryu, por favor.

— Bom... Shiryu...

— Bem melhor.

— Ainda assim, eu não acho que...

— Eu já conversei com a senhorita Kido – A interrompeu novamente – E já a convenci depois de muito insistir, então é uma batalha perdida me fazer mudar de ideia. Pode se render também... – Sorriu, fazendo Shunrei sorrir também.

— Sendo assim, obrigada... – Shunrei disse quase em um sussurro. Seu sorriso era claro, sincero...  E deixou Shiryu entretido. 

Mesmo com o lábio inchado e há algumas horas do acidente, seu semblante parecia sereno.

Naquele momento, ele só conseguia imaginar que seria um crime privar o mundo daquele sorriso.


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