Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 14
Quatorze




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— Vamos levar o carro da Saori? – Seiya entra animado na sala de Shiryu, como de costume, sem cerimonias. O carro estava pronto e ele ansioso, pois haviam combinado de fazer uma surpresa para elas, mas logo percebeu que algo tinha acontecido – O que você tem?

Shiryu estava de pé, em frente à janela com os braços cruzados e sua expressão ao virar-se para o irmão era pura preocupação.

— Algol se demitiu.

— O quê?  – Esbravejou – Por quê?

— Ele não deu detalhes, apenas trouxe a carta de demissão e disse que não podia continuar... – Shiryu elevou uma mão à fronte, fazendo pressão na esperança de que isso aliviasse a dor que começava a incomodar – Tentei argumentar, mas...

 Algol era um dos melhores administradores da empresa, e um dos mais antigos. Sempre trabalhou tão bem e estava à frente de quatro contratos importantes, ele não podia simplesmente sair assim.

— Cara, que merda! – Seiya suspirou. Isso realmente é um problema – E agora?

— Agora vamos ter que nos desdobrar até encontrar um substituto... Ele já foi... – Shiryu pegou alguns papeis que estavam na mesa e começou a organizar. Não era só encontrar alguém para suprir a vaga, mas encontrar alguém de confiança, além do tempo para se habituar ao trabalho tão bem manuseado por Algol, durante tantos anos. 

Era uma procura que demandava critérios que eles não teriam tempo de avaliar. Precisariam de ajuda e rápida.

— Claro, claro... Mas não hoje. Chega Shiryu, vamos lá visitar as meninas.

— Seiya, você pode ser um pouco mais responsável? Isso é sério – Disse firme.

— Sim, eu sei que é. E sei também que não vai adiantar nada ficar até mais tarde hoje, ou vai? – O intimou. Shiryu tinha razão em se preocupar, mas não devia deixar que isso interferisse sua vida pessoal. Nem tudo é trabalho – Dê a cada dia o seu próprio mal. O que está feito, está feito. Além disso, vai te fazer bem distrair a mente, pelo menos hoje, ou não?

Shiryu ponderou por um momento e, bom, Seiya não deixava de ter razão. Desde que Algol saiu de sua sala, a quarenta minutos, isso estava martelando em sua cabeça e precisava muito de um alivio.

Admitia que ver Shunrei seria ótimo para seu humor.

— Está bem, tem razão. Mas você sabe se...

— Espera! Você disse que eu tenho razão? –  Deu um longo assovio – A demissão te afetou mesmo, cara.

— Me erra Seiya.

— E está falando gírias! Não, isso já é demais. Vamos procurar um médico depois porque alguma coisa deve estar trocada na sua cabeça.

— Bati a cabeça no acidente lembra? – Shiryu entrou na brincadeira e Seiya o fitou sorrindo.

— Verdade, deve ser isso – Estalou a língua. Caminhou de volta até a porta – Então, vamos logo antes que volte ao normal. Vem!

Foram até a sede do seguro pegar o carro de Saori. Shiryu já estava com seu carro, novinho em folha, exatamente igual ao perdido. Mas neste dia em especial, foi trabalhar com o Seiya, pois combinaram de ir juntos recuperar o carro na asseguradora e sair separados; Shiryu dirigindo o carro de Saori, enquanto Seiya dirigia o próprio.

Rapidamente chegaram à casa das meninas.

Assim que desceram do carro, Shiryu observou Seiya ajeitar as roupas, como se estivesse nervoso. Shiryu pensou que ele estava aprontando, mas pode estar mesmo interessado na jovem. Afinal, ele e Saori realmente eram parecidos... 

Fazia um tempo desde a ultima vez que Seiya se relacionou com alguém. Ele gostava de flertar com todas quantas fosse possível, mas só ficava nisso, sem exageros. Ele era apresentável, bonito e convencido. Mas não saia com nenhuma delas. Dizia estar esperando a garota certa, mas para Shiryu ele só não quer compromisso mesmo.

O irmão não sabia, mas Seiya não estava nervoso, e sim ansioso. Apesar de ser mesmo uma surpresa para elas, já que Seiya não comentou que levariam o carro naquele dia, ele e Saori combinaram, nos últimos dias, o próximo passo.

Ele estava definitivamente decidido a não permitir que Shiryu deixasse essa oportunidade passar sem nem tentar, como tantas vezes antes.

Seiya tocou a campainha e a porta logo foi aberta por Saori. O sorriso que ela abriu foi tão bonito que seu coração até se aqueceu.

— Seiya, que surpresa boa! – Falou já se prontificando em abraçá-lo com um animo sincero, mas dentro do papel de mulher interessada, obviamente.

— Vai ficar ainda melhor... Onde está Shunrei?

— Bem aqui – Shunrei surgiu por detrás de Saori, também sorrindo – Como vai, Seiya?

— Melhor agora – Cumprimentou-a com um beijo no rosto, observando-a atentamente – Hmmm, acho que tem alguma coisa diferente em você...

— Ela está sem a tala – Shiryu aproximou-se também e fitou diretamente Shunrei.

— Ahhhhh, é mesmo. Observador, hein... – Shiryu era sim um bom observador, mas claro que Seiya estava sendo sugestivo, pois não podia perder a excelente oportunidade, certo?

— Saori, como vai? – Shiryu a cumprimentou primeiro, também com um beijo no rosto.

— Muito bem, obrigada – Retribuiu, afastando-se um pouco, para que ele tivesse espaço para se aproximar de Shunrei.

— E você, Shunrei? – Dessa vez, ele também a beijou no rosto.

— Bem, e você? – Corou levemente, desviando o olhar por um breve momento.

— Feliz em ver que você está finalmente sem aquele gesso.

— Nem me fale, não aguentava mais... – Shunrei ergueu o braço antes imobilizado quase que em um movimento automático, mas foi surpreendida ao sentir o toque suave em sua pele.

Shiryu segurou seu braço, como se precisasse tocá-lo, pra ter certeza de que estava tudo bem. O que fez Shunrei corar ainda mais.

Seiya deu um leve cutucão em Saori, que tentava em vão não encarar os dois. Ela estava sentindo-se triunfante.

— B-bem, e o seu corte? – A jovem perguntou tentando afastar o constrangimento. Foi quando Shiryu se deu conta do ato involuntário e ficou surpreso com si mesmo. Não pelo movimento, mas por perceber que não queria soltá-la.

— Vou tirar os pontos amanhã... – Saiu baixo, então ele limpou a garganta, deixando que seus dedos deslizassem devagar, até se desprenderem totalmente do braço de Shunrei, desviando a atenção – Nós trouxemos o seu carro, Saori.

— Sério?!

— Sim, vem cá! – Seiya completou, puxando-a pela mão para fora de casa com rapidez.

Shiryu e Shunrei os seguiram calmamente, apreciando secretamente a presença um do outro.

— Acho que Seiya está interessado na sua amiga.

— Eu tenho certeza de que ela está interessada nele – Shunrei sorriu, fazendo Shiryu sorrir também – Saori é uma garota maravilhosa, com um coração enorme. Eles vão se dar muito bem.

— Não duvido – Falavam baixo, enquanto caminhavam o curto espaço até o carro – Seiya tem esse jeito despreocupado, mas é um excelente rapaz. Dedicado e responsável... A maior parte do tempo.

Shunrei deu uma boa risada, que foi muito apreciada por Shiryu.

Ele definitivamente estava interessado nessa garota e agora precisava decidir o que faria.

— Olha isso Shunrei! Está perfeito – Saori gritou, admirando o carro, novinho em folha. A jovem então foi em direção à amiga e passou a analisar o carro também.

Conversavam alegres, mas Shiryu não estava prestando atenção no que falavam, apenas estava feliz com a alegria das meninas.

— Eu devo ter um lenço no carro – Seiya surgiu para estragar o momento. E mais uma vez, não fazia sentido algum.

— Como assim?

— Pra essa baba que está escorrendo ai.

— Palhaço... – Shiryu o acertou no peito, fazendo-o recuar brevemente, com aquele sorriso largo e despretensioso, típico dele – Olha a alegria delas, fico feliz que tenhamos vindo hoje.

— Eu sei, fiquei animado também.

Eles observaram as garotas se aproximarem, ainda eufóricas.

— Não sei nem como agradecer Shiryu, está perfeito – Saori parecia realmente encantada.

— Não precisa agradecer – Shiryu pegou a chave do carro, que estava em seu bolso e devolveu a dona – Fui eu que destruí o carro, pra começo de conversa.

— Shiryu, foi um acidente... – Shunrei comentou.

— Ele sabe Shunrei, ele tem prazer em assumir responsabilidades extras. É como tomar sorvete pra ele – Seiya ironizou.

— Excelente ideia! – Saori disse, deixando todos confusos – Tem uma sorveteria de peso maravilhosa virando a esquina. Porque não vamos lá?

— Só se for agora – Prontamente aceitou Seiya – Shiryu, vamos.

— Seiya... – Começou com seu tom de advertência, mas foi cortado.

— Ah, por favor, quando você me viu recusar sorvete? Shunrei você vem não é?

— Sim... Eu também gosto de lá – Concordou. Era verdade que gostava do lugar, mas o olhar de súplica de Saori pesou na sua afirmação.

— Tudo bem, vamos – Rendeu-se. Não ia ser nada ruim, de qualquer modo.

— Vocês podem esperar só um pouquinho, vou buscar minha bolsa. Shunrei vem comigo? – Saori grudou no braço da jovem e a puxou para dentro de casa.


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