Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 13
Treze




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Passaram-se três dias desde o jantar.

Shunrei já estava entediada de ficar em casa sem poder se mexer livremente. E Saori estava estranhamente sorridente e não largava o celular.

— Pra quem você está sorrindo tanto? – Perguntou enfim, depois de tanto ver Saori desfilar na sua frente com o celular na mão.

— O que? – Saori voltou sua atenção a ela, sentando-se ao seu lado no sofá. – O que está lendo?

— Não respondeu minha pergunta, não disfarça. Com quem está falando?

— Ah! Com o Seiya – falou dando de ombros.

— Hmm.... Com o Seiya...– Repetiu, porém lentamente.

— Não é isso. Ele apenas me mandou uma mensagem avisando que o carro amanhã estará pronto... Finalmente.

— E durante todo esse tempo falaram só sobre o carro? – Perguntou sugestiva e Saori sorriu de canto.

— Com certeza não. Na verdade, ele é muito falante... E carente de atenção... E... Shunrei, ele quer sair comigo – Disse forçando um nervosismo.

 A verdade mesmo é que estavam tramando há muito tempo um primeiro passo. E Saori já estava cansada de enviar mensagens com sorrisos largos para que a amiga captasse. Não que fosse difícil fingir, já que Seiya era mesmo falante e muito brincalhão. Mas, estava fazendo isso o tempo todo e só agora Shunrei esboçou alguma reação.

— E você disse sim?

— Não, eu não disse nada ainda... É estranho. Nós nem nos conhecemos direito...

— E não é pra isso que as pessoas saem?

— Sim, mas... Sei lá – Demonstrou insegurança que não era dela.

— Você não quer?

— Eu quero muito.

— Então diga sim.

— Mas esse é o problema... Eu não sei... – Saori de repente a fitou, como se tivesse tido uma ideia – E se sairmos todos juntos de novo?

— Todos juntos?

— Nós duas e eles dois, como foi no jantar – Comentou como se fosse óbvio.

— Saori, você não precisa disso, é só sair com ele...

— Não é só sair amiga... Eu não quero parecer precipitada. Você é nossa ligação. Foi tão bom com todo mundo aqui... Não foi?

— Saori... – Shunrei sorriu com o nervosismo da amiga. Ela sempre teve interesse em vários garotos, nesses anos em que estiveram juntas, mas foram pouquíssimas às vezes em que ela realmente se envolveu com alguém. E, ela sempre a tentava arrastar de alguma forma.

— O que? Ah, por favor, Shunrei.  Por favor, por favor... Por favor? – Insistiu.

 O olhar que Shunrei lançou foi desconfiado. Não sabia mais o que pensar sobre tudo isso... Porém não podia negar que a ideia lhe agradava.

— Tudo bem... – Mal terminou de falar e Saori estava sobre ela, lhe abraçando – Mas... Não depende só de mim, você sabe. E quero me livrar dessa coisa antes. Não aguento mais Saori!

— Ah, e quando é o retorno?

— Amanhã, finalmente...

— Ai droga... – Saori praguejou – Eu acabei de me lembrar de que meu avô me convocou para visitá-lo amanhã. Nossas férias estão acabando e ele inventou que preciso velo enquanto ele está vivo...

— Ele tem razão... – Shunrei tentou não transparecer sua tristeza sem sucesso.

— Não, não Shunrei. Me perdoa, por favor, não foi o que eu quis dizer – Suspirou – Você conhece nosso relacionamento complicado e eu estou dizendo que eu vou... O problema é esse, não vou poder ir no hospital com você.

— Eu posso ir sozinha, Saori... – O telefone tocou. Imediatamente, Saori pulou por cima de Shunrei para atender. Não que estivesse realmente interessada em quem estava ligando, mas sim porque Shunrei estava no caminho entre ela e o telefone.

— Alô... Ah, que bom que é você. Leu minha mente! Está livre amanhã? Quero que acompanhe Shunrei no médico? 

— Quem é? – Shunrei perguntou, mas foi plenamente ignorada.

Tudo bem, já que pelo tom descontraído da conversa seguinte, ela tinha uma boa suspeita da pessoa do outro lado da linha.

E estava certa.

No dia seguinte, foram juntas ao hospital.

— Obrigada por me acompanhar, mas Saori é preocupada demais, eu poderia ter vindo sozinha – Mais uma vez, agradeceu.

— De jeito nenhum! – Respondeu Eiri, enquanto entravam na enfermaria, onde pediram que esperassem pelo médico – E não precisa agradecer, pois eu concordo com ela, mocinha.

Shunrei sorriu, mas tão logo sua expressão mudou.

— Tudo bem Shunrei?

— Sim, só estou ansiosa para tirar essa coisa – Sorriu, levantando um pouco o braço pesado pela tala.

— Sei muito bem como é. Eu quebrei o braço uma vez, lembra? Foi um tempo depois de você chegar no orfanato.

— Ah, lembro sim. Foi terrível, as crianças não te deixavam em paz – Sorriu com a lembrança.

— Nossa, elas ficavam perguntando, querendo pegar, escrever no gesso... Não sei o que era pior: estar com o braço quebrado ou as crianças.

As duas riam quando o médico chegou.

— Acho que nem preciso perguntar se você está bem, Shunrei.

— Melhor só depois de tirar isso – Brincou – E você?

— Muito bem. Você é uma das muitas pessoas que se sentem amarrada com isso? – Um sorriso dançou em seus lábios enquanto aproximava-se para avaliar o braço imobilizado com cuidado.

— Com toda certeza. Era disso mesmo que falávamos não é, Eiri? – Shunrei disse, fitando a amiga a tempo de perceber o quanto ela estava encantada com o loiro. Se quer piscava. Apenas voltou a si quando ouviu seu nome ser pronunciado.

— Oi?

— Você conhece o Hyoga? – Disse se aproveitando da situação – Coincidentemente, ele é um amigo, do meu tempo de escola.

 — Ah, não. Não... – Sua voz transpareceu nervosismo, então a loira limpou a garganta discretamente – Prazer em conhecê-lo, sou Eiri, amiga dela.

— O prazer é meu, Eiri – Disse o médico, fitando-a nos olhos, com um belo sorriso.

 — Eiri trabalha comigo em uma lanchonete próxima ao centro e é voluntária em um orfanato aos fins de semana. Estava me contando sobre uma vez em que ela quebrou o braço e virou celebridade entre a criançada.

Shunrei disse com um entusiasmo acima do necessário. Algo que passou despercebido pelo médico ocupado em ‘libertar’ Shunrei, mas Eiri percebeu rapidamente, graças ao convívio com a amiga.

E sim... Shunrei estava obviamente tentando despertar a atenção da sua amiga, no loiro.

— Voluntária em um orfanato? Que legal, eu vivi em um orfanato.

— Verdade? Eu também... – Eiri estava surpresa. E Shunrei também estava, já que não sabia dessa informação.

— Sim, verdade. Mas não foi muito tempo. Fui deixado lá ainda bebê e adotado em questão de meses – Apesar de manter a conversa, sua atenção estava em seu trabalho no braço de Shunrei.

— Eu não tive essa sorte. Nunca fui adotada. Depois que fiz 18 anos, precisei sair, mas eles nunca me abandonaram. Me acompanharam até eu conseguir um bom lugar pra ficar e me sustentar. Por isso, até hoje eu me sinto parte de lá e ajudo sempre que posso.

— É muito bonito de sua parte, Eiri – Hyoga parou o que fazia por alguns segundos para olhar a jovem, diretamente. Ela era jovem e muito bonita também. Com certeza passou por grandes dificuldades na vida, mas parecia ter um bom coração.

— Não é nada demais, eu... Gosto muito – Estava levemente corada.

— E onde fica o orfanato? – Hyoga continuou, enquanto limpava cuidadosamente o braço de Shunrei, já sem nada. Esticou delicadamente e fixou-se na expressão de Shunrei em busca de qualquer sinal de dor.

— Fica na divisa com a próxima cidade, não é muito grande...

— Não seria o “Filhos das Estrelas”, seria? – Comentou Hyoga surpreso.

— Sim, esse mesmo... – Eiri olhou-o intrigada. Ele conhecia o orfanato.

— Foi nesse orfanato que me deixaram.

— O que? Tem certeza?

— É claro que tenho, minha mãe faz doações regulares ao orfanato até hoje. Faz anos que eu não vou lá, mas ela vai, sagradamente, pelo menos uma vez no mês. Você deve ter se encontrado com ela, Natassia Yukida.

— Oh, céus você é filho da Dona Natassia? – Hyoga sorriu da expressão admirada de Eiri. Seus olhos brilhavam como se ela tivesse descoberto uma celebridade – Não acredito!

— Sim, eu sou – Sorriu orgulhoso.

— Dona Natassia é uma pessoa maravilhosa! O modo como ela lida com as crianças é tão fantástico, tão bonito... É um verdadeiro dom, eu me inspiro muito nela – Eiri sorria, verdadeiramente feliz, e isso sim conseguiu chamar a atenção do médico – Você tem muita sorte.

— Sim, eu tenho – Hyoga estava contente de ver que a sua mãe era tão admirada. Não podia ser diferente, ela realmente era uma mulher formidável em vários sentidos.

— Coincidência, não? – Comentou Shunrei, sorrindo. Eiri corou, concordando com a amiga enquanto Hyoga, que ainda segurava seu braço, afastava-se.

— Ah, então... – O medico limpou a garganta, percebendo que nos últimos instantes, fez seu trabalho no automático – Como está braço? Sente dor?

— Não, está ótimo. Apesar de ainda parecer que estou com a tala.

— É o costume, logo voltará ao normal. Qualquer problema, pode voltar aqui – Disse, fazendo pequenas anotações em um prontuário – Pode tomar o remédio para dor que te receitei antes, caso sinto alguma coisa.

— Tudo bem. Muito obrigada Hyoga.

— O prazer é todo meu. Você está finalmente livre, podem ir quando quiserem.

— Livre e aliviada – Shunrei estendeu a mão para cumprimentá-lo, que foi prontamente recebida, não só com um aperto de mão, mas com um beijo.

— Foi um prazer conhecê-la, Eiri – Voltou-se para a menina e estendeu a mão  para cumprimentá-la, repetindo o mesmo gesto cortês empregado em Shunrei.

Mas, Eiri podia jurar que o beijo em sua mão tinha demorado um pouco mais.

— Igualmente... – Saiu mais baixo do que gostaria e sabia que estava corada.

 — E espero que da próxima vez que nos encontrarmos, não seja por causa de um acidente – Sorriu, fitando Shunrei.

— Eu também espero – Concordou.

— Talvez eu faça uma visita ao orfanato, Eiri – Voltou-se para a loira, enquanto caminhava até a saída – Até qualquer dia.

— Até... – Confirmou, vendo-o desaparecer.

 As duas saíram da enfermaria quietas, mas Shunrei tinha um sorriso sugestivo no rosto que Eiri fazia questão de ignorar.

— Pode parar Shunrei... – Disse quando não se aguentou mais.

— O que? Eu não disse nada... – Sorriu ainda mais.

— Nem precisa dizer, né.

— Acha que eu estou pensando alguma coisa só porque ele praticamente disse que irá visitar o orfanato por você? Imagina... – Riu alto do empurrão sutil que levou da amiga.

— Ele não disse isso, Shunrei.

— Disse sim! Pode não ser com essas palavras, mas disse. Vai me dizer que não ficou animada?

— Animada? Amiga, ele é um médico, lindo, loiro, dos olhos azuis e filho da Dona Natassia, a mulher que mais reverencio nessa terra... Acho bom ele ir mesmo naquele orfanato ou eu vou colar na mãe dele... – Começou a rir antes de concluir a frase.

Shunrei riu também, pois ela sim estava animada com a ideia de um possível afeto surgir entre eles.

Agora compreendia perfeitamente porque Saori tentava arranjar namorados para ela... É excitante.


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