Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 11
Onze




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A casa era completa. Não parecia tão grande por fora, mas era bem espaçosa.

Havia uma mesa, onde parecia ser a copa, em estilo moderno, posta com um forro branco e detalhes dourados nas bordas e já estava com pratos, copos, talheres e uma travessa de salada.

A cozinha era ao lado, Eiri foi direto para o fogão e tirou do forno uma travessa que continha batatas assadas e na outra mão, brócolis. Depois de por na mesa, voltou para buscar mais duas travessas, dessa vez com arroz, um peixe assado e lentilhas. Tudo cheirava maravilhosamente.

Enquanto isso, Saori buscava na geladeira, suco e salada de grão de bico.

A mesa já estava servida e todos devidamente acomodados, quando o celular de Eiri tocou.

— Ah, eu preciso atender, volto logo. Podem começar sem mim... – Afastou-se, já atendendo a ligação.

— O cheiro está maravilhoso – Comentou Seiya.

— Ah, por favor, sirvam-se. A casa é de vocês – Incentivou Saori. Ela mesma, já começou a servir-se, enquanto os rapazes levaram alguns segundos para decidir o que fazer, até Seiya mover-se.

— O cheiro está fantástico, Saori, aposto que o gosto também – Seiya disse galanteador.

— Com certeza que está. Mas, guarde os elogios para Eiri. Ela fez tudo praticamente sozinha... Eu sou boa em muitas coisas, mas a cozinha não é uma delas – Comentou, piscando para Seiya, mas arrancando sorrisos de todos á mesa.

— Isso é verdade. E eu tentei ensiná-la várias vezes – Engatou Shunrei.

— E Shunrei é outra que cozinha muito bem. Precisam voltar aqui quando ela estiver sem essa trava no braço, pra conferir – Saori comentou, dessa vez, piscando para a amiga.

Após servir-se, Saori passou a servir Shunrei, que teria dificuldade sozinha, e Shiryu serviu-se por último.

— Saori, você não colocou peixe pra Shunrei – Observou Seiya.

— Ah, é porque ela não come mesmo. Minha amiga aqui é geração saudável, viva a vida natural e essas coisas... – Brincou.

— Sou vegetariana, Seiya – Confirmou Shunrei, olhando torto para Saori, que deu de ombros.

— É verdade? Isso é muito legal! Muito legal mesmo – Seiya estava animado demais, observou Shiryu, e em seguida descobriu por que – Você que tem essas vontades, não é Shiryu, parar de comer carne e tals. Shunrei pode te dar uns conselhos.

  Sim, isso era verdade, mas Shiryu tinha certeza absoluta que seu irmão não estava nem um pingo preocupado com sua alimentação.

— É mesmo, Shiryu? – Shunrei disse alegre, mal sabia o que Seiya estava aprontando. Por isso ele suavizou a expressão e seguiu a conversa.

— Sim, eu adoraria. Pratiquei Karatê por muitos anos em minha juventude e, para meu mestre, que era chinês, não comer carne é mais que uma opção ou um estilo de vida, era uma filosofia... Mas, confesso que apesar de achar bonito, eu nunca me esforcei em seguir.

— Nunca é tarde para começar – Disse Shunrei, suavemente, fitando-o.

   Saori e Seiya trocaram olhares vitoriosos, pois para eles, era mais do que obvio que eles estavam encantados um com o outro.

— Desculpem, mas eu tenho que ir – Eiri havia voltado e parecia um pouco aflita.

— Algum problema, Eiri? – Shunrei perguntou apreensiva.

— Não exatamente. Chegou uma criança nova no orfanato que está causando confusão, preciso ir ajudar.

— Mas, não vai nem jantar? Foi você quem preparou tudo – Argumentou Saori.

— Podemos fazer alguma coisa? – Shiryu se prontificou.

— Não se preocupe, eu agradeço, mas não precisa se incomodar. Apenas aproveitem o jantar – Sorriu com gentileza e voltou-se para Saori – São quase quarenta minutos de carro, melhor eu ir logo.

— Toma cuidado então.

— Vai devagar Eiri, por favor – Pediu Shunrei.

— Eu vou ficar bem. De acidentada aqui, já basta você – Ironizou, arrancando sorrisos das meninas.

   Seiya sorriu minimamente, pois percebeu que Shiryu se incomodou um pouco. Ele ainda se culpava, com certeza. Deu um leve chute em seu pé, por baixo da mesa, conseguindo sua atenção. Moveu os lábios sem pronunciar nenhum som, apenas para que ele entendesse: “Não faz isso”, e então indicou onde Shunrei estava, do outro lado da mesa.

   Ela sorria ainda conversando com Eiri e Saori, mas ele não estava prestando atenção no que elas falavam. Ele entendeu o que o irmão queria lhe dizer e, mas do que isso estava feliz em notar que Seiya o conhecia tão bem.

   Voltou seu olhar para o irmão, concordando com a cabeça.

—... conhecê-los. Aproveitem o jantar... – Eiri disse se despedindo dos dois.

— Já estou fazendo isso. E está fantástico – Seiya comentou, enquanto comia.

— Obrigado – Shiryu ainda não havia tocado no prato.

   Eiri já havia saído da cozinha, mas isso não impediu que as meninas continuassem.

— Vai com cuidado – Saori gritou.

— E devagar – Completou Shunrei

— Táaa! – Elas ouviram ao longe, então voltaram ao jantar.

   Ambos comeram em silencio, entre conversas esporádicas que surgiam, sempre iniciadas por Saori ou Seiya.

   Eles estavam quase flertando, notou Shunrei. Ainda não sabia como interpretar isso.

   Shiryu olhava Shunrei, disfarçadamente, algumas vezes. E Shunrei queria olhá-lo, mas estava constrangida. Então, aproveitava as raras vezes em que ele pronunciava alguma coisa para fazê-lo, se demorando o quanto podia.

   Ele era mesmo muito bonito.

— Vamos para sala, conversar um pouco mais a vontade – Saori convidou, vendo que todos já estavam satisfeitos.

— Boa ideia. E alias, estava tudo maravilhoso. A amiga de vocês deveria seguir carreira. Ah, e que história foi aquela de orfanato?

— Ela é voluntária no Orfanato “Filhos das Estrelas”, que fica no limite da cidade – Respondeu Saori, enquanto todos se dirigiam á sala.

— E ela estava indo pra lá agora? – Shiryu preocupou-se. Era longe e já seria bem tarde quando ela voltasse.

— Eiri cresceu lá então, é como se todos fossem sua família – Shunrei esclareceu, enquanto todos se acomodavam no sofá.

— Ah, entendi. Vida difícil, eu também vivi em um orfanato – Seiya confessou.

— Sério? – Shunrei pareceu surpresa.

— Nós dois vivemos – Shiryu completou.

— Você não conta, foi adotado na mesma semana.

— Vocês não são irmãos de sangue? – Saori perguntou surpresa e muito interessada.

— Não, nós dois fomos adotados. Eu com semanas de vida e Seiya com sete anos.

— Sim, mas temos uma diferença de três anos. Tenho 24 e Shiryu 27. Qual de vocês é a mais velha?

— Eu – Saori pronunciou orgulhosa.

— Dois meses – Ironizou Shunrei.

— Ainda sou, não é? – Todos sorriram – Temos 22 anos. Quando eu conheci Shunrei ela tinha 18 e morava no orfanato com Eiri.

— Isso sim é coincidência – Seiya sorriu.

— Coincidências não existem – Saori foi mais sugestiva do que gostaria, apenas alargando o sorriso de Seiya.

— Viveu no orfanato sua vida toda? – Perguntou Shiryu.

— Não, pouco menos de três anos. Minha mãe morreu quando eu tinha 10 anos e eu nunca conheci meu pai. Fui criada por meu avô, que morreu quando eu tinha 15 anos... Ele era meu único parente, então...

— Sinto muito... – Shiryu comentou, ao perceber que a voz da jovem havia vacilado um pouco.

— Obrigada – Respirou fundo antes de continuar – Conheci Eiri lá, nós duas estávamos a ponto de completar 18 anos, que é a data limite para viver no orfanato, então precisávamos arrumar um lugar para ficar. Nós estudamos muito, muito mesmo e então conseguimos bolsas integrais na faculdade. Eu de administração e a Eiri de pedagogia. Fomos morar em repúblicas.

— E foi na faculdade que eu conheci Shunrei e a arrastei para morar comigo. Convidei a Eiri também, mas ela só ficou alguns meses conosco e então alugou um lugar só pra ela.

— É estranho, mas não me lembro da época em que vivi no orfanato – Disse Seiya – Minhas primeiras lembranças já tem meus pais e Shiryu, então sempre me esqueço de que fui adotado.

— E como são seus pais? – Saori questionou fitando Seiya longamente que sorriu para ela.

— Como eles eram... Fantásticos. Mas, os perdemos em um acidente de carro há... Uns seis anos, Shiryu?

— Seis anos... – Confirmou.

— Ah, eu não sabia, me desculpe... – Tentou se desculpar, sem graça, mas Seiya a interrompeu.

— Não precisa, está tudo bem. Sentimos falta deles, mas nos viramos.

— A empresa de nossos pais virou nossa responsabilidade e a tocamos desde então. Moramos juntos em um apartamento – Completou Shiryu.

— E sua historia, Saori? – Perguntou Seiya, sorrindo – Também viveu em um orfanato?

— Ah, não. Porém, também cresci sem meus pais. Minha mãe morreu no meu parto e meu pai foi afastado de mim. Eu só tive meu avô. Mas, não foi ele quem me criou... Ele... Ele é um homem muito ocupado... Longa história – Deu um meio sorriso – Vocês querem sobremesa?

— Sim, queremos... – Seiya respondeu rapidamente, recebendo um olhar de represália do irmão – Não dispenso sobremesa, cara – Ele rebateu, deixando Shiryu pouco à vontade, então ele apenas aceitou.

— Adoraria.

— Ótimo, vou buscar. Me ajuda, Seiya?

— Claro! Shiryu, cuida dela – Ao se levantar, Seiya lançou uma piscadela muito suspeita ao irmão, que não passou despercebida por Shunrei. Em seguida acompanhou Saori, deixando um casal muito constrangido, para trás.


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