Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 10
Dez




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/114525/chapter/10

— Shiryu, chega de trabalho por hoje, temos um compromisso... – Seiya simplesmente abriu a porta da sala do irmão, sem bater, como sempre fez. Shiryu nem se dava mais o trabalho de questionar as invasões.

— Ainda está cedo, Seiya – Shiryu, que estava trabalhando em sua mesa, falou sem nem mesmo fitá-lo, ainda digitando em seu computador.

— Não, meu caro amigo, estamos em tempo, há uma diferença. Quero ir para casa, tomar um banho, me trocar... Ficar apresentável.

— Apresentável? – Finalmente Shiryu desviou sua atenção para o jovem. Parou o que estava fazendo e recostou-se totalmente em sua cadeira..

— Sim, você não quer?

— Sei o que está fazendo. Eu agradeço, mas pare.

— Do que está falando?

— Seiya... –  Deixando escapar um longo suspiro, pensando em como o abordaria sem chatea-lo  – Eu agradeço muito que se preocupe comigo, de verdade. Mas você precisa parar com isso. Eu estou bem –Enfatizou – Estou feliz e tenho tudo o que preciso.

    Shiryu fitou Seiya que apenas sustentou seu olhar.

    Seiya o entendia. Já havia se intrometido demais nesse assunto, mas não queria ver Shiryu ocupar seus dias apenas com trabalho, como vinha fazendo desde que assumiu a empresa.

   Antes de gastar seu tempo com a vida profissional, ele tinha uma paixão: o Karatê. Começou ainda pequeno e Seiya sabia o quanto ele amava, porém abandonou quando assumiu a empresa, com a promessa de que voltaria um dia.

    Um dia que nunca chega.

   Era sempre o primeiro a chegar na empresa e o ultimo a sair, praticamente todos os dias. Os almoços que fazia, eram a trabalho. Os jantares, também a trabalho.  As viagens que fez foram à trabalho... Não saia mais, não lia mais, não via um filme, não ia ao teatro...

    Não vivia como se deve viver. Não se pode deixar algumas coisas para depois, por isso Seiya se via na obrigação de interferir... 

   Sem contar que Shunrei parecia sob medida para o irmão. Percebeu isso no momento em colocou os olhos nela. Dessa vez, ele sabia que se não empurrasse o irmão, ele perderia a melhor chance de sua vida.

— Tudo bem, tudo bem... – Seiya admitiu, enquanto sentava-se em uma das cadeiras confortáveis da sala – Você me pegou. Talvez eu tenha ficado empolgado com a ideia de você estar interessado nela, tá bom. Sinto muito se eu considerei Shunrei, uma garota pela qual valia pena tentar, é isso... Você gostou dela, que eu sei.

— Eu a machuquei Seiya... Tenho afeição por ela. E como você mesmo mencionou, tivemos afinidade... Nada mais do que isso. Dadas às circunstancias é perfeitamente normal...

— Verdade... – Seiya estava com medo de que suas intenções estivem influenciando sua percepção, mas podia jurar que a voz dele havia vacilado agorinha mesmo. Como sempre acontecia quando Shiryu não tinha certeza de alguma coisa, por isso continuou – Mas isso tudo que você disse não nega nada do que eu disse, ou estou errado? 

— Seiya, não é nada disso...

   Seiya o conhecia muito bem. Raramente afirmava algo do qual não estava plenamente certo, por isso, nas raras vezes em que o fazia, dava pra ler no seu rosto a incerteza.

   E se era esse o caso, então ele estava na fase da negação. E é preciso que algo esteja acontecendo, para que você queira negar, certo?

Tão simples quanto um mais um.

— Tudo bem, eu entendi, porém quero reiterar que eu ainda não fiz nada. A ideia do jantar foi da Saori, e eu gostei porque tive afinidade com ela. E ao contrário de você eu não vou fugir disso. Ainda vamos, certo?

— Claro que vamos Seiya, eu só quero que você... – Foi interrompido pelo som do celular. Ele olhou e reconheceu o numero do seguro, então fez sinal para que Seiya esperasse.

   Enquanto Shiryu atendia a ligação, Seiya pensava no que ele havia dito e no que ele poderia fazer para impedir que Shiryu se fechasse. O irmão já estava na defensiva e tudo o que ele poderia fazer era confiar no plano que formulou. Era uma ideia arriscada e Saori poderia não gostar muito dela.

— Era do seguro – Disse Shiryu, trazendo Seiya de volta a realidade – Foi perda total mesmo, o dano não tem conserto. Posso ter um carro novo amanhã.

— Caraca. Sempre me perguntei se valia a pena pagar um seguro tão caro. É uma pena que o único jeito de descobrir seja assim – Seiya sorriu – Quanta eficiência.

— Também estou surpreso. Pedi para se responsabilizarem pelo carro de Saori, o dela tem conserto.

— Que bom, menos mal. E então, será que podemos ir agora? – Seiya insistiu e Shiryu se rendeu.

— Tudo bem Seiya, vamos –  Então ele passou a organizar sua mesa e seus papeis, enquanto seu irmão se colocava de pé, com aquele enorme sorriso vitorioso, aguardando pacientemente que ele terminasse.

Mais tarde, Seiya já estacionava em frente à casa de Shunrei quando Shiryu olhou em seu relógio de pulso: 20h em ponto.

— Nunca vi tanta pontualidade em você – Shiryu ralhou.

— Eu sou pontal... Quando quero – Deu uma ultima olhada em si mesmo no retrovisor – E ai, bonito?

    Os dois estavam muito elegantes, com trajes sociais, mas sem exageros. Nada de anormal no caso de Shiryu, que só usava social de qualquer forma, mas Seiya parecia querer mesmo causar boa impressão, o que deixou Shiryu intrigado.

— Só nascendo de novo, você sabe... – Ele disse e Seiya fez uma carranca, arrancando um sorriso do maior – Deixa disso e vamos logo.

    Os dois saíram do carro e se dirigiram à porta da residência que, segundos depois de tocada a campainha, foi aberta revelando Saori, com um belo sorriso no rosto.

— Boa noite rapazes. Bem na hora – Cumprimentou Seiya, que entrou primeiro, gentilmente.

— Você fica linda de branco, Saori – Sim, ela realmente estava muito bonita naquele vestido branco, mas o elogio não era de todo gratuito. Fazia parte do plano de Seiya.

— Muita gentileza sua, Seiya. Por favor, entre – A jovem fitou Shiryu em seguida – E você, como está?

— Boa noite Srta Kido, bem e você?

— Já passamos dessa fase, só Saori, por favor – Piscou – Entre, fiquem a vontade – Saori deu passagem e Shiryu se dirigiu à sala, enquanto Seiya acompanhava de longe, próximo de Saori.

— E então, animada cúmplice? – Disse baixo.

— Meu bem, no que depender de mim, eles casam – Seiya não pode deixar de sorrir com a resposta da jovem. Aproximou-se ainda mais e sussurrou:

— Eu tive uma ideia, mas é ousada.

— Ousadia é meu segundo nome.

Enquanto isso...

Shiryu adentrou a sala, onde Shunrei estava de pé, atrás do sofá.  Estava de cabelos soltos e usava uma jardineira jeans, com uma camiseta branca por baixo.

O pensamento de que ela estava linda dominou a mente de Shiryu.

— Shunrei, você... – Limpou a garganta – Parece muito bem.

— Obrigada. E você, como está? E o machucado? – Tentou não parecer ansiosa, sem muito sucesso.

— Isso aqui não é nada – levou uma das mãos para cobrir o machucado, que já quase não aparecia, por causa da franja – Estou ótimo... Melhor agora – Sorriu minimamente, fitando-a com uma ternura, ainda desconhecida por ele mesmo.

— Shunrei, está tudo pron... – Eiri chega nesse momento na sala e para ao ver os convidados. Elas passaram as ultimas horas cozinhando e fofocando sobre eles, então a loira estava ansiosa em conhecê-los. Ficou feliz em saber que as meninas não exageraram. A presença de ambos era marcante – Ah! Olá, me desculpe por interromper – Disse alternando o olhar entre Shunrei e Shiryu.

— Imagina, venha aqui. Shiryu, essa é Eiri, minha amiga. Nós trabalhamos juntas na lanchonete que eu mencionei antes e ela é excelente na cozinha.  Ajudou com o jantar hoje.

— Gentileza dela... Não é tudo isso... – Disse constrangida.

— É tudo isso sim e em breve você provará minhas palavras – Rebateu animada – Eiri, este é Shiryu Suyama, ele tem sido extremamente atencioso conosco desde o acidente – Corou brevemente – E aquele é Seiya, seu irmão.

— É um prazer conhecê-lo, Sr. Suyama – Eiri estendeu a mão, que foi prontamente aceita.

— O prazer é meu. E pode me chamar de Shiryu.

— E eu de Seiya – O jovem já estava do lado de Shiryu e a cumprimentou também – Você é muito bonita, Eiri.

— Ah, obrigada – Eiri fitou suas amigas, uma de cada vez, envergonhada pelo elogio. E seu olhar claramente dizia “Uau, vocês não estavam brincando”.

    Saori prontamente identificou e sorriu, alegremente, arqueando levemente as sobrancelhas, como se dissesse: “Eu disse”. Shunrei, apenas meneou a cabeça, o mais discreta possível.

    Os rapazes perceberam que algo estava rolando, mas se abstiveram de comentar.

— Enfim... – Saori quebrou o silêncio, piscando para Shunrei e fitando Shiryu em seguida, sugestivamente – O jantar está pronto e, eu estou faminta, se vocês não se importarem, podemos começar? – Terminou fitando Seiya que sorriu abertamente.

— Por mim tudo bem.

— Por mim também – Confirmou Shiryu.

          Eiri confirmou com a cabeça e Shunrei a imitou.

— Ótimo! Então, sigam-me, meninos e meninas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Coincidências?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.