Coincidências? escrita por Otsu Miyamoto


Capítulo 1
Um


Notas iniciais do capítulo

Foi mal a demora ♥



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“Eu não acredito que consegui! Finalmente, consegui!”

Shunrei sorria, observando sua recém conquistada carteira de motorista.

A jovem, que possuía cabelos longos e escuros, presos por uma trança que quase chegava à cintura, mal conseguia acreditar que finalmente tinha conseguido. Havia juntado todo o dinheiro necessário, feito as aulas e enfim, ali estava o fruto de seu esforço, nas suas mãos.

“Agora, só falta o carro”, pensou, dando um longo suspiro.

Havia um bom motivo para o seu primeiro grande feito sozinha, ser essa habilitação... E por isso estava tão encantada com ela.

Shunrei ainda admirava o documento quando murmurou para si mesma:

— Agora vai ser diferente...

— Tem razão, Shunrei... Agora vão ter que emborrachar os postes... – Saori estava escorada na porta de entrada do quarto onde Shunrei estava, com um sorriso satisfeito no rosto.

— Ha-ha-ha! Quanta graça, Saori. Quase não consigo conter meu ataque de riso – Disse, sorrindo também. Se concentrou terminar de ajeitar suas coisas em uma mochila.

— Ah, você sabe que só estou brincando – A jovem de cabelos longos e arroxeados continuou, enquanto entrava. Sentou-se na ponta da cama, bem próxima a amiga.

— Sei! E você já ouviu dizer que toda brincadeira tem um fundo de verdade? – Ela estava apenas implicando com ela, pois sabia que Saori confiava em suas recém habilitadas habilidades.

Shunrei olhou de relance para o relógio no pulso e percebeu que era melhor se apressar.

— Nossa, vou me atrasar, melhor eu ir logo.

— Pega... – Saori estendeu a mão para a amiga com uma chave que ela prontamente reconheceu.

— O que é isso?

— Uma chave – Saori sorri irônica.

— Isso, eu sei. É a chave do seu carro, mas por quê?

— Bom, você se esforçou muito nos últimos dias, trabalhou duro e economizou para tirar a sua carta. Mas, isso de nada adianta se você não tem um carro, não é? Por isso eu estou te emprestando o meu – Disse naturalmente.

— Esta brincando? – O tom de surpresa na voz de Shunrei foi maior do que ela esperava.

— Realmente... É muito difícil acreditar que uma pessoa má como eu faria isso – Sorri sarcástica.

— Não, não é isso, sua boba... É que... Você tem me ajudado tanto. Com a casa, com a faculdade e tudo mais... Agora isso.

— Ah! Deixa disso, Shunrei – Disse pegando as mãos da amiga e colocando a chave. Em seguida segurou as mãos dela entre as suas – Você é minha melhor amiga, para não dizer a única – Sorri – Você divide as despesas da casa comigo e sempre foi uma excelente aluna. O mérito é todo seu! E eu estou só te emprestando, então é só devolver o carro inteiro e estaremos quites.

Shunrei sentiu o coração aquecido com a atitude da amiga.

Conheceram-se no inicio da faculdade de administração e desde então permaneceram sempre juntas. Saori já estava atuando na área, e ganha bem. Shunrei ainda não teve a mesma sorte. E só não passou por mais sofrimento e dificuldade, por que Saori sempre esteve ali para ela.

E para não morar apenas de favor, já que a casa é da Saori, aceitou um emprego de garçonete para poder dividir as despesas da casa e não ficar só parada, esperando uma vaga na sua área.

E era para seu trabalho que Shunrei estava indo agora.

— Ei, Shunrei... Você não estava atrasada? – Soltou as mãos da jovem.

— Céus! Agora sim devo estar – Apressadamente, pegou sua bolsa e um casaco e correu para a saída do quarto – Amiga, beijos. Volto mais tarde.

— Os documentos estão no porta-luvas – Saori gritou , já não a vendo.

— Está bem! – Respondeu, terminando de vestir o casaco e correndo para a garagem.

Parou por um momento e analisou o carro da amiga. Ela iria dirigi-lo sozinha, pela primeira vez.

Sem ninguém.

Um sorriso bobo se formou em seus lábios. E apesar da inexperiência, não estava nervosa, estava feliz. Rapidamente ela entrou, colocou o cinto e ligou o carro.

Inevitavelmente, a imagem do avô veio a sua mente, sentado no banco do passageiro. Quase pode ouvi-lo dizer: "Parabéns, criança".

— Obrigada, vovô... – Disse baixinho.

A porta da garagem abriu automaticamente e em poucos minutos ela já estava fora de casa.

Não estava com pressa, mesmo estando atrasada. Queria aproveitar a sensação, então dirigiu cuidadosamente. Alguns minutos depois, chegou ao seu trabalho, que não era tão longe dali... De carro, claro.

A movimentada e estressante Lanchonete Tatsumi.

Estacionou o carro e correu para o estabelecimento, indo direto para o quartinho onde vestiu seu uniforme horrível, como ela mesma considerava.

O trabalho não era de todo ruim, gostava de interagir com as pessoas e tinha feito boas amizades.

— Shunrei, quase se atrasou. Isso não é típico de você – Uma loira de longos cabelos, presos também por uma trança, a alertou.

Shunrei verificou o relógio de pulso, vendo que havia chegado a tempo e abriu um belo sorriso.

— Humm, parece feliz, o que houve?

— Vim de carro Eiri. Sozinha.

— Serio? Que carro? – perguntou empolgada.

— O da Saori, ela me emprestou. Ah, nem acredito que consegui!

— Nunca vi alguém tão feliz com uma habilitação – Eiri sorri para amiga.

— Eu consegui com muito esforço e com meu dinheiro uma coisa que eu queria muito. Sem a ajuda de ninguém, sozinha. Eu mesma.

— Sim, já entendi... Entendi..– Sorria – Mas, e ai? Foi tudo bem na sua primeira vez no transito caótico desse lugar?

— Sim, por incrível que pareça, eu não... – Antes que ela pudesse terminar, foi cortada por uma voz grossa e hostil.

— Até onde eu sei, não pago vocês para fofocarem. Voltem ao trabalho.

— Sim, Senhor Tatsumi – Disseram quase em uníssono, indo cada uma para suas tarefas. Shunrei piscou para Eiri, como se dissesse "depois te conto".

Ao fim daquele dia, finalmente o longo e exaustivo expediente havia terminado. Era uma noite fria e parecia que choveria a qualquer momento.

Já no estacionamento, Shunrei procurava as chaves na bolsa quando começou a pingar.

— Ah, não. Chuva agora não – Resmungou. Assim que encontrou a chave, abriu a porta e entrou rapidamente. Ajeitou-se e ligou o carro, saindo. Não muito longe dali, já estava enfrentando um enorme congestionamento.

— É só cair um copo d'água e já fica assim... – Pensou alto suspirando. Recostou a cabeça no banco ao perceber que o trajeto, que levou menos de vinte minutos para fazer mais cedo, poderia facilmente virar horas.

Porém, um leve sorriso surgiu em seus lábios.

— Meu primeiro congestionamento – Sorriu sozinha com o pensamento.

Muitos congestionados minutos depois, o transito já fluía melhor, mesmo que lento. Shunrei já transitava por uma rua não muito movimentada, próxima a casa dela quando aconteceu...

De repente, ouviu uma freada alta e uma pancada na lateral do carro. O estrondo forte deixou-a sem reação. Shunrei até tentou manter o controle da direção, mas foi em vão. Com a força do impacto, o carro foi arremessado para o lado e acabou capotando uma vez, parando com as rodas para cima.

Shunrei sentiu o gosto familiar de sangue em sua boca e suspirou de dor. O cinto a prendia, então ela permaneceu dentro do carro, pendurada.

Tentou se mexer para se soltar, mas o movimento fez uma dor aguda percorrer todo o seu corpo e um gemido alto sair de sua garganta.

Sentiu-se sonolenta. Sabia que não era uma boa ideia dormir em casos assim, mas não conseguia lutar contra a vontade de fechar os olhos.

“Não quero morrer”, foi o único pensamento que lhe veio à mente, enquanto lutava contra a letargia. Aos poucos perdia mais de sua consciência e já não sabia o que era real ou não, porém, podia jurar ter ouvido a voz de alguém.

Seus olhos semicerrados tentavam olhar ao redor, na incerteza do que realmente estava acontecendo, e então ela o viu.

Um rosto... Havia alguém a fitando pela janela estilhaçada ao seu lado. Forçou-se para tentar ver melhor, mas tudo o que identificou foi um olhar assustado.

 Por um momento, teve a impressão de que braços longos se estendiam até ela, tentando alcança-la... Abraça-la... Mas a essa altura, já não tinha certeza se alucinava ou não.

 Seria seu fim?

Seria aquele rosto bonito o de um anjo, que veio lhe buscar?

Não saberia dizer, pois sua visão escureceu, antes mesmo de sua consciência se perder plenamente.

E então, desmaiou.


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