Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 7
São apenas efeitos colaterais




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Em quem você pode confiar? Estou louco para sentir de novo”

                                            — Imagine Dragons                                                                                

 

  A descarga anormal de adrenalina queimando no meu corpo justificava parte da velocidade com a qual me movia, aquela sensação de estar atenta ao mínimo ruído e ser capaz de escutar qualquer murmúrio por detrás das portas fechadas ao longo do corredor; aquela urgência toda se devia aos efeitos colaterais de Profaxim agindo no meu sistema.

  Taquicardia – confere; ansiedade, boca seca e visão ligeiramente aguçada – confere, confere; suor e adrenalina – claro que confere. Ah, não se esqueça da invencibilidade, querida, que é o realmente importa.

  Ainda faltava pouco mais de quarenta minutos até o primeiro período de atividades do cronograma e não suportei mais ficar com as costas coladas na parede e as pernas enroscadas num cobertor enquanto Ino e Hinata dormiam como duas crianças. Em pouco mais de dez minutos eu havia calçado meus tênis de lona, vestido uma calça jeans clara e rasgada nos joelhos e uma jaqueta verde de sarja sobre a blusa de moletom e andava num ritmo acelerado pelos corredores vazios e frios.

  Virei à esquerda e estreitei os olhos assim que vi um cara loiro fechando com extrema cautela uma porta mais a frente, diminuí minhas passadas até um caminhar mais lento conforme me aproximava do garoto. Ele esticou um pouco o pescoço e endireitou a postura quando me viu e notei as linhas mais claras de pele nas bochechas, três riscos irregulares de cada lado.

  Um sorriso de desdém moldou sua expressão quando avancei um pouco mais, ele se afastou da porta e enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans e rumou na minha direção; ignorei seu aceno e girei os calcanhares assim que ouvi um resmungo.

— Algum problema? — Meus batimentos cardíacos disparariam se ele continuasse me encarando daquela forma inquisidora, porque havia algo perigoso nos olhos azuis e atentos dele.

— Não comigo — ele respondeu prontamente, sua voz não passava de um sussurro. O garoto loiro me encarou por alguns minutos, como se ponderasse exatamente o que deveria e não deveria dizer em seguida enquanto me encarava. — E você?

— Não, está tudo bem — tentei soar indiferente enquanto ele me analisava, um leve repuxar no canto dos lábios era o máximo de expressão em seu rosto; meus músculos endureceram automaticamente quando ele se aproximou.

  Apenas dê umas boas porradas nele e então vamos esquecer isso, certo? Faça como todo o resto e esqueça que você o viu no meio do corredor, totalmente injetada de adrenalina e medo.

  Assim que cerrei os punhos, me surpreendi com a risada curta e rouca dele ecoando pelo corredor, sua postura relaxou e ele agitou os dedos como se estivesse dispensando alguma coisa. Permaneci parada, apenas observando-o se afastar e ir na direção contrária e o silêncio predominava o lugar outra vez.

  Levantei os pés e retomei o ritmo mais lento, contive a vontade de espiar sobre o ombro e ver se o rapaz loiro havia ido embora ou se estaria me acompanhando a distância, mas eu não queria mesmo descobrir, não queria enfrentar aquele olhar analítico outra vez – essa era a verdade.

  Espalmei a mão sobre uma das portas duplas que levavam até o refeitório e virei o pescoço, espiando pelas mechas de cabelo e sobre o ombro se havia alguém no corredor. Suspirei de puro alívio quando constatei que, aparentemente, estava totalmente sozinha ali.

* * *

  O monólogo constante e realmente maçante do orientador daquela vez – Akemi alguma coisa – estava estagnado na estrutura das leis e na organização de uma sociedade há pouco mais de meia hora, os olhos dele passavam pelos rostos de cada um, como se tivesse esperanças de que alguém dava a mínima para a burocracia.

  Eu tinha que admitir: ele soava animado com a própria voz, verdadeiramente em êxtase por dizer em voz alta o que havia preparado nos dias anteriores. O som do giz arranhando a superfície de uma lousa improvisada interrompia-o vez ou outra, conforme ele colocava em tópicos aquilo que considerava mais importante.

  Alguns pareciam tomar notas, outros demonstravam claramente que não ligavam para o que Akemi dizia e ainda havia uma parcela que simplesmente dormia; no momento, a minha atenção estava totalmente voltada para os rabiscos no meu caderno e como a ponta da caneta deslizava com suavidade sobre o papel.

  Um mês.

  Doze noites insones, algumas com sono interrupto, duas brigas, alguns surtos de abstinência, uma invasão à diretoria e algumas porradas distribuídas nesse meio tempo — era o principal da minha estadia nesse mês inteiro. Notei, com certo desconforto, o quão fácil eu havia me adaptado a essa nova rotina e como estava habituada com Ino e Hinata.

  A sentença final de que, apesar de ser um evidente risco à sociedade e a mim mesma, eu ainda estava na idade de reconhecer meus erros, moldar meu caráter e assumir responsabilidades, havia terminado de revirar a minha vida em exatas três semanas e, depois disso, eu havia empacotado o que ainda estava ao meu alcance e estava dentro de um carro em seguida.

  Não se esqueça de que você está num inferno, querida. É sempre importante pontuar o quão miserável e decadente é este lugar, ainda mais que você está acompanhada por adolescentes criminosos de alto grau que gostam de bancar os alunos do ensino médio.

  Sempre há tempo para consertar a sua vida e recolher os pedaços quando se tem dezesseis anos, era o tipo de frase que caberia bem em uma música. Mas não aqui. E comecei a entender o porquê de todos preferirem achar que os cronogramas, as atividades, os horários de refeição e lazer, que toda aquela encenação fazia algum sentido.

  Não, minha querida... Você não faz parte desse acordo. Você nunca vai conseguir fingir, não vê? Você perdeu essa habilidade há algum tempo e não tem o direito de criar uma realidade em que...

  O toque gentil, quase contido, sobre o meu ombro me fez estremecer automaticamente e trinquei a mandíbula.

— Ei, desculpe — o pedido foi automático assim que encarei o rosto do rapaz moreno, os olhos escuros dele me analisaram antes de relaxarem numa expressão amena. — É o segundo resgate que eu faço, sabe. De nada.

— Eu... não te entendi. O que você... — murmurei tentando assimilar o que ele havia dito, um sorriso repuxou os lábios dele com incrível casualidade e balancei a cabeça. — O que você quer dizer com resgate?

— Quero dizer que você estava com aquela cara de quem está fazendo um exame de autoconsciência e, acredite em mim, isso não vai te ajudar em porcaria nenhuma. — Ele inclinou o corpo para frente enquanto parte da franja cobria sua testa e o fazia parecer mais novo. — Então tirar a sua atenção disso é um resgate.

  Uma risada curta e extremamente seca escapou dos meus lábios quando notei a severidade na sua voz, balancei a cabeça negativamente outra vez e reclinei as costas no encosto da cadeira quando o giz arranhou a superfície da lousa novamente, mal registrando o que Akemi falava.

— Achei que você tinha dito que me deixaria em paz — suspirei quando notei o sorriso dele aumentando, havia certa arrogância na forma como ele se movia e inclinava o corpo um pouco mais para frente, as pontas dos tênis dele encostaram nos meus.

— Você prefere discutir os alicerces de uma sociedade? — Arqueei uma sobrancelha quando ele revirou os olhos assim que Akemi bateu o giz contra a lousa. — Qual é... Até mesmo ouvir os discursos da Tsunade é mais divertido — mordi o lábio inferior e contive a vontade de disparar uma resposta curta e grosseira, apenas ergui a cabeça e fingi prestar atenção no discurso exaltado na frente da sala.

  Apenas ignore-o. Apenas ignore-o, Sakura. Apenas... Aquela ordem continuava martelando na minha cabeça enquanto eu olhava a bolinha de papel deixada sobre a mesa, pegava-a e desamassava-a.

Eu sei que você está se esforçando de verdade para me ignorar, sério. Dá pra ver no seu rosto toda a concentração, mas é forçar a barra dizer que você está conseguindo – S.U.”

“Qual é o seu problema? Além da arrogância, prepotência e teimosia – S.”

Ei — ele chiou.

— É só uma coisa que dá pra ver no seu rosto — retruquei e observei-o rapidamente sobre o ombro, seus olhos se estreitaram numa expressão irônica. Ainda estava totalmente ciente daquela ordem de que eu deveria me ater ao princípio básico de que havia entrado sozinha e tinha de permanecer daquele jeito até obter minha liberdade de volta.

  O lugar não passava de uma cadeia para adolescentes condenados por crimes dos mais hediondos e graves possíveis – era o mantra que eu me agarrava desesperadamente no último mês enquanto convivia com Ino e Hinata, estabelecia uma rotina com elas e me acostumava com suas perguntas, suas piadas e participava de suas discussões.

  Os olhos escuros e extremamente perspicazes dele pousaram sobre mim outra vez, aquela velha expressão maliciosa de quem sabia de um segredo sujo relaxou sua postura; Sasuke estendeu a bolinha de papel e girou o pescoço quando alguém começou a discutir com Akemi sobre um de seus tópicos, observei o sorriso mínimo de satisfação moldando seu rosto quando agarrei aquele pedaço amassado de papel.

“O meu problema é que estou gostando de resgatá-la. Além da arrogância, prepotência e teimosia, claro. E não dá para te deixar em paz, apesar de toda a minha dedicação e do meu esforço – S.U.”

  Levei alguns instantes ponderando suas palavras e relendo-as, hesitei com o punho fechado ao redor da caneta e a ponta esferográfica pousada na linha de baixo. Franzi o cenho, irritada e confusa por sentir aquela centelha de conforto e ansiedade revirando meu estômago de uma forma agradável quando li a primeira frase novamente.

  Balancei a cabeça rapidamente e escrevi.

“Então se esforce mais. Eu não preciso de resgates, especialmente de você — S.”

“Ferimento no ego causado com sucesso — S.U.”

“Seu ego vai se recuperar, não se preocupe — S.”

— Você se importa em ser mais gentil? — Embora o tom de sua voz fosse acusatório, ele se esforçava para conter o sorriso estúpido dos lábios e o franzir do cenho. — Não estou percebendo muita reciprocidade nessa relação, Sakura.

— E eu não percebi a relação — respondi enfática e comecei a recolher meus poucos pertences quando o barulho da sirene ecoou pelas paredes, ignorei-o sistematicamente enquanto afastava a cadeira e levantava. — Não existe relação entre nós, Sasuke.

— Então por que se dá ao trabalho de saber o meu nome? — Ele perguntou pondo-se de pé em seguida e notei, um pouco mais incomodada, que ele era um palmo e meio mais alto do que eu.

— É mais divertido desprezá-lo assim — não contive a dose de sarcasmo e nem o sorriso desafiador que se instalou no meu rosto quando ele se aproximou um passo; inclinei um pouco a cabeça para encará-lo e ele cruzou os braços automaticamente, apenas nos analisando no estreito corredor entre uma mesa e outra.

— Você está ficando boa em ferir meu ego... Por acaso você pratica antes de me encontrar?

— Não, mas aparentemente ela deveria — apertei a alça da mochila com certa força quando Ino se manifestou, pondo ambas as mãos em meus ombros e me puxando pelo espaço ínfimo entre as mesas. — Interrompi alguma coisa? — Ela piscou com falsa inocência quando respondemos ao mesmo tempo:

— Sim.

— Não.

  Tropecei alguns passos quando a loira me puxou outra vez e desviei o olhar daquela expressão desafiadora e maliciosa dele, como se o moreno ponderasse exatamente o que dizer.

— De qualquer forma, a Tsunade quer dar alguns conselhos burocráticos para essa garota aqui, então... — o aperto de Ino aumentou quando ela nos guiou até a porta num ritmo apressado. — É sempre uma porcaria te ver, Uchiha! Não esqueça de enfiar o seu ego bem no meio do seu... Ah! Você já sabe, não é, seu safado de merda? — Eu me encolhi com a risada forçada e quase histérica de Ino; saímos da sala sem diminuir o ritmo das passadas e a loira nos guiou pelo corredor.

  Não houve comentários ou qualquer tipo de questionário habitual por parte de Ino conforme andávamos lado a lado, trocávamos olhares disfarçados ao dobrar um corredor e descer um lance de escadas. Não demorou muito até chegarmos ao corredor principal e reconheci as paredes pintadas com faixas cinzentas.

  Havia apenas três pessoas ali, todas saíam num andar arrastado da segunda porta à esquerda e mal ergueram os rostos quando desviaram de nós duas. Diminuí o ritmo dos meus passos quando vi a placa apagada que indicava a diretoria.

— Olha, isso não é da minha conta. Não é mesmo, eu sei disso e até mesmo a Hinata me disse isso — o rosto de Ino transparecia sua preocupação e seu receio quando ela parou de andar e me encarou, cuspindo as palavras com urgência. — Eu só gostaria de saber se você e Sasuke Uchiha viraram amigos ou coisa do tipo, já que vocês parecem conversar bastante e... Mas é claro que, se você quiser, pode...

— Não somos amigos. — Respondi automaticamente e puxei um pouco o capuz enquanto Ino me encarava com os braços cruzados, como se esperasse alguma explicação adicional. — Não somos amigos e nada do tipo.

— Ah. — Foi tudo o que ela se limitou a dizer e ficou em silêncio depois disso, parecia que ela estava repassando mentalmente o que eu havia dito e procurava sentido nisso. — Bom, eu acho. Não quero dizer com quem você deve andar, nada disso, só... gostaria que você me contasse. E você fez. É um avanço. Um puta avanço.

— É. É isso aí — resmunguei diante da conclusão dela e Ino agitou a mão, como sempre fazia em suas discussões com Hinata. — A Tsunade quer falar comigo ou não?

— Claro, claro. Vai lá, ela já está esperando — ela disse e escorou o corpo contra a parede. — Eu te espero aqui e depois, se você quiser, pode me contar como foi. Ou então podemos ir com a Hinata comer alguma coisa ou passar um tempo lá fora.

  Não era a primeira vez que Ino fazia essa proposta, durante aquelas semanas ela e Hinata sempre propunham passarmos o tempo livre juntas numa espécie de companheirismo típico de ensino médio. Era dessa forma que eu encarava a situação e sempre, enfaticamente, as ignorava ou simplesmente murmurava uma resposta negativa.

— Parece... bom.

  Agitei lentamente a cabeça num aceno positivo quando notei a centelha de desconfiança e descrença no rosto de Ino assim que murmurei aquelas palavras; hesitei quando Ino permaneceu em silêncio e considerei se minha resposta havia sido suficiente. Ela limpou a garganta num pigarro e encarou as próprias unhas por alguns instantes.

— Certo. Então, espero aqui — um pequeno sorriso repuxou os lábios ressecados dela, passei por ela e encarei a placa apagada novamente antes escutá-la murmurar: — Isso é um puta avanço.

* * *

  A voz de Tsunade aumentava um tom ou dois todas as vezes em que ela enfatizava as palavras pena, julgamento e queixa, numa espécie de fator programado em alguma parte de seu cérebro que a convencia de que aquilo traria alguma ciência ao ouvinte de quão grave eram as suas informações.

  Ela estreitava os olhos na minha direção quando as dizia, num tipo de tique nervoso que era contagiante, cruzava e descruzava os braços conforme gesticulava e não desviava os olhos castanhos de mim por meio segundo que fosse. Naqueles vinte minutos de monólogo, a voz dela havia preenchido sua minúscula sala e permaneci ereta na cadeira disponível.

  Quando ela respirou fundo e permaneceu quieta por mais de dois minutos, inclinei um pouco a cabeça e perguntei:

— Então, já posso ir?

— Você ao menos escutou alguma coisa que eu disse, Sakura? — De novo, ela estreitou os olhos e precisou enfatizar a palavra. — Em menos de um mês, você não apenas dá o ar da graça na detenção de Orochimaru como consegue duas brigas.

— Se me lembro bem, você disse que isso seria um avanço — pontuei rapidamente, o gosto da ironia e de ter levado a melhor naquele ponto massageou meu ego um pouco.

— Eu não quis dizer para você ameaçar ninguém com uma faca — foi a minha vez de estreitar os olhos diante da serenidade estampada no rosto de Tsunade. Observei-a folhear o conteúdo das três páginas largadas sobre a mesa num movimento mecânico enquanto ela resumia: — Karin prestou uma queixa formalmente contra você, por ameaça e coerção, além de lesão corporal grave. Há duas testemunhas que confirmam a versão apresentada e...

— Isso só pode ser brincadeira — interrompi-a num tom mais brusco do que esperava e isso me ajudou a verbalizar parte daquela corrente densa de raiva que percorria meu corpo. — Duas testemunhas? Deixe-me adivinhar... Por acaso são as guarda-costas dela?

— Sasame Jaeger e Matsuri Cheng, se é delas que você está se referindo. — Tsunade respondeu retornando sua atenção para mim. — De acordo com o depoimento de Karin, você a abordou no meio do corredor e a ameaçou com uma faca, depois agiu agressivamente e começou a bater nela com muita satisfação, como se a quisesse morta, fecha aspas.

  Os olhos de Tsunade permaneciam inabaláveis e indiferentes, mas alertas a qualquer movimento meu assim que ela depositou os papéis sobre a mesa novamente. Isso tem que ser uma piada, era a frase mais coerente em que eu conseguia pensar para respondê-la e pronunciá-la não diminuiu nem um pouco a vontade de concretizar o depoimento da ruiva.

— O que você tem a dizer sobre isso?

  Eu já havia passado por aquela parte, já havia escutado aquela mesma pergunta tantas outras vezes há poucos meses e, ao contrário daquelas tantas vezes, adotar a posição silenciosa e indiferente não ajudaria em porcaria nenhuma e apenas levaria adiante aqueles papeis para as mãos do assistente social, depois do psicólogo responsável, que depois seriam despachados com uma grande nota de observação preocupada sobre minha índole e pararia nas mãos do promotor que, com muito prazer, abriria mais um inquérito que aumentaria minha pena.

  Aquilo reanimou o pânico e precisei cruzar os braços com força, sufocando cuidadosamente os pensamentos sobre ficar mais tempo do que o necessário no projeto de reabilitação do governo.

— Sakura, não complique mais as coisas. Se você não me der o seu depoimento sobre o que aconteceu entre você e Karin, serei forçada a entregar isso para a assistência social. — Outra parte enfatizada conforme seus olhos praticamente me suplicavam para colaborar. — Você não é idiota a esse ponto, então me ajude. Me diga o que realmente aconteceu.

  O silêncio dela combinado com o olhar inquisidor e desesperado por uma decisão sensata me fizeram ponderar e, quando dei por mim, minha boca se mexia e as palavras estavam saindo.

— Eu não a ameacei — meus braços doíam de tanto que eu havia enfiado as unhas neles e fechei os olhos, não suportaria o rosto de me-deixe-ajudar de Tsunade. — Eu... não usei faca, certo? Não foi assim que aconteceu.

  Hesitei com a quietude contínua dela e me remexi, inquieta, na cadeira quando notei o quão eficaz era sua expressão. Seja lá o que você queira dizer, é melhor soar convincente, querida.

— Ela... estava sozinha quando me parou no corredor aquele dia. Nenhuma das guarda-costas dela estava lá. — Espiei a expressão de Tsunade por alguns segundos e retomei o depoimento, forçando o tom mais casual possível na minha voz: — Karin ameaçou me expor.

— De que forma?

— Bem, ela disse que contaria que eu tenho um... hã... namorado... — aquilo soou idiota e incrivelmente fantasioso, até mesmo para mim. O arquear de sobrancelhas da loira confirmou aquele palpite. — Quando eu mandei ela se afastar, foi aí que...

— Meu Deus, que dor de cabeça horrível! — Sua voz aumentou consideravelmente e ela apertou a testa, mas não havia nenhum traço de dor ou incômodo em seu rosto. — Não vou continuar com isso hoje, Sakura... É muita informação para assimilar de uma vez, me desculpe mas vamos ter que continuar amanhã, tudo bem?

— Amanhã é sábado.

— Claro, claro... — Um suspiro exagerado escapou dos lábios dela. — Então isso significa que retomaremos essa conversa na segunda, tenho outros compromissos nesse fim de semana — Tsunade afastou sua cadeira de forma ruidosa e indicou a porta com a cabeça, numa dispensa muda. — O que foi? Estou com uma dor de cabeça dos infernos ho...

— Por que está me ajudando? — Minha pergunta interrompeu, ainda que por alguns instantes, seu falatório alto e dramático. Observei a expressão calma e o leve toque irônico em seu olhar, como se a resposta fosse óbvia.

— Porque nós duas sabemos que a sua versão não vai colar sem testemunhas, mesmo que seja quase decente da sua parte mentir na minha cara — um sorriso gentil tomou conta da expressão dela e sumiu rapidamente assim que sua voz aumentou outra vez. — Agora dê o fora da minha sala, Sakura Haruno. Quero curtir o meu cérebro dolorido em paz.

  Levantei em seguida e atravessei o corredor estreito em passos apressados, não levou muito tempo para alcançar a área da diretoria. Shizune interrompeu seus afazeres momentaneamente assim que plantei os pés no cômodo, seus olhos estreitaram-se sobre mim e ela não escondeu o asco que sentia; retomei o ritmo acelerado para fora dali e observei, atônita e confusa, Ino parada no mesmo lugar, encarando duas pessoas numa espécie de aceno amistoso.

  Assim que ela afastou o corpo e teceu alguns comentários sobre as próximas horas livres que tínhamos e o final de semana, resmungou algo sobre atividades e tagarelou sobre refeições nos vinte minutos seguintes, mas ela não havia lançado nenhuma pergunta ou comentário sobre minha conversa com Tsunade.

  Foi nesse momento em que percebi, confusa e assustada, que a minha primeira regra não serviu de porcaria nenhuma aqui dentro já que eu tinha a quem recorrer bem no meio daquele inferno.


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Notas finais do capítulo

YOOOO!
Cá estou; espero que vocês tenham gostado do capítulo, foi divertido escrevê-lo.
Alguns pontos a esclarecer:
— Profaxim e os efeitos colaterais descritos são fictícios;
— Sakura e Hinata tem 16 anos, ja Ino, Sasuke, Naruto e Gaara tem 17;
— as queixas formais (por escrito) serão mencionadas poucas vezes, mas são parte da papelada do histórico de cada um.
Mil vezes obrigada pelos reviews, que sempre são uma injeção de animo muito boa. Atualmente, a fic passou dos 400 leitores que acompanham a estoria e é meio surreal, então, de novo, muito obrigada, cara.
No mais, é o de praxe: comentários, criticas, sugestões e afins são sempre muito bem vindos.
Até o próximo!
o/