Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 22
Rito de passagem


Notas iniciais do capítulo

Especial de Natal.



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“Lembre-se de toda a tristeza e frustração, e deixe-a ir”

                      Linkin Park

 

— A gente devia encher a cara — foi a sugestão de Ino assim que nós três atravessamos o corredor e Hinata pôs a mão na maçaneta do nosso quarto. — Tô falando sério. É a Semana Zero. Ninguém vai dar a mínima se a gente perambular por aí fedendo a vodca.

  Virei o pescoço, alternando minha atenção entre Ino e Hinata, até Hinata explicar:

— É a última semana do ano, na verdade. As aulas são suspensas e os alunos têm permissão para visitar a família — a voz dela vacilou um pouco e a sombra de um sorriso mecanizado apareceu em seu rosto. Talvez ela nem se desse conta disso. — Só a Ino chama assim.

— A Semana Zero não tem detenção, Orochimaru e nem mesmo os discursos da Tsunade. — Ino exibiu os dentes num sorriso cínico e também me esforcei para parecer animada com a ideia. — Ou seja, é a semana da liberdade, garota do capuz. Por isso eu digo que a gente devia encher a cara.

— Parece bom — comentei enquanto Hinata abria a porta e se jogava em sua cama. Ino foi a segunda a atravessar a porta e eu a fechei num chute. — Até quando dura essa Semana Zero?

— Até o fim do mundo, se depender de mim.

— Termina na próxima terça, na verdade — Hinata falou assim que Ino jogou as pernas em cima do seu colchão e passou a encarar as unhas lascadas de esmalte.

— E o que acontece com a trupe dos orientadores? — perguntei enquanto jogava minha mochila debaixo da minha cama e puxava a gola da blusa de moletom.

— Todos vão para suas casas felizes, cheias de comida feliz e parentes felizes — o sarcasmo na voz de Ino era quase palpável e troquei outro olhar confuso com Hinata por meio minuto. As oscilações no humor da loira haviam se tornado uma coisa estanha de se lidar, já que o humor de Ino variava de sarcástico a irritado, sem muita brecha para novidades. Mas as coisas não eram mais as mesmas de oito meses atrás. — E depois vão tirar fotos felizes, com seus sorrisos felizes e cheios de dentes brancos felizes.

— Que puta tortura — murmurei e aquilo pareceu engraçado para a loira, já que ela soltou uma risada seca e incômoda. — Então, nessa Semana Zero, ninguém dá a mínima pro que a gente faz?

— Exceto se você fugir — Hinata garantiu e Ino soltou um muxoxo de confirmação. — Eles reforçam a segurança nessa semana.

— E quem vai conseguir carona com um dos pés quebrados, na melhor das hipóteses, bem no meio da Semana Zero? Ninguém vai parar o carro pra um adolescente que está parado há meio quilômetro de uma prisão juvenil — o meio sorriso dela era quase contagiante, exceto pela dureza nos olhos. — Pessoas inteligentes não fazem isso. Ultimamente, todo mundo anda espertinho demais.

— A gente devia mesmo beber — Hinata resmungou e nos encarou antes de perguntar: — O que? A Ino tem razão, não é?

— Ela está mesmo me dando razão? — Um pouco do bom humor habitual de Ino surgiu enquanto ela inclinava a cabeça na minha direção e apontava com o queixo para Hinata. — Em toda a minha existência, eu nunca...

— Até porque você é um vampiro ancestral — Hinata cobriu a boca e abafou o risinho histérico assim que murmurei enquanto a loira continuava dizendo:

— ...nunca mesmo vi a Hina me dar razão. Podemos chamar isso de milagre, Sakura? — Os olhos dela haviam suavizado um pouco e uma boa dose de alívio relaxou os meus músculos.

— É, acho que essa é a expressão certa. — Coloquei as mãos em seus ombros e a puxei, comecei a guia-la até a porta e falei: — Agora vamos logo pegar as bebidas, Ino. Quem sabe a gente acha alguma coisa com sangue pra você.

  A loira estancou no lugar e franziu o cenho.

— Isso foi uma porra de piada?

— Ah — pisquei e percebi que Hinata abafava outro riso histérico. Suspirei e perguntei um pouco mais baixo: — Foi tão ruim assim?

— Você é uma merda fazendo piada! Me chamar de vampiro ancestral até vai, mas essa porcaria de bebida de sangue... Que tipo de porcaria você anda lendo, hã? Isso nem é trocadilho!

— Pegue as estacas e a água benta, Hina. Nunca se sabe — retruquei um pouco mais alto antes de fechar a porta. Eu me senti extremamente estúpida por dizer aquelas coisas, mas havia uma parte da minha cabeça que insistia que aquilo era o que uma pessoa comum diria com um amigo. — Onde a gente vai pegar as bebidas, Ino?

— Fala sério. Você é uma porcaria fazendo piadas. Nem parece que anda comigo há seis meses. — Enfiei as mãos no bolso da blusa moletom e revirei os olhos enquanto Ino marchava na minha frente. — Água benta. Vai se ferrar.

* * *

  Não havia música, mas o álcool já fazia efeito enquanto nós três tentávamos cantarolar uma música e balançávamos as cabeças no ritmo imaginário. Engoli mais um pouco da bebida e a queimação na garganta era mais agradável do que no primeiro e segundo goles.

  Estiquei um pouco mais a perna e Hinata empurrou meus pés para longe, enquanto se acomodava contra a cômoda e Ino se esticava para pegar a garrafa que a outra estendia. Virei a cabeça para o lado e um riso idiota brotou na minha boca quando me lembrei que estávamos quase da mesma forma quando tomamos o primeiro porre juntas.

  Eu não estava mais com o moletom e meu cabelo ainda pinicava a minha nuca e a minha testa, mas nenhuma delas havia feito nenhum comentário sobre as cicatrizes nos antebraços ou olhado por meio segundo a mais, com a curiosidade brilhando nos olhos. Ino parecia entretida em berrar a plenos pulmões as frases que ela conhecia e Hinata estava concentrada em acabar com a segunda garrafa daquela tarde abafada.

  As duas chegaram num meio tempo sobre o que cantar e as acompanhei, mais numa repetição mecânica do que outra coisa enquanto eu sentia o sorriso idiota rasgando o meu rosto.

— Vocês são demais! — Ino girou a cabeça e a apoiou no colchão enquanto me encarava e um sorriso genuíno emoldurava o seu rosto. — Mesmo você sendo um pé no saco na maior parte do tempo, você é legal, Sakura.

— Acho que eu posso dizer o mesmo de você, Ino — bati minha garrafa na dela assim que a loira a empunhou num gesto lento. Nós duas bebemos e pus os olhos em Hinata, que se esticou e pegou a garrafa de Ino. — Não posso falar isso de você, Hina. Você não é um pé no saco que nem ela.

— Eu estou bem aqui, garota do capuz.

— Na verdade, você duas são só... intensas — ela baixou os olhos e seu rosto pareceu arder quando ela nos encarou, eu só não sabia dizer se era por vergonha ou pelo álcool. — Quer dizer, uma se acha a justiceira sombria...

— Gostei desse nome — Ino comentou e esticou os braços, batendo as mãos no colchão com força.

— ...a outra deve ser o ser humano mais desprovido de hormônios desse universo, mas eu gosto de vocês. — Arqueei uma sobrancelha e tentei ignorar o risinho afetado de Ino, bem ao meu lado. — Vocês não são tão ruins quanto pode parecer depois de um dia ou dias. Vocês são legais.

— Ouviu isso? A gente é legal — inclinei a cabeça na direção da loira e estendi minha garrafa na sua direção, ela se esticou e completou:

— Depois de um dia ou dois. Tem prazo de validade. — A risadinha dela foi abafada pelo gargalo da garrafa, mas não consegui conter a minha e olhei para Hinata quando escutei Ino dizer: — Ah, qual é, Hina. Você sabe como arrasar um coração.

— O Uzumaki sabe disso melhor do que a gente — na minha cabeça aquilo mal passou de um sussurro, mas o álcool já havia distorcido qualquer vozinha irritante na minha mente que berrava que eu estava quebrando as regras e qualquer outro tipo de bom senso de ferro que controlava cada palavra que saía da minha boca. 

— Você perdeu a porra do juízo? — Ino começou a me fuzilar e bebi mais um pouco e sussurrei:

— Lá vamos nós.

— Por que é que vocês sempre têm que falar... — Hinata começou a reclamar, mas Ino disparou mais alto:

— Será que você não se importa com a minha maldita opinião, Sakura? Você não se importa com a droga dos meus sentimentos? Eu tenho um coração — rolei os olhos quando Ino adotou o tom dramático e começou a gesticular demais, a bebida começou a respingar pelo gargalo e suspirei.

— De novo. — Murmurei e tentei escutar Hinata, que dizia num tom mais arrastado:

— Eu não arraso corações. Será que eu posso ter um tempo, só um pouquinho de...

— ...nunca parece que você me escuta. Você me escuta, Sakura? Você ao menos repara que eu existo? Hã?! — Ino virou o restante da garrafa com facilidade e apontou na minha direção. — Ei! Pra que eu gasto saliva com vocês duas, hã? Vocês nunca me escutam mesmo, suas malucas. — Ela esticou o corpo e agarrou mais duas garrafas, estendeu uma para Hinata e abriu a outro. — E você, Sakura, cala a boca e bebe.

— Sim, senhora.

— Até brigando vocês duas se parecem — Hinata comentou e arqueei uma sobrancelha, enquanto ela remexia os pés e bebia mais um pouco. — É sério, as duas são duronas e não têm hormônios.

— Nem em um milhão de anos — reclamei e senti a risada histérica subindo pela minha garganta enquanto assistia Hinata sorrir feito uma idiota.

— Você perdeu o juízo, garota?! — a loira franziu o cenho. — Eu tenho hormônios, sim, tá? Ao contrário de algumas pessoas que ficam por aí, com uns capuzes esquisitos na cabeça, eu sou perfeitamente normal.

— Viu só? Eu sou a normal do grupo. — Hinata apontou para si mesma num ar triunfante e nós três trocamos olhares, como se aquilo fizesse parte de uma piada interna, antes de explodirmos em risadas histéricas.

— Parece que a gente chegou numa hora boa — olhei curiosa para a porta e aquele mesmo sorriso idiota que estava no rosto de Hinata pareceu repuxar os meus lábios quando reconheci Sasuke. Ele chacoalhou duas garrafas de vodca e sorriu de lado. — Tem problema a gente participar da festa?

— Na verdade, tem sim. Ninguém chamou você — Ino quase tropeçou quando levantou e agarrou no beliche para ter apoio enquanto erguia o queixo para Sasuke e apontava para Naruto. — Ou você. Deem o fora.

— Não foi isso o que rolou, na verdade — Naruto trazia mais quatro garrafas de cerveja pelo gargalo e passou pela loira, chutou algumas garrafas vazias e agachou perto de Hinata. — É melhor fechar a porta, se não quiser mais convidados.

— Escuta aqui, projeto de...

— Essa é da marca que você gosta, né? — O Uzumaki estendeu uma garrafa para Ino e a voz dela praticamente sumiu quando ela pôs os olhos no rótulo amarelo e branco. Ela inclinou um pouco a cabeça e estreitou os olhos para Naruto. — É só pra você, Ino. — Havia um meio sorriso no rosto dele que acentuou as cicatrizes finas nas bochechas.

  Ino pegou a cerveja e analisou o rótulo mais uma vez, até que ela sorriu numa espécie de alegria afetada e começou a rir enquanto fechava a porta num chute.

— Você é esperto, Uzumaki. Mas ainda assim não gosto muito de você, seu pequeno marginal.

— Se continuar me chamando desse jeito, eu vou ficar magoado. — Os dois se encararam e riram como se compartilhassem de uma piada secreta e Naruto estendeu mais uma garrafa. — Faça bom proveito.

— Até que você é mais ou menos legal, Naruto.

— Agora que vocês já fizeram as pazes, a gente pode começar a beber? — Sasuke perguntou e atravessou as pernas esticadas de Hinata, ele me estendeu uma das garrafas antes de sentar do meu lado. — Acho que isso é um sim.

— Mas eu não gosto de você, Uchiha. — Ino voltou ao seu lugar e abriu uma das cervejas e a ergueu. — Ei, ei! Vocês dois aí! — Ela apontou para Naruto e Hinata assim que tomou um bom gole. — Que cochichos são esses, hein? Eu estou bem aqui, será que...

— Ela tá bêbada? — A voz de Sasuke mal passava de um sussurro e assim que virei a cabeça para tentar escutá-lo acima da voz irritada e extremamente alta de Ino, prendi a respiração automaticamente. Estávamos muito mais perto do que eu havia pensado e não consegui desviar meus olhos dele.

  Por um minuto inteiro ou mais, eu não conseguia focar minha atenção em mais nada além de que nossos ombros estavam quase colados e que eu alcançaria os lábios dele se inclinasse mais a minha cabeça para a direita. O sorriso dele fez meu pulso disparar e senti meu rosto esquentando.

— Você tá bem?

— Não. Sim. Quer dizer... — virei o rosto e tateei o chão até encontrar a mão esquerda dele. Segurei seus dedos e meu rosto praticamente queimou assim que ele entrelaçou os nossos dedos. Respirei fundo e girei o pescoço para encarar Sasuke outra vez. — Eu estou bem. Agora.

— Eu também senti a sua falta — ele murmurou e apertou um pouco meus dedos. A minha garganta apertou e relaxou assim que sustentei seu olhar. — Eu também estou bem agora, Sakura. Na verdade, eu...

— Mas que bela patifaria é essa hein? — O berro ensandecido de Ino me fez girar a cabeça em sua direção e levei um segundo a mais para entender porque ela havia ficado tão puta. Naruto estava com um braço no ombro de Hinata, da forma mais relaxada e natural que existia, enquanto Hinata mantinha o rosto escondido atrás de uma garrafa.

— Não tem patifaria nenhuma rolando.

— Não gosto mais de você, Uzumaki — ela apontou na direção dele e derramou um pouco da cerveja enquanto levantava e se apoiava no beliche. — Eu não posso desviar os olhos de vocês por cinco minutos, cinco malditos minutos, que vocês começam a se pegar!

— Ninguém tá se pegando, Ino — Naruto respondeu pela segunda vez e observou Ino com a calma de um monge. A loira parecia ser capaz de sufoca-lo se ele dissesse alguma coisa engraçada ou fizesse algum comentário na hora errada. — Você tá exagerando. Eu só estou com a Hinata. Só isso.

— Pera aí, como assim está com a Hinata? Em que sentido? — Ela tentou cruzar os braços, mas se contentou em apontar para ele e tropeçar para o lado.

— Ele vai fazer merda. — Sasuke sussurrou e parecia se divertir com a situação. — Pode apostar que vai. É a especialidade do Naruto. Ele consegue irritar as pessoas.

— Espera um pouco, eles estão mesmo...? — Apontei para Hinata e Naruto, um concentrado em analisar o formato de uma garrafa, o outro concentrado em encarar Ino, absolutamente irritada e com uma garrafa na mão.

— Depende. Nós estamos? — Aquilo me pegou de surpresa e perdi boa parte da linha de raciocínio quando percebi que ele estava falando sério.

— ...sei se você sabe, mas quando você diz que... — a voz de Naruto parecia muito distante quando os olhos ansiosos de Sasuke não paravam de me analisar e eu sentia meu coração batendo cada vez mais rápido conforme eu sentia minha boca secando.

— Eu só não quero que a gente se esconda, se a gente está mesmo... Você sabe...

  Olhei para as nossas mãos entrelaçadas e depois voltei a encará-lo, então respirei fundo e ignorei a tontura, o ardor no rosto e todo o resto quando levantei e ergui a garrafa o mais alto que pude e gritei acima das vozes de Naruto e Ino:

— Que tal um brinde?

— Por que a gente brindaria, hã? Não tem nada que...

— Bom, porque... Eu e o Sasuke, a gente... — precisei respirar fundo mais um pouco quando percebi o olhares curiosos dos outros três me acompanhando. — Eu estou com ele, e eu não quero esconder coisas de vocês duas — praticamente cuspi as palavras e comecei a bater a minha garrafa no gargalo das outras com pressa. — É isso.

  Sorvi um bom gole enquanto o silêncio se instalava e me obriguei a ficar no mesmo lugar quando Ino se aproximou e colocou uma mão no meu ombro.

— Parece que você nunca me escuta mesmo, né? Eu falei pra ficar longe dele. — Ela suspirou e a raiva quase ultrajada de antes havia sumido, havia franqueza e a mesma preocupação que eu havia enxergado nos olhos de Hinata outras vezes. — Bom, se você gosta dele, então boa sorte, porque esse daí não é muito interessante quando...

— Será que vocês podem me poupar desses detalhes? — Hinata interrompeu Ino e a possível reclamação de Sasuke.

— O que eu quero dizer é, se você está bem com ele, então tudo bem por mim — o sorriso dela foi calmo e balancei a cabeça, numa concordância muda. O rosto dela endureceu e assumiu a expressão ultrajada de poucos minutos atrás. — E você, meu chapa, se você magoar a minha amiga, eu vou te virar do avesso. E vou jogar os seus ossos na estrada, depois de te castrar com uma faca enferrujada e limão. Entendido?

  Os dois se fuzilaram com o olhar até que Ino deu mais um passo para frente. Sasuke balançou na frente do rosto e estava carrancudo quando sustentou o olhar da loira.

— Claro que entendi. Tem como não escutar você berrando na minha orelha?

— Se você não fosse tão surdo e estúpido, eu não precisaria gritar com você. Na verdade, eu nem precisaria falar com você se você mantivesse a sua palavra pelo menos uma vez na sua vida, já que...

— Espera aí, eu sempre cumpri o que eu prometi.

— Bom, a maior parte era só papo furado — ela o mediu com o olhar e torceu a boca. — O principal era.

— Ah, não! Não é disso que eu me lembro quando você fez a checagem mais de uma vez, especialmente naquele dia, quando...

— Brinde! Vamos fazer um brinde! — Hinata gritou e ergueu a garrafa enquanto se enfiava entre Ino e Sasuke, ela puxou a loira para o lado enquanto continuava gritando: — Vamos brindar! É uma festa!

  Batemos as garrafas e começamos a gritar em comemoração, exatamente como metade das pessoas faziam em festas de verdade, com música, luzes e dança. E, naquele exato momento, eu me senti como uma pessoa de verdade de novo.

* * *

  A minha cabeça girou ainda mais quando ergui a metade do corpo e abri um olho. Esfreguei o outro olho e levou um tempo até que a ficha caísse. Eu estava abraçada de conchinha com Ino, que havia jogado uma perna em cima do quadril de Sasuke e tinha jogado um braço na altura da barriga dele. O moreno havia jogado a perna em cima da panturrilha da loira e segurava o braço dela.

  Naruto estava sentado, encostado na cômoda, com as pernas esticadas e os pés perto da minha cabeça; já Hinata usava o colo dele como travesseiro e havia encolhido o resto do corpo. Soltei a cintura de Ino e puxei as cobertas da cama e cobri Hinata. Considerei em cobrir Ino e Sasuke, mas eles pareciam ter chegado num meio termo enquanto dormiam.

  Pisei com cuidado pelo carpete e meus olhos ardiam com a claridade, toquei a maçaneta como se ela fosse explodir e minha cabeça doeu como nunca assim que abri um pouco a porta e passei o corpo pela fresta. O cheiro do corredor, relativamente melhor do que o de cinco pessoas bêbadas, pareceu aliviar um pouco a dor de cabeça que mordia o meu cérebro.

  Uma parte bem estúpida na minha cabeça tentava lembrar em que ponto Sasuke e Ino haviam acabado daquele jeito, ou quando Hinata havia se aconchegado com o Uzumaki. O máximo que consegui lembrar foi da vodca compartilhada e depois de gritos exaltados quando Naruto propôs Verdade ou Consequência.

  Olhei para a esquerda com cuidado e franzi o cenho quando reconheci Gaara sentado no chão, a uma porta de distância, com a cabeça enfiada entre os joelhos. Eu não conseguia dar ouvidos à voz racional que me dizia para ficar longe e voltar para o quarto, já que a ressaca conseguia se sobrepor a todo o resto.

  Ponto para a ressaca.

— Ei, o que você tá fazendo aqui? — Me aproximei com calma e o empurrei com o pé, já que eu sentia que minha cabeça cairia se eu me agachasse. Ele olhou desorientado para os lados e ergueu a cabeça. — Seu quarto é pro outro lado.

— Eu só... — ele balbuciou e me olhou por um bom tempo antes de suspirar e bagunçar os cabelos. — Eu sei que já estraguei as coisas, mas eu só... Você não ia entender. — Ele resmungou num tom derrotado e o rosto indiferente surgiu com naturalidade.

  E, por alguns instantes, eu me reconheci nele. As camadas de indiferença e frieza que serviam como proteção contra o resto do mundo e a hesitação sobre o que fazer no próximo dia, no próximo segundo. Talvez por isso eu tenha feito aquilo.

  Talvez eu quisesse acreditar que, de alguma forma insana, eu estava enxergando o verdadeiro Gaara - um garoto mentiroso, que estragava tudo o que tocava. De algum jeito, quem eu podia voltar a ser.

— Se você quiser mesmo fazer alguma coisa certa pela Ino, se você ao menos consegue se importar, não minta mais. — Cuspi as palavras com firmeza e cerrei os punhos com força, e tentei me convencer de que estava fazendo a coisa certa. — Esse assunto é entre vocês, eu sei disso e não vou mais me meter. Mas se não puder parar de mentir pra ela, então se afaste de uma vez e não bagunce mais com a vida dela.

— Você não é a melhor pessoa para dar conselhos, novata — o tom casual na voz dele era forçado, mas ela me soou embargada demais. Ele esfregou os olhos e voltou a me encarar, mas o desespero ainda estava lá, praticamente gritava em seu olhar. — Eu falei a verdade e ela não suporta me olhar. Não tiro a razão dela, nem eu consigo me olhar no espelho por muito tempo.

  Ele suspirou e largou as mãos ao lado do corpo, num baque suave.

— O ponto é que eu não quero mais estragar...

— Se não quer mesmo estragar as coisas, então dê espaço pra a Ino. Se você se importa com ela, pare de colocar a sua necessidade de ser perdoado em primeiro lugar. — Respondi e ele ficou em silêncio, precisei respirar fundo outra vez e continuei a encará-lo. — É isso o que você tem que fazer se quiser consertar um pouco as coisas agora. Só... Não a machuque mais.

  Me afastei um pouco e parei quando a dor de cabeça voltou a me incomodar. Mas o que também me incomodava era a agonia desesperadora nos olhos dele, porque havia algo sincero nas palavras dele. Em algum ponto, ele se importava com Ino.

— Feliz Semana Zero. — Murmurei e ele arregalou um pouco os olhos, como se reconhecesse aquela expressão.

— Feliz Semana Zero, novata — trotei de volta para o meu quarto e, quando espiei sobre o ombro, Gaara voltou a enfiar a cabeça entre os joelhos dobrados.

   Num ponto ele estava certo: eu não era boa para dar conselhos.


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Notas finais do capítulo

YOOOOOOOO!
Cá estou outra vez e espero que tenham curtido esse especial de natal. Obrigada Psicodelia por ter dado a ideia.
Agradeço a todo mundo por cada comentário, recomendação e por ter favoritado e acompanhado NLTM até agora. Espero que vocês continuem a lê-la no próximo ano. Mals as demoras em atualizações.
Desejo boas festas a todos. Paz e tranquilidade.
Até o ano que vem.
Obrigada por mais um ano.
o/



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