Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 19
Razão




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            “Eu vou melhorar um dia”

                                              — Jamie n Commons  

 

— Está com sede?

  A pergunta de Naruto poderia soar preocupada se o rosto dele não estivesse enrijecido pela raiva contida, se as mãos não estivessem tão fechadas que os nós dos dedos pareciam brancos e se os olhos não faiscassem com frieza. Era engraçado as coisas que você consegue observar com um único olho bom.

— Consegue me entender?

— Eu escutei da primeira vez — na minha cabeça a minha voz estava alta, cheia de convicção e com uma pontada de ironia, mas os meus lábios mal se moveram e tudo não passou de um sussurro cansado. — Eu estou bem, obrigada.

— Você não parece bem — inclinei a cabeça contra o travesseiro e encarei o teto enquanto escutava Naruto se movendo pelo quarto. Os passos duros começavam e paravam sem intervalos regulares, continuei acompanhando as manchas do teto quando ele disse: — Beba um pouco de água.

— Eu já disse que estou bem — repeti com esforço e mordi o lábio inferior com força. Enquanto o Uzumaki colocava o copo no chão, eu queria mesmo acreditar nas palavras que havia despejado.

  Ah, docinho... Seja uma boa menina e pare de mentir, sim?

  A minha garganta continuava doendo desde quando Matsuri havia apertado o antebraço com força contra a minha traqueia e me sufocado até os meus pés deslizarem pelo chão. Ergui a mão com cuidado e observei que uma das unhas sangrava, toquei com cuidado a massa inchada e quente que era o meu olho esquerdo e estremeci quando lembrei que foi Sasame a primeira a me acertar enquanto Matsuri me sufocava.

  Depois vieram os chutes e uma delas – Matsuri? Sasame? – me puxou pelo ombro com força, as unhas rasparam a pele do meu ombro depois que a costura da blusa rasgou com o puxão. Eu queria acreditar que não havia sentido o gosto do meu próprio sangue encher a minha boca e que as dores no meu abdômen não haviam sido causadas pelos chutes e pelos socos delas.

  Eu queria mesmo acreditar que estava bem e que se eu continuasse a olhar o teto, a garganta ferida, o olho inchado, o nariz esmagado e toda aquela onda sufocante de dor física desapareceriam junto com aquelas malditas palavras que eu havia escutado de Hiashi.

  Tirem essa coisa daqui! Tirem ESSA COI

— Eu estou bem, estou mesmo — disse em voz alta, mas as vozes acusatórias e a voz rouca e insana de Hiashi não desapareceram da minha cabeça e nem foram substituídas pelas cartas fantasiosas de tempos melhores que a minha mãe escrevia. Nada conseguiu me impedir de quebrar. — E-Eu... Ele não se importa, não é?

  O silêncio inquietante que se instalou me fez lembrar, por um minuto ou dois, de como os alto-falantes eram barulhentos, de como a voz de Hiashi Hyuuga soava polida e ensaiada, e de como as ameaças de Matsuri e Sasame soavam confusas e embaralhadas depois que elas acertaram o meu estômago outra vez.

— Não.

— Eu não devia me surpreender — resmunguei e tentei controlar o tremor no queixo, mas aquela voz chorosa e débil continuava escapando pelos meus lábios. — E-Ele não é o meu pai, sabia? Não de verdade — confessei enquanto me concentrava nas manchas do teto. — Então eu não devia me surpreender com isso.

  TIREM ESSA COIS

— Eu sou idiota, essa é a verdade — a amargura parecia um comichão nas pontas das mãos que escalava meus pulsos e cotovelos até me sufocar com certa gentileza. — Eu pensava que se fizesse as coisas do jeito dele, se ficasse quieta e não causasse mais confusão, talvez, quem sabe e-ele poderia pensar e...

  Tirem essa COISA DAQUI AGO

— Eu estraguei com as coisas, não é? E-Ele não vai pensar de novo e...

  Quando os soluços romperam os meus lábios e fechei o olho esquerdo com força, eu continuava a acreditar que talvez poderia ficar bem. Quando as vozes que gritavam acusações e maldições na minha cabeça sufocaram todo o resto – a surra, as cartas, o desdém de Naruto e de todos os outros -, então eu finalmente quebrei.

* * *

  Assim que abri o olho bom de novo, a claridade havia aumentado e iluminado boa parte do quarto; não localizei Naruto em nenhuma parte e joguei as pernas para fora da cama pela primeira vez em doze ou treze horas. Calculei que deviam ser dez horas da manhã e arrastei os pés pelo carpete surrado até uma porta à esquerda da cômoda.

  Girei a maçaneta e gritei assustada quando Naruto se materializou dentro do banheiro.

— Você não sabe bater, Hyuuga?

— Será que... Será que você deveria estar em outro lugar? — Cuspi as primeiras palavras que surgiram enquanto Naruto esfregava a toalha contra o torso nu e passava por mim a passos largos e duros.

— É você quem está no meu quarto — ele retrucou com desinteresse e escancarou uma gaveta da cômoda; enquanto eu processava a informação, Naruto girou os calcanhares na minha direção e me afastei por puro reflexo assim que ele estendeu a mão. — Eu não vou fazer nada, Hinata.

  O choque de ter sido chamada pelo primeiro nome foi maior do que sentir os dedos mornos e rígidos dele segurando meu queixo, e continuei paralisada enquanto meu rosto era erguido e os olhos dele não simplesmente me analisavam, mas pareciam gravar cada linha, cada pequeno detalhe meu.

  Foi Naruto quem desviou os olhos primeiro e acrescentou:

— Está menos inchado.

— Foi você quem me tirou de lá? — A pergunta finalmente veio à tona e uma sensação parecida com alívio me acalmou por alguns segundos até a minha mente disparar o quão tola e ingênua eu havia sido não apenas por dizer aquelas palavras, mas por considerá-las como uma explicação plausível para o que havia acontecido depois que Karin, Sasame e Matsuri haviam me surrado. — Foi? — Insisti e queria desesperadamente que Naruto simplesmente me olhasse, mas ele continuava a encarar os próprios pés.

  Ah, não, você acredita mesmo nesse papo de redenção e mudanças? Você, Hinata Maldita Hyuuga? Logo você?

  O silêncio era incômodo e pesado, e pareceu pesar dez vezes mais quando Naruto me encarou e afastou os dedos do meu rosto com certa rispidez e se afastou para o lado, o carpete amorteceu seus passos quando ele andou de volta até a cômoda e voltou a remexer na gaveta aberta.

  Uma parte minha – até então adormecida pelas últimas horas ou pelo choque de minutos atrás – se ressentia com o silêncio e a postura arrogante de Naruto Uzumaki, era uma parte irritante e pirracenta que exigia respostas imediatas para o questionário mental que me torturava desde quando fui encurralada pelas três garotas que portavam o título de intocáveis neste lugar.

  Por que eu?, essa era uma ótima pergunta retórica, que logo era seguida pelos clássicos: Por que elas fizeram isso comigo? Por que estou aqui? Naruto dá a mínima pra mim?

  Não eram apenas essas as perguntas que torturavam o que me restava de sanidade e controle, mas a contradição que eu queria enxergar entre as palavras de Naruto Uzumaki e suas ações era duas vezes mais agoniante. Porque eu queria algo que não estava disponível: eu queria que Naruto Uzumaki me enxergasse com algo além de desdém e ódio cegos pelo meu nome.

— Por que eu faria isso, Hyuuga? — O tom arrogante dele me faria franzir o cenho em outra situação, ou até mesmo me faria dar meia volta imediatamente e me questionar por que eu me dava ao trabalho de ficar no mesmo lugar que ele. Mas dessa vez, aquelas palavras desdenhosas acompanhadas pelo olhar frio dele me incomodavam.

  Um nó dolorido apertou meu pescoço quando ele sustentou meu olhar e um meio sorriso rasgou meus lábios de forma automática.

— É, você tem razão. — Murmurei e a urgência em escapar dali falou mais alto do que aquela voz na minha cabeça que exigia retratações e respostas à altura. — Por que você se importaria comigo se tudo que a minha maldita família fez foi ferrar com a sua?  Você está certo.

  Atravessei o pedaço de carpete que me separava da porta em passos incertos e, quando agarrei a maçaneta, senti que tinha equilíbrio e orgulho suficientes para mover as pernas para longe de Naruto.

— Eu não posso dar isso a você — ele sussurrou num tom agoniado e controlei a vontade de girar o tronco e encará-lo. — Se eu me esquecer de quem você é, se eu me esquecer que você é uma Hyuuga, então o que me resta? Eu não posso esquecer.

  Então por que me ajudou a tirar Sakura da solitária? Por que é você quem está aqui, agora, por que não Ino ou Sakura ou qualquer outro? Por quê?

  Nenhuma dessas perguntas jamais foi verbalizada. Nem mesmo a mais simples de todas escapou dos meus lábios secos.

— Parece que você não é nada sem o seu ódio por mim, Naruto. — A constatação fez a minha garganta fechar ainda mais e me forcei a continuar encarando os meus dedos trêmulos que envolviam a maçaneta. O maldito meio sorriso continuava a machucar, continuava repuxando meus lábios, naquela velha máscara treinada de normalidade.  — Então eu me enganei sobre você. Achei que você podia ser melhor do que isso.

  Atravessei a soleira da porta e não me incomodei em fechar a porta, eu só queria sair logo dali, fugir como das outras vezes daqueles olhos frios e insolentes de Naruto Uzumaki, até me esquecer de que nós dois estávamos presos no mesmo lugar.

  Aquela parte irritadiça, petulante e ofendida na minha cabeça ganhava força conforme eu aumentava a distância nós dois; os dedos acusatórios voltaram com facilidade e as velhas cobranças sobre quem era, afinal de contas, Hinata Hyuuga cutucaram os antigos fantasmas, abriram as caixas de lembranças e arruinaram qualquer bom senso que eu havia reunido ao sair daquele quarto.

  Hinata Maldita Hyuuga pode lidar com a rejeição melhor do que ninguém, não é? Afinal, quem brigaria por você? Quem daria a mínima para você, docinho?

  Os olhares e murmúrios não eram a pior parte, nem mesmo os risos e os berros sobre a minha aparência; aguentar as provocações e as bolinhas de papel me acertando nas costas e nos braços ainda faziam parte daquilo que eu conseguia lidar - eram as malditas lágrimas, a droga da indiferença que eu precisava sustentar junto com a cabeça erguida e os ombros eretos que realmente me destroçavam ao andar pelos corredores até o meu quarto.

  A porta com os números 1-1-8 gravados com tinta preta nunca foram tão reconfortantes como naquela hora; girei a maçaneta e o cheiro de poeira e madeira me atingiram como uma recepção de boas-vindas.

  Caminhei até o banheiro e me forcei a encarar o reflexo no espelho, me forcei a observar a carne roxa e inchada que era o meu olho esquerdo, me forcei a imaginar o formato do meu nariz antes de ser esmagado pelos golpes delas e observei cada formato irregular dos hematomas escuros que ocupavam os meus braços e a minha barriga.

   Você consegue mesmo lidar com isso, docinho?

  Me forcei a sorrir para o reflexo machucado que me olhava de volta no espelho e detestaria a forma como aquela falsa normalidade ainda emoldurava o meu rosto, se eu não estivesse tão reduzida àquela versão frágil que Karin, Sasame e Matsuri haviam trazido com murros e chutes.

  E, na realidade, eu nunca estivesse tão presa àquela garota de sorrisos mentiroso quanto agora.

* * *

  Durante quatro dias, as coisas pareciam estar paradas numa versão parecida com os dias antes da surra, dos berros de Hiashi e dos olhos frios de Naruto. Eu ainda ostentava aquele maldito sorriso fácil e resignado como resposta todas as vezes que Sakura ou Ino me perguntavam se eu estava bem. E em cada uma dessas vezes eu mudava de assunto e o questionário morria ali mesmo.

  Cada vez que eu andava sozinha pelos corredores ou descia as escadas, eu simplesmente paralisava e sentia meu sangue congelar assim que escutava uma risada estridente ou topava com um trio de garotas no meio do caminho. Aquilo podia ser considerado como estresse pós-traumático e poderia ser melhor lidar com calma até que eu considerasse que podia superar aquela surra.

  Mas eu nunca superaria. Essa era a verdade que eu me empenhava em esconder de qualquer um.

  E, durante aqueles quatro dias, eu acreditei que os pesadelos com os olhos insanos de Matsuri e com o rosto entusiasmado de Sasame que me faziam acordar de madrugada, com o corpo suando e a respiração ofegante, simplesmente sumiriam em dois ou três dias; eu achava mesmo que poderia esquecer desde que me empenhasse para mostrar para Sakura e Ino que eu havia me recuperado.

  A sala estava silenciosa e a sirene ecoou pela última vez pelos alto-falantes, e o mesmo sorriso resignado havia reaparecido quando as garotas perguntaram se eu poderia ir até o dormitório sozinha. Menos de dez minutos haviam se passado desde que Sakura seguiu Ino porta afora e eu me dediquei a fingir que encarar o lápis sobre a mesa era útil.

— Hinata Hyuuga — ergui a cabeça automaticamente. — Parece que não me empenhei o bastante. Mas, sabe como é... — os dentes dela pareciam mais afiados naquele sorriso largo, confiante, combinado com os olhos que se divertiam ao me encarar. — O tempo voa.

  Foi no quinto dia que eu descobri a resposta de uma das perguntas retóricas que me atormentavam.

  Por que fizeram isso comigo? Resposta: Você é uma Hyuuga. Considere-se sortuda, docinho. Leve uma bela surra pelo preço de três. O que me diz, hã?

  O rosto de Matsuri parecia retorcido em insanidade e o sorriso largo, cheio de dentes e quase eufórico dela revirou o meu estômago com facilidade. Senti meu pescoço endurecer quando aquela garota arrastou uma cadeira e a girou, passou as pernas longas em cada lado e apoiou os braços no encosto com casualidade.

  Espiei a saída e, na minha cabeça entorpecida, eu tentava imaginar uma forma de sair dali o mais rápido possível. Dê o fora, docinho. Você escutou bem o que ela disse, certo? O tempo voa.

— Ah, você não vai fugir tão fácil, Hyuuga — o tom dela era zombeteiro e quase compadecido quando voltei a encará-la. — Sua cicatrização é boa — ela inclinou a cabeça e esticou uma mão na minha direção e apoiou a outra na mesa. Recuei automaticamente e minhas mãos ainda tremiam sobre a mesa assim que a risada dela ecoou pelo cômodo vazio. — Isso quer di...

  Agarrei o lápis – disso eu me lembro bem -, e me assustei assim que Matsuri gritou de dor. Acompanhei o olhar surpreso dela até os meus dedos trêmulos ao redor do lápis fincado na carne entre o polegar e o indicador e me afastei no mesmo minuto em que aquele berro dolorido se transformou num riso histérico.

  A mesma adrenalina que havia me impulsionado para enfiar o lápis na mão de Matsuri bagunçou boa parte da linha de raciocínio que incluía fugir dali.

— Sabe, você até que é divertida — ela rosnou e não havia qualquer traço de diversão nos seus olhos enquanto ela girava o lápis e o retirava num puxão brusco. A ponta estava molhada de sangue e acompanhei, num misto de nojo e surpresa, Matsuri balançando o lápis na minha direção. — Gosto de gente assim.

— Então você vai me adorar.

  Matsuri só teve tempo de virar parcialmente o rosto para trás quando Naruto marchou pela fileira de mesas e a agarrou pela nuca, o golpe seco me fez recuar dali automaticamente e percebi que o Uzumaki continuava forçando a cabeça dela contra o tampo da mesa. Ela gemeu e riu quando teve o rosto golpeado contra a mesa mais uma vez.

— Você tem cavalaria! — A voz dela soava abafada enquanto ela apoiava as mãos sobre o tampo e erguia o rosto, dois filetes grossos de sangue saíam do nariz e passavam sobre os lábios. Os cabelos desalinhados, o nariz machucado e aquele maldito sorriso feroz dela só serviram para aumentar a necessidade de sair dali o mais rápido possível. Chame de senso de preservação, docinho. — Oh. — Ela sorriu ainda mais e inclinou a cabeça na direção de Naruto. — Sua mãe não te ensinou que não é educado bater numa mulher?

— Eu não gosto de me repetir, então cale a boca e escute bem — Naruto esticou um dedo na direção dela e sua voz mal passava de um murmúrio controlado e raivoso. — Você vai ficar longe da Hinata. Você e as suas duas...

— Cuidado com a linguagem, rapaz. Não gosto desse tipo de vocabulário — ela retrucou ameaçadora e apontou o lápis na direção dele, depois o balançou para a esquerda e para a direita, num sinal negativo. — Você não é muito educado, não é, Naruto?

— Fiquem longe dela.

— Ou o que? Vai me bater de novo? — Ela voltou a apoiar os braços no encosto da cadeira da mesma maneira casual, o sorriso dela beirava ao maníaco e pela primeira vez eu percebi que não havia nada de vazio ou encenado no tom arrogante e desafiador de Matsuri; tremi assim que notei a loucura nos seus olhos. — Não me diga que está me ameaçando?! Eu adoraria ver isso acontecendo.

— Eu não faço ameaças. Isso é perca de tempo — ele inclinou lentamente o tronco e espalmou as mãos sobre a mesa que eu havia ocupado. — Eu estou te dizendo que, se não parar com essa merda, eu vou atrás de você. Isso é uma promessa.

  A quietude tensa pairou por apenas alguns segundos enquanto os dois se encaravam e piorou ainda mais quando a garota permaneceu imóvel enquanto ele endireitava a postura e estendia a mão na minha direção; levei algum tempo até mexer as pernas para levantar, andar e só desviei os olhos do rosto maníaco dela quando Naruto segurou me pulso.

  Quando as solas dos meus tênis arranharam o chão e os passos – meus e de Naruto – fizeram ruído pelo lugar, Matsuri comentou num tom seco:

— Uh. Estou morrendo de medo. — Ela chacoalhou as mãos e as deixou cair sobre a mesa num baque surdo. Os nossos passos ganharam mais ritmo e foi então que ela aumentou a voz, em um tom descontrolado, louco: — O que está esperando então, Uzumaki? Porque eu não vou parar com merda nenhuma. Ah, cara, isso sim é uma promessa!

  Nenhum de nós dois disse qualquer coisa e parecia que nenhuma frase seria suficiente para explicar aquela explosão estranha de sentimentos que me anestesiavam – o toque dele que formigava o meu pulso, a raiva insana nos olhos dele, o choque e a adrenalina que amoleciam as minhas pernas, o medo que revirava o meu estômago e o alívio por ter saído daquela sala.

  Dobramos mais um corredor e Naruto parou de andar, ele soltou meu pulso e girou o corpo na minha direção. Por alguns minutos, havia preocupação nos seus olhos e aquilo não combinava com as respostas desdenhosas e os olhares gelados de alguns dias atrás.

— Desculpe a demora, eu... — arregalei os olhos automaticamente e percebi Naruto olhar emburrado para o lado antes de voltar a me encarar. — Eu estou falando sério. Só... — ele suspirou e não consegui desviar o olhar assim que ele perguntou: — Você está bem?

— Você tá de brincadeira comigo? — Franzi o cenho assim que ele enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans. — Quer dizer, você fingir que se importa comigo é uma brincadeira doente, mas você se desculpar não faz sentido nenhum — soltei o ar com força e emendei: — Você não pode estar se desculpando por ter demorado, não de verdade. Quer dizer, você me odeia.

      Não seja redundante, docinho. Você é mais esperta do que isso.

— Você já deixou isso bem claro, então por que você está se desc...

— Será que você não consegue parar com as perguntas? — A preocupação não havia deixado de moldar sua expressão ou mudar a forma como seus olhos se apertavam, e me perguntei outra vez se eu não estava imaginando tudo aquilo. — E eu não estou brincando com você, Hinata.

— Então o que é que você está fazendo aqui já que me odeia? Quando você odeia uma pessoa, não vai atrás dela e não a ajuda com planos mirabolantes para tirar amigos de solitárias — a confusão que me atormentava desde aquele dia parecia servir de justificativa para trazer à tona as perguntas e análises sobre meus sentimentos sobre quem era Naruto. — Quando você odeia alguém, não faz ameaças por ela e nem mesmo se importa se ela está bem. Você não pode fazer isso se odeia alguém!

  Eu queria respostas e queria saber se a preocupação, a raiva e a proteção que ele havia demonstrado eram de verdade e, se, em algum ponto, ele conseguia se importar comigo. Por que isso é tão importante? Porque é.

  O silêncio dele trouxe de volta o aperto na minha garganta e o tornou mais insuportável do que antes, mas eu não queria e não conseguia desviar meus olhos do seu rosto endurecido.

— Desculpe por não seguir as regras direito, então. — Sustentei o olhar dele e Naruto suspirou. — Eu não sabia que você era apegada a esse tipo de etiqueta.

— Será que você não consegue ser sincero só uma vez? — Explodi impaciente e senti que, se não me agarrasse naquela faísca de orgulho ou o que quer que fosse, eu não conseguiria me agarrar a mais nada. — Se você não me tirou daquele lugar... — minha voz falhou quando lembrei dos alto-falantes e das ameaças desconexas, do quanto a minha cabeça doía e como tudo tinha gosto de sangue. — Então por que foi você que ficou comigo depois? Por que não a Ino? Ou...

— Porque você bagunçou com a minha cabeça, Hinata. Você... não percebeu ainda, não é? — Um sorriso amargo brotou nos lábios dele assim que me interrompeu. — Eu odeio a sua família, mas não sei se consigo odiar você. Não com todas essas regras que você quer que eu siga.

  O nó na minha garganta pareceu afrouxar mais um pouco assim que eu reconheci os olhos agoniados dele me analisando.

— Eu não sei mais o que fazer — ele suspirou mais uma vez e uma mão saiu do bolso da calça jeans e agitou os cabelos loiros em movimentos rápidos. — Você mexeu comigo, Hinata, é essa a verdade. Eu não sei mais o que fazer sobre você.

— Você se importa comigo? É isso? — Eu precisava daquela resposta, da mesma forma como precisava que ele continuasse perto e que não houvesse mais máscaras de desdém, ódio e raiva entre nós dois.

  Avancei mais dois passos e parte do choque paralisante nas minhas pernas virou um comichão agradável quando não havia mais do que um passo curto entre nós dois.

— É o que eu quero dizer, sim — ele falou numa voz falha e voltou a agitar os cabelos com nervosismo quando os olhos dele continuaram fixos nos meus. — Dane-se — minhas pernas voltaram a ser de borracha quando os braços dele me puxaram e me apertaram com força. — Eu devia ter feito isso antes.

— O que você está fazendo? — O calor tomou conta do meu rosto automaticamente e eu não sabia se deveria colocar as minhas mãos nas costas dele ou se elas deveriam continuar onde estavam, esticadas e paralelas à cintura dele.

— Não estou pensando. — O resmungo foi acompanhado de outro suspiro e escondi o rosto na camiseta cinza de mangas longas dele assim que escutei: — O que foi que você fez comigo, Hinata?

  Tudo o que eu conseguia processar era que foi nos braços dele o resto do mundo pareceu diminuir e, quando nos separamos, ser Hinata Hyuuga foi um pouco mais fácil.


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Notas finais do capítulo

YOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
NARUHINA meu povo! Demorou, mas aí está o começo!
Este capítulo demorou muito para sair devido a bloqueios mentais :). Mas espero que a longa demora tenha sido recompensada. Revisei duas vezes, mas caso alguma coisa não tenha ficado clara ou estranha demais, fora do contexto, me avisem por favor.
Estou me programando para retomar ao ritmo de postagens semanais, já que a fanfic está praticamente na metade.
Sobre o capítulo em si, foi muito empolgante encontrar o tom NaruHina e conseguir aproximá-los no final.
Não vou me estender por aqui, mas agradeço aos que param para comentar. É muito bom, mesmo, ler suas sugestões, críticas e receber seu feedback. Obrigada pela força.
Até o próximo! o/



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