Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 16
Algumas vezes, as barreiras somem




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Eu vou te carregar”

                                                                   Ruelle

 

  A música explodia nos meus tímpanos e eu acompanhava os versos numa mímica muda, encarando o teto, como se a letra fizesse todo o sentido do mundo bem ali, acima da minha cabeça de dezessete anos. Da sua cabeça de assassino de dezessete anos, não se esqueça disso, garotão!

  Um sorriso amargo brotou feito mágica nos meus lábios e mexi a cabeça, numa concordância muda com aquele pensamento. Sasuke Parricida Uchiha nunca se esquece das coisas, não é?

 Eu ainda estava com os olhos pregados no teto quando escutei uma batida fora do ritmo da música; afastei um dos fones de ouvido e escutei a pancada insistente na porta, joguei as pernas para fora da cama e atravessei o carpete velho, então as pancadas continuaram com mais força e escancarei a porta com as palavras morrendo na garganta assim que percebi duas coisas absurdas.

  A primeira delas era que Sakura estava com a cabeça jogada para trás e havia uma massa inchada de carne no lugar do nariz, o olho direito estava completamente fechado enquanto o outro piscava alucinadamente; parecia que ela ia desabar a qualquer segundo, já que a perna esquerda dela não parava de tremer e a direita mal conseguia sustenta-la de pé.

— Sai logo da frente, Sasuke — obedeci a ordem de Naruto Uzumaki, sentindo um par de mãos invisíveis me sufocarem assim que Sakura urrou de dor quando foi colocada em cima do meu colchão.

  A segunda coisa absurda era que Naruto tremia, talvez até mais do que eu, conforme nós dois nos apertávamos pelo corredor do quarto, procurando remédios, pomadas, gazes, qualquer coisa que servisse para cuidar dela.

  Foi Naruto quem me empurrou para o lado, carregando meia garrafa de vodca e se agachou ao lado da cama. Espalhei tudo o que havia reunido das gavetas e da mochila de Naruto em cima do colchão e eu não conseguia parar de tremer enquanto molhava um pedaço de gaze com vodca, antes de apertá-la o mais suavemente possível no rosto de Sakura.

  Aquele processo mecânico durou um bom tempo e a bisnaga de pomada anti-inflamatória escapou dos meus dedos duas ou três vezes, já que as minhas palmas estavam encharcadas de suor e a minha coordenação motora havia sido reduzida pela metade.

— Quer que eu...?

— Não, não, tá tudo bem — rosnei para Naruto e consegui desatarraxar a tampa e aplicar a pomada no lado direito do rosto de Sakura. — Desculpe — murmurei no tom mais ameno que consegui encontrar, mesmo com o ódio fervendo qualquer raciocínio lógico. — Sakura, você consegue me escutar? — Alisei o lado esquerdo do rosto dela enquanto tentava desesperadamente acreditar que ela não sentia dor; o queixo dela ainda tremia quando ela conseguiu emitir um grunhido afirmativo à minha pergunta.

— Me dá qualquer coisa pra apagar — Sakura cuspiu as palavras com esforço e o lado esquerdo do rosto estava parcialmente intacto, enquanto o direito era uma massa inchada e quente. — A-Anda.

  Naruto estendeu uma cartela de analgésicos e Sakura ergueu uma mão, o braço todo tremia enquanto ela esperava pelos três comprimidos e os depositava nos lábios; eu queria que nada daquilo fosse real mesmo, mas o urro de dor dela me fez trincar ainda mais os dentes e desejar que quem quer que fosse o responsável, estivesse realmente longe antes que eu o encontrasse.

— Eu vou matar quem fez isso — o sussurro escapou da linha reta que meus lábios haviam formado e eu não conseguia parar de tremer enquanto tentava deixar Sakura mais confortável, mas cada milímetro que eu a movia, parecia causar outra explosão de dor.

  A minha cabeça girava sobre quem poderia ter feito aquilo e afastei o cabelo rosa que caía no lado direito do rosto quando a deitei de costas sobre o colchão e sentei no chão, agarrei a garrafa de vodca e entornei um longo gole antes de pôr os olhos em Naruto.

— Será que...

— Eu sei. Vou avisar as garotas. — Ele me interrompeu no mesmo tom de urgência de minutos atrás, e tudo o que fiz foi murmurar um agradecimento em seguida. Naruto hesitou um momento antes de abrir a porta e seu rosto endureceu ao olhar para Sakura. — Nós vamos achar quem fez isso. É uma promessa.

  Girei o corpo na direção do colchão assim que Naruto saiu do quarto e, pela segunda ou terceira vez na vida, eu não sabia exatamente o que deveria fazer, já que o sentimento de impotência competia com a raiva cega e eu queria desesperadamente que as coisas voltassem ao normal assim que eu abrisse os olhos.

  Tudo o que eu pude fazer foi continuar parado no quarto, esperando que os hematomas no rosto e no corpo de Sakura desaparecessem feito mágica. Não seja estúpido, garoto. As coisas não funcionam assim.

— Eu juro que eu vou pegar o desgraçado que fez isso com você.

— Você já disse isso — ela se esforçava para soar cínica, mas a voz dela mal passava de um sussurro ofegante. — E não vai dar certo. — Tentei acreditar que as minhas mãos já haviam parado de tremer enquanto Sakura girava o pescoço para me encarar e continuava dizendo: — Porque isso não é da sua conta, Sasuke.

— Sabia que eu odeio quando você diz que o que te afeta não é da minha conta, Sakura? — Naquela hora eu não estava medindo palavras e nem mesmo sentimentos, não enquanto era a garota que eu gosto mal conseguia respirar por ter sido surrada no meio da madrugada. — Será que...

— Você é intrometido demais, Sasuke — o tom cínico continuava intacto e Sakura esticou o braço esquerdo até agarrar meu pulso e apertar os meus dedos. — Obrigada.

  Não foi exatamente alívio que conseguiu silenciar todo o bombardeio mental de cobranças, perguntas e todo o tipo de porcaria que me corroía dia após dia, mas uma mistura de calma, quentura e confiança por ver que Sakura me queria ali.

  Meu coração continuava disparado enquanto a porcaria de um sorriso de canto repuxava os meus lábios e foi automático entrelaçar meus dedos aos de Sakura; inclinei a cabeça assim que senti o polegar dela roçando na minha mão, num afago calmo e quase desajeitado.

— Se... Se eu apagar de vez, você continua aqui, certo?

— Eu não vou sair do seu lado, Sakura. — Eu queria que ela entendesse que aquilo significava mais do que continuar bem aqui, nesse momento. — É uma promessa.

  Não levou muito tempo até que Sakura fechasse o olho bom e respirasse suavemente, e eu queria acreditar que, pela primeira vez, ela estava confiando abertamente em mim.

* * *

  A maldita claridade foi capaz de me fazer abrir os olhos e despertar ondas de dor nos ombros e nas coxas, xinguei enquanto tentava me acostumar com a luz do sol invadindo o quarto e endireitava um pouco a postura.

  Meu braço esquerdo formigava e percebi, ainda meio sonolento, que os meus dedos continuavam entrelaçados com os de Sakura; olhei ao redor e franzi um pouco o cenho ao perceber que havia uma coberta fina sobre Sakura e outra escorregava das minhas costas.

— Gaara? — Esfreguei os olhos com a mão livre e mantive o cenho franzido enquanto eu o encarava. Ele descruzou os braços e bagunçou o cabelo, como se não soubesse exatamente o que fazer com suas mãos. — O que você tá fazendo aqui?

— Eu trouxe comida — ele apontou com a cabeça para uma pilha de embalagens e garrafas em cima da própria cama. — Vou avisar o Naruto que você acordou.

— Ei, espera — o máximo que Gaara fez foi continuar parado na frente da porta e me perguntei se ele havia ensaiado aquele maldito olhar indiferente. Senti minha garganta apertar mais ainda e me forcei a dizer: — Eu sei que você não acredita que a sua irmã esteja morta. Eu também gostaria muito que isso fosse mentira, mas...

— Vocês dois realmente combinam — o sorriso ácido era pior ainda combinado com aquele olhar treinado dele. — Parece que vocês amam cuidar da minha vida e se meter nos meus assuntos, Sasuke.

— Então pare de agir feito um idiota! — Retruquei num sussurro e tentei não me importar tanto quando aquele maldito sorriso dele aumentou consideravelmente e Gaara balançou a cabeça, como se não quisesse acreditar no que estava escutando. — Por quanto tempo acha que sustenta essa versão de assassino?

— E por que é que você não vai tomar bem...

— Ino não é idiota! — Foi aí que Gaara ficou em absoluto silêncio e desviou o olhar automaticamente para suas mãos; suspirei e espiei o rosto calmo de Sakura, a sensação de alívio por saber que ela continuava a dormir calou a voz irritante na minha cabeça que repetia que eu deveria manter a boca fechada. — Ela se enfiou aqui dentro porque ela quer a cabeça do assassino da família dela, e você só está ferrando com tudo enquanto fica com essa porra de pose de mercenário.

— Por que você se importa tanto com a Ino, hein, Uchiha? O que é? Você gosta dela, é isso? Não consegue entender que o que vocês tinham acabou? — Eu não sabia se deveria rir, vomitar ou ficar chocado e não sabia qual ordem dos fatores teria de seguir enquanto Gaara despejava as palavras com raiva, pura e cega.

— Obrigado, universo — murmurei para o teto enquanto tentava conter o calafrio que escalava a minha espinha. — Eu realmente não sei se você faz esforço para ser imbecil, Gaara, porque se você desse a mínima para essa garota, se realmente se importasse com alguém de verdade, não continuaria mantendo essa versão cretina de assassino.

— Assim diz o cara que matou os pais por grana.

  Eu reconheci aquela velha e horrenda sensação de triunfo queimando qualquer linha de raciocínio quando cuspi as palavras de forma mecânica e controlada:

— Pelo menos, eu não menti sobre isso.

  Minha mandíbula estava rígida e Gaara continuou imóvel na frente da porta, mas eu percebi o quanto seu olhar havia endurecido, mesmo com o esforço que ele fazia para parecer indiferente.

— Que tal isso, Uchiha? Vocês dois se intrometem nos seus assuntos, e eu cuido dos meus. Parece bom o bastante para você?

— Viva a democracia.

— Ótimo. Não se esqueça de comer, seu desgraçado intrometido.

— Obrigado pela preocupação com o meu bem-estar, seu boçal!

— Foda-se! — Continuei fuzilando a porta assim que Gaara passou por ela e a bateu com força, eu queria que a madeira se desintegrasse o suficiente para atingir o Sabaku nas costas e deixa-lo imobilizado por algumas horas.

  O arrepio que escalou a minha coluna assim que pus os olhos em Sakura não me trouxe alívio ou qualquer tipo de serenidade, mas gelou todo o meu corpo quando percebi o único olho bom dela me encarando.

  Merda.

— O quanto você escutou? — Eu queria que ela estivesse grogue o suficiente para não discernir absolutamente nenhuma palavra que eu havia dito.

— O suficiente.

  Merda duas vezes.

— Isso significa que foi o suficiente para você me odiar? — A minha garganta fechou assim que despejei a pergunta e me detestei por ter pronunciado aquelas palavras, porque eu tinha medo da resposta. Eu sentia meu coração descompassado no peito enquanto Sakura continuava em absoluto silêncio.

— Por que eu te odiaria, Sasuke? — o tom confuso na voz dela incentivou aquela parte insignificante de esperança no meu peito de que, por alguma razão, Sakura conseguia me ver não como um criminoso.

— Bom, eu matei os meus próprios pais. Você escutou essa parte. — O gosto amargo da bile encheu o céu da boca e eu sabia que não suportaria reconhecer o asco ou a repulsa no olhar de Sakura, por isso encarei os nossos dedos entrelaçados. — Isso já é o suficiente para qualquer pessoa normal...

— Eu não sou normal — quanto ela apertou meus dedos, eu soube, bem ali, que não era apenas uma questão de gostar de Sakura Haruno que me fazia sentir exposto, feliz e agoniado ao mesmo tempo enquanto ela me olhava. — Você é só um cara que não consegue flertar e que continua bem aqui, comigo.

  O aperto na minha garganta não tinha nada a ver com os interrogatórios mentais e os longos dedos acusatórios que sempre me lembravam que eu era Sasuke Uchiha, o parricida; dessa vez, foi Sakura quem me tirou a capacidade de raciocinar e respirar enquanto segurava a minha mão.

  Eu sabia que não estava apenas hipnotizado e viciado pelo olhar calmo dela ou pelas suas respostas cínicas e bem-humoradas, ou na maneira como meu nome era pronunciado com sarcasmo e nas inúmeras barreiras que ela havia erguido contra o mundo, eu entendia perfeitamente que não conseguia mais me afastar de Sakura e cada pequeno momento contava.

— O que eu quero dizer... E-Eu...

— Tire a sua bunda do meu caminho, Uchiha! — O barulho estridente que era a voz de Ino conseguiu interromper a voz envergonhada de Sakura, seguido da marcha militar até a borda da cama e o estrondo da porta ao ser aberta com violência.

— Obrigado de novo, universo — encarei o teto com irritação e fui obrigado a encarar Ino assim que senti um tapa na minha cabeça. — Bom dia para você também, Yamanaka. Espero que tenha tido pesadelos nessa noite.

— Mova-se — ela me empurrou com o quadril o suficiente para ficar na beirada no colchão. — Eu juro que eu vou acabar com a raça de quem fez isso. — Ino segurou o rosto de Sakura com cautela e se deu ao trabalho de me encarar diretamente, enquanto questionava: — Você vai largar a mão dela ou eu preciso quebrar o seu pulso primeiro?

— Ino, eu est...

— Eu tenho olhos, Sakura. Eu sei muito bem a porcaria que estou enxergando agora mesmo — o duplo sentido de suas palavras ficou mais evidente quando Ino ergueu uma sobrancelha e parecia que a maquiagem preta ressaltava a ironia em seus olhos azuis. — Vamos, você precisa tomar um banho e analgésicos. Eu posso...

— Ino, eu... Sasuke já... — a loira enrijeceu e usou o próprio corpo como barreira conforme Sakura soava cada vez mais indecisa e envergonhada. Senti o comichão suave nas pontas dos dedos assim que os dedos de Sakura voltaram a apertar os meus. — Ele cuidou de mim.

  O silêncio quase sepulcral que havia se instalado no quarto deixou o ar mais tenso e parecia ter intensificado o embaraço de Sakura e o rosto sério e pensativo de Ino. Mais uma camada de tensão foi adicionada assim que a loira pôs os olhos em nossas mãos e, pela segunda vez, se deu ao trabalho de me encarar antes de retomar o tom autoritário e cínico.

— De qualquer jeito, você ainda precisa de um banho. O seu rosto está uma merda — ela voltou a analisar os ferimentos no lado direito do rosto de Sakura e colocou as mãos na cintura. — Tem certeza de que não quebrou o nariz?

— Delicada como um elefante.

— Escutou alguma coisa, Sakura? — Ino franziu o cenho e inclinou um pouco a cabeça, revirei os olhos automaticamente; foi impossível não imitar a Yamanaka quando ela voltou a abrir a boca: — Eu acho que tem um...

...inseto por aqui. Blá. Blá — retruquei e meus lábios formavam uma linha reta assim que Ino desviou os olhos na minha direção. Continue assim e vamos bater um verdadeiro recorde, garotão. — Eu disse que você continua delicada como um elefante, Ino. Não me diga que você descobriu que os seus neurônios estão mortos e é por isso que você não compreende nada.

— Acho que você trocou as bolas, Uchiha. Quem não usa a cabeça por aqui é você. — Ino mostrou todos os malditos dentes num sorriso típico de sua arrogância e desviou o olhar para o meio das minhas pernas. — Não que isso aí seja bom o suficiente para...

— Engraçado, eu não me lembro de reclamações nas vezes...

— Ah, por favor! Eu vou vomitar! — Ino me interrompeu, num tom de voz mais exaltado ainda e pôs uma mão na boca assim que voltou a me encarar, como se estivesse com ânsia. Os olhos dela faiscavam em pura raiva e no mais sincero nojo e me esforcei para ser mais dramático do que ela. — Dê o fora daqui, Uchiha. Eu não quero continuar ferrando com os meus pulmões ao respirar o mesmo ar que você.

  Sustentei o olhar enraivecido dela enquanto me levantava e apontava para o banheiro.

— Se você roubar o meu sabonete ou o meu shampoo de novo, eu juro que vou prestar uma queixa — dessa vez, foi ela quem revirou os olhos. — Estou falando sério, Ino, e eu espero mesmo que o que restou dos seus neurônios seja capaz de interpretar mensagens simples como essa.

    Contornei Ino e puxei o capuz de Sakura até cobrir o topo da cabeça dela, afastei uma mecha da frente do seu rosto e precisei acatar a voz mal-humorada de Ino que insistia que eu saísse logo do quarto.

— Antes que eu me esqueça! — Girei o pescoço a tempo de ver o dedo do meio erguido da Yamanaka e então fechei a porta atrás de mim.

  Eu continuava com a mão na maçaneta e me sentia estupidamente adolescente por sentir meu coração descompassado ao imaginar o que Sakura teria dito se Ino não tivesse aparecido; a porcaria do sorriso brotou nos meus lábios quando eu percebi que Sakura Haruno era a única garota que faria meu coração disparar todas as vezes em que ela estivesse por perto.

  Tentei diminuir aquele sorriso ou a sensação de calor reconfortante que se espalhava por cada fibra minha, mas eu sabia que era inútil, então me agarrei mais ainda àquele sentimento.

* * *

 — Sinto muito, Sakura, mas você nunca comeu batata frita do jeito certo — insisti enquanto segurava uma batata, mordi um pedaço antes de continuar: — Milk-shake é a única coisa no mundo que realmente faz sentido com batata frita.

— É só batata.

— Porque você não comeu do jeito certo ainda — respondi enfático enquanto Sakura erguia um pouco a sobrancelha antes de morder outra batata frita.

— Ainda é batata.

— Sabe quantas pessoas eu tive que subornar pra conseguir a batata frita? — Apontei duas batatas na direção dela enquanto Sakura balançava rapidamente a cabeça, em negativa e voltava a comer. — Está se sentindo melhor? — Me esforcei para parecer casual e não transparecer toda a preocupação que me consumia desde que Ino havia saído do quarto, há mais três horas.

— Só com uma dose cavalar de analgésicos que eu ia me sentir melhor, Sasuke — ela despejou as palavras num tom levemente cínico e me virei para agarrar a cartela de analgésicos no chão. — Ei, foi... uma ironia. Eu estou bem. — Ergui as sobrancelhas e Sakura inclinou o rosto coberto com uma compressa de gaze no lado direito e, de novo, eu não sabia como respirar direito. — Não precisa se preocupar.

— É só que... eu não consigo não me preocupar com você, Sakura — sussurrei baixo o suficiente para que ela não me escutasse enquanto eu retomava o meu lugar e apoiava as costas na cabeceira da cama, mantinha as pernas dobradas e agarrava mais duas batatas. — V-Você está com frio ou...?

— Eu não vou desaparecer se sentir frio, Sasuke. — Meu rosto ardeu assim que Sakura respondeu e me senti exposto, pela quinta ou sexta vez naquele dia. — Obrigada por... você sabe... Por se preocupar comigo. — Ela desviou o olhar do meu e me vi totalmente hipnotizado em vê-la de perfil, o cabelo rosa caía pelos ombros e as pontas molhavam a camiseta larga que ela usava, os cortes irregulares de cicatrizes nos antebraços dela me convenciam de que Sakura era mesmo real; mesmo com o antebraço direito enfaixado, com a compressa de gaze no rosto e no joelho esquerdo, e os malditos roxos que se espalhavam pela pele de Sakura, eu estava sem fôlego. — O que você está olhando?

— Você — confessei sem esconder o fascínio que havia me dominado e eu poderia culpar esse sentimento ou a falta de raciocínio quando me aproximei de Sakura e toquei seu rosto, passei as pernas ao redor dela com cuidado e estremeci quando as nossas respirações se misturaram.

— Perto demais... — o aviso dela mal passava de um sussurro, mas eu não conseguia tirar os meus olhos do seu rosto e eu não sabia mais qual de nós dois estava mais ofegante.

— Quem foi que fez isso? — Ela fechou o olho esquerdo e suspirou quando alisei sua bochecha com calma, tracei a curva do seu maxilar e Sakura segurou meu pescoço, estremeci quando as pontas dos dedos dela iam até a minha nuca.

— Karin e as guarda costas — o murmúrio escapou dos lábios dela com esforço e meu coração bateu de forma mais frenética quando Sakura ergueu a cabeça e voltou a me encarar. — Não quero mais falar sobre isso. — Ela enroscou os dedos na gola da minha camiseta e me aproximei mais um pouco, até Sakura apoiar o rosto na curva do meu pescoço.

  A sensação de conforto voltou a entorpecer o meu corpo e afaguei o topo da cabeça dela, porque eu queria que as lágrimas dela desaparecessem e que toda a porcaria da última noite não passasse de um pesadelo esquisito. Eu sabia que era idiotice pedir que ela não chorasse, que não remoesse o que havia acontecido e não podia garantir que aquilo passaria logo.

  Entendi que ela me queria ali quando os dedos dela escorregaram da gola da minha camiseta até o meio das minhas costas e me puxaram para mais perto.

— Obrigado por confiar em mim — sussurrei.

    Eu entendia que, à sua própria maneira, Sakura havia abaixado as suas camadas de proteção contra o mundo e que eu era o desgraçado mais sortudo do mundo por poder ficar ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

HÁ!
No primeiro trimestre do ano, cá estou. Em minha defesa, consegui me organizar para escrever somente nessas duas últimas semanas.
Este capítulo fluiu de forma totalmente diferente da que eu havia planejado, mas acredito que condiz mais com os últimos capítulos. Foi muito diferente escrever pela perspectiva do Sasuke, não estou acostumada com personagens masculinos e é divertido. Espero que tenham curtido a alternância da vez.
Aos perspicazes de plantão: não esqueci das cicatrizes da Sakura (depois de reler os capítulos anteriores e seus comentários)! Levou uma eternidade, mas lembrei!
Tentei não puxar muita sardinha pra SasuSaku, porque (mea culpa) shippo SS há uma década (no sentido literal da coisa mesmo), entretanto, prometo igual desempenho para GaaIno e NaruHina.
A continuação está sendo escrita, mas ainda não foi terminada, então não tenho previsão de quanto retomo as postagens semanais. Não me prolongarei, estou com os olhos fechando de sono, então se tem algum erro no capítulo, me avisem.
Obrigada pelo incentivo, em especial de Caroline e Psicodelia, e aos demais leitores: sintam-se bem-vindos à opinar. É legal ler diferentes pontos de vistas sobre a fic. Ajuda muito.
Recomendações, reviews, dúvidas e afins também são bem-vindos.
É isso.
Até o próximo! o/



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