Not Like The Movies escrita por MsRachel22


Capítulo 12
Até os bons quebram




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Tenha cuidado, oh minha querida, pois pelo que vi até agora, os bons sempre parecem se quebrar”

                                     — Florence + the Machine                                                      

 

— Seja rápida — balancei a cabeça mecanicamente quando Kurenai estendeu a folha dobrada sobre o balcão da diretoria. — Posso segurar as pontas por uma hora, Hinata.

— Vou levar menos tempo dessa vez — enfiei o papel dobrado na cintura da calça jeans e olhei para os lados, só percebi o hábito paranoico quando soltei o ar. — Obrigada, Kurenai. Eu volto logo.

  Ela me dispensou com um rápido aperto de mãos e saí da diretoria, e conforme eu avançava até a parte dos dormitórios, vez ou outra eu espiava sobre o ombro, como se Orochimaru ou Shizune fossem aparecer porque sabiam o que eu estava fazendo.

  Tirar cópias de um documento é crime. Crime federal. É. Pode crer.

  Dobrei o corredor pela última vez e desacelerei meus passos até uma caminhada mais tranquila – outro velho hábito -, a aceleração do meu pulso era tão estressante quanto subir o lance de escadas e finalmente alcançar meu destino. Desamassei as pontas do papel assim que o puxei da cintura e parei diante da porta 201.

— Seja bem-vinda, herdeira — minha garganta apertou assim que a voz de Sasori se materializou. Ele abriu a porta e parou casualmente na soleira. — O que posso fazer por você hoje?

— Pode fazer o de sempre — respondi e torci para que a minha voz não soasse tão estrangulada dessa vez. Não resisti ao impulso de olhar sobre o ombro depois de estender o papel dobrado para o garoto.

— Vamos, entre. Fique à vontade — ele passou para o lado e hesitei antes de atravessar o espaço que havia entre Sasori e a porta. — Quer alguma coisa enquanto espera? Água? Um licor? Uísque? — O sorriso malicioso acompanhava o olhar analítico dele antes de fechar a porta com cuidado, e, pela milésima vez, precisei me lembrar que ele era a única pessoa ali dentro que fazia esse tipo de tarefa sem causar alarde por isso.

— Não seja babaca — retruquei e ele ergueu as mãos rapidamente, o gesto de rendição não combinava com o meio sorriso que repuxava seus lábios. — Eu só tenho uma hora dessa vez.

— Você é uma especialista em partir corações, herdeira — ele comentou e suspirei aliviada quando a expressão dele suavizou claramente. — Quantas cópias você precisa? — Os olhos dele passearam pela carta rapidamente ao atravessar o estreito corredor até a impressora multifuncional instalada num canto.

— Só preciso de uma — respondi e ele concordou num aceno mudo.

  Fingi observar as paredes cinzentas cobertas de papeis rabiscados, a cama bagunçada e as manchas no carpete sujo do quarto enquanto Sasori fingia levar mais tempo dobrando as duas folhas de papel antes de estendê-las na minha direção, havia um sorriso de falso bom humor quando agarrei a borda das folhas.

— Sabe, eu estive curioso sobre a sua amiga de capuz — ele inclinou a cabeça para o lado. — Escutei algumas coisas sobre ela.

— Não é da minha conta o que você escutou — retruquei e puxei as folhas de papel e as agitei rapidamente quando disse: — Obrigada por isso. — Eu segurava os papeis com força e temia que Sasori simplesmente sorrisse e os tirasse de mim.

— Você poderia falar bem de mim, Hinata — o sorriso ficou maior e franzi o cenho. — Quero dizer...

— Você sabe que eu sou uma mentirosa terrível — deixei escapar e ele fingiu puxar algo do peito. — Obrigada de novo, Sasori. — Ergui as duas folhas de papel mais uma vez e só consegui soltar o ar assim que girei a maçaneta e passei pela porta.

— Sempre que você precisar, herdeira.

  Eu ainda mantinha aquelas duas folhas de papel na frente do corpo quando me afastei do quarto de Sasori e disparei pelos degraus, pulando alguns até alcançar a base e virar no corredor até a diretoria. A sensação de ter me saído bem naquela tarefa quinzenal de conseguir uma cópia da carta que minha mãe mandava nunca era boa, sempre havia aquele pânico inicial de alguém descobriria tudo.

  O alguém nunca havia aparecido até então. Aquela rotina – receber cartas de Kurenai, enfiá-las no cós da calça jeans e depois estender o papel dobrado para que Sasori providenciasse uma cópia - já se mantinha há dois anos.

  Mas dessa vez alguém havia se materializado no meio do caminho e interrompido o ritual de meses.

  O instinto de fugir de Karin e suas sombras era maior do que tentar imaginar o que Ino ou Sakura fariam no meu lugar, e foi por isso que eu girei os meus calcanhares e dei meia volta, sentindo que a qualquer momento as minhas pernas falhariam e não haveria mais conexão entre membros e cérebro.

  Eu simplesmente fugi o mais rápido e silenciosamente que pude até a primeira porta que encontrei e a abri o suficiente para passar pela fresta e me esconder. Encostei a testa na superfície envernizada e fechei os olhos quando o suor frio escorreu pela minha pele.

— ...outra inspeção hoje, Karin — eu reconheci a voz aguda de Sasame e trinquei os dentes automaticamente. Não me concentrei em mais nada além da minha respiração sobressaltada enquanto os murmúrios do outro lado da porta continuaram por mais alguns instantes. —  ... pelo parece, vai ser o maldito do Hyuuga em pessoa que vai discursar e...

— ...interessante pegá-la, não acha?

— Eu adoraria ver a cara arrogante dele quando ela aparecesse e...

  As palavras simplesmente se embaralhavam na minha cabeça desde que eu havia escutado quem discursaria e eu quis ter a capacidade de Sakura de fingir que era imune a tudo e todos, queria mesmo conseguir manter o rosto impassível enquanto todo o resto desmoronava debaixo dos meus pés.

  Hiashi está aqui.

  Não era a náusea a sensação predominante, nem mesmo o suor gélido que continuava brotando nas minhas costas e a sensação de que meus joelhos fraquejariam e que eu desabaria bem ali, encolhida no primeiro quarto que encontrei para me esconder de Sasame, Matsuri e Karin.

  Havia uma camada de fúria escondida em algum lugar da minha cabeça quando as risadas ecoaram do outro lado da porta. Eu queria escancarar aquela maldita porta e encará-las, apontar o dedo e berrar que...

(...ele havia sido claro, quase didático sobre o que aconteceria com a sua vida nas próximas semanas: primeiro haveria o jantar em família, confirmando o compromisso do suposto namoro entre ela, Hinata Hyuuga, e o filho do magnata da tecnologia científica, Shikamaru Nara.

  Não demoraria mais do que seis meses para que os passeios em público fossem retratados por um jovem casal apaixonado, que fazia suas loucuras, como matar aula de piano para tomar sorvete. Dali outros seis meses eles viajariam juntos e seriam flagrados aos beijos ou qualquer cena clichê de um romance embalado em 120 minutos de drama, amor juvenil e declarações profundas de amor eterno típicos em filmes.

  E então quando ela completasse dezoito anos e Shikamaru alcançasse os dezenove, eles se casariam e torrariam mais de um milhão de ienes entre a cerimônia e a festa. Mais de duzentas pessoas presenciariam os votos e a maioria seria composta pelo corpo político e pelos empresários que, cordialmente, seriam convidados especiais.

  Ela permaneceu estática, paralisada e totalmente horrorizada sobre como a sua vida havia sido desenhada pelas palavras apáticas de Hiashi, que sorvia um gole de sakê entre uma...)

  As minhas mãos tremiam quando percebi que estava amassando a cópia da carta e levei algum tempo para notar que as bordas desmanchavam nas pontas dos meus dedos, alisei a textura molhada onde as lágrimas que pingavam do meu queixo haviam caído e esfreguei o rosto furiosamente; meus atos continuavam mecânicos quando dobrei as folhas de papel em três e as guardei no cós da calça jeans.

  Você só tem uma hora, lembra? Pode chorar e lamentar depois que entregar a carta.

  E então parecia que tudo poderia se resolver automaticamente quando puxei a cópia da carta e a desdobrei, porque eu queria encontrar algum conforto naquelas letras caprichadas e que guiassem a minha mente por algo além daquela sensação amarga de assombro, do gosto ruim que as lembranças traziam todas as vezes que eu me lembrava que Hiashi...

(...poderia ir se foder. Essa era sua resposta.

  O álcool nublou sua visão periférica e fez seus olhos arderem assim que sorveu mais alguns goles. Tudo girava. Seu corpo continuava pulando, pulando naquela maldita música e indo num ritmo próprio enquanto as caixas de som faziam seus ouvidos doerem pelo volume alto. Ela sentiu suas pernas trançando uma na outra, os passos trôpegos a fizeram rir e ela lembrou de ter esticado a cabeça e gargalhado feito uma babaca.

  Esse era exatamente o objetivo da noite: ser idiota.

  Ela não soube quem a agarrou e sentiu o gosto de menta quando os lábios do estranho se colaram nos seus, num beijo desajeitado e que a fez se sentir quente e poderosa quando se esquivou. Era isso! Ela, Hinata Hyuuga, no auge de seus catorze anos, havia descoberto que seria tão inalcançável quanto uma deusa de pedra.

  Pensar não era o grande objetivo quando se enchia a cara com bebida barata, numa casa de estranhos que se diziam serem seus amigos e que a rodeavam com drinques coloridos e em copos de tamanhos variados.

  Aquilo a fez rir outra vez quando outra dose mágica de bebida apareceu em suas mãos. Ainda feito mágica, a bebida sumiu nos seus lábios.

  Sua solução era simples: faria Hiashi sumir ain...)

  Ainda amassei a carta quando cobri parte do rosto com o antebraço, por conta do medo de desmoronar. E não foi pela primeira vez que eu falhei nessa tarefa.

* * *

  Quando finalmente consegui girar a maçaneta e sair daquele quarto, o corredor estava vazio e o silêncio era tão perturbador como a necessidade crescente de conseguir duas ou três garrafas de bebida alcoólica e entorna-las até que aquelas partes desconexas de lembranças se tornassem nebulosas demais para fazerem qualquer sentido.

  Você consegue superar essa, docinho. Não há nada que Hinata Hyuuga não suporte.

  Respirei fundo e fiz meu caminho até a diretoria; em pouco tempo avistei a placa apagada que indicava a diretoria e uma pequena parte daquele alívio acalmou o tremor do meu corpo quando notei Kurenai do outro lado do balcão.

— Aconteceu alguma coisa, Hinata? — Os olhos dela se estreitaram e desviei o olhar para meus pés enquanto pegava a folha original da carta e a esticava sobre o tampo desgastado. — Você parece abalada demais, querida — a voz gentil dela e o aperto suave no meu ombro me comoveram mais. — Estou aqui, se precisar.

— Eu... — murmurei e esfreguei meus olhos com força. — Ele está mesmo aqui, Kurenai? Não é mentira? — Minha boca ficou seca quando consegui balbuciar aquela pergunta e implorei silenciosamente para que Kurenai me contrariasse, sorrisse aliviada e dissesse que aquilo era apenas mais um boato.

  É claro que isso não aconteceu.

— Eu não consegui avisá-la a tempo — o tom de desculpas apertou mais a minha garganta e me forcei a manter contato visual. — Ele simplesmente apareceu aqui, mandou ligarem as câmeras e começou a... discursar e.... Todas aquelas mentiras — o aperto no meu ombro me conectou parcialmente com a realidade outra vez.

— Câmeras? O que...

— Escute, isso não importa. Ele não perguntou por você — eu não sabia se alívio definiu exatamente o que eu senti quando Kurenai me interrompeu. — As coisas estão bem. É apenas parte da rotina de sempre.

— Ele é muito bom em fazer as coisas parecerem bem — cuspi amarga e esfreguei meus olhos mais uma vez, o rastro úmido das lágrimas começava a ser incômodo. — Obrigada por segurar as pontas, Kurenai. Espero não ter demorado muito — tentei relaxar meus punhos cerrados ao sentir os dedos de Kurenai afastando minha franja e afagando minha bochecha.

  Aquele gesto me fez lembrar que eu já tive uma casa, já houve um porto seguro na minha vida, mesmo que só durasse um minuto ou dois.

  Não sinta por aquilo que nunca teve, docinho. Não seja tão boba, sim?

— Eu ofereceria um chocolate se essa porcaria de cantina servisse mais do que tigelas de arroz — ela murmurou e riu com leveza, a risada curta e triste que rompeu meus lábios foi igualmente leve e consegui soltar o ar. — Vá descansar, Hinata.

  O sentimento dúbio de segurança que brotava todas as vezes que Kurenai pegava a carta original que minha mãe havia enviado e a colocava dentro daquela pasta verde, junto com todas as outras, não havia me abandonado quando arrastei meus pés para fora.

— Ah, Hinata — ela estava bem-humorada e um sorriso discreto repuxou os meus lábios. — Diga para a Ino que dei um jeito naquelas garrafas, já que você tratou de beber a maioria no final de semana. Foi por pouco que a Ino e Sakura não ficaram sem ter o que beber — eu ainda estava escolhendo a resposta mais correta quando Kurenai riu e agitou a mão. — Não precisa ficar vermelha... Isso é coisa de adolescente, é normal.

— Eu não acabei com a maioria — me defendi e o olhar desconfiado dela me fez gaguejar. — E-Eu não...

— Escute aqui, mocinha — ela mordeu os lábios, controlando outra risada — É melhor que vocês não saiam vomitando pelos corredores ou eu coloco as três bonitas deste lado do balcão, me entendeu? — Balancei a cabeça automaticamente e a minha risada curta soou mais natural dessa vez. — Acho bom. Agora vá ler essa carta e não saia do seu quarto até o jantar.

Não saia do seu quarto — tentei imitá-la e meu rosto ainda estava quente quando revirei os olhos. Nós duas rimos e o sorriso no meu rosto continuou repuxando meus lábios. — Obrigada, Kurenai.

— Nada disso. Vá logo para o seu quarto — ela sorriu e me lançou uma piscadela rápida.

  Eu sentia um pouco de ansiedade para chegar logo no meu quarto e me aninhar nas cobertas ao ler a carta dessa semana, tentar imaginar minha mãe debruçada sobre a mesa enquanto curvava a caneta e escrevia em parágrafos curtos suas próprias lembranças dos nossos momentos e coisas fantasiosas que faríamos quando eu saísse daqui.

  Não, não. Corrigindo: se eu sair. Agora faz sentido, não faz? Mas não esqueça de acrescentar um belo “se” nessa frase.

  Interrompi bruscamente o ritmo das passadas quando Sasuke e o Uzumaki apareceram de supetão, nós dobramos o corredor ao mesmo tempo e tropecei alguns passos para trás; o impulso de olhar sobre o ombro foi mais forte para verificar se eu conseguiria dar o fora dali.

— Desculpa, eu...

— Por que você está se desculpando? Não aconteceu nada — a voz dura do Uzumaki cortou as desculpas quase envergonhadas do outro; o olhar analítico dele me incomodava. — Certo? — O desprezo tornou a apertar a minha garganta, porque era o mesmo...

(...plano. Nada havia mudando enquanto arrastava seu corpo bêbado para fora daquele carro e começava a chamar pelos pais a plenos pulmões, as pernas ainda trançavam quando avançou pela calçada até...)

— Apenas ignore — arregalei os olhos por puro reflexo quando escutei Sasuke.

(...perceber as luzes acesas no andar de baixo; ela pularia o portão elétrico e ridiculamente alto caso eles não aparecessem...)

— Você deveria se desculpar, Naruto — pisquei com força e me afastei mais um passo. — Foi você quem trombou na Hinata primeiro.

— Agora vocês são amigos? — O tom ácido na voz do loiro foi mais incômodo ainda e o olhar arisco que ele me lançou foi tão pior quanto o desprezo. — O que mais que eu tenho que fazer, hã? Tenho que pedir desculpas e trazer flores?

— Agir como uma pessoa civilizada já está de bom tamanho — disparei e sustentei o contato visual, o esforço era trucidante e eu queria dar o fora dali. Mas havia aquela parte dominante na minha cabeça que ditava que eu conseguia superar aquela porcaria, porque eu era Hinata Maldita Hyuuga. — E pare de agir como se eu não estivesse aqui.

— Já chega pra mim — o murmúrio dele foi quase inaudível e observei Naruto empurrar Sasuke com o ombro ao avançar pelo corredor. Minhas mãos continuavam a tremer, cerradas ao lado do corpo quando Sasuke suspirou.

— Desculpa por essa coisa idiota — assenti automaticamente e ele continuou: — Você está legal desde ontem?

— Eu... É, eu estou levando — respondi da melhor forma que pude. — Obrigada por ter me ajudado, a propósito — ele apenas balançou a cabeça e emendei: — As coisas estavam bem, mas... De qualquer jeito, eu... Ele está encarando, não é? — Cruzei os braços tentando conter a vontade de contornar Sasuke e fugir para meu quarto.

— Como se fosse uma exposição de arte — o meio sorriso conformado de Sasuke era outro pedido de desculpas mudo. — Eu sei que há uma... tensão entre vocês... Mas...

— Mas ele ainda é um babaca que me odeia e espera que eu viva com isso — completei e Sasuke apenas concordou silenciosamente. — Ele não é o primeiro a fazer isso.

  Dentre todos os internos, Naruto Uzumaki era o único que não me culpava abertamente por estar trancafiado com a herdeira Hyuuga, mas em compensação, o seu desprezo era mais intenso e claro do que as conversas entre corredores e bilhetes jogados na porta do meu quarto sobre o tipo de pessoa que eu era.

  Hinata Maldita Hyuuga pode segurar essa, não pode?

  É. Eu podia.

— Se você...

— Eu preciso ir — murmurei a desculpa para me esquivar de Sasuke e avancei pelo corredor, porque aquele resto de coragem para enfrentar o mundo estava sumindo e sendo massacrado pela necessidade de me afastar do olhar de desdém do Uzumaki e dos pedidos mudos de desculpas do outro.

  Continuei seguindo em frente e estreitei os olhos quando percebi que Orochimaru marchava na minha direção, o apito balançava em seu pescoço e gemi imaginando o barulho irritante assim que ele levasse o objeto aos lábios e soprasse. Meus passos diminuíram quando notei as duas pessoas atrás dele.

— Sakura? Mas...

— Eu disse que eu posso andar! — A voz dela ecoou pelo corredor quieto e suas solas pareciam arranhar o chão conforme ela tropeçava e tentava acompanhar o ritmo da marcha do guarda que a arrastava pelo braço. — Você me escutou, seu idiota?!

— Saia da frente. Anda! — Orochimaru não interrompeu as passadas e fui para o lado automaticamente, ainda tentava assimilar o que estava acontecendo quando Sakura tropeçou mais uma vez e xingou mais irritada ainda.

— O que é...

— Você quer passear na detenção, garota? — Ele pôs as mãos na cintura, plantou os pés na minha frente e os olhos faiscavam em pura satisfação quando Orochimaru me encarou. — Ou prefere fazer companhia para aquela pirralha ali? — Tentei me desvencilhar dele, perguntar o que estava acontecendo, mas só consegui abrir e fechar a boca. — Foi o que eu pensei.

  O máximo que consegui fazer foi contorna-lo enquanto o guarda que arrastava Sakura se posicionava na frente de uma porta, Orochimaru marchou até eles e puxou o molho de chaves em seu bolso, uma chave longa e cromada foi colada na única fechadura instalada a pouco mais de dois palmos acima da maçaneta.

— Que porcaria é essa? — A porta foi aberta e Sakura foi empurrada para dentro, ela só teve tempo de tropeçar antes de perceber o que estava acontecendo. O barulho dos pinos sendo travados quando a chave girou outra vez mal passava de um clique, Orochimaru sorriu satisfeito para a porta fechada e guardou o molho de chaves no bolso.

  A cena parecia bizarra demais para ser digerida assim que o guarda analisou a porta fechada por um tempo antes de se posicionar no corredor; quando finalmente escutei a voz alta e autoritária de Tsunade ecoando misturada à de Hiashi, foi então que, finalmente, as minhas pernas me levaram para longe dali.

* * *

  Ino continuava andando no estreito espaço entre a mesa de carvalho e a porta, os olhos de Tsunade acompanhavam com leve irritação a movimentação atípica enquanto a Yamanaka resmungava:

— Você deixou que ela fosse trancada como se fosse a porra de um alienígena.

— Eu não tive escolha — Tsunade repetiu pela terceira vez e sua postura permaneceu inflexível. — Ela ameaçou um assistente social, Ino! A porcaria de um agente do Estado! Você sabe que isso não seria ignorado e que não havia nada que eu pudesse fazer além de assistir.

— Você deixou que ela fosse trancada.

— O que a Ino quer dizer é que... — eu a encarei pelo canto do olho antes de prosseguir: — ...nós estamos irritadas porque não podemos fazer nada, mas você pode, Tsunade. Talvez você possa escrever alguma recomendação ou...

— Quando é que vocês vão entender que as coisas não funcionam assim? — Sua voz aumentou bruscamente quando ela bateu os punhos cerrados na mesa. — Existem regras e burocracias, além de hierarquia. Sakura passou por duas entrevistas com assistentes sociais e foi tão útil em se defender como uma pedra!

  Nós duas continuamos em silêncio quando Tsunade apontou um dedo em nossa direção.

— Agora não me digam que eu permiti essa situação. Eu dei chances a essa garota e tudo o que ela fez foi colaborar com a versão da Karin — o tom severo foi mais alto dessa vez. — Eu fiz o meu trabalho e ela disse que assumiria com as consequências, então sejam tão adultas quanto ela e percebam que não existe o que fazer. — Tsunade alternou os olhares entre nós e respirou fundo. — Deem o fora da minha sala. Eu preciso de ar puro e vocês estão roubando o meu oxigênio.

  Ino bateu a porta com força assim que saí, me encolhi rapidamente quando Tsunade começou a berrar dentro de sua sala sobre a porta e passamos pela diretoria com pressa até alcançar a saída.

— Você não acreditou nessa baboseira de burocracia, não é?

— Ino, escuta — falei séria e, desde que havíamos nos encontrado mais cedo, foi a primeira vez que ela ficou em silêncio. — Nós não podemos arrombar a porta e desacordar o guarda para tirá-la de lá — ela abriu a boca e a interrompi: — Não sem a burocracia.

  Ergui as sobrancelhas e esperei que ela me compreendesse, como quase sempre acontecia. O sorriso levemente sádico que repuxou seus lábios também me fez sorrir.

— Ah, Hina. Você é terrível.

— É, também não consigo viver sem você — retruquei e sorri satisfeita, porque tínhamos um plano para ajudar Sakura.


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Notas finais do capítulo

YOOOOOOOOO!
Antes de iniciar meus comentários sobre o capítulo, mil vezes obrigada a todos os que comentam a fic. É uma injeção de ânimo fora de série e, ultimamente, é uma fonte a mais.
Então, obrigada.
Sobre o capítulo:
Foi uma bela mudança de foco pensar como a Hinata agiria, quais decisões ela tomaria e como ela lida com o próprio passado. Ela não esteve tãao presente nos capítulos anteriores, então espero ter compensado este ponto.
A ideia principal era mostrar parte do conflito que ela lida todos os dias, como ela é encarada por ser a filha do cara responsável por trancafiar adolescentes criminosos e usar isso como um projeto político no final das contas.
Esse era o foco do capítulo.
Não garanto que a continuação será postada na data programada (sexta-feira), há muita coisa rolando ao mesmo tempo e tem umas coisas mais puxadas que outras. Então, a mesma coisa: caso demore muito, postagem dupla.
Agradeço outra vez todos os que comentam, é sério, tipo... Cara, é bom ler uma crítica, um comentário legal, um "gostei". É incentivador.
De resto, é isso, personas.
Até o próximo (espero que não demore também) e qualquer dúvida, erro, sugestão, crítica, recomendação, cá estou.
o/



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