~.~

Nos despedimos na esquina. Observávamos um ao outro e ao cruzar de nossos olhares, vi suas bochechas corarem. De repente ela acenou, murmurou um rápido ‘Sayonara’ e adentrou os portões do colégio. Confesso que a idéia de vê-la somente daqui a algumas horas deixou-me um pouco triste, mas não permiti que ela percebesse, apenas retribuí com um leve aceno e continuei a seguir meu rumo. (...)

~.~

Sakura tinha acabado de se mudar, era a minha mais nova vizinha. Como não conhecia a cidade, sua mãe me pediu para acompanhar-lhe ao colégio até que aprendesse o caminho. Aceitei por educação, mas depois que a conheci, seria um prazer levá-la e buscá-la todos os dias. Ela sempre estava alegre e sorridente, deixando o ambiente ao seu redor bem mais descontraído. Demorei um tempo para admitir, mas gostava muito de sua companhia.

~.~

O barulho das ruas dava lugar ao calmo e pacífico clima da praça próxima a minha faculdade. Canteiros repletos de flores, grandes árvores e algumas ervas faziam parte daquela ‘pequena reserva’, onde diziam estar todas as espécies da flora regional. Percebi que era outono, pois a maioria das plantas havia perdido suas folhas. Estas estavam sobre o chão, formando uma espécie de tapete natural. Via os raios de sol penetrar facilmente por entre as copas das árvores e entrarem em contato com a minha pele alva, tornando-a avermelhada. Aquilo me incomodou, mas ignorei como sempre faço.

Continuei a caminhar, me aproximando lentamente do fim daquela praça. O frescor da manhã proporcionava uma sensação aconchegante, e o som da natureza dava a ligeira impressão de se estar flutuando no ar... Parei uns instantes e apreciei minuciosamente cada segundo. Logo as lembranças de Sakura inundaram minha mente; sua expressão suave, seus reluzentes orbes esverdeados, sua avermelhada boca, seu cheiro inconfundível... Sem ao menos perceber, um pequeno, porém verdadeiro sorriso apareceu em meus lábios. Ainda não compreendia o significado disso tudo, mas o que me deixava mais assustado era o poder de controle dessa garota sobre mim.

Fiquei pensando e logo cheguei a uma conclusão óbvia: estava apaixonado! “Eu? Uchiha Sasuke apaixonado?” Um tanto incrédulo, ainda não acreditava na minha recém descoberta. Tentava de toda forma espantar aqueles pensamentos, mas essa era uma tarefa praticamente impossível. Inconformado, fechei os olhos e me permiti pensar um pouco mais na minha flor. “Minha? Desde quando? Não sei... Realmente não sei.” (...)

~.~

Já na faculdade, cumprimentei meus poucos amigos e segui para a sala de aula, sentando-me na penúltima carteira da primeira fila. Tinha esperanças de que estudando eu conseguisse esquecer aquela ‘coisinha’ rosa, mas foi inútil. Depois de tentativas frustradas, achei que o melhor a fazer seria esperar e falar com ela mais tarde. “Mas... E se me rejeitasse? E se já tivesse namorado?” Essas suposições me deixaram um tanto atordoado. Muitos notaram que algo me incomodava, mesmo assim, resolveram não perguntar o porquê devido a minha fama de arrogante.

Tic Tac.

Tic Tac.

Faz o oval relógio cuidadosamente preso na parede ao meu lado. Nunca algo tão simples me deixara assim... Irritado. “Kuso!” Praguejei enquanto verificava as horas mais uma vez. Faltam dez minutos para o fim da aula, dez longos e inacabáveis minutos para que eu possa encontrar-me com ela. Senti as mãos suarem e ficarem mais frias que o normal.

“Por que todo esse nervosismo? Afinal, é só uma garota...” Pensei, corrigindo-me instantes depois. “Errado! Ela não é qualquer garota, é a Sakura.” Respirando fundo, começei a pensar no que falaria à ela. Estou me sintindo patético. (...)

~.~

Calados.

Estamos assim desde que começamos a caminhada de volta para casa. Não consigo encarar aquelas esmeraldas, muito menos falar-lhe algo. Sei que Sakura detesta ficar em silêncio, mas ela percebeu que eu preciso desse tempo e permaneceu quieta. O curioso é que mesmo sem dizer uma única palavra, não nos sentimos incomodados; Somos tão íntimos que apenas a presença do outro já é o suficiente.

Chegamos. Não podia mais adiar a minha declaração, então comecei a dizer:

_ Sakura, eu tenho algo muito importante para lhe contar e... _ Mas fui interrompido.

_ Desculpe Sasuke-kun, mas poderia ser em outra hora? Estou muito cansada! _ Disse lançando-me um sorriso meigo.

Não pude negar-lhe tal pedido e, por fim falei:

- Tudo bem. Então nos encontramos à tarde? -

- Claro que sim! Até mais Sasuke-kun. - E virou-se de costas, entrando rapidamente na casa dos Haruno.

Para alguém que esperou toda a manhã, mais umas horas não fariam diferença... ”Hoje eu vou me declarar!” Pensei confiante enquanto abria o grande e imponente portão da família Uchiha.

~.~

O sol estava se pondo, dando aos céus um colorido magnífico. Ficava cada vez mais encantado com tamanha beleza, aquela era mesmo uma tarde especial...

Lá estávamos eu e Sakura, apreciando a paisagem. Por coincidência ou ironia do destino, caminhamos sem rumo e fomos parar naquela praça que indiciava a chegada do outono. Sim. A mesma em que eu descobri ser apaixonado pela flor de cerejeira.

Volta e meia, eu me perdia nos delicados traços da garota ao meu lado. Ela estava com um vestido branco na altura dos joelhos, uma sandália baixinha e os cabelos róseos como sempre soltos, sendo levados pela suave brisa que nos envolvia. Senti meu coração disparar quando ela percebeu que era observada, perguntou o estava acontecendo e o porquê de meu comportamento estranho. Achei que esse era o momento ideal e puxei-a na direção de um banco para que sentássemos. Segurei levemente suas pequenas mãos e comecei a contar-lhe tudo. Desde o início daquele dia, até poucos minutos antes de nos encontramos. Nunca me abri tanto com alguém e fazer isso estava sendo realmente difícil. Mesmo assim, preferi não ocultar nenhum fato e quando terminei de relatar, esperei por sua reação. Ainda tinha medo de ser rejeitado, mas deixei minhas dúvidas de lado ao vê-la erguer o rosto.

Sakura me encarou um tempo, demonstrando-se surpresa. Suas bochechas estavam coradas e, de repente vi surgir em seu rosto um lindo sorriso. Talvez o mais lindo que já tenha existido. Aos poucos ela foi se aproximando, lentamente... Quando nossas bocas finalmente se encontraram, pude sentir o gosto peculiar que aqueles lábios possuíam. Mel. O mais puro mel. Esqueci de todo o mundo e minha única vontade era sorver mais e mais daquele néctar viciante. Ofegantes, nos separamos por falta de ar. Sakura abaixou o olhar envergonhada, sussurrando:

- A-aishiteru.

Ao ouvir essas palavras, não pude conter minha felicidade e logo diminuí a pequena distância que havia entre nós, iniciando mais um suave e apaixonado beijo. (...)

~.~

Foi ali, naquela pequena praça ensolarada - agora castigada pelo outono - que dois jovens descobriram o real significado da palavra amor.

~.~

Owari