Além do Destino escrita por AnaBonagamba


Capítulo 33
Perseverança.


Notas iniciais do capítulo

Notas no final, queridos.



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- Já esperava encontra-lo aqui. – Tom disse ao pai assim que entrou na imensa biblioteca dos Riddle.

- Acho que vim me despedir por uns tempos. – o mais velho respondeu pesarosamente.

Tom olhou para a sala em que estava pela primeira vez, num olhar crítico como se descobrisse seus mistérios. Nas paredes aveludadas, milhares e milhares de quadros e desenhos ostentados por molduras e bordas, uma mais bela que a outra.

- Vovó pinta muito bem.

Tom Riddle Sr. riu baixinho.

- E o que o faz pensar que foi sua avó a autora desses quadros?

O jovem franziu o cenho sobre a pergunta do pai, e passou a analisa-lo: os olhos pesados, a boca curvada, as mãos...um pequeno calo dentre os dedos que usava para escrever, revelando todos os segredos escondidos por trás dos olhos azuis sempre surpresos. Tom Sr. sentou-se e posicionou-se como se estivesse prestes a elaborar mais uma de suas obras, fazendo pose para o filho.

- Você pintou tudo isso?

- Sim.

Era uma revelação. Tom percebeu, mais uma vez, o quão pouco sabia sobre o pai. O mais interessante era, por fim, olhá-lo ali sentado e, ao mesmo tempo, contemplar a grandiosidade das obras dependuradas acima de seus olhos. Era estranho olhar tudo ali, uma vez que estava acostumado a ver as paisagens se mexendo, e as pessoas ali representadas interagirem com seus observadores. O tempo ali não urgia, simplesmente existia como uma descrição impetuosa da visão do mais importante membro de sua família.

Tom parou no último quadro para vê-lo melhor. A pintura era envelhecida, mas a mulher desenhada não perdia a beleza. Os tons amarelados contrapunham o azul turquesa do belo vestido, ou o dos grandes olhos simpáticos, explorados numa variação de sentimentos. Os cabelos negros, presos caprichosamente, deixavam a face da jovem exposta angelicamente, e seu sorriso singelo demostrava mais isso do que qualquer outra parte de seu rosto.

- Quem é ela? – perguntou inconscientemente.

- Não seria capaz de adivinhar? – Sênior sorriu, erguendo-se e indo na direção do filho.

- Não consigo pensar. – disse sinceramente. – Eu a conheço?

- Muito bem. – continuou a sorrir. –Mas infelizmente terá que descobrir quem é sozinho.

Uma voz do lado de fora chamava a noivo para brindar. Ainda esbanjando um sorriso gentil, afagou o ombro do filho e dirigiu-se à porta.

- O tempo passa, Tom. – fixou. – Mas não pense nele como um inimigo, que leva a beleza e as coisas boas, pois sem o tempo nenhum momento existiria.

Era estranho ouvir isso bem naquela noite, pensou o mais novo, acompanhando a saída do pai.

                                      (...)

- Mary, estou surpreso. – Thomas abraçou a esposa carinhosamente ao ver filho e neto andarem juntos para o jardim. – Não derramou uma lágrima até agora.

- Ah, meu querido, não o farei. – censurou. – Não mais.

- Lágrimas de perda?

- Não...de alegria! Não estou perdendo meu filho, ao contrário. Estou ganhando mais um. – seus olhos azuis turquesa brilharam como somente eles sabiam fazer.

- Eu quero brindar à nossa felicidade, que há muito tempo espera por esse momento. – Cecília ergueu a taça e entrelaçou as mãos nas de Tom.

- Salve a nossa felicidade! – Tom bradou, ilustrando em seus lábios a veracidade de suas palavras.

Todos os presentes ergueram suas taças, resplandecentes, para o deleite do casal.

- Serão muito felizes. – disse Hermione, abraçada a seu noivo. – Finalmente.

- É estranho olhar por esse lado, mas acho que também estou satisfeito por essa união. – Tom pousou a taça sobre a mesinha de canto e a encarou seriamente. – Você está pálida.

Hermione ostentou o olhar, confusa.

- Estou?

- Sim, veja. – postou um prato de metal polido na frente do rosto da menina, que analisou franca.

- É a luz, Tom, querido.

- Caso se sentir mal, me avise. – estendeu-lhe o braço, confiante.

- Não vou me sentir mal, mas, se isso o deixa mais tranquilo por que não vamos dançar?

- Eis uma excelente ideia.

Hermione não se sentia mal, apenas distraída. As luzes e as cores foscas que ornamentavam o jardim dos Riddle talvez estava deixando-a confusa, nada grave. Seus olhos conseguiam, quase que perspicaz, analisar o rosto de cada um dos presentes, desde os sorrisos a cada expressão de desgaste e cansaço, ao que as horas invadiam e determinavam o fim da festa.

- Creio que está na hora, querida. – Mary Riddle avisou Cecília, organizando todas as moças solteiras no meio do salão.

- Vou jogar o bouquet! – anunciou a noiva, arrumando o vestido e colocando-se de costa às convidadas.

Tom olhou incrédulo para Hermione.

- Você não vai atrás do buquê, vai?

Hermione tentou soltar-se dele, que a apertou ainda mais.

- Como você é chato!

- E você é uma bruxa. – sorriu, cínico.

- E sou trouxa também, esqueceu-se? – Tom virou os olhos e acabou soltando-a, sem argumentos para a ultima colocação da menina.

- Um...dois...três...e...Já! – gritou Cecília, jogando o monte de rosas brancas por cima da cabeça.

Todas as mulheres tentaram agarrá-lo, mas foi uma pessoa inesperada que o fez: Maggie sorriu, sem graça, segurando em uma mão o ramalhete e, em outra, uma bandeja com petiscos.

O salão inteiro riu, tal qual os Riddles.

- Já era hora de desencalhar. – Thomas confidenciou ao neto, suavemente, que o olhou significante.

- Não se preocupe, vovô, eu posso trazer de Hogwarts elfos que farão o mesmo trabalho, sem reclamar tampouco!

Thomas sorriu e virou outra dose de whisky.

                                        (...)

- Sempre tentando criar o que não pode ser criado. – Felipe entrou ao ateliê de Marcos, enquanto este tentava pintar o céu.

- Eis um lugar que nenhuma magia consegue criar. – desistiu por fim, jogando o pincel mágico adiante, repousando a cabeça sobre os braços expostos.

Felipe andara mil vezes por todos os cômodos daquela mansão, mas aquele era, simplesmente, o que mais lhe chamava atenção. Vittorio criara os mais diversos espaços das mais variadas formas, compactando a imagem vista e a realidade obtusa, sequer recriando a segunda em função da primeira. Era a pureza do estar e do ser, atravessado e repleto de uma magia irreprodutível, única e assim sempre.

Desde os enormes blocos de gelo da Antártida até as florestas da Sibéria. Tudo era uma questão de acreditar em seu potencial e atravessar um daqueles grandiosos quadros expostos nas paredes do cômodo vermelho.

- O fogo crepita, mas não sinto queimar-me. – Marcos disse abafado pelo braço em sua boca.

- Seu pai foi um grande pintor, de fato... – divagou o outro, atentado ao quadro da fogueira persa.

- Eu também sou. – contradisse. – Apenas estou evoluindo meus níveis mágicos.

- Não vai me contar o que está fazendo?! – Felipe olhou-o profundamente, magoado e preocupado, mas também curioso. – O motivo de tanta ausência?

- Ah, meu caro irmão, não serias capaz de entender-me! – gargalhou maldoso, interiormente chocado. – Me julgaria, sim, antes de entender minha visão aguda...

- Não poderia fazê-lo, se não me dissesse. – Felipe sentou-se na frente de Marcos e pressionou seus dedos nos dele.

A visão do moreno foi ofuscada pelo brilho intenso vindo do anel.

- O anel de Fitsburg. – Marcos murmurou. – Eis o tempo em suas mãos.

- Sada je vrijeme na vaše ruke. – leu. – Sim, mas é figurado.

- Figurado se você acreditar que seja, caso contrário, poderia mudar tudo a seu próprio favor.

Hutter riu.

- Você me dá mesmo, ás vezes, Marcos. – disse-lhe franco. – Sabe que não é bem assim. Lembra-te das palavras de teu pai, o grandioso Vittorio, e ainda mais grandioso pelas palavras, que sempre nos guiaram de forma a usar nossos poderes de maneira racional.

- Oras, e não é racional beneficiar-se?

Felipe bufou e ergueu-se da mesa.

- Não com um poder como esse. Conhece como funciona.

- Estou insatisfeito com esse pincel. – conjecturou. – Não está atendendo às minhas determinações.

- Não acha que está sendo, digamos um tanto obtuso com seus requisitos?

- Não deveria? Há uma exploração dinâmica do universo mágico todos os dias, e o próprio Grindelwald o faz. Imagine, Felipe, se pudéssemos enfrenta-lo apenas com dois objetos, e nenhum deles é uma varinha! – os olhos de Marcos brilharam ardentes num tom vermelho.

Indicando que sairia do cômodo, o outro fez apenas uma observação:

- Tenho receio de você ás vezes. – sorriu, retirando-se.

Marcos ergueu os lábios numa expressão doentia.

- Atitude bem racional, meu irmão.

                                               (...)

- Vestidos de cetim, cachemira de lã, sapatos de veludo... acho que não esqueci nada. – Cecília contava as quatro malas que preparara para a Lua de Mel.

- Precisa mesmo levar tudo isso? – Tom Sr. revirava o nariz, olhando para sua singela mala com apenas uma troca de terno e duas camisas. – É apenas cinco dias, mon amour.

- Eu sei, mas é sempre bom estar prevenida. – sorriu vibrante, dando-lhe um beijo estalado nos lábios.

- Se precisarem de algo, já sabe. – Thomas censurou o filho, que dispunha de todas suas economias para passar cinco dias nos Estados Unidos. – E cuidado com os americanos.

- Qual é o problema com os americanos? – perguntou Hermione, adentrando a sala. 

- Nenhum, querida. – Mary bebericou seu chá. – Thomas é extremamente patriota.

Tom Jr. riu.

- Como se seus olhos não nos dissesse essa história.

- Que história? – Hermione sentou-se ao lado da avó e pegou uma xícara de chá.

- Não há necessidade de conta-la agora, senhor Riddle... – disse Cecília, a puxar o marido. – Vamos, Tom, querido? Ainda precisamos das assinaturas no passaporte...

- Eu gostaria de ouvir, também. – sentou-se ao lado da menina e da mãe, olhando diretamente para o pai. – Por que não nos conta?

- Eu quero ouvir! – exaltou a menina, batendo palmas de leve. – Vai contar, não vai?

Thomas sentou na cadeira de balanço, no canto da sala, segurando o bom e velho charuto francês.

- Era final da primeira guerra mundial, e eu estava responsável pelo reconhecimento daqueles que voltavam da França para Londres. Trabalho árduo, aquele!

“Lembrava-me daqueles que embarcaram e não chegaram a voltar. As famílias vinham, de tempos em tempos, na esperança de uma carta interceptada ou apenas alguma lembrança. Algumas ficaram dias sentadas nas saletas, outras semanas. Alguns se mudaram para Londres, esperando qualquer sinal de vida dos filhos.

Um dia apareci mais cedo ao posto de trabalho, e surpreendi-me ao ver que os bancos estavam vazios, com exceção de um localizado ao canto da saleta, abandonado. Quando abri a porta, havia um menininho sentado de lado, olhando o movimento da rua pela janela pequena, os olhos brilhantes e o coração palpitado.

- O que faz aqui, pirralho? – perguntei-lhe. – Ainda é cedo, as cartas só chegam após o desjejum.

- Espero meu pai, monsieur. – disse, sem olhar-me ao certo nos olhos.

- Espera teu pai? Oras, bem sabes que ele não voltará ainda. A guerra está por um fio, mas há de ter que esperar mais um pouco. Vá para tua mãe e permaneça lá.

- Não posso, monsieur. – disse com sotaque forçado.

- Sou inglês, não precisa chamar-me assim. Onde moras? Posso leva-lo até tua mãe. Sabes, tenho um filho da tua idade.

Um minuto de alegria invadiu os olhos da criança.

- Mesmo? Tens filhos?

- Um único. Chama Tom. – sorri. – Ele estuda em Eton. (N.A.: Oi, Ariane Haagsma!) Sabe onde fica?

- Não, na verdade. – o garotinho revirou os olhos e, depois, observou-me atentamente. – Não posso voltar para casa, monsieur.

- Você é francês? – cogitei. – Já disse pra não me chamar assim.

- Não sei o que sou. – disse com sinceridade. – Só espero por meu pai.

- Seu pai está na guerra, menino. – respondi-lhe com certa frieza, já que estava cansado daquela situação infanta. – Há de esperar mais. E não sou vidente a perguntar-me quanto. Sou apenas um simples oficial em serviço.

- Monsieur sabe onde ele está? Tem alguma notícia dele? – o rapazinho aproximou-se de mim com os olhos marejados e desesperados. – Diga-me, senhor, e vou embora!

Eu já estava entediado pela ousadia do menino, mas aqueles olhos lembraram-me mais de eu mesmo do que qualquer outra coisa já vista. Mary tentou pintá-los, porém não tivera sucesso na pintura, demasia. Repreendi-me com um sorriso e saltei-lhe uma pergunta.

- Como chama teu pai?

- Albert, senhor. – ele sorriu de volta. – Alberto Faurré.

- Tua mãe?

“Os olhos dele, quase brancos de tão azuis, murcharam como se eu os tivesse jogado em brasa ardente. Hesitou, e o sorriso desapareceu de sua boca pequena quando me disse quem era a mãe”.

- Kristen Müller, senhor. – murmurou.

- É alemã? – surpreendi-me. – Mas teu pai é francês.

- Sim, e eu sou inglês. – respondeu automaticamente. – Não acho isso importante, mas parece que todos aqui acham. - Sentou-se novamente perto da janela, olhando-me de longe, magoado. Aproximei e coloquei minha mão sobre seu ombro.

- Não há nenhuma carta dada pelo remetente Albert Yohann Atinkson. – disse pesaroso. O garoto levantou-se uma segunda vez naquele dia e, passando direto por mim, saiu pela rua.

Mais tarde eu soube quem ele era. Alberto morrera naquele mesmo ano e a pobre Kristen fora confinada no Império por ter se casado, contra as questões políticas de seu país, com um serviçal do exército francês.

Não sei o que se deu com aquela criança, até saber seu nome. Era Henry, um inglês filho de um francês com uma alemã. Seu rosto saiu em várias capas de jornais e impressões anti-guerra, dizendo que o preconceito e a raiva deveriam terminar e todos viveriam em paz. Infelizmente morrera pouco depois, talvez de alguma doença infanto-juvenil”.

Hermione sorriu para o velho senhor a sua frente, que caia numa confortável poltrona de couro, mordiscando o charuto.

- Estamos em guerra novamente, mas ainda não achei criança alguma que me provasse que há, sim, esperança de nações tão distintas e tão consumidas de ódio unir-se por uma dádiva imposta por Deus...

Cecília revirou os olhos e bebericou uma taça de champanhe.

- Amor. – disse Hermione. – Mas espere, Sir. Thomas, esperança é a última que morre. – Tom abraçou sua cintura e beijou-lhe os olhos.

- Não, querida. – Thomas pousou o charuto e piscou para a menina. – A perseverança é a última que morre.


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Notas finais do capítulo

Não sei como pedir desculpas por tanta demora. Eu exagerei no tempo, e me perdi nele. '-'
Este capítulo foi cuspido, como já ouvi falar por umas fics ai. Eu não gostei dele, e creio que vocês não devem ter gostado também. Ariane me ajudou a acabá-lo, de tão perdida que eu estava, então todos os créditos à ela, minha querida linda, por ser uma escritora cheia de virtude.
Tenho algumas coisinhas pra dizer. Uma criatura adorável chamada Mariana fez um trailer pra fic, e este está no youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=TAiVEf6ADQk
Outra coisinha. Ariane fez uma sequencia linda de desenhos para a fic, e esta eu coloquei no meu orkut. Aqui, disponibilizo para todos:
http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=4306004701665423583&aid=1303478770
Eu sinceramente não sei quando sai o próximo. Não será muito em breve, mas também não demorarei tanto. Obrigada pelos que ainda insistem e apostam em mim. Mil beijinhos, até logo! :)
PS: Ariane Haagsma, eu amo você. Aposto que, com esse video, todos vão amá-la ainda mais.
http://www.youtube.com/watch?v=PBbJzX5BrG4&feature=channel_video_title