Além do Destino escrita por AnaBonagamba


Capítulo 22
Primavera.


Notas iniciais do capítulo

Eu sou tão boazinha! Ia esperar até minha caixa de reviews estourar, mas como tive uma crise louca de criatividade, escrevi mais um. Super beijo, boa leitura! ♥



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A conversa com Harry tinha aberto buracos na sua mente, que não foram preenchidos com passos ou os sorrisos de Tom. O rapaz abriu a porta estridente, com um belo e invejável sorriso no rosto.

Mas se não fosse agora, não seria nunca. Se quisesse cumprir sua missão por completo, essa mentira não deveria ser guardada.

- Tom... – chamou quase chorosa, em um curto sussurro.

- Hermione? – constou, aproximando-se da garota. – O que houve?

A menina levantou-se da cadeira e enfrentou-o com o olhar.

- Está me assustando. – disse Tom, friamente. – O que aconteceu? Você tinha que ver meu avô caçando!

- Preciso lhe contar uma coisa. – sussurrou de volta.

A mente de Tom gelou. Estaria ela...grávida?

- Pois diga logo! – disse levantando o tom de voz.

- Uma vez Abraxas Malfoy disse que alguém de pureza de sangue seria digna de você. Você me disse que seu pai queria que viéssemos morar aqui...juntos. Me pediu em casamento... – olhou a aliança em seu dedo. – Não aguento mais.

- Não aguenta mais o que? – perguntou olhando-a profundamente.

- Conheço o seu orgulho, e também a sua ira. – constou. – Minha família...

- A sua família...sim, aquela na qual nunca falamos direito. – ele a olhou curioso.

- ela é trouxa, Tom. – baixou a cabeça sem poder encará-lo. – Eu sou uma sangue-ruim. Meus pais foram assassinados por Hitler. Por isso estou em Hogwarts.

A face de Tom não se resumia em raiva. Ele estava irado. Ele estava...como Voldemort.

A única coisa que se ouviu a seguir foi o tapa estridente na face de Hermione, quase derrubando-a no chão.

- Agora entendo por que os defendeu. – disse perigosamente. – Você é uma deles. Sangue-ruim! – gritou. – Sua...traidora! Você me traiu, Granger!

Um baque e todos os livros estavam no chão.

E Hermione também.

- Tom... – sussurrou.

- Não ouse sequer dizer meu nome, sujeitinha de sangue-ruim! – gritou. – Eu devia mata-la por tamanha impertinência! Criatura imunda, que corrói as linhas mágicas das gerações que passam! Eu a odeio!

Hermione sufocava pelas palavras dele. Estava pálida.

- Tudo o que eu pensei, o que planejei, o que eu quis! Como pude ser tão cego? – questionou-se, ainda em voz alta. – Como deixei, como não percebi?

Tom avançou para ela, arrancando de seu pescoço o pesado colar de Mérope. Machucou sua pele pela grosseria.

- Uma relíquia não merece sentir o calor de veias imundas como as suas. – cuspiu na face dela, retirando-se do quarto.

Deixou-se chorar pela saída dele, apertando em seu peito o diário que a poucos lembrava o que tinha deixado para trás. Mais uma vez o anel brilhou em seu dedo. Ambos.

“A escuridão lhe chamará, e deves ir até ela com a certeza de que irá voltar para luz”.

Eram sete da noite quando os convidados chegaram. Mary preparou a comida com sua nova empregada, Charlotte, uma senhorinha doce e sorridente. Era mais um teste da requisitada dona da casa para com a criada, e esta fora aprovada com a mais humilde excelência.

Todos os senhores sentaram-se confortavelmente na sala, empunhada de garrafas de vodca. Thomas recebeu-os alegremente, juntamente de Tom Sr. Quando Tom Jr. desceu, todos levantaram-se e foram ao seu encontro.

Essa seria uma grande noite de negócios.

Entre os convidados, os dois advogados que passariam os direitos paternos à Tom Sr. Ao ver os papéis, o mais jovem reconheceu a delicada assinatura de Martha, provando que estava, finalmente, livre daquele orfanato.

Tinha uma família de verdade.

- Vejo que o senhor esperava ansioso por isso. – comentou um dos advogados para Tom Jr. – Seu pai me chamou na semana passada, mas eu estava na França, um caos, lá! – riu.

Mary entrou na sala, cumprimentando os amigos. Com ela, Charlotte trouxe pequenos petiscos para os convidados, colocando-os no centro da mesa. Tom olhou intrigado.

- Já vamos jantar, mamãe. – disse. – Onde está Hermione?

- Ah, sua noiva, Jr.! – brincou outro convidado, velho e gordo. – Uma beleza aquela menina. Ótima escolha.

O filho somente assentiu com a cabeça.

- Vou chamá-la. Mary, sente-se aqui. – disse Thomas. – Mary adora advogados. – comentou sarcástico, enquanto subia as escadas para os quartos.

Thomas ouvira uma estranha discussão vinda do quarto de seu neto. Palavras estranhas, maneiras estranhas de se tratar uma pessoa, algo que parecia ruim.

Não que sangue ruim fosse algo que jamais tivesse ouvido. Só era esquisito ser aplicado numa situação como aquela.

Bateu na porta do quarto e ninguém atendeu. Estava trancada pelo lado de dentro. Insistiu, porém nenhuma ação foi prolongada.

Tentou de uma forma que sempre dava certo.

- Hermione? Abra a porta, é Thomas! – chamou, indiciando a alegria da sua voz. – Veja, trago-lhe um presente!

A porta continuou trancada.

- Oras vamos, não seja teimosa! Sei que vai adorar o que tenho comigo! – tentou.

Nada.

- Sabe, tem vezes que palavras não são suficientes para pessoas inteligentes... – disse convicto. – Tem que ser seguida de exemplos!

A porta se abriu lentamente, revelando a face vermelha e molhada da menina.

- Charlotte! – chamou o mais velho, vendo a empregada passar. – Quero que traga o jantar aqui para cima.

- O da menina, senhor? – questionou, olhando para Hermione cheia de pena.

- E o meu também. – acrescentou. – Diga para minha esposa e filho que cuidem dos meus convidados, e que descerei em breve. Preciso conversar com minha neta.

A empregada assentiu cordial e Hermione sorriu pelo tratamento.

- Sempre gostei deste quarto. – comentou Thomas, sentando na cama de Tom. – Tem uma bela visão do norte da cidade, já viu?

Hermione não olhou-o. Estava quieta, morta, fria num canto.

- Você me lembra alguém. – comentou Thomas. – Uma mulher muito bonita, dona de uma história ainda mais fascinante.

- História? – perguntou Hermione. – Que história?

- Ah! – riu Thomas. – Uma história de amor! Pois que se conforte ai, senhorita, vou lhe contar.

“Em uma época bela, de riquezas e de reinos, havia uma talentosa moça chamada Márcia, dona de uma voz belíssima e imensurável. Essa moça tinha um único professor e mestre, chamado Nicolai, que guiou-a desde menina para uma carreira de sucesso. Márcia estava no auge dela quando esta história aconteceu.”

- Ela é real? – questionou Hermione, sentindo seus olhos se enxerem de lágrimas.

- Se você quiser que seja. – disse Thomas. – Eis que Márcia, em agradecimento por tudo o que fizera por si, aceita a mão de Nicolai como esposo, no mesmo dia em que um grande compositor concede-lhe a graça de uma ópera, digna da potência de sua voz!

- Imagino o quanto ela estava feliz. – comentou tortuosa.

- Oh, sim, tão feliz que não conseguia dormir e saiu para passear na movimentada Paris, tentando esquecer tamanha alegria. E quando esqueceu esta alegria, conheceu um pobre cantor, porém belo e talentoso, chamado Paul.

Charlotte entrou e colocou a comida na mesinha do quarto. Thomas sentou-se e indicou a cadeira para Hermione, que se assentou calmamente.

- Na realidade ela não se apaixonou, primeiramente.

- Não?

- Não. Paul se apaixonou por ela, mas ela tinha muitos deveres na mente. Obrigações. Era orgulhosa de mais.

- Eu não sou orgulhosa, senhor Riddle. – questionou ela, levando uma colher na boca.

- Espere! – riu Thomas. – Ouça, não é o tipo de orgulho que conhece. Márcia só estava preocupada com sua carreira, com seu futuro. Estava tão fascinada por ele que se esqueceu do que realmente estava vivendo.

“Por fim, Paul consegue conquista-la, cantando uma bela canção chamada ‘Tempos de Primavera’. Ah, eu costumava cantar esta canção para Mary quando éramos jovens. – sorriu. – E canto ainda, de vez em quando.”

- Um dia poderei ouvi-la? – sussurrou Hermione, rindo levemente.

- Quem sabe... – divagou Thomas. – Márcia e Paul foram separados quando Nicolai sente o distanciamento dela, e preocupa-se com isso. Coloca-a em uma turnê pelo mundo, enquanto Paul luta para continuar aprendendo e tentar manter-se em Paris.

“Uma vez o coração ama de verdade, amará para sempre, Hermione. Num acaso do destino, e quando digo destino não me refiro à passado, presente ou futuro, Paul e Márcia são colocados para cantarem, juntos, a ópera que um dia fora dedicada à ela. Nicolai, na cena dos dois juntos, sofridos corações separados, teve que engolir seu orgulho e deixa-la voar para ele, seu verdadeiro amante.”

- E eles viveram felizes para sempre? – disse Hermione, imaginando um belo final feliz.

- Não. – respondeu Thomas, friamente. – A ira de Nicolai foi tão grande e insuportável que este sacou uma arma e apontou para o peito daquele que roubara o coração de sua esposa. – contou. – Paul cai morto nos braços de Márcia, depois de jurar-lhe um amor puro e verdadeiro para todo o sempre.

Os olhos da menina marejaram-se de lágrimas.

- Deve imaginar que acabou ai, não é? – Thomas sorriu, vendo-a chorar. – Como disse, quando o coração ama de verdade, nada pode fazê-lo deixar de amar, nem mesmo o orgulho. Márcia morreu numa tarde, no final da primavera, com seus 66 anos, esperando Paul vir busca-la para viverem juntos sua ópera romântica. Não faz ideia de como ela foi, digamos, corajosa?

- Forte? – sussurrou a menina, em resposta.

- Você é forte, e meu neto a ama. Não conheço nada sobre você, e pouco sobre ele, mas foi graças a sua inteligência e bondade que estamos todos aqui hoje. Se Márcia tivesse desistido, morrido, deixado de lado seu amor, ele não seria tão belo, muito menos lembrado.

- Tem palavras que não valem nada para pessoas inteligentes. Devem ser seguidas de exemplos. – tentou copiar a frase que fora dita pouco tempo antes. – Tempos de Primavera.

- Sim. – disse Thomas, empurrando seu prato vazio. – Não sei se já reparou, mas não estamos na primavera por aqui. Nunca há primavera em um lugar tão frio. Porém, depois que você chegou, Hermione, encheu minha vida de flores e cores, de canções e esperança. Trouxe para mim um futuro, uma certeza. Não deixe que essa mesma certeza magoe você.

Hermione chorou outra vez, soluçando alto. Thomas foi até ela, abraçando seus ombros.

- Boa noite, Márcia. – disse levemente, guiando-a para o quarto que até então era seu. Adentrou com ela e cobriu-a, como se fosse realmente sua neta.

Com um beijo na testa deixou-a, lágrimas secas em seu belo rosto. Desceu para onde deveria estar, pois tarde já era, e havia coisas que deveriam ser feitas.

Ter Tom Riddle Jr. registrado como seu neto era a primeira delas.

* * *

- Desculpem-me. – disse ao entrar na sala. – Não me senti bem e tive que descansar.

Os convidados riram.

- Entendemos perfeitamente, papai. – disse Tom.

- Vamos aos negócios, então? – disse, vendo Mary retirar-se do ambiente com um aceno de boa noite. Seu neto ajeitou-se na cadeira, um tanto entediado. Thomas riu com a expressão de confusão na face dos outros.

- Ouviram alguma coisa? – perguntou o mais novo, ouvindo um bater de portas.

- Vou ver o que é. – disse o pai, correndo para a entrada da casa.

Ao abrir a porta, deparou-se com uma figura esguia e encapuzada. Cecília o puxou para fora, no meio dos jardins.

- O que faz aqui? – questionou Tom Sr. quando viu seu rosto.

Ela não respondeu de imediato. Uma lágrima escorreu por seu rosto.

- Estou indo embora, Tom. – disse.

Tom sentiu um frio percorrer lhe o corpo.

- Em...embora? – gaguejou afoito.

- Sim. – chorou a outra. – Estou indo para Paris, viver com minha prima Madeleine. Ela deseja minha companhia, pois está doente.

- Mas, quando retorna? Quando a verei de novo? – questionou.

- Tom... – sussurrou a loira, abraçando-lhe o pescoço e tomando seus lábios delicadamente.

O beijo era voraz e desesperado, um indício doloroso de despedida. Como o último beijo de Márcia e Paul.

Cecília separou-se dele, o rosto borrado pelo choro. Acariciou sua face, enquanto ele beijava suas mãos e abraçava sua cintura como se pudesse soldá-la ali.

Ele a amava.

- Um dia poderá me perdoar por todos os meus erros, todo meu orgulho? – perguntou ela.

- Sim, está absolvida de toda a culpa. – Tom sorriu esperançoso. – Fique.

- Não posso, Tom Riddle. Dessa vez, sou eu que lhe deixo. – tocou os lábios dele com os seus uma última vez, antes de correr para a carruagem.

A carruagem que a levaria para milhas de distância.

Mas que distância haverá para quem ama de verdade?

Retornando a sala, risos alegres do que estava feito: Tom era seu filho por ordem e direito, nada poderia fazê-lo ir embora agora. Nada poderia fazê-lo ir embora nunca.

Os convidados de seu pai foram embora logo depois de todos os documentos serem assinados, todos os retoques serem dados. Não havia nada que o deixasse com dúvidas, ou que lhe deixasse com medo.

Agora Tom tinha a família que sempre sonhava.

Ou não.

A raiva ainda corrompia-o por dentro, como se pudesse crescer mais. Revoltava-se, odiava-se, desejava sangue, desejava morte.

Mas nada do que fizesse iria aliviar a dor da decepção.

Antes de dormir disse aos parentes que partiria no dia seguinte para a escola, antecipadamente, para preparar coisas que deixara em haver, e que buscaria Hermione na semana seguinte. Por fim, temia o estado de saúde da menina, e sua desculpa fora muito bem posta.

Arrumou suas malas na madrugada, com pressa, e não percebeu a ausência de seu diário.

Este, Hermione guardava em segredo junto ao seu peito, enquanto dormia profundamente.

A reação dela seria um mistério, um enigma. Esperava que chorasse e que se arrependesse de ter omitido coisas que sabia que ele dava valor. Esperava que morresse de desgosto.

Passado esse ponto não havia mais retorno.

Guardou a aliança dentro de uma caixa, a mesma que pousava o colar de sua mãe, sua primeira e única horcruxe.

O descendente de Salazar Sonserina, o último deles, já tinha o  sangue manchado. A pior coisa a fazer seria continuar sujando a majestade de suas glórias.


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Notas finais do capítulo

"May Time, Jeannette MacDonald e Nelson Eddy." Meu filme clássico favorito - 1933/1934. A canção, maytime, tem no youtube, para os curiosos, e também admiradores de clássicos.
Agora Tom sabe que a Hermione é uma sangue-ruim, e não gostou nada disso. *Voldemort on*
Cecília se arrependeu e deu nas canelas. Tchau, loira, foi tarde. //fail
Tom Jr. é herdeiro legítimo dos Riddle. ADÓRO! \o/
E, em sua crise de odio, voltará para a escola, 1 semana antes das aulas, sem a Hermione e sem a aliança. O que será que vai acontecer? *suspense*
Espero que tenham gostado. Um mega beijo, Aninha. :D