Mensagens escrita por WinnieCooper


Capítulo 22
O Bispo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/112329/chapter/22

Acordo com mordidas no meu nariz. É quase impossível ter uma noite razoável de sono e sempre chegam para me atrapalhar.

Finalmente abro os olhos e vejo aquela coruja cinza do “mensageiro” me encarando.

Nas suas patas um novo envelope.

Pego o papel com receio e vejo a coruja voar indo embora de meu quarto.

Rasgo e um bispo branco cai no meu colo. Nem me dou o trabalho de ver se tem o “RW” gravado na peça.

Abro o pergaminho e leio:

“Algumas missões fazem doer na pele.

O bispo é aquela peça que não se tem muitas opções de jogadas.

Será que seu movimento limitado irá derrotar o rei?

A metade daquele que se foi”

O Jorge.

Eu sabia que a missão do Jorge estava próxima, mas pensava que ia ser depois, ele é de longe a pessoa que mais está sofrendo com a morte do Fred.

Se bem que eu não o vejo há muito tempo, e olha que moro na mesma casa que ele.

Pior que nem sei do que preciso salvá-lo.

Levanto decidido da cama, se tivesse que ser feito que seja logo e rápido.

Saio pela porta do meu quarto e a primeira pessoa na qual me deparo é minha irmã.

- E ai? Preparado? Hoje é aniversário da Mione e...

- Não Gina – não permito que ela continue falando – Nova missão – mostro a ela o pedaço de pergaminho – Prioridade atual.

- Como assim? Tem que ser hoje Ronald!... – ela continuou falando bobagens e eu fingi ouvi-la.

Cheguei à porta do quarto do meu irmão e bati.

- Entra – a voz dele respondeu.

Bom, pelo menos ele está falando e não ta com a doença da mamãe.

Aliás a doença. Qual será a doença do Jorge?

O encontrei deitado em uma das duas camas que tinham no aposento. Senão tivesse ouvido a voz dele me convidando a entrar pensaria que estava tirando um cochilo.

- E ai Rony?

- Ei Jorge, está dormindo? – perguntei.

Eu sei que ele não está dormindo, mas é realmente estranho vê-lo com os olhos fechados falando normalmente.

- Estou acordadíssimo! – ele respondeu empolgado sentando-se na cama.

- É que seus olhos estão fechados – disse meio receoso.

- Eu sei não é empolgante? Você não imagina o quanto passa a se conhecer melhor com os olhos fechados.

- Como assim?

- Está ouvindo isso? – ele perguntou levantando os dedos apontando pra janela.

- Ouvindo o que? – a casa está no completo silêncio.

- Tantas coisas Rony, lá fora escuto um pássaro que acabou de se banhar no lago, escuto passos de um gnomo, escuto o papai mexendo na garagem, escuto a Gina batendo os pés levemente no chão do outro lado da porta. Coisas que não conseguia ouvir com os olhos abertos.

- Mas... – comecei a contestar.

- E o cheiro Rony? Consegue sentir o orvalho lá fora misturado com o café da manhã que a mamãe está preparando?

- Não – respondi.

- Os sentidos ficam mais apurados quando se resolver perder um deles.

- Resolve perder um dos sentidos? – perguntei abalado – Jorge você enxerga. Abre esses olhos!

Ordenei.

- Não! – ele negou nervoso – Estou a mais de um mês com meus olhos fechados e assim vou permanecer.

Merlin! O Jorge enlouqueceu!

- Mais de um mês – sussurrei para mim mesmo, tentando acreditar nisso.

- Rony venha aqui – ele me chamou e bateu a mão ao lado na cama.

Sentei ao seu lado.

- Feche os olhos – ele pediu, eu não obedeci – Vamos de uma chance – insistiu.

Como ele sabia que estou com os olhos abertos?

Enfim, o obedeci e fechei meus olhos.

- Está ouvindo as coisas com mais nitidez Rony?

Tento me concentrar mas não escuto nada. Absoluto silencio.

- É... – eu disse sem convicção.

- Eu sei, o começo é complicado, mas com o tempo você se acostuma e nota que viver com os olhos fechados pode ser proveitoso.

- Proveitoso? – questionei abrindo os olhos e saltando da cama.

- É cara! Sabe eu estava até pensando, posso até inventar um óculos que bloqueia a visão e vender nas “Gemialidades Weasley”, to precisando de novas idéias desde que o...

E então ele parou de falar.

- Tudo isso é por causa do Fred? – perguntei.

- Não – ele prontamente negou.

Cheguei mais próximo a ele e pedi num sussurro:

- Jorge, abre os olhos.

- Para que? – ele perguntou levantando da cama na qual estava sentado – Posso fazer tudo com os olhos fechados. É simples e me salva.

- Abre os olhos – voltei a pedir.

- Não! Ser cego é minha nova filosofia de vida!

- Ninguém adota o “não enxergar” como filosofia de vida! Abre os olhos – voltei a ordenar.

- Não é só porque você acha que enxergar é necessário que as outras pessoas pensam igual.

- É loucura Jorge, você enxerga! Devia colocar em uso esse sentido.

- Não consigo abrir meus olhos, não consigo – ele andou até a janela devagar e virou o rosto para eu não vê-lo – É mais simples viver sem enxergar, é menos doloroso.

- Não é mais simples e nem menos doloroso, é a saída mais fácil – eu lhe disse.

- É fácil pra você falar quando está de fora, quando não é você que abre os olhos e enxerga o Fred no espelho.

- Jorge...

- Não! – ele negou levantando a palma da mão para mim cansado – Não me peça para abrir os olhos. Eu simplesmente não posso.

- Por quê? – perguntei não esperando a resposta.

Jorge suspirou fortemente e começou a me explicar.

- Olhe para os lados Rony, para todos os lugares tem espelhos.

Espelhos? Olhei ao redor e vi somente um espelho pregado na parede.

- Não necessariamente espelho no sentido literal. Há reflexos por toda parte, no vidro da janela, na madeira da cama...

Reparei nos olhos rudemente fechados que meu irmão insistia em deixar.

- Quando abro os olhos o vejo.

- É você, não ele – sussurrei.

- É fácil para você falar quando não tem os mesmos olhos, o mesmo nariz, o mesmo cabelo, a mesma voz. Eu o vejo quando olho meu reflexo e isso acaba comigo. Então o ato de fechar os olhos é simples e menos doloroso.

Não consegui dizer mais nada.

- Eu tentei fazer meu caminho, eu tentei mudar esse conceito que pus em minha cabeça – ele virou seu rosto para mim, mas continuava com os olhos fechados – É melhor você acreditar que eu estou tentando superar isso.

O vi voltar a deitar na cama e envolver seu braço direito por cima de seus olhos.

O Jorge vê o Fred como um fantasma do passado, como um ser que ele era antes dele partir. Como o faço abrir os olhos?

“Encarando os fantasmas do passado” – respondo por pensamento

“Mas ele precisa abrir os olhos como faço para ele abrir os olhos?” – perguntei.

“Matando os fantasmas do passado” – respondo.

Fantasmas = Espelhos.

Já sei!

- Eu já volto – anunciei.

Quando abri a porta dei de cara com a Gina carrancuda com os braços cruzados.

- Agora não – disse antes que ela abrisse a boca.

Corri escada abaixo e encaminhei para fora de casa, fui para o velho armário de vassouras e peguei o bastão de batedor da época que jogávamos quadribol nos jardins. Parece que faz tantos anos.

Voltei rapidamente para o quarto do Jorge. Abri a porta arfando.

- Você tem que encarar os fantasmas do passado – anunciei.

- O que?

- Tem que parar de perseguir a sombra do Fred e encontrar a sua própria.

- Eu já disse que...

- Você esqueceu, ou fingiu esquecer, é mais fácil deixar “para lá”, é mais simples negar que o mundo de repente virou de cabeça para baixo. Onde está o chão que costumava pisar? Tudo desmoronou.

Jorge estava sentado em sua cama encolhido, tampando os ouvidos, tentando parar de ouvir minhas palavras.

- Mas o negar é o que te mata aos poucos, o ato de fechar os olhos é o que vai te cegar e não te deixar enxergar o alguém que você é sem ele.

- Cala a boca! – ele gritou apertando sua cabeça.

- Mate os fantasmas do passado.

Cheguei perto do meu irmão e o fiz sentir o bastão que havia levado ao quarto.

- O que quer dizer com isso? – ele questionou confuso.

- Acabe com os espelhos que te rodeiam Jorge.

- Como?

- Veja!

Levantei o bastão de quadribol e arremessei direto na janela do quarto fazendo o vidro se despedaçar.

- A mamãe vai te matar – ele exclamou.

Jorge estava olhando o estrago que eu havia provocado.

Sim! Estava vendo!

Com os olhos bem abertos aliás.

- Mate os fantasmas do passado.

Lhe entreguei o bastão.

Jorge levantou da cama decidido e com um ódio enorme golpeou o enorme espelho do quarto.

Um

Dois

Três

Quatro

Cinco

Perdi as contas de quantas vezes o bastão foi de encontro ao espelho.

Após um tempo, quando ele achou que fosse o suficiente, parou seu ato e encarou os milhares de rostos que se projetaram nos cacos rachados no chão.

Arfando e com lágrimas nos olhos ele me encarou e disse:

- Uma parte de mim morreu quando deixei ele ir.

Tentei abrir a boca pra falar, mas ele me interrompeu.

- Encarar os fantasmas do passado? Abrir os olhos? O que adianta? Nada mudou.

Enquanto o via encaminhar porta a fora e se trancar no banheiro notei que essa missão não havia acabado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/B: Ameeeeeei! O capítulo! Sério mesmo!
Mas uma coisa tenho que dizer... Para agluém com uma orelha, Jorge consegue escutar muuuuito bem, hein?
Ansiosa para o próx.!
Beijos ;*


N/A: Primeiro quero agradecer por não terem me abandonado... essa Fic é muito difícil de escrever e ter o apoio de vocês, me faz querer postar sempre... Então esse capítulo foi MUITO difícil de escrever... No principio ele ia se chamar “Espelhos”, mas como cada missão do Rony tem o nome da peça em um capítulo teve que ficar nesse...
O próximo capítulo vocês vão gostar, é a submissão maluca da Gina posta em pratica...

Me digam suas impressões da doença do Jorge... Beijinhos