Às vezes uma manhã pode ser tão linda por causa de um simples bocejo.

A garota dos meus sonhos acabou de acordar.

Está com uma calça de moletom cinza, uma blusa branca grudada no corpo.

Está de frente a janela com o sol iluminando seu rosto. A luz ilumina seus cabelos o deixando mais claro.

E então ela boceja, me dá até arrepios.

Ela esfrega os olhos e olha para mim sorrindo.

Meu coração acelera.

Ela puxa uma cadeira para se sentar do meu lado na mesa, mas antes que faça isso vem até mim e me beija no canto da boca.

- Obrigada Rony.

Eu estou olhando totalmente bobo para ela, sei que estou.

- Obrigada por me aguentar esses anos todos. Sei que sou uma mandona insuportável.

Queria dizer a ela que foi o fato dela ser uma mandona insuportável a razão da minha paixão, mas não disse, vai que ela usa isso contra mim no futuro.

E lá estou eu de novo imaginando um futuro com ela.

Talvez daqui a poucos anos estaremos os dois acordando de uma noite de amor. Ela vai estar cheirando suor e perfume, seus cabelos vão estar grudados no pescoço, ela vai olhar para mim, bocejar e coçar seus olhinhos cansados dizendo:

- Sinta-se culpado por não me deixar dormir direito.

Vou olhá-la com meu sorriso maroto e responder:

- Você não fez questão nenhuma de dormir direito.

Por ora, porém, sentir o sabor dos lábios dela perto de minha boca, é o suficiente.

Merlin! A Hermione me mata.

Me mata só com um simples bocejo.

Devo estar muito apaixonado mesmo.

Estou quase desejando que a próxima mensagem chegue logo, quanto antes conseguir colocar as coisas em seu devido lugar melhor.

- Como foi com o Percy? – ela me perguntou.

Acordo de meus devaneios e respondo:

- Ele estava doente e precisava de uma cura e lhe dei essa cura, aos poucos está se recuperando.

Não posso dizer que o Percy parou de se culpar pela morte do Fred, nem que ele parou de se cobrar em nos salvar da dor. Algumas dores simplesmente demoram algum tempo para acabarem e sei que com a Audrey ele irá conseguir.

- Soa tão enigmático – ela riu – Foi difícil?

- Teve lágrimas.

- Sempre tem não é?

Eu confirmei com a cabeça.

- E como anda as investigações sobre seus pais na Austrália?

- Na hora que apaguei a memória deles deixei duas informações apenas: a que se mudariam para Sidney e que continuariam como dentistas lá. Eu poderia ter colocado mais informações que ajudariam na busca, mas fiquei com medo dos comensais me torturarem e irem de encontro à eles para matá-los.

Ela olhou para baixo, como instinto coloquei minha mão sobre a dela.

-A auror vai achá-los Hermione, as informações que colocou são suficientes.

- Só que vai demorar um pouco... Ela nasceu trouxa essa auror, assim como eu, e... ela me disse que ia tentar se comunicar comigo, quando fosse mais urgente por telefone e e-mail, portanto eu...

Eu tinha uma idéia do que era telefone, mas não sabia o que era e-mail, porém, tinha certeza que havia essas duas coisas na casa dela.

Ela olhou pra cima e voltou a me encarar.

- Eu acho que, vou voltar para minha casa, a morar lá, mesmo sem eles.

- Não!

- É sério Rony e se ela me ligar e eu não estiver em casa?

- Porque ela não se comunica com você por uma lareira?

- E se for urgente? E se ela só tiver o telefone na mão?

- Não, por favor – implorei.

- Eu não consigo ficar aqui pensando neles, já decidi, vou voltar pra minha casa hoje à noite.

- Hoje?

Ela confirmou com a cabeça e evitou me encarar

“E se eu disser que te amo e que não consigo ficar um minuto longe de você?” minha mente grita “Fala idiota, fala covarde”

Fiquei brigando comigo mesmo por pensamento, a Hermione voltou a me olhar e perguntou:

- Quer me dizer mais alguma coisa?

“Sim eu te amo Hermione, você é a base que me sustenta aqui em casa, por favor não vá”

- Só que vou sentir saudades.

- Ah Rony – ela levantou e me abraçou – não exagere, pode me visitar todo dia em casa, alias é uma ordem, aparate todo dia lá em casa ok? – ela me olhou nos olhos ainda com os braços envolta do meu pescoço.

- Não sou louco de desobedecer nenhuma ordem sua.

Ela riu e se separou de mim sentando-se novamente na cadeira.

- Assim você me acostuma, no futuro, quando tivermos nossa ca... – e então ela parou de falar.

Quer dizer que ela imagina um futuro comigo também?

Hermione não completou a frase, suas bochechas estavam vermelhas.

- Chegou! – Harry entrou na cozinha despejando dois envelopes na mesa.

Os envelopes tinham o emblema de Hogwarts.

Peguei o que tinha meu nome e li:

“Prezado Senhor R.Weasley

Tendo em vista sua participação na guerra e como o senhor, a senhorita Granger e o senhor Potter colaboraram para o fim da mesma. Tenho o prazer de informar que podem voltar a cursar o sétimo e último ano da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

Espero que aceite o convite.

Afetuosamente

Diretora Minerva McGonagall”

- Eu não vou voltar – disse Harry assim que percebeu que eu e a Hermione tínhamos lido a carta.

- Eu também não vou voltar – eu disse.

Minha não volta a Hogwarts sempre esteve decidida. Não conseguiria voltar, não para cursar o último ano pensando em tantas coisas horríveis que vi naquele castelo, não para relembrar os anos anteriores, como éramos felizes.

- Harry, Rony – Hermione exclamou – Vocês precisam voltar.

- Eu não consigo Hermione – respondeu o Harry.

- Eu também não – neguei com a cabeça – Você quer voltar?

Hermione abandonar os estudos? É claro que não. Que mundo você vive Ronald?

- Eu quero voltar, mas não esse ano, não conseguiria pensando em meus pais – ela engoliu em seco – Vou responder a McGonagall

Naquela noite estava em meu quarto, tinha acabado de tomar banho, havia vestido uma roupa velha qualquer e meus cabelos estavam molhados e despenteados.

Ouvi um bater de bico na janela e corri a abrindo.

Eu sabia que era a carta.

Sabia que tinha uma peça de xadrez dentro.

A coruja saiu voando assim que retirei o envelope de suas patas. Quase gritei: “Por que não veio antes?”

Ainda debruçado na janela abri o envelope e um novo peão branco caiu.

Eu não precisava olhar para baixo para saber que o “RW” estava lá, mas mesmo assim o fiz.

Peguei o pedaço de pergaminho e li:

“Dói arrancar lágrimas?

O último peão.

Às vezes um simples peão da xeque-mate em um rei.

Vai deixar que este último peão o dê?

Garota que foge.”

Garota que foge?

Respondi meus pensamentos olhando os jardins de casa, vendo minha irmã correr.

Garota que foge = Gina Weasley.

Escuto um bater na porta.

- Entre – respondo.

Olho para a porta e vejo a garota dos meus sonhos entrar.

- Vim dizer tchau.

Hermione olhou tímida para mim, desviei meu olhar do dela e resolvi concentrar minha atenção na janela.

- Me despedi da sua mãe e ela me abraçou tão forte que senti meus ossos estralarem.

Ela emitiu um pequeno riso. Ainda me recusava a olhá-la.

- Rony... – senti sua mão em meu braço – Eu vou aparatar sem dizer tchau a você?

E então eu finalmente a olhei e sem demorar a puxei para mim a abraçando forte. Minha cabeça na curva de seu pescoço, fiquei sentindo o cheiro de seu cabelo.

Queria dizer tantas coisas com esse gesto.

Dizer que sentiria sua falta, que as coisas não iam ser as mesmas sem ela.

Queria protegê-la, mesmo que não houvesse ameaça nenhuma.

Queria dizer que ela é a pessoa mais importante para mim.

Tomara que a Hermione entenda as entrelinhas.

Ficamos minutos assim até que ela resolveu sair dos meus braços.

Evitou me encarar e olhou minhas mãos vendo o peão.

- Outro?

- É.

- Quem é dessa vez?

- A Gina.

Ela me encarou, ficou na ponta dos pés e me beijou no rosto.

- Boa sorte.

Hermione começou a andar para longe de mim, sabia que ia aparatar a qualquer momento.

- E se eu disser que você é minha Felix Felicis desistiria da idéia?

Eu poderia tentar uma última vez não é?

Ela mordeu seus lábios e balançou negativamente a cabeça.

- Você não existe – ela riu – Tchau Rony.

E então ela sumiu no ar.

Para longe de mim.

Longe dos meus olhos.