Naruto ressonava tranquilamente enquanto tirava um cochilo no pequeno e desconfortável sofá de seu apartamento. Sim, dormiu no sofá mesmo. Quando chegou estava tão cansado que duvidava se realmente ia conseguir chegar até sua cama, preferindo então, o sofá; canto aquele que guardou vários momentos de sua vida.

Vida. Como a sua poderia ter mudado tanto?

Uma semana atrás, estava lutando junto aos seus amigos na tentativa de exterminar a Akatsuki e todo o mal que eles desejavam trazer ao mundo ninja; luta essa que foi ganha e de quebra, conseguira trazer Sasuke, seu melhor amigo de volta. Agora, o Uchiha deveria estar tomando a maior bronca que a Tsunade obaa-san provavelmente já dera em alguém além de no final, com certeza tomar uns cascudos da Sakura-chan é claro. Ah, e esses cascudos doeriam e muito! Sakura o socaria por ela, por Naruto, pelo Kakashi-sensei e até pelo falecido aniki de Sasuke se duvidar.

Agora, nada tiraria o sorriso e o brilho nos olhos de Naruto; tudo estava em paz. As pessoas poderiam sorrir sem preocuparem-se com o futuro incerto, os filhos e esposas esperariam por seus pais e maridos agora sem o medo de não encontrá-los mais. O mundo estava como deveria sempre ser, feliz! É claro, sempre vai haver briga, algumas tolas outras um pouco mais sérias, porém, enquanto o amor e a amizade for maior que as animosidades, o mundo ninja estará a salvo.

Assim como ele, sua vida, seus amigos e a vila que ele tanto estima. Tudo está bem agora, e ele pode dormir tranqüilo.

Ainda dormindo, girou o corpo de forma que o rosto ficasse frente ao encosto, para o descanso da costa, do sofá. Respirou fundo por um instante, e logo depois a respiração normalizou.

O rosto calmo não aparentava de forma alguma toda a angústia e sofrimento que o loiro Uzumaki havia passado nos últimos anos; era como se tudo aquilo fosse levado para longe junto com as memórias tristes e com as perdas que tivera. E em pensamento ele se perguntava, se o ero-sennin estava agora, tão feliz quanto ele mesmo estava.

Só em pensar que daqui uns dias ele ser-

Os pensamentos de Naruto foram afastados a mesma medida que o barulho da capainha soava, ainda de longe, aos seus ouvidos. Meio inconsciente, Naruto pousou as mãos sobre os ouvidos, na tentativa de afastar o barulho, sem sucesso; o som da campainha ficava mais alto a medida que recobrava a consciência. Abriu os olhos desanimado, o sono estava tão bom que era um sacrilégio sê-lo interrompido, mas ele faria questão de informar isso á criatura que o atormentava neste momento.

Levantou com o mesmo ânimo que abriu os olhos e a passos arrastados foi até a porta.

- Que é? -falou num muxoxo irritado sem ao menos se dar ao trabalho de abrir os olhos.

-Desculpe o incômodo meu filho -a voz falha, levemente esganiçada recebeu a atenção do Uzumaki, imediatamente. Ao ver uma senhora de idade que parecia fazer um enorme esforço para se manter em pé, parada à porta. Naruto amaldiçoou-se mentalmente por tê-la recebido com tanta má vontade. No mesmo instante em que a mulher lhe sorriu gentilmente, ele a levou para dentro de casa com o maior cuidado, afastando, ora ou outra, com os pés, as quinquilharias que insistiam em entrar no caminho que eles percorriam até o sofá. Rapidamente Naruto forrou o sofá com a coberta que usou momentos antes durante o sono, permitindo então, que a mulher se sentasse.

A mulher vasculhava com o olhar todo aquele cômodo, como se tentasse descobrir onde é que ele começava e se terminava em algum lugar, enfim, desistindo no instante seguinte. Naruto a fitava atônito, o que diabos uma senhora queria com ele aquela hora da manhã?

- Você precisa arrumar essa casa menino -o tom divertido na voz da mulher não passou despercebido por Naruto, que coçou a nuca sorrindo sem graça- daqui a pouco você se perde aqui, e nunca mais te acham! -a mulher suspirou cansada. Aquele sorriso, como pode um sorriso ser tão poderoso? Tão...salvador? Aquele menino era realmente uma bênção ao mundo ninja, e não havia nada mais justo do que fazer o que ela pretendia agora. Naruto merecia felicidade, toda a que ele proporcionou ás pessoas que salvou, direta ou indiretamente, seria pouca ainda. Ele merecia tudo de bom que Kami lhe pudesse oferecer, e ela lhe daria apenas um pouco disso.

- Obaasan...-Naruto chamou, olhando-a interrogativo. Quanto tempo será que ela havia ficado imersa em seus pensamentos? Não sabia, porém precisava fazer o que devia o mais rápido possível e sair daquela vila o quanto antes.

- Escuta garoto -Enquanto falava, Kyoko retirou com dificuldade, um embrulho de dentro de uma sacola que segurava. Naruto olhava curioso para o pacote, era de uma forma retangular não muito grande de espessura mediana de mais ou menos dois dedos, embrulhado num papel de presente alaranjado com listras pretas na horizontal, parecia mais com um...-esse é um livro, um mangá que o meu filho fez. Nele está toda a sua estória -Naruto estreitou os olhos enquanto Kyoko o fitava com intensidade segurando o pacote com carinho- é uma forma de retribuir tudo o que fez por nós-

- Mas ...eu ...eu nem te conheço –Naruto murmurou mais pra si mesmo, do que pra mulher a sua frente.

- Quando digo o que fez por nós, é por todas as pessoas, ninjas ou não, Naruto! -Naruto estacou ao ouvir aquilo, todo esse reconhecimento vindo até de uma mulher que ele nunca vira? – sei que você nunca será esquecido -Kyoko sorriu- mas de qualquer forma, é bom que se tenha gravado em palavras os seus atos de coragem e humildade rapaz! -A mulher levantou-se e ao fazer isso vacilou, achou que ia cair, quando sentiu as mãos de Naruto o segurando, por mais um instante os dois fitaram-se com intensidade- tome -a senhora entregou o presente a Naruto- e mais uma vez muito obrigada Naruto! Espero que o presente valha a pena.

Era impressão sua, ou Naruto viu a mulher sorrir zombeteira piscando logo em seguida? Não sabia, no segundo seguinte a mulher havia desaparecido numa nuvem de fumaça.

Ainda atônito, Naruto fitava o embrulho agora em sua mão. Tudo acontecera tão rápido, a visita daquela mulher e a conversa que tiveram, como é que ela descobriu o endereço dele afinal? Apertou o embrulho cuidadosamente, foi até o sofá e acomodou-se de forma que ficasse bem confortável, abriu o pacote visualizando o pequeno livro que tinha como arte da capa, um desenho de sua pessoa que era rodeado de vários ninjas que conhecia, amigos de Konoha e até mesmo de outras vilas.

- Um mangá com a minha história? -Naruto sorriu debochado- o teme vai morrer de inveja dattebayo!