Indiana Jones e as Relíquias de D. Sebastião escrita por Goldfield


Capítulo 14
Capítulo 13




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Capítulo 13


Ponte aérea para Roma.

 

Final de madrugada, o sol começava a raiar.

Indy e Luzia, trajando novamente suas roupas de viagem, o primeiro voltando a trazer consigo seus fiéis chapéu, jaqueta e chicote, haviam sido reconduzidos pelo bispo Samuel, o ancião de branco e o Preste João através do labirinto de cavernas que dificultava o acesso ao reino, retornando até o vale onde antes Anis Bakr realizara uma emboscada às tropas de Fulco. Chegara o momento da despedida. A portuguesa abraçou cada um dos etíopes e o norte-americano apertou suas mãos com enorme respeito. Preparando-se para a acidentada descida de volta à planície, ouviram o rei-sacerdote dizer:

–         Vão com Deus, meus amigos. Eu lhes servi de guia para que chegassem até aqui, agora desejo que os céus vos iluminem para que possam recuperar as relíquias tomadas pelos bárbaros! O ciclo deverá ser completado!

Nisso, todos os olhares se voltaram para o céu. Uma águia dava um rasante sobre o desfiladeiro, planando acima dos paredões rochosos com incrível leveza. Todavia, era uma ave um tanto velha, penas eriçadas, aparentando estar no final da vida. Interpretando tal aparição como um sinal, o clérigo de longa barba e muitos anos de existência ergueu o cajado para o alto, apontando para o pássaro ao mesmo tempo em que afirmava:

–         Aquela águia simboliza o Preste João! Outrora, ele foi na terra o que aquela ave foi nos céus: ela, a maior entre as aves; o Preste, o maior entre os reis! Porém, a águia agora está velha e cansada, procurando um local onde possa repousar em paz, e da mesma forma o Preste João perdeu seu poder: não é mais tributário de setenta reis, nem o maior dos governantes cristãos. Neste novo mundo que se constrói, parece não haver mais espaço para nós. Porém, com o final do ciclo, ao menos Portugal terá a chance de reerguer-se, voltar a ser o grande império do passado. Com esse intuito, as relíquias precisam ser recuperadas!

Jones concordou movendo a cabeça. Ele e Luzia se arriscariam por D. Sebastião até o fim. Em seguida curvaram-se uma última vez em reverência ao Preste e, bastante determinados, puseram-se a caminhar cordilheira abaixo. Tornando a atravessar as trilhas e grutas, Pessoa orientava o amigo, já que ele se encontrava inconsciente quando fora conduzido por aquele trajeto e devido a isso não o conhecia. Quanto às relíquias, tinham uma idéia de onde procurar: no povoado nativo, o comandante fascista mencionara que elas seriam embarcadas num vôo para Roma, então teriam apenas de descobrir alguma pista de pouso ou base aérea nas proximidades. Tudo caminhava para um final, deram-se conta disso, e esperavam que ao menos fosse um final feliz...

 

Na povoação às margens do rio Omo, os moradores principiavam tranqüilamente a acordar. Alguns guerreiros, aos bocejos, trocaram de postos com os que haviam permanecido de vigília a noite toda, quando avistaram, ao longe, um grupo de homens em marcha. Usavam uniformes, e se encontravam a caminho dali. Eis que os italianos voltavam à tribo.

Numa das tendas, Antonello e Lorenzo dormiam em esteiras, abraçados com duas lindas jovens etíopes das quais estavam enamorados. A estada da dupla de soldados ali tivera um resultado positivo, afinal de contas. Eles estavam tendo agradáveis sonhos envolvendo suas amadas quando um dos guardas nativos veio acordá-los bruscamente. Sonolentos, não entendiam nada do que ele lhes falava, concluindo apenas que era algo referente ao lado de fora do recinto, pois era nessa direção que apontava. Espreguiçando-se, despertaram também as moças, e na companhia delas saíram do lugar.

Ficaram surpresos, e um tanto preocupados, quando notaram os compatriotas retornando. Dentro de poucos minutos o contingente chegou ao povoado, liderado pelo coronel Fulco, e estranharam ver o mercenário Anis Bakr também o seguindo. As relíquias de D. Sebastião, até então carregadas sobre a prancha de pedra, foram cuidadosamente depositadas dentro de uma caixa de madeira e alojadas na carreta de um dos caminhões do segundo comboio, que haviam permanecido ali. Alguns membros da tribo assistiram maravilhados ao processo. Os demais veículos foram ocupados pelos combatentes: já estavam prontos para partir. Logo que distinguiu entre os nativos os dois homens que deixara ali como garantia, o comandante aproximou-se deles, exclamando, face inexpressiva:

–         Vamos!

Era uma situação no mínimo embaraçosa: quando haviam acabado de ser deixados ali, Lorenzo e Antonello ansiavam desesperados pelo retorno do superior e suas tropas, temendo que fossem abandonados ali para sempre... Já sentiam saudades das massas da terra natal, de suas famílias... Até que conheceram as duas filhas do chefe, que pareciam encantadas pelos estrangeiros. Eles não falavam a mesma língua que elas, mas através de gestos e gracejos... Acabaram conquistando-as. E, levando em conta que as damas italianas sempre desprezavam os dois pobres militares... Eles agora não queriam mais ir embora para casa!

–         Hum, senhor... – falou Lorenzo, temeroso. – Será que nós...

–         Precisamos mesmo acompanhá-lo? – completou Antonello.

O coronel, encarando-os com seus olhos de águia, chegou ainda mais perto dos comandados, ficando com a face a poucos centímetros das suas, e disse bem pausadamente, algumas gotas de saliva respingando sobre os uniformes da dupla:

–         Compreendam bem: nenhum dos meus homens fica para trás. Mesmo se quiser!

Era realmente inútil discutir. Os desafortunados amantes despediram-se quase aos prantos das nativas e, imensamente contrariados, também entraram na carreta de um dos caminhões. O comboio logo partiu, levantando poeira como de costume. Tinha um destino bem definido...

 

A improvisada pista de pouso estava situada numa pequena planície a não muitos quilômetros da cordilheira onde se encontrava o reino do Preste João. Havia uma trilha em especial para se descer as montanhas que, se tomada, levaria às proximidades do lugar em poucas horas. Foi justamente esse caminho que Indy e Luzia tomaram.

Chegaram por volta do meio-dia ao alto de uma elevação bem ao lado da pista, de onde era possível ter uma ampla visão do que acontecia lá embaixo. Jones, escondido com a amiga atrás de uma grande pedra, retirou um binóculo de sua bolsa e examinou a movimentação que ocorria no reduto inimigo: um avião de passageiros italiano Savoia-Marchetti S.73 era carregado com caixotes e outros suprimentos que haviam sido trazidos por vários caminhões militares ali parados. Tratava-se de uma aeronave civil, mostrando que os fascistas não desejavam chamar atenção. Súbito, algo se destacou para o doutor: quatro soldados retiravam de uma das carretas uma caixa em particular que parecia ser mais pesada que o normal, além de exigir maior cuidado no manuseio. As relíquias deviam estar dentro dela. A pista era guardada por, no total, aproximadamente setenta combatentes armados.

O arqueólogo colocou o equipamento de volta na bolsa, olhou para a portuguesa e disse:

–         Eles não querem correr riscos nem sofrer atrasos: estão embarcando os despojos num avião que voará direto para Roma! Nós temos que agir rápido!

–         O que faremos?

–         De preferência, algo que evite um confronto direto com os italianos: são muitos!

–         Nós podíamos descer até lá sorrateiramente, colocar as relíquias de volta dentro de um dos caminhões e fugir nele!

–         Não, uma fuga por terra está fora de cogitação... Lembre-se que o país está ocupado pelos fascistas, e que antes tivemos certa facilidade em atravessá-lo porque eles nos queriam vivos. Mas agora a situação é diferente, e se tentarmos escapar dessa maneira, estaremos mortos antes de chegar à fronteira!

–         Então o que propõe?

–         Podemos tentar embarcar escondidos dentro daquele avião, e aguardar até que ele esteja longe o suficiente da Etiópia para tomá-lo em pleno ar, derrotando a tripulação. Serão no máximo uns seis ou sete homens, acho que poderemos dar conta! Como eu acredito ser capaz de pilotar um desses, mudaremos então a rota para o local seguro mais próximo, e de lá voltaremos a Portugal!

–         Tomar controle de um avião em pleno ar? É muito perigoso, Indy, até insano, eu diria! Será que alguém já fez isso antes?

–         Sempre há uma primeira vez, querida!

Respondendo desse modo, o aventureiro ajeitou o inseparável chapéu e pôs-se a descer sorrateiramente pela encosta da elevação. Luzia, de início um pouco relutante, logo o estava seguindo...

 

Atento e um pouco impaciente, Fulco observava o trabalho de seus homens. Junto com alguns deles, partiria no avião dentro de poucos instantes, e não via a hora de pousar em Roma com as relíquias: sua missão estaria completa e a glória de seu país, consolidada. Porém ainda existiam perigos, chances de fracasso... E ele devia estar sempre cauteloso, mesmo tão perto do triunfo.

–         Está esperando problemas, senhor? – indagou um soldado próximo, notando a apreensão do comandante.

–         Sempre, ragazzo! – respondeu, uma das mãos segurando o queixo. – Sempre! 

Nisso, o coronel notou a aproximação de um grupo de indivíduos usando turbante: Anis Bakr e seus mercenários. Sabia muito bem o que eles queriam; de uma maneira ou de outra, não poderia evitar aquele momento. O egípcio colocou-se à frente dos colegas, dizendo a Ezio:

–         Viemos buscar nosso pagamento!

–         Ah, sim... – Fulco realizou uma breve busca em seus bolsos, retirando de dentro de um deles um maço de notas, que estendeu para o rastreador. – Aqui está, pegue!

O árabe apanhou o dinheiro, conferindo-o com minúcia. Conforme contava, sua cara ficava mais fechada. Ao terminar, lançou um olhar raivoso para o coronel, enquanto protestava:

–         Aqui só há dois terços do que combinamos! Além disso, eu pedi que pagasse em libras egípcias, não em liras!

–         Não tenho culpa se meus homens não se lembravam qual é a moeda corrente no Egito... Agora vá, e dê-se por satisfeito. Leve em conta nossa amizade e outros serviços que pode vir a me fazer.

Apesar de irritado, Anis resolveu não discutir. Seria inútil. Deixou o lugar junto com seu pessoal, verificando a quantia mais uma vez. Acabara não sendo tudo que imaginava, entretanto ainda poderia ganhar bem mais. Sempre haveria alguém desejoso de desbravar os mistérios do continente africano, e ele estaria lá para oferecer seus préstimos...

 

Jones e Pessoa chegaram aos pés da elevação e correram abaixados até um dos caminhões, atrás do qual se esconderam. Encostado às rodas traseiras do veículo, Indy esticou discretamente a cabeça para fora do refúgio com o fim de verificar as ações inimigas: a caixa com os restos de D. Sebastião era colocada dentro da aeronave, os carregadores massageando as mãos devido ao esforço. Agora o norte-americano e a portuguesa não tinham muito tempo: precisavam se infiltrar naquele avião antes que decolasse.

–         Você tem alguma idéia? – indagou Luzia ao companheiro.

–         Eu vou pensar em algo...

“Pensar em algo”. A verdade era que Indiana Jones dificilmente traçava planos ou estratagemas: ele geralmente seguia agindo conforme as circunstâncias surgissem em seu caminho. Os meios de contornar certas situações lhe eram determinados somente pelo momento. E não seria diferente naquele caso...

Foi quando ouviram o forte som de uma martelada. Olhando ao redor, o arqueólogo avistou, perto dali, um soldado fascista que, bem devagar e despreocupado, como se totalmente alheio à urgência do comandante, pregava tampas sobre algumas outras caixas de madeira que também seriam embarcadas na aeronave. Aquilo era o que Indy desejava. Agarrou repentinamente um dos braços da moça, que levou um pequeno susto, e puxou-a o mais rápido possível na direção de onde o distraído militar, de costas para a dupla, realizava seu trabalho. Os outros combatentes, próximos do avião, não prestavam atenção naquela parte da pista...

O italiano, enquanto tirava mais pregos do bolso, sentiu alguém cutucar de leve um de seus ombros. Voltou a cabeça para trás, pensando ser algum colega e pronto para pedir que ele o deixasse cumprir sua tarefa sem interrupções... Quando o punho de um adversário desconhecido atingiu-lhe em cheio no nariz. Caindo por terra, a última coisa que pôde distinguir antes de apagar por completo foi um homem de chapéu fedora e uma bonita jovem ao seu lado...

Indy e Luzia arrastaram o guarda desmaiado pelos braços, levando-o para trás de alguns arbustos: quando alguém o descobrisse ali, o avião já teria decolado há certo tempo. A portuguesa acreditava haver sido uma sorte tremenda ninguém os ter avistado ainda, dado o tanto que se expunham. Voltaram até as caixas, que estavam abarrotadas de cartas dos soldados italianos que serviam na Etiópia, endereçadas às suas famílias. Aquele vôo também serviria como correio. O professor, depois de passar alguns instantes procurando entre os recipientes, encontrou um pé-de-cabra e com ele fez uma série de pequenos buracos em dois deles. Intrigada, sua companheira perguntou:

–         O que está fazendo, Indy?

–         Não vai querer ficar sem ar quando estiver dentro de uma destas caixas, vai?

Ela compreendeu tudo: eles se ocultariam em meio à carga para ganharem acesso ao interior da aeronave. Mesmo sendo bastante arriscado, era inegavelmente uma boa idéia. Jones explicou:

–         Eu ficarei com o pé-de-cabra. Depois de algumas horas que estivermos voando, vou estourar minha caixa, sair, e então libertá-la!

–         Está bem... Se não formos pegos antes...

Em seguida os dois entraram em seus respectivos esconderijos, cobrindo-se totalmente com os inúmeros envelopes. Foram momentos de intensa apreensão, a intrépida dupla temendo ser descoberta ao mínimo movimento, ao mínimo descuido... Até que dois fascistas aproximaram-se conversando em italiano:

–         O Alberto é mesmo um preguiçoso, nem para cumprir esta ordem simples até o fim...

–         Para onde será que ele foi?

–         Realmente não sei... Mas não duvido que ele tenha ido dormir embaixo de alguma árvore! Venha, vamos terminar de fechar estas caixas!

Percebendo o grande volume de cartas que ali havia, um deles afirmou:

–         Nossa, a quantidade de correspondência está cada vez maior! As tropas estão mesmo com saudades de casa!

–         E você não está? Mal vejo a hora de encontrar de novo minha amada Carmela... Mas vamos logo fazer isto! Cadê o martelo?

As tampas foram pregadas sem que nenhum dos dois combatentes suspeitasse de algo. Chegaram a estranhar um pouco o peso das caixas na hora de transportá-las para dentro do avião, porém não deram muita importância ao fato. Toda a carga, incluindo as relíquias, foi presa por cordas na traseira da aeronave, e Fulco logo embarcou. Selecionara cinco homens para acompanhá-lo na viagem, entre os quais Antonello e Lorenzo. Assim, incluindo-se piloto e co-piloto, era oito o número de fascistas no interior da máquina voadora.

Um major entrou brevemente no avião para ouvir as últimas recomendações do coronel, que já se acomodara num dos assentos:

–         Dispense os soldados restantes, recebi um comunicado do quartel-general informando que há outras aeronaves os aguardando em Addis Ababa para levá-los até Roma. Eu cuidarei para que todos que se destacaram nesta operação sejam devidamente promovidos. Arrivederci!

–         Arrivederci, signore! 

O comandado bateu continência e se retirou, a porta sendo fechada. Os motores foram ligados e, enquanto o avião começava a se movimentar pela pista para levantar vôo, Fulco encostou a cabeça na poltrona e fechou os olhos. Ia dormir um pouco. Ele merecia.

 

ETIÓPIA >>>>> MEDITERRÂNEO

 

A viagem prosseguia tranqüila, vários dos italianos a bordo do avião cochilando nos assentos. Todavia, Fulco, agora acordado, não conseguia ficar totalmente calmo. Enquanto não pousassem em Roma, ele permaneceria apreensivo e ansioso: temia que algum contratempo ainda viesse a surgir. E não estava de forma alguma errado...

Dentro de uma das caixas na parte de trás da aeronave, Indy despertava. Tinha planejado ficar acordado o tempo todo, tentando contar quantas horas haviam aproximadamente se passado desde a decolagem na Etiópia, porém o cansaço e o aperto venceram-no, fazendo com que caísse no sono. Perdera assim o conhecimento da duração do vôo, e receou que talvez o momento certo para tomar o avião já houvesse ficado para trás...

Por via das dúvidas, o melhor seria agir imediatamente. Segurando o pé-de-cabra, o arqueólogo começou a golpear a estrutura de madeira que o prendia. “É agora ou nunca”, pensou ele.

 

O coronel estava imerso em suas reflexões, quando ouviu a primeira pancada. Surpreso, olhou em volta buscando a origem do barulho, logo a situando na traseira do transporte, em meio à carga. Seguiram-se mais batidas, e o militar sem demora acordou seus comandados. Foram abrindo os olhos gradativamente, alguns resmungando. Fulco apontou para o fundo da aeronave, o som suspeito se repetindo...

Indiana logo abriu um rombo num dos lados de sua caixa, saindo de dentro dela numa cambalhota. Confusos, os soldados não sabiam ao certo o que estava acontecendo, porém Ezio compreendeu no mesmo instante, soltando um grito medonho:

–         Jones? Jones, aqui?

O norte-americano não tinha muito tempo: os fascistas em poucos segundos sacariam suas armas e começariam a atirar. O mais veloz que podia, forçou a tampa da caixa onde estava Luzia com uma das pontas do pé-de-cabra, permitindo que ela também deixasse o recipiente em meio a envelopes que caíam pelo chão. Simultaneamente, as balas vieram na direção dos dois, disparadas por pistolas e metralhadoras. Abaixaram-se a tempo atrás do resto do carregamento, Fulco exclamando, ao constatar a estupidez de seus homens:

–         Parem, desse jeito vão danificar as relíquias!

Tarde demais: um dos projéteis rompeu a principal corda entre as que amarravam a carga, e o resultado foi que todos os seus componentes se soltaram da armação. O que se seguiu foi um balé louco de caixas deslizando para lá e para cá pelo corredor do avião, inclusive aquela com os despojos de D. Sebastião. Uma delas derrubou um dos combatentes ao esbarrar em suas pernas, o sujeito caindo com o dedo preso ao gatilho da arma, atirando para cima feito doido.

Aproveitando a confusão, Indy subiu num dos recipientes que escorregavam, usando-o para tomar impulso e de cima dele pular sobre um dos inimigos: conseguiu desarmá-lo na queda, e botou-o para dormir com dois socos na face. Antonello e Lorenzo tentaram cercar Luzia, mas a jovem derrubou o primeiro sobre as poltronas por meio de um chute, e o segundo caiu com uma rasteira, sua pistola indo parar do outro lado da aeronave.

Ágil como um atleta, Fulco saltava por cima das caixas em seu caminho para alcançar os oponentes. O aventureiro tirou outro fascista de ação com uma forte cotovelada e então apanhou seu chicote... A tempo de usá-lo para desarmar o coronel, que mirava em sua direção. A tira de couro fez a Colt de Ezio voar para baixo de um assento, obrigando-o a mudar de tática. Tentou socar Jones, porém este se esquivou, retribuindo com uma pisada num dos pés do adversário. Este recuou mordendo os lábios de dor, correndo até uma caixa próxima... Na qual estavam as relíquias!

Nisso, Pessoa golpeava de novo Lorenzo, que voltara a atacá-la. Antonello muniu-se de sua faquinha e investiu algumas vezes contra a portuguesa, que lhe acertou um chute bem no queixo. Cambaleou para trás, quase desmaiando, enquanto o amigo procurava vingá-lo com uma seqüência de socos. Errou todos, e a moça acabou por afastá-lo mais uma vez com uma pancada no estômago.

Eles realmente deveriam ter insistido para permanecer no povoado etíope...

Fulco usou o mesmo pé-de-cabra trazido por Indiana para abrir o recipiente com os restos do rei lusitano. Apesar de toda aquela balbúrdia, aparentemente não haviam sofrido qualquer estrago. Rindo, o coronel fascista apanhou a espada do monarca... E brandindo-a como um cavaleiro furioso, partiu para cima do arqueólogo!

Jones por pouco não sofreu um corte no tórax, pulando a tempo para escapar do movimento. O italiano girou de novo o montante no ar, dessa vez tentando decapitar o intruso, que se abaixou rapidamente. Tirando proveito da posição de Indy, Fulco preparou-se para cravar a lâmina em suas costas... Quando houve mais um tiro, e Ezio subitamente gritou. Olhando para a mão direita do inimigo repleta de sangue, Jones depois se voltou para trás, enxergando Luzia empunhando uma pistola, a qual ainda apontava na direção do coronel.

–         Obrigado, você salvou minha...

Porém Fulco era muito persistente: mesmo com uma das mãos baleadas, continuou atacando com a espada, a diferença era que agora não conseguia manuseá-la bem. Buscando atingir o oponente, acabou rasgando uma poltrona e depois fincando a ponta da arma no chão. Pessoa voltou a ser alvo das investidas de Antonello e Lorenzo, o que a impediu de continuar protegendo o amigo. Este tirou vantagem dos erros do fascista e apressou-se na direção da cabine de pilotagem. Abriu a porta, os controladores do avião se assustando com tamanha agitação, porém não descuidando de sua tarefa. Atrás de Indy, pelo corredor, Fulco veio correndo como um touro bravo, espada estendida diante de si, pronta para atravessar o corpo do norte-americano sem perdão...

No último instante, ele desviou...

E a lâmina do montante foi enterrada nos controles da aeronave, uma chuva de faíscas saltando do painel, onde luzes passaram a piscar de forma desordenada. Piloto e co-piloto olharam desconsolados para o desastroso resultado do ataque do coronel. Este, desnorteado, retirou a espada dos instrumentos, rompendo mais alguns fios no processo. As avarias no avião estavam agora completas: além dos buracos de balas na fuselagem causados pelo tiroteio, agora os aparelhos de navegação estavam praticamente destruídos. Só nesse momento, fitando através dos vidros da cabine, Jones percebeu que estavam em pleno mar Mediterrâneo, à noite, com pouca visibilidade e nenhum sinal de terra!

–         Indy! – chamou Luzia, alarmada. – Parece que o avião está caindo!

Não era apenas impressão: a aeronave estava mesmo caindo!

 

 

Glossário – Capítulo 13:

 

Savoia-Marchetti S.73: Avião de passageiros italiano em operação durante a década de 1930 (a partir de 1935) e o início da década de 1940. Foi utilizado também com fins militares pelos italianos na Etiópia. Possuía capacidade de aproximadamente 20 ocupantes e era movido por três motores. Velocidade de cruzeiro de aproximadamente 280 quilômetros por hora.

 

Fedora: Chapéu de feltro macio que é pregado longitudinalmente ao redor da coroa e comprimido dos dois lados. O nome vem da personagem de uma peça encenada em 1889 nos EUA que se chamava “Princesa Fédora” e usava um chapéu similar. Personagens do cinema como Freddy Krueger e Indiana Jones ajudaram muito a popularizá-lo ao redor do mundo.

 

 

Continua...

 

 

Não perca, na próxima atualização, o incrível desfecho de “Indiana Jones e as Relíquias de D. Sebastião”! 


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