Ensina-me a Viver escrita por Graziele


Capítulo 2
Edward Masen


Notas iniciais do capítulo

Big thanks to: LeticiaSilveira, lay_mimosinha, RuthMasen, laracher, danyny.



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Capítulo 1 – Edward Masen

- Maldição! – grunhiu o homem quando sentiu os músculos do braço esquerdo protestarem, quase que implorando para que ele parasse com os exercícios exaustivos. Mas, como sempre, ele acabou por ignorar. A dor que sentia no final de cada maldito dia talvez chegasse a incomodá-lo, mas não a ponto de fazê-lo desistir de algo. Fora treinado para isso, afinal.

Treinado para não sentir nada que fosse nomeado ‘sentimento’. Treinado para não ser nada mais do que uma máquina.

Edward Masen gemeu ao repousar suas costas definidas no chão gélido e empoeirado do dormitório da Base Militar Inglesa – sua moradia há quase quatro anos. Suspirou pesadamente, fechando os olhos esverdeados por curtos segundos, para depois gemer agoniado com a falta de sono.

Era inútil tentar dormir, ele sabia disso. Porque toda vez que tentava cair na inconsciência, algo o impedia. Podia ser a paranóia de que uma bomba seria jogada a qualquer momento em cima de sua cabeça, ou ainda a memória dos rostos de seus colegas mortos nas batalhas sangrentas até ali.

Levantou do chão e sentou-se na cama – tão dura quanto – passando as mãos grandes pelo rosto. Fitou ao redor do dormitório e riu amargamente ao observar o sono tranqüilo dos outros soldados, apenas lembrando-se do tempo em que conseguia dormir daquele jeito. Não que fizesse muito tempo, afinal até alguns anos atrás ele ainda era apenas mais um dos jovens ingleses promissores a carreira medicinal, mas aí, estourou a Segunda Guerra Mundial, e o rapaz de cabelos acobreados teve que esquecer seus sonhos grandiosos para servir o país em mais uma das carnificinas doentias.

Balançou a cabeça, livrando-se imediatamente das memórias. Não gostava de nostalgia, principalmente por saber que nunca voltaria a vida de outrora.

Aquela felicidade não voltaria.

Suspirou, sentindo o peito comprimir naquela rotineira angústia, e deitou-se na cama, fitando o teto esburacado e quase sorrindo com a calmaria falsa que aquele céu estrelado podia passar.

A verdade é que nada estava calmo. Se aguçasse bem os ouvidos, poderia ouvir os gemidos de fome e frio das pessoas desabrigadas que perambulavam em volta da Base, à espera de alguém que as ajudasse. Se aguçasse bem os ouvidos, ouviria os sons da guerra.

Edward caminhou até porta do dormitório e, sem se preocupar com o sono dos outros soldados, abriu-a num rompante, tremendo ao sentir o vento gélido do sangrento inverno inglês.

Com passos firmes, contornou os tanques intimidadores, fitando os recrutas em seus turnos noturnos, com suas bem posicionadas armas, vasculhando o local com os olhos, atentos ao menor sinal de perigo. Os soldados já estavam acostumados em vê-lo perambulando nas horas que era pra ele estar dormindo. Edward já era conhecido como o problemático dali.

- Masen, por que não senta essa bunda na cama e dorme até o mês acabar? – perguntou um dos recrutas, com tom de deboche.

Edward riu baixinho, virando-se na direção da voz e encontrando Emmett Cullen – um dos poucos soldados que não se sentiam intimidados em ir falar com ele. O homem grande e de cabelos encaracolados seu único amigo ali.

Eles se entendiam. Ambos tiveram que renunciar dos sonhos para honrarem o país. Ambos não viam motivo de orgulho matar outras pessoas.

- Vá à merda, Cullen – Edward disse, fingindo estar irritado.

Emmett sorriu um pouco, e rumou ao encontro do colega. Estava com o uniforme habitual dos soldados, e com a já conhecida Colt 40 na mão esquerda.

- Falo a sério, Masen, pare com esse vício de guerra.

- Não é vício, Emmett, por favor – Edward revirou os olhos. – Só não da pra dormir quando se tem um teto esburacado e uma ameaça de bomba a cada cinco minutos.

Emmett suspirou.

- Quer trocar de turno?

- Pela terceira semana seguida? – Edward perguntou retoricamente, sorrindo. – Acho que o coronel não vai aprovar.

O silêncio reinou por alguns curtos segundos. Silêncio vindo dos dois amigos, claro. Porque em torno de todo aquele terreno da Base militar o barulho imperava.

Edward não pode deixar de trincar fortemente os dentes ao ver uma mãe, com roupas esfarrapadas e sujas, desesperada com seu filho no colo, implorando por alguma comida. Mesmo que, de alguma forma, aquela cena já fosse comum em seus tenebrosos dias naquele campo de batalha, ainda sentia uma dor imensurável ao ver tal coisa.

Edward podia ver nos olhos marejados do pequeno menino angustiado que ele não fazia a mínima idéia do que estava acontecendo ali. Não sabia o que eram aqueles homens impecavelmente vestidos com roupas engomadas, e com grandes armas nas mãos. Não sabia o que era aquele liquido vermelho que estava espalhado pela terra, ou ainda por que sua mãe chorava tanto. A pequena e inexperiente criança ainda estava alheia à destruição.

E isso matava o experiente soldado de cabelos de bronze.

Porque sempre os inocentes pagavam pela idiotice e pela ganância dos governantes.

- Acha que isso vai acabar um dia, Edward? – Emmett perguntou num suspiro, visivelmente abalado pela visão da mãe e do filho.

- Não. Isso nunca vai acabar – Edward respondeu de pronto, sem desviar os olhos da mulher, que agora recebia um pão seco do chefe do turno.

Não era difícil pra ele admitir que aquela guerra não teria fim. Era a verdade, afinal.

Edward não via uma saída para aquilo. Não via a luz do fim do túnel, como muitos ali. A destruição imperaria até o último dia da humanidade. Mesmo que aquela guerra acabasse, sempre restaria o rancor dos derrotados, como uma faísca para um novo massacre.

- Eu quero a paz de volta, Masen – Emmett lamuriou, num murmúrio. – Quero minha velha Inglaterra, onde tudo era mais tranqüilo.

Edward não pode deixar de sorrir, lembrando desse tempo de paz.

Paz. Coisa que nunca mais teria. A não ser no dia de sua morte.

- Cullen, venha aqui! – o Chefe de Turno, Ethan, chamou.

Emmett suspirou pesadamente e deu um aceno para o amigo antes de correr elegantemente até o outro homem, que, provavelmente, já tinha uma nova missão para o Cullen.

Edward recebeu um olhar de repreensão de Ethan, antes de se virar e caminhar lentamente até o topo da montanha, que encobria a Base, a fim de ficar um pouco sozinho.

Agarrou a grama verde da montanha, fechando os olhos e sentindo o ar gelado do amanhecer cortar-lhe a face.

Gostava de observar o nascer do sol, e imaginar que aquilo indicava mais um dia calmo. Porém, ele sabia que não era assim.

Sabia que o sol aparecendo timidamente entre as montanhas, indicava mais um dia sangrento de sua costumeira e assustadora rotina.


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Notas finais do capítulo

Jesus! Juro que essa merdinha aí quase arrancou meu coro, sério. Nossa, foi MUITO difícil narrar os fatos da guerra, fatão. Mas, enfim, ficou... decente, pelo menos?
Continua curtinho, mas foi só pra vocês conhecerem um pouco da vida do nosso não-Cullen-mas-ainda-gostoso-Edward. qq
As coisas importantes vão começar a a acontecer a partir do próximo capítulo, fikdik :D


Sem mais delongas, eu vou vazar porque to morrendo de sono, rs.

Comentem, por favor. ^^