Era uma noite vazia. O grandioso castelo Blood Pledge encontrava-se completamente silencioso, tão diferente de como era durante o dia, onde vozes e sons eram ouvidos por todos seus cantos. Até mesmo o vento gelado soprava silenciosamente pelos jardins, como se respeitasse o solitário astro prateado que brilhava na imensidão do céu marinho.

Tão solitário como Lord Wolfram von Bielefeld sentia-se no momento.

O jovem soldado encontrava-se estranhamente em seu próprio quarto, próximo a janela, observando fixamente a entrada do castelo. E ali ele observava, esperava, desejava... Desejava que talvez ele pudesse aparecer, que talvez ele...

Também sentisse saudades.

Fechou os olhos pesarosamente, apertando inconscientemente mais forte o papel que segurava contra seu peito. Yuuri...

Já fazia muito tempo desde a última vez que Sua Majestade havia partido de Shin Makoku, retornando para sua terra natal. Não poderia especificar se tinha se passado dias, semanas ou meses, já que Mazokus não se prendiam a essa contagem. E também sabia que os dias na Terra eram diferentes dos dias ali.

Mas... Mesmo assim, já fazia tanto que seu peito doía.

Voltou a abrir os olhos, o verde tão — mais apagado do que costumava ser quando o Maou estava em seu país — fitava a escuridão da noite. Devagar, foi afrouxando o aperto ao objeto que segurava, trocando seu olhar para ele, sentindo a dor no peito aumentar.

Uma foto.

Yuuri e ele. Juntos.

Lembrava-se perfeitamente do dia em que ela fora tirada. Tinha obrigado o garoto de cabelos e olhos negros a levá-lo para a Terra com ele, afinal, eram noivos e o outro era um Henachoko.

Nenhum argumento o fez desistir da ideia de ir junto. Claro que sabia o rei não corria perigo real algum no outro mundo. E tudo bem, talvez até tivesse algo receio do filho da mãe paquerar alguma outra pessoa, mas nenhum dos dois motivos era o real.

Na verdade, queria apenas... Desfrutar de algum tempo sozinho com Yuuri. Como isso seria impossível nas dependências do castelo, e também mesmo fora dele, decidiu que iria junto para a Terra.

Tinha sido durante um dos passeios pelas grandes ruas de Saitama-shi que algo tinha chamado sua atenção. Observava alguns grupos de garotas entrarem em uma cabine pequena e, intrigado com aquilo, perguntara ao noivo o que elas faziam lá.

E depois da rápida explicação do rei, dizendo que aquilo era uma Purikura, lugar onde você poderia tirar fotos e enfeita-las, para então imprimir, Wolfram tinha arrastado o jovem Maou para uma das cabines.

Suspirou, voltando a abraçar a foto e olhar pela janela.

Aquele, sem dúvida alguma, tinha sido um dos dias mais felizes de toda sua existência. Tinham andado por toda a cidade juntos, Yuuri lhe mostrando tudo, vez ou outra rindo de seu encanto com as coisas mais simples da grande cidade japonesa.

Mas agora, por mais que esta fosse uma lembrança boa, machucava. Machucava por ser apenas uma lembrança e, aquela foto, uma representação de algo que já tinha passado, um momento único que não voltaria.

Por que Yuuri demorava tanto?

E mais, por que doía tanto ele estar demorando?

Lembrou-se do dia em que se tornaram noivos, tudo por causa de um mal entendido. Sorriu ao pensar no ódio que tinha do dono dos encantadores olhos negros, e como esse ódio foi sumindo, transformando-se, dia após dia...

Até chegar ao ponto de poder dizer que o amava. Amava-o mais do que tudo, e estava disposto a dar sua vida pelo outro, não apenas por este ser o rei de Shin Makoku e 27° Maou.

Por mais que soubesse que os sentimentos de Yuuri não eram como os seus, sabia que eles também existiam e que também se desenvolviam com tempo. Sua Majestade já não reclamava de dividirem a mesma cama, e seus toques se tornavam mais longos e carinhosos.

Simples abraços quando voltava da Terra, ou mãos dadas em um passeio pelos grandes jardins. Tudo com a iniciativa do jovem rei.

Wolfram não poderia ficar mais feliz ao perceber tudo isso.

E talvez fosse por isso que o aperto em seu peito aumentava dia após dia sem poder vê-lo. Talvez por saber que quando ele estava ali, ganhava palavras e gestos que o desarmavam de sua posição tão superior, fazendo seu coração disparar e seu rosto corar.

Uma lágrima solitária escorreu pela bela face do jovem soldado, brilhando contra a luz do luar refletida em seu rosto, mas rapidamente sendo enxugada com as costas de sua mão. Não deveria mostrar nenhum sinal de fraqueza na ausência de seu noivo e Sua Majestade.

Esperaria o tempo que fosse, pois Yuuri tinha prometido que sempre voltaria. E seu rei nunca tinha quebrado uma promessa feita.

A única coisa que desejava... É que sua espera não fosse tão mais longa.