Era uma calorosa tarde de verão em Konoha; um clima quente, porém que não chegava a ser sufocante, onde muitos – os que estavam livres de missões ou de tarefas –  aproveitavam para passear e curtir aquele tempo gostoso...

E com o antigo Time 7 não poderia ser diferente.

Livres de missões, cada qual resolvera passar o tempo fazendo o que mais gostava, ou simplesmente algo que lhes agradasse no momento. Kakashi provavelmente fora ler seu precioso livro pouco educacional em algum lugar sossegado; Naruto convidara a herdeira Hyuuga para comer no Ichiraku (1) (talvez fosse o único ser no mundo que não concordasse que ramem (2) e calor não formavam uma boa combinação); Sai, como era de seu costume nas horas vagas desde que conhecera Naruto e cia., se enfiara na biblioteca pública, pesquisando mais sobre emoções humanas e como se relacionar com as pessoas; Tenzou (3) (ou Yamato, como era mais conhecido) que nunca fora um membro oficial, apenas substituíra Kakashi em algumas missões, tentava á todo custo se esconder de um Gai totalmente alucinado (afinal, alguém que era escolhido para substituir o seu grande rival deveria ser tão forte quanto o próprio). E, finalmente, nossos pombinhos, Sasuke e Sakura, simplesmente saíam para tomar um sorvete.

...Ou melhor, Sakura decidira tomar sorvete enquanto Sasuke apenas a acompanhava.

(Creio que “escoltava” seria uma palavra que melhor definiria a situação, visto que ele apenas tratava de espantar os urubus de cima de sua namorada. Possessivo? Nenhum pouco.)

Estavam juntos há cerca de um mês, aproximadamente o tempo que o Uchiha havia retornado para a vila. Ainda estava em período de provação, tendo sido punido por abandonar a vila sem o consentimento da Hokage e se unido ao inimigo com seis meses de afastamento de quaisquer missões, mais seis meses de trabalho comunitário e impossibilitado de subir de rank ninja até o final de sua punição. Conseguira até que uma punição leve, talvez devido ao fato de nunca ter conspirado junto ao inimigo de verdade contra a sua vila e ter se livrado de alguns perigosos criminosos rank-S encontrados no Bingo Book. Ou talvez pelo fato de Sakura ser uma das pupilas da Hokage. De qualquer forma, à Sasuke não lhe importava a punição que tivesse que pagar. Estava aliviado – apesar de nunca admitir isso a ninguém – de estar de volta à vila, de volta ao lar junto à sua família. E apesar de sua personalidade continuar quase a mesma de quando partira (talvez com leves alterações, como mais maturidade e sem a sede de vingança), não fora muita surpresa (ao menos aos amigos) quando os dois apareceram de mãos dadas em público – todos já imaginavam que cedo ou tarde aquilo iria acontecer.

(Afinal, reconstruir o clã sempre fora um de seus objetivos, não é mesmo?)

O que realmente surpreendeu foi o fato do Uchiha, que sempre fora tão frio e reservado, estar se mostrando extremamente possessivo e, alguns se atreviam a dizer, apaixonado. É claro que ele não saía por aí declarando amor incondicional à Haruno aos quatro cantos como Lee o fizera no passado, mas era possível notar claramente o quanto ela era especial para ele por suas pequenas ações. Como no modo que ele a tratava carinhosamente, e apenas à ela, ou como sempre fazia questão de estar tocando-a em algum ponto – seja segurando em sua cintura fina ou simplesmente intercalando seus dedos aos dela.

(Ou pela quantidade de homens que foram parar no hospital com hematomas ou queimaduras de terceiro grau após breve contato visual ou sonoro com a médica-nin rosada.)

Sakura, claro, sentia-se nas nuvens com suas demonstrações de afeto, mas algumas vezes isso acabava por lhe trazer certos... inconvenientes. Como quando tinha que sair para trabalhar e ele não queria largá-la, ou quando a encarava com seus profundos orbes negros, como se estivesse analisando cada fio rosado de seu cabelo, cada poro de sua pele...

Como o fazia naquele momento.

Quando era mais nova e imatura, ser o alvo das atenções do moreno faria seu coração derreter e pular de alegria. Mas agora, aos seus quase 18 anos, sentia-se incômoda com a intensidade do olhar do Uchiha sobre si. Isso porque sentia um enorme arrepio correr por sua espinha, enquanto inúmeras borboletas rodopiavam em seu estômago e um calor a consumia por dentro. Era como se ele a despisse só com o olhar.

E exatamente por isso que precisava distraí-lo de alguma maneira.

— Humm... Isto está delicioso! — mostrava um sorriso levemente forçado. — Sasuke-kun, tem certeza que não quer nem um pouquinho?

Sasuke, por outro lado, parecia alheio ao desconforto da namorada, ou apenas achava graça do mesmo, pois continuava a fitá-la com a mesma intensidade. Não se cansava de admirá-la – isso, de certa forma, trazia uma enorme satisfação (e felicidade) ao moreno.

Afinal, ela era sua namorada. Apenas sua.

— Hn. Não gosto de doces.

“...À exceção de você.” Era o que sua mente complementava, mas que a língua se segurava para não se delatar.

(Não se esqueçam que ele ainda tinha uma reputação a zelar.)

— Ah, Sasuke-kun, nem é tão doce assim... Experimente só um pouquinho! — ofereceu já levando uma colherada de seu sorvete de morango à boca do namorado. Como alguém poderia não gostar de sorvete?!

O Uchiha apenas deixou-se levar, estava mais concentrado em admirar o sorriso doce no rosto de Sakura e, principalmente, em fitar seus convidativos lábios rosados. Uma idéia surgiu em sua cabeça, enquanto um sorriso maroto brotava em seus lábios.

— Bom, né? — ela comentava, saboreando mais uma colherada daquela massa fofa e gélida.

— Hn. — foi tudo o que respondeu antes de habilmente afastar a mão dela que segurava a colher para, logo em seguida, capturar aqueles doces lábios entre os seus, não perdendo tempo e já introduzindo sua língua faminta naquela boca irresistível.

Era uma sensação única e deliciosa, um beijo ardente e frio ao mesmo tempo. Frio devido aos rastros deixados pelo sorvete de morango, e ardente pela intensidade de sentimentos dos envolvidos; uma paixão que aflorava à cada carícia, à cada beijo trocado.

Sakura amava os beijos de Sasuke. Não sabia como ele havia aprendido a beijar daquela forma, considerando que sua única real experiência fora aquele acidental primeiro beijo entre Naruto e ele. Não que ela tivesse como comparar, mas tinha certeza de que os beijos de seu namorado eram os melhores. Talvez a lenda de que os Uchihas eram gênios em tudo o que faziam não fosse apenas uma lenda...

(Mas ela não precisava saber das horas de treino gasto para chegar à perfeição. Por que acham que tomate sempre fora o seu fruto preferido?)

Sasuke afastou-se lentamente, observando a delicada face de sua namorada e adorando o leve rubor presente em suas bochechas. Rosa definitivamente combinava com ela. Aproximou seus lábios ao ouvido desta, sussurrando de forma sedutora para que apenas ela ouvisse:

— É realmente deliciosa... Você é irresistível.

A médica-nin corou ainda mais ante esse comentário, e não pôde conter um leve gemido de prazer ao senti-lo mordiscar sua orelha e descer beijos molhados por seu pescoço. Ele adorava provocá-la dessa forma, sabendo como ela adorava quando ele fazia isso, e que somente ele tinha esse efeito sobre a Haruno. Pareceram esquecer completamente do mundo à sua volta, e do sorvete já quase todo derretido dentro da taça.

Mas, para a felicidade geral dos ali presentes que já se sentiam constrangidos com a demonstração de afeto do casal, Sakura conseguiu recuperar um pouco de seu bom senso.

— Sa... Sasuke-kun... Pare com isso, p-por favor... — pediu com a voz rouca, meio a contragosto.

A verdade é que estava amando as sensações que Sasuke lhe proporcionava e não queria que este parasse. Mas não podia esquecer que estavam em um local público, com os olhares de estranhos sobre si.

— Não quero. — teimou o moreno, intercalando beijos e mordidas no pescoço da jovem médica-nin, enquanto uma mão safada acariciava suavemente suas coxas por baixo do vestido de alças.

— Sasuke-kun... a-as pessoas... estão olhando para n-nós...

O Uchiha pareceu analisar aquele pedido por alguns segundos. Não queria abandonar a pele macia e perfumada do pescoço dela. Era tão... saborosa. Por outro lado, se continuasse assim não conseguiria se controlar por mais tempo depois.

Suspirou resignado e depositou um último suave beijo em seu pescoço.

— Tudo bem... — concordou a contragosto. Mas antes de se afastar completamente dela, sussurrou em seu ouvido. — Mas hoje à noite você não me escapa.

E sorriu com seu jeito super sexy, provocando um enorme rubor na Haruno à sua frente.

(E gritos histéricos e desmaios nas fangirls (4) à sua volta.)

Talvez agora ele devesse reconsiderar seus conceitos sobre doces, porque, definitivamente, sorvete de morango tornara-se um dos seus favoritos.

Owari.

Minidicionário:

(1) Ichiraku: Para quem não sabe, esse é o nome da barraquinha/restaurante onde Naruto come sua comida preferida: o ramem.

(2) Ramem: É um tipo de sopa de macarrão, que pode vir acompanhado de legumes, carne, frango, etc, dependendo do “sabor” que se pedir. Obviamente, é um prato quente.

(Curiosidade: No Japão costuma-se comer pratos quentes como o ramem no calor, e pratos frios como o sorvete no frio, pois se acredita que assim o corpo mantém a temperatura ambiente e sente-se menos a diferença térmica.)

(3) Tenzou: Aparentemente, é o nome verdadeiro de Yamato, mas só Kakashi o chama assim. “Yamato” é o nome código que Tsunade lhe deu, assim como “Sai” fora nomeado por Danzou, pois ANBU’s têm suas identidades mantidas em segredo.

(4) Fangirls: Garotas que são obcecadas com alguma coisa ou pessoa; no caso, o Sasuke-kun. Podem chegar ao ponto de perseguir seu objeto de afeto.