Clan Of Vampires - The Letter escrita por weednst


Capítulo 60
59 Indo longe demais




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Eu abaixei os olhos imediatamente na direção do chão, limitando minha visão apenas aos ladrilhos brancos. Fiquei com um medo insano de que ele fosse notar o que estava acontecendo dentro de mim. Era insano eu sei, mas era como se Locke pudesse me perfurar em uma visão raio-x, era como se ele pudesse escutar meu coração perfeitamente, mesmo com aquele barulho todo, a sensação que ele tinha algum poder sombrio não era algo descartável, não ali, não agora.

Caminhamos. Sentamos-nos nas cadeiras e apoiamos nossos cotovelos na mesa redonda e prateada. Eu fiquei de frente para Locke, mas rapidamente me pus a segurar o cardápio, como proteção. 

— Nós temos trabalho, Loo – Se adiantou Lucas.

— Claro. O que você quer de mim? – disse ele.

— Eu pensei em começar com uma surra – disse Lucas. 

Eu ergui os olhos, alarmada. Já prontos para dar um basta naquela idiotice, mas meus músculos relaxaram quando vi que ele estava apenas brincando. Vi que ele sorria para mim. Uma piada imbecil. 

— Agora que você está atenta à conversa. Pode nos falar por onde dar início. 

Eu suspirei como se me faltasse ar. 

— Eu quero uma coisa bem simples, vamos arruinar as notas perfeitas dele – disse eu.

Lucas me olhou de soslaio. Eles esperavam coisas bem piores, coisas realmente ruins. Mas eu já me sentia uma bruxa por desejar isso. E bobagem, eu sabia o quanto as notas significavam para ele. Isso deveria bastar. 

— Quando Lucas me falou, achei que fosse algo mais... Fundo – disse Locke. 

Eu ergui minhas sobrancelhas para Lucas, reprimindo-o. E já temendo a palavra "fundo". Com quem eu estava lidando? Que tipo de coisa Locke já tinha sido capaz de fazer? Tinha medo de saber.

 — Eu só quero dar-lhe uma pequena lição. Nada de físico.

— Quem é o cara? – indagou Locke. 

— Meu namorado – disse cheia de embaraço.

— Você tem namorado? – Ele olhou para Lucas como se quisesse esmagá-lo. Lucas manteve seu olhar a altura. Mas algo não parecia certo. 

— Sim – disse alternando o olhar entre os dois.

— Mas logo estará acabado – concluiu Lucas. Aquilo parecia uma conversa paralela. Uma satisfação particular?

— Não, nada estará acabado – disse com zanga — Há algum problema, Locke?

— Nenhum problema, senhorita — soprou erguendo-se — E não se incomode... As notas dele estarão arruinadas até o final da semana.

— Como você vai...

— Eu sempre dou meu jeito. — ele me interrompeu – Já consegui coisas bem piores, isto não representa nenhuma dificuldade. Até breve.

***

Uma semana correu sem pressa nenhuma 
Eu podia ouvir a cidade – a cidade em que eu crescera cujos barulhos que me cercavam não mudaram nem sequer um centímetro. A cidade em que eu me habituara a chamar de Lar, ainda era a mesma, por isto eu a apreciava em magnitude. As árvores ainda assobiavam tristemente quando o vento as atingia, e o trem estridente sempre mandava um alô quando estava correndo pelos trilhos frenéticos. As pessoas ainda tinham os mesmos hábitos, e as crianças da vizinhança ainda corriam como cabritos pelas ruas, nada parecia variar. Mas agora, olhando daqui da varanda, deitada sobre a espreguiçadeira, vendo todos aqueles pontos brilhosos do começo da noite, algo me pareceu frio e errado. Eu me encolhi abraçando meus joelhos. 

Anthony viria para minha casa hoje, eu não tive como fugir, ou evitar. Afinal de contas, estava evitando seus telefonemas e sua presença a um bom tempo, eu não agüentava ir além disso. E parte de mim queria tê-lo por perto, a parte que covarde.

Quando Anthony chegou sorrateiro e cruzou as portas que davam acesso a varanda, ele vestia uma calça jeans azul clara com mais de sete bolsos e uma camiseta em tom de vinho que aderia a cada músculo do seu corpo juvenil com perfeição, deixando tudo visivelmente acessível. Meu coração se inquietou. Acelerando suas batidas, duas vezes mais, três vezes mais. Eu me reprimi. Ele disse “oi” e se pos a sentar na espreguiçadeira, mas ele estava diferente, estava sério e rasamente decepcionado. Sua postura de colocar os cotovelos sobre os joelhos o entregava. 

— Você está bem? — perguntei fingindo desinteresse absoluto. 

— Não muito — disse ele com um riso torto — E você? 

— Eu estou bem — Mentiras eram como uma pilha de tijolos. 

— Bom, esta semana nada pareceu dar certo — disse ele com uma voz lacrimosa.

E eu soltei fogos involuntários dentro de mim.
Aquela estranha sensação que eu nunca tinha sentido se espalhou como embriaguez. Eu estava feliz por ele estar chateado? Eu queria ser sua única fonte de alegria? 

— O que não tem dado certo? — tentei esconder o contentamento em minha voz. 

— Eu não faço idéia — disse com uma nuança confusa — Acredita que me dei mal em todas as avaliações? 

Locke o nome brilhou como uma fagulha na minha mente. 
Eu sabia o quanto Tony tinha uma parte certinha e disciplinada com os estudos, aquilo havia desmoronado como uma bomba-relógio. Ele não entendia nada. 

— Sério? Relaxa, acontece com todos — Otário. 
— Sabe, eu estudei. Eu estudei e me programei para tudo. Mas eu não consegui, eu fracassei. 

Eu sabia exatamente o que ele ambicionava de mim e sobre meus gestos, ele esperava auxílio – consolo - refresco e vocábulos amistosos, ele acreditava que eu ia o erguer de volta, como tantas vezes eu tinha feito, ao invés disto mantive a apatia. 

— Sabe, e não foi só com as notas da escola. Isto aconteceu nas aulas de música e nas de Karatê. 

Melhor que a encomenda. 

Eu continuei muda.

— Eu não consegui tocar a guitarra, parecia que eu estava hipnotizado, ou sei lá o que...Um tipo de bloqueio mental. Não conseguia me concentrar de jeito nenhum. No karatê eu... Bom, eu levei uma surra. Não entendo nada. Eu não conseguia me defender. Estou cheio de hematomas — Eu pude escutar seu orgulho de macho derretendo como um iceberg. 

— Como isto é possível? — Era mais uma pergunta a mim mesma do que para ele. 

— Pois é, e se eu te contar você não acredita, eu sou faixa preta, como posso ter apanhado de um faixa laranja? — Perplexidade — Eu não sei, parecia que o outro cara estava possuído por forças sobrenaturais. Ele sabia cada golpe que ia aplicar antes mesmo de eu poder planejar direito na minha mente, era como se ele absorvesse meus pensamentos através dos meus olhos, lesse minha mente, ou, qualquer coisa assim... 

Eu estava deslumbrada. 

— Como era o nome do cara? 
— Alguma coisa com “L”. Eu não sei, eu jamais tinha visto ele por lá. Loo...qualquer coisa... Foi tão estranho. Ele realmente parecia me detestar. 

Locke, só podia ser. Eles tinham lutado? Claro, não tinha outro esclarecimento.

Os olhos diurnos cor-de-mel, agora se encontravam castanhos e riscados. Olhos magoados e obscuros. Os olhos Tony cerraram para mim. Como se houvesse algo que eu carecia ter dito, minha própria fala. Mas eu, nada disse. Eu estava um pouco atordoada com a incrível capacidade de Locke.

E enquanto os olhos de Anthony se perdiam nos meus. 
Uma citação me veio à epiderme. 

“Eu sempre dou meu jeito. Já consegui coisas piores”


Um arrepio percorreu minha espinha ao perceber que Locke não ia parar por aí, ele tinha feito as coisas por si só. Afinal de contas, ele ultrapassou os meus limites. O combinado. Nós tínhamos falado apenas de notas escolares, e eu sabia que poderia parecer idiotice, mas aquilo era mais que suficiente para atingir Anthony. Ele era ligado demais nas suas notas perfeitas, ele não era um Nerd, mas tinha grande inclinação com seus estudos. Mas Locke foi longe demais, ele o tinha agredido – e talvez o bloqueado mentalmente, eu sabia que aquilo soava como uma espécie de insanidade. E talvez fosse mesmo, pois nenhuma pessoa podia ter este poder sobre as outras, era impossível. Contudo, tinha que haver uma explicação para tudo aquilo. Além do mais, eu tinha que escutar minha tendência natural para evitar os contratempos e os riscos, e meu instinto me dizia coisas terríveis sobre os fatos adicionais. 

Eu desviei os olhos de Anthony.
Ergui-me e fiz um aceno para que ele me seguisse. E deste jeito ele fez, em silêncio e com certa desconfiança. Dirigi-nos ao meu cômodo no final do extenso corredor. E com ponderação lhe disse, após encostar a porta. 

— Você precisa manter distância deste tal menino.
— O que você está dizendo? — disse ele com um sopro. 
— Eu não sei... só que não quero que você... Bem, não quero que você se machuque mais.

***



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Notas finais do capítulo

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