Clan Of Vampires - The Letter escrita por weednst


Capítulo 53
52 Me Salve


Notas iniciais do capítulo

Eu estou presa ao tempo Eu estou presa a você.
Você mentiu para mim desde o começo?
Por favor...Me salve...



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Ele não deu a mínima para minha questão.

— Meu sonho foi uma iminência, cada dia isto se consolida mais... Você não tem muito tempo, e talvez nem eu... — As palavras giravam na minha mente, totalmente desnorteadas.

Era confuso demais.

A voz de Lucas foi ficando longínqua, meus olhos foram perdendo o foco. Minha mente girava. Girava. Minhas pálpebras ficando pesadas como chumbo. Meus músculos cedendo. Eu vi tudo ficar escuro. Escuro demais.


***

Eu me sinto mortiça. Sinto-me enjoada. Sinto-me abrandada. Meu corpo parecia ter pouco peso, parecia estar flutuando nas elevações da gravidade. Tontura. Eu estava em vôo? Meus pés sacudiam na atmosfera. Meus braços eram como pêndulos – Para frente e para trás. Espere. Minha cabeça estava amparada por algo fresco – entre o gelado e o tépido. E tinha uma fragrância entrando por minhas narinas – não é nada enjoativo. Não é doce ou acre – É um cheiro cômodo, é pessoal. Sinto uma delicada compressão na parte de trás dos meus joelhos, do mesmo modo, percebo algo cercando meus ombros, amparando meu dorso. Não estou só. Apesar do barulho característico da minha palpitação, ser o único murmúrio a entornar profundamente em meus ouvidos. Há outro barulho – Vozes, cacofonia, chiado e passos, passos acelerados e ritmados. Tentei abrir meus olhos, mas não consegui. Não totalmente, apenas um interstício, eu só pude ver o verde... Árvores... Correndo. A luz do sol veio em minha direção, e eu deixei meus olhos descansarem outra vez. O vento era frio. Cada vez mais frígido. Eu acho que tremi. O mal estar se desdobrou por todo meu corpo, tornando aquilo pior. Inconsciente.

***

Eu me sentia nas nuvens, mas eram nuvens sobrecarregadas. De repente, retornei a realidade como um baque. Senti que meu corpo estava esticado em algo nada aconchegante e familiar – Era duro e a fragrância no ar. Eca – Era cheiro de álcool – sensabor e insípido. Um de meus braços estava estirado, aliás, ambos. Havia mãos que seguravam minhas mãos, mãos desiguais. Uma delas era abrasadora, talvez mais do que o instante carecia. A outra era fresca – um pouco puxada para morna, com vaporosas inclinações para a geada. Entretanto, ambas me pareciam protetoras a sua maneira.

Resolvi tentar abrir meus olhos. Devagar minhas pálpebras foram se movendo. Uma luz incrivelmente forte e branca me fez desistir. Fechei os olhos outra vez, mas eu não ia desistir... Pisquei algumas vezes, até estar afeiçoada a claridade. Fiz uma careta e deixei meus olhos se acenderem. E me deparei com um quarto em tom irrestrito de verde, mas não era um verde que representasse vida, era um verde de vômito, ou algo parecido. Oh céus. Minha pulsação ganhou a velocidade de um trem bala. Eu estava em um... Não era possível... Oh... Não podia ser... Hospital? Meus olhos se alarmaram, quase saltando de minhas órbitas, eu detestava hospitais, muito mais do que detestava o colegial, muito mais do que detestava sopa de abóbora.

Eu quis gritar, mas minha garganta parecia estar fechada, ou ressecada – Eu deveria ter ficado muito tempo sem falar. Assim que os acompanhantes notaram que eu estava alarmada, desesperada e que eu iria pular daquela maca a qualquer instante, ambos me apertaram, ao mesmo tempo. Eu olhei para os donos das mãos, quase uma suplica de “Me tirem daqui.” Do meu lado esquerdo jazia meu namorado, Tony. Virei para olhar do lado direito, lá estava meu... Meu... Bem, lá estava Lucas.


— O que aconteceu? — Indaguei completamente desorientada. Minha voz falhada. Meu olhar confuso, alternando entre os dois.

— Sua pressão arterial desabou — Explicou Lucas — Mas não se preocupe Annie, em pouco tempo você vai partir daqui revigorada.

— O que causou isto? – Eu estava voltada para Lucas, mas foi Tony quem respondeu.


Como já foi dito anteriormente, os sintomas típicos da pressão baixa são tontura, enjôo leve, escurecimento da visão, sensação de fraqueza e, em casos mais extremos, desmaio

— Bom isto provavelmente ocorreu depois de ficar sem se alimentar por muito tempo, ou em resposta a uma experiência desagradável e aterrorizante — Ele lançou um olhar amaldiçoando Lucas — Vai ficar tudo bem. No seu caso a queda de pressão não foi nada demais.A pressão baixa, geralmente não dura muito e normaliza depois de alguns minutos em repouso. Causa sintomas como tontura, enjôo leve, escurecimento da visão, fraqueza, e em alguns casos desmaios.


— Eu desmaiei? — Meus olhos ainda assustados. Lucas assentiu.

Eu inspirei e expirei intensamente, já um pouco mais calma.

— Quem me trouxe? — Indaguei almejando um ponto no nada, tentando recordar o lugar onde eu estava.

— Ele – disse Tony novamente lançando um olhar homicida para Lucas. E imediatamente deixando seu olhar cair em direção a minha mão acoplada a de Lucas.


Eu baixei meu olhar ao mesmo tempo. Fiquei envergonhada e afastei as mãos dos dois. Ali, entre ambos, deitada naquela maca pálida, eu me sentia como o perímetro entre dois territórios em guerra.

Lucas também não deixava barato, o azul penetrante de seus olhos, envolto nas sombras de suas olheiras, desafiava Tony para um combate direto – Algo próximo de se massacrar – trucidar e por fim a morte. Não eram olhares de garotos no colegial desafiando um ao outro, era fundo, funesto e completamente insano. Era odiosidade. O silêncio no ambiente era carregado, e eu não sabia o que falar. Eu queria jogar um tremendo balde de água fria nos dois, algo que acalmasse os ânimos. Afinal de contas, estávamos em um ambiente de paz e bonança, havia pessoas enfermas e se aproximando da morte em algum canto ou alameda daquele lugar assombroso, eles deviam respeitar o lugar e as regras. Eles não iam se atracar aos muros bem ali. Não. Eles seriam capazes. Seriam?

Eu queria acreditar que não. Eu realmente queria acreditar que não mesmo. Mas os olhares e os gestos sorrateiros berravam em cores gritantes o contrário. Os fatos eram fortes. A aversão e o asco eram violentos.


O olhar de Anthony o atravessou como um problema. Lucas deu um passo para trás e cruzou os braços.

— Acho que ouvi você dizer algo como já estar atrasado para um compromisso – disse Lucas desafiando Tony.

Eu tinha certeza absoluta que Anthony já tinha arquitetado em sua mente doentia a morte de Lucas. Eu conseguia ver nitidamente ambos se enfrentando em seus olhos apertados, enquanto ele franzia o cenho. Em vários ângulos diferentes. Era certo que na sua imaginação, ele já tinha montado as cenas doentias centenas de vezes: Sufocando Lucas – Arremessando sua cabeça contra a janela – esmurrando-o até quebrar seu nariz. Eu afastei aquelas imagens do meu pensamento, era perturbador.

— Não é da sua conta — destilou Tony.


Lucas bufou.

— Como você está meu amor? — Bem. Mas não que você mereça os créditos.

— Estou melhorando — Soprei.

— Eu fico feliz de ouvir isto — disse exibindo um sorriso vasto pra mim.

Eu sorri de volta, mas era um sorrisinho meio sem graça. Eu ainda não me sentia totalmente sólida.

— Fiquei tão preocupado com você. Uma terrível dor de barriga já estava a caminho — Meu namorando era um rato.

Ele que paga o mico e eu que sinto as consternações da vergonha.

— Amor, tem uma pessoa que quer te ver — Eu não ia gostar.


A porta se abriu aos poucos e April enfiou a cara na fenda da porta. E sorriu o seu sorriso mais cínico. Pude ver o brilho do seu piercing de dente. Ela nem olhou pra mim, seu olhar se dirigiu exclusivamente a Anthony. Como se Lucas e eu fossemos invisíveis, ou, não fossemos merecedores da sua atenção. Nem cachorro se trata assim. Mas certamente a boa educação não era nem de longe seu forte.



— Toninho — disse ela em uma voz irritante e acasalada de fêmea no cio — Nossa mãe está chamando para irmos embora. Você vai se atrasar para o inglês.

Tony difundiu um olhar sem a mínima graça a mim, e rapidamente voltou para a irmã. Suas sobrancelhas se estreitando em desconforto.

Imaginei o que ele teria inventado segundos atrás, mais uma lorota sobre April ter ido lá para constar meu bem-estar. Bobagem – April não se preocuparia nem se fosse sua própria progenitora, o que dirá a nanica cunhada que ela tanto desdenhava. Realmente suas tentativas de nos fazer "amiguinhas" estava se tornando cada vez mais patético.


— Amor eu preciso ir – Anunciou ele com um olhar falso de desgosto — Você entende, certo?

— Ah. É mesmo, você está aí – disse April da porta — Pobre doente.

Eu nem olhei em sua direção. Eu engoli minha rispidez e mordi minha fala.

— Mas eu estou doente – cochichei para Tony. Esperando que aquilo o comovesse e ele jogasse seus compromissos para o espaço e resolvesse ficar ao meu lado.

— Você não está tão mal, Roc – disse ele ainda fingindo estar ambíguo.

— É graças ao bom Deus.... Mas e se eu piorar? Com você do meu lado... Eu me sinto mais... Segura – Chantagem emocional nunca falhava.

Ele manejou a cachola em negação.


Eu peguei sua mão e o trouxe para mais perto. Depois, fiz ele se dobrar com um sutil puxão na gola da sua camiseta, até ter seu ouvido na elevação certa dos meus lábios. Segreguei:

— Eu preciso de você aqui, por favor. Nós somos indestrutíveis, juntos nos somos intocáveis, você lembra? – Se aquilo não o dobrasse eu não saberia mais o que tentar. Era minha cartada final.

Eu dei um beijo sutil no seu lóbulo e senti sua pele febril arrepiar.

Ele se afastou e olhou para o nada por um instante. Eu tinha conseguido uma pontada de perplexidade – hesitação e indesição.

As unhas compridas e perfeitamente bem feitas de April batiam na porta, uma sinfonia descompassada. Impaciência total.

— Toninho vamos! A mamãe vai ficar uma fera se você perder a aula de inglês.

Ele olhou ao mesmo tempo para mim. Fiz minha melhor cara de anjo. Minha melhor face de desgraçada e infeliz – Minha imploração por “fique comigo”

Anthony desviou o olhar do meu. Deu-me um beijo sutil na testa e caminhou em afastamento.

— Desculpe — disse antes de fechar a porta — Eu te ligo mais tarde.

Eu permaneci abismada – estática e completamente incrédula.

O chão poderia se abrir ali bem abaixo dos meus pés, o mundo poderia explodir em mil pedaços que eu não notaria a diferença. Eu estava derrotada. Completamente humilhada. Meu coração estava apenas batendo, mas eu tinha absoluta certeza que ele tinha sido estilhaçado.

Estremeci e senti meu coração acelerar e depois quase parar de bater. Anestesiei ao nada. Olhos vidrados na porta. Eu estava em choque – Ele já havia me abandonado antes, mas agora eu estava em um hospital, circunstâncias diferentes. Não era diferente? Era como se ele não tivesse me escutado, apenas ignorou minhas últimas palavras ditas. Sem arrependimentos.

Senti que as lágrimas queriam desabar naquele momento.

Eu as segurei até onde eu pude, mas elas continuavam a somar.


Desabei. Chorei como uma criança.


Senti braços em volta de mim. Abraçando-me. Braços frios. Era Lucas. Eu tinha até me esquecido dele. Mas era tarde para parar e me envergonhar do pranto – Eu fui mortificada. Eu me humilhei.

— Que se dane! Vá em frente e pise em mim também — disse jogando os braços finos dele para longe mim — Goze-me, tire sua casquinha – vociferei baixo.

— Acha que eu faria isto com você?

— Acho que vocês são todos iguais — disse saltando da cama e pegando minha mochila.

— Nem todos nós somos iguais, Annie. Nem todos gostamos de tirar anjos do céu — disse ele.

— Que profético Lucas! — bufei cheia de rancor.

— Hei devagar... Eu não tenho culpa do seu fora — disse ele.

Eu o olhei completamente contrista e ele quis concertar na mesma hora. Arrependido.Mas há coisas na vida que não tem conserto. Aquela frase era uma delas.

— Desculpe. Está bem, me desculpe — Eu enxuguei minhas lágrimas ferozmente com a gola do uniforme. E virei as costas para ele. Bati a porta e caí fora.

Ele veio atrás de mim, mas eu tinha passos muito céleres quando estava com cólera. Dei trabalho para ser alcançada. Eu não queria ser alcançada.

— Ele foi embora. Eu fiquei. Isto não quer dizer nada para você? — Apresentou os fatos.

— Olhe para o chão Lucas — disse. Ele olhou e procurou por algo concreto. Confuso, Lucas uniu as sobrancelhas e arfou.

— O que há para ver? — disse ele.

Quando estávamos cruzando a saída eu lhe dei a resposta.

— Há pedaços do meu coração no chão. É isto que quer dizer ele ter ido embora e você ter ficado — disse fechando minhas mãos em punhos.

***


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Notas finais do capítulo

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