— Isso já é maldade – eu grunhi – aquela menina já está cruzando todo e qualquer limite!

Eu arremessei seu celular em cima da cama.

Seus olhos se estreitaram, vi relampejar um misto de emoções que eu
não consegui identificar a principio.

— Hummm – murmurou – Então, você está dizendo que isso é mais uma armação dela?
— talvez.

Eu sorri nervosa e desviei o olhar de Tony. Fitei a lâmpada que pairava inerte sob nossas cabeças.

Vi de soslaio que seus lábios se contorceram em algo fechado. Ele soube a verdade no instante em que meus olhos abandonaram seu olhar especulador. Era de costume, consecutivamente me esquivava de tudo que me custasse perturbação ou tramóia. Anthony era perito em descobrir quando eu mentia ou na maioria das vezes, quando eu omitia algo – Não era uma tarefa muito complicada. Mentir não era meu ponto alto.

Ele esperou quase meio minuto para falar outra vez.

— Eu não estou acreditando que você tenha feito uma coisa dessas comigo, Roc - havia uma magoa e uma gravitação em sua voz.

— Er…— eu não sabia o que dizer, de algum modo Tony estava piorando tudo. Fazendo os fatos parecerem outra coisa.

Dei um sorriso amarelo.

—… Vou explicar tudo, mas tenho a nítida impressão de que isto não vai ajudar em nada. Aliás, você conhece a minha velha teoria: Não explica que piora! — Ele não riu.
— Experimente.
— Está bem, irei tentar. Mas você sabe como eu me atrapalho um pouco com as palavras – justifiquei desde já.
— tudo bem, eu apenas quero ouvir suas explicações.
— Então... Sabe que gosto muito de você...
— Apenas gosta? – ele me interrompeu.
— É. Sabe gostar pra mim é sinônimo de amar. Enfim.... Você me conhece, sabe que quanto menos doce, melhor.

Sua boca se retorceu em um ímpeto alinhado.

— Eu te amo – murmurei – Mas, você tem estado muito distante de mim. Estou ficando por ultimo na sua vida. Eu sinto isso.
— Você é está em primeiro lugar pra mim. Sempre será minha garota – se mostrou dócil.
— Na teoria – cometei emburrada. — Eu estava me sentindo solitária, sabe que não sou popular, minha mãe está sempre implicando comigo, meu pai nem ao menos me nota, Anabel que destruir minha vida. É o fim pra mim.

— Você só tem dezessete anos, pelo amor de Deus! — disse ele.
— Dezessete anos. Você tem razão... Foram os melhores anos da minha vida. Sei que daqui pra frente não serei mais uma pessoa feliz.

— Eu não te faço feliz? — Meu namorado era um insensível.

— Mmmm... — busquei a paciência no fundo de meu âmago —... É claro que você me faz feliz. Mas... Eu estou buscando outro tipo de felicidade.

Ele me olhou confuso.

— Eu não entendo — parecia realmente preocupado.

— Você não me dá toda atenção de que preciso. Estou sempre atrás das suas tarefas cotidianas – indiquei com os dedos — Inglês, Karatê, instrumentos musicais, amigos, família e primos de quarto grau – respirei me acalmando.

— Você está cometendo um grande erro, Roc – As linhas do seu rosto estavam austeras.

— Você está bancando a injusta. Sabe que eu te amo mais que qualquer pessoa, com exceção da família. Sabe que todas as outras coisas eu faço são por você, quero impressionar você. Quero que me ache especial. Então qual é o problema?

Eu o olhei com um misto de pena — amor e zanga.

— Bem...Eu não quero um namorado bilingue, um astro do buzines, ou um discípulo fiel do Bruce Lee. Eu acho legal todas essas coisas. Mas eu não me apaixonei por nenhuma delas. Eu me apaixonei por você. A versão do menino engraçado e cortês.

— Eu ainda sou o mesmo — ele sussurou.
— Não... — maneei a cabeça negativamente — Você tem sonhos grandiosos. Deseja conhecer novos lugares e viver grandes aventuras. Você acha que pode salvar o mundo. Que pode tragar o mundo, você sonha com uma grande cidade, eu sonho com um pequeno espaço. Uma cabana talvez.

— E qual o problema? — Um meio sorriso brotou em seus lábios. Eu poderia enxergar uma gota de tristeza ali — Porque isso a incomoda tanto?

Eu suspirei, pensando nas palavras.

— O problema está no fato do seu sonho ser feito de ouro e o meu ser feito de Ar.