A Cumparsita escrita por Angel_Nessa


Capítulo 4
CAPITULO 4 – SOB O SOL DE BUENOS AIRES




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No dia seguinte Sakura amanheceu sozinha na cama. Não era muito freqüente isso acontecer, mas aquela noite ela havia decidido não voltar mais a milonga (salão).

Os raios de sol atravessavam os vidros empoeirados da janela e se refletiam nos objetivos do quarto. Sentada na cama, a garota percorria com o olhar cada centímetro do ambiente que fora cenário de grandes discussões sobre sentimentos na noite anterior.

Ela colocou os pés para fora do colchão e ficou balançando-os a pouca distância do chão. Nada a animada a sair daquele quarto naquela manhã soleada.

Sakura deixou seus braços deslizarem para trás e seu corpo se inclinou, ela podia sentir o tecido fino dos lençóis passarem rapidamente pela gema de seus dedos, até que de repente ela sentiu um objeto pontiagudo penetrar-lhe a carne. Rapidamente ela voltou à posição inicial de seu corpo e recolheu a mão para verificar o que estrago feito. 

Viu um pequeno riozinho de sangue escorrer pela gema de seu dedo ferido e ao olhar para trás viu a rosa sobre os lençóis. Ao ver a autora do pequeno corte em seu dedo a percanta (garota) começou a chorar piamente; não que a dor pelo corte fosse muita, na verdade, lhe doía mais seu coração.

Sakura lembrou-se da história em metáfora contada por Tsunade a respeito do amor dos homens e todo aquele turbilhão de sentimentos que mesclavam amor, decepção, solidão e medo tomaram conta de seu coração.

Ela curvou seu tronco e aproximou a cabeça de suas coxas, suas lágrimas caiam por seu rosto e ensopavam a camisola branca de rendas. Num movimento rápido ela voltou a endireitar-se e respirou fundo, com uma atitude firme começou a limpar com as mãos as lágrimas que caiam de seu rosto. 

- Não pode ser assim... Não posso me sentir desse jeito, não depois de tudo...

A certeza que tinha em suas palavras lhe faltava a seu coração. Ela levantou-se e foi até o espelho e deu uma longa olhada em sua figura, não pode deixar de admirar sua forma física que tanto atraia aos homens.

- Tsunade está certa, não posso me deixar levar por meus sentimentos, não mais... Preciso de um pouco de ar da manhã.

Sakura trocou de roupa decidida a aproveitar o sol para passear pelas ruas da capital portenha.

Sem deixar-se notar ela saiu da milonga e começou a andar pelas ruas tão cheias de pessoas de distintas classes sociais que circulavam àquela hora da manhã.

As ruas de Buenos Aires estavam povoadas de imigrantes fugidos da guerra que se instalaram na capital portenha e se misturaram aos nativos. Aliás, uma rica mescla cultural nascera desse contato entre nativos e imigrantes; estes últimos se misturaram aos nativos menos abastados, já que gozavam de status social parecido.

Ainda que houvesse uma pirâmide social estritamente respeitada em Buenos Aires, havia um lugar onde os pobres, os imigrantes, os ricos e os políticos freqüentavam assiduamente, e esse lugar era a milonga. Lá todos se juntavam e embalados pelo tango desfrutavam da companhia das reas (prostitutas). 

Sakura já estava acostumada a viver num universo onde não havia distinção social, pelo menos não havia distinção social até a hora dos homens escolherem uma mulher da casa para passar a noite com eles; era nessa hora que os ricos e os políticos se valiam das concubinas, como ela, e aos pobres lhes sobravam as reas (prostitutas) que muitas vezes já haviam trabalhado nas ruas.

Na opinião da garota, as ruas de Buenos Aires eram como os prostíbulos: cheio de pessoas das mais variadas classes sócias que andavam de um lado para o outro, algumas apressadas e outras com os olhos ávidos vendo tudo o que se passava a volta.

Algumas mulheres que passavam por Sakura a olhavam de soslaio e cochichavam entre si, a percanta (garota), no entanto, buscava manter-se indiferente. Há anos sempre que ela decidia passear pelas ruas da capital se deparava com mulheres moralistas que rapidamente a reconheciam por seus trajes mais ousados. 

Naquela manhã Sakura apenas usava um vestido de estampas florais miúdas e um chapéu de vime com uma flor na lateral. Era uma peça bem discreta e não pecava nem em comprimento muito menos em decote, ainda assim as mulheres a reconheciam como sendo uma estranha, notavelmente todos se conheciam por ali.

Ela não se deixou abater pelos comentários maldosos que saiam em sussurros pelas bocas das mulheres; empinando o nariz ela seguiu seu caminho, o qual ela não sabia por onde a levaria.

Sakura andou sem rumo até chegar a Puerto Madero.

Ela parou próxima a beirada da grade e ficou olhando as águas agitadas do Río de La Plata que atravessava a cidade portenha.

- Uma bela manhã, não é mesmo? – disse uma voz masculina as suas costas.

Sakura de imediato reconheceu de quem era aquela voz, e com um sorriso no rosto virou-se para saudá-lo.

- Muito bela, Naruto. 

- Não tanto como você.

A jovem corou com o elogio, ele sempre a fazia se sentir especial.

- O que faz aqui tão cedo?

- Estou aqui a negócios, meu tutor está aqui também – disse ele olhando para os lados como se suspeitasse que estava sendo espionado.

Sakura riu da preocupação do jovem.

- O que foi? Tem medo que ele o coloque de castigo por estar falando comigo?

- Aquele velho pervertido me disse para não ficar falando com você fora da milonga, por causa da minha noiva.

Sakura não gostou de ouvir Naruto falar sobre sua noiva, ainda não estava acostumada com o fato de que ele estava comprometido com uma moça da alta sociedade.

- Tem que manter as aparências – ela replicou num tom triste.

- Eu não quero me casar com a Hinata, ainda que ela seja uma pessoa legal. Só aceito essa história por causa do meu tutor. 

- O Sr. Jiraya quer vê-lo bem. Ele cuida de você desde a morte de seus pais e só deseja o melhor para você – Sakura começou um sermão que nem mesmo ela sabia o porquê.

Naruto pareceu aborrecido com as palavras de Sakura.

- Se ele se preocupasse comigo consideraria mais meus sentimentos antes de tomar alguma decisão em meu nome. Mas o que faz aqui?

Sakura ficou titubeante em responder a Naruto, mas depois de pensar um pouco achou uma resposta que não fosse tão comprometedora.

- Estou cansada de apenas ver as estrelas. Eu queria ver o sol e sentir o calor dele em meu rosto.

Naruto ficou olhando Sakura com admiração e depois de um tempo resolveu contar a ela o que estava preso em sua garganta desde o momento que a viu.

- Eu estive na milonga ontem, mas não a encontrei.

- Eu não estava me sentindo muito bem – tentou disfarçar.

- O que ele te disse? Te magoou de novo? – perguntou Naruto num claro tom de preocupação.

- Ele?

- Sasuke – retrucou Naruto num claro tom de raiva – eu sei que ele está de volta a cidade, eu sei que ele foi conversar ontem com você.

Sakura apertou as mãos num sinal de nervosismo.

- Como sabe que o Sasuke esteve conversando comigo?

Naruto pareceu um pouco receoso de contar, porém ele não era do tipo de guardar segredos.

- Shikamaru me contou.

Sakura ficou revoltada ao saber disso.

- Aquele garçom fofoqueiro.

- Sakura, o que foi que o Sasuke te disse? – Naruto voltou a questioná-la.

- O mais importante não foi o que ele me disse, foi o que eu disse a ele... – Sakura ergueu a cabeça e olhou fundo nos olhos de Naruto – Eu disse ao Sasuke para ele ir embora.

Sakura notou uma expressão de alivio no rosto do rapaz ao escutá-la falar aquilo, entretanto, seu coração sabia da mentira que havia em suas palavras.

- Não quero que ele se aproxime de você novamente.

Sakura sentiu seu coração bater forte.

- Você não é o meu dono Naruto.

Naruto segurou no braço da moça e a encarou com uma confiança no olhar que chegava a ser intimidadora.

- Sakura, eu prometo, que vou fazer de você minha esposa. Apenas preciso de um tempo para poder fazer isso.

Sakura estava com medo de cair quando soltasse seu braço, suas pernas pareciam não serem capazes de sustentar o peso de seu corpo naquele momento.

- Poderia... Poderia me perguntar se é isso que eu quero? Ser sua esposa.

- Eu vou fazê-la feliz, custe o que custar.

Naruto escutou uma voz o chamando ao longe.

- Naruto, Naruto...

Ele virou-se para Sakura e soltou o braço dela.

- Eu preciso ir agora. Por favor, acredite no que lhe digo.

Naruto saiu correndo por entre as pessoas e foi em direção a seu tutor que lhe chamava.

Sakura ficou imóvel apenas o olhando se afastar.

- Por que Naruto eu não posso amá-lo? 

Sakura sabia da felicidade que lhe esperaria ao lado de Naruto, mesmo assim ela não conseguia pensar nele de maneira tão intensa e apaixonada como pensava em Sasuke.

O sol brilhava forte sobre Buenos Aires e iluminava cada centímetro da cidade, no entanto, aqueles raios tão acolhedores não eram capazes de acalentar seu coração mergulhado na escuridão do abandono e da tristeza. Um nome lhe veio à mente e escapou por seus lábios.

- Sasuke...

Os conselhos de todos sobre o quão perigoso era continuar gostando de Sasuke se resultavam inúteis frente aos sentimentos que a jovem percanta ainda nutria pelo rapaz.

- Eu vou te esquecer... Eu juro.

Ela virou-se de costas e saiu caminhando pela cidade. 


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Notas finais do capítulo

nota da autora: Olha o Naruto aparecendo na minha história, e vejam que ele está disposto a não deixar a Sakura para o Sasuke... uma bela disputa pela frente.

E Sakura vai começar a ficar no meio entre seu grande amor e uma pessoa que ama e quer cuidá-la. Nessa hora o que vale mais: quem a gente ama, ou quem nos ama?

Naruto e Sasuke aparecem para brigar pela garota...



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