A Cumparsita escrita por Angel_Nessa


Capítulo 3
CAPITULO 3 - LA CUMPARSITA




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Sakura deixava as lágrimas escorregarem por sua bochecha e se depositarem em seu vestido que rapidamente as absorvia.

Ela escutou a porta do quarto ranger, rapidamente ficou de pé e começou a limpar as lágrimas, sentiu o coração saltar em seu peito. Uma estranha figura adentrou em meio à penumbra do quarto, mas ao acender as luzes do ambiente foi logo reconhecida pela garota.

- Madama Tsunade – pronunciou a percanta (garota) quase que num sussurro.

A mulher, que tinha longas madeixas douradas e olhos verdes, trajava um belo vestido de cetim longo de cor carmim e com um generoso decote que destacava seus fartos seios. Ela encarou com altivez a jovem percanta (garota).

- Sakura... Então está aqui chorando num quarto escuro depois de uma conversa com aquele otário. Por que essa cena me parece tão familiar?

- Perdoe-me, madama Tsunade – disse a jovem tentando em vão limpar as lágrimas que teimosamente ainda caiam.

- Chorando por um amor perdido... Comovente! – a mulher desdenhou.

Sakura permanecia indiferente as duras palavras da madama (regente de um prostíbulo), porém em seu intimo essas palavras a machucavam muito.

- Eu já vou descer.

- Para que? – questionou Tsunade – Para que os clientes vejam a sua cara inchada de tanto chorar?

- Passarei um pouco de maquiagem.

Sakura não queria desabar frente a Tsunade, no entanto a madama a conhecia melhor do ninguém, afinal em muitas noites de solidão fora ela sua conselheira.

Tsunade abrandou seu coração ante a cara de decepção e tristeza da percanta (garota) e ela encarou a jovem com curiosidade no olhar. 

- O que aquele pato (pobre) te disse?

- Que me quer.

- E ele tem dinheiro para pagar uma concubina de luxo como você?

- Não me quer dessa maneira... – fez questão de ser mais clara – Ele disse que me ama.

Tsunade riu.

- E você se deixou levar por palavras tão vãs!

- Eu o amava, e...

- E mesmo sabendo disso ele te abandou – Tsunade a cortou.

- Tudo mudou... Ele me disse que foi para a Europa para deixar de ser um pato (pobre).

- E você cegamente acreditou nas palavras dele?!

- Não! Eu pedi que ele fosse embora – replicou a garota com orgulho.

- Mas não era isso que seu coração queria...

A expressão confiante de Sakura desapareceu naquele momento.

Tsunade a segurou pelo braço e arrastou de volta até o espelho. A madama fez Sakura ficar de frente para o espelho e encarar seu próprio reflexo, enquanto ela se posicionava atrás da percanta (garota) mantendo as mãos sobre seus braços. 

- Quero que olhe para o espelho... Você é uma percanta (garota) bem compadrita (bonitinha). Então, não desperdice seu belo rosto ficando ao lado de um pato (pobre) que não a merece.

- Se ele realmente me ama? – Sakura questionou-a confusa.

- Ainda está metida (loucamente apaixonada) por esse pato (pobre)?

Sakura ficou em silêncio um tempo antes de responder.

- Não mais... – disse num tom de voz embargado pela tristeza.

Tsunade soltou os braços da garota e se afastou dela. Sakura, no entanto, continuava a olhar seu reflexo no espelho.

- Esses dublés (jóias falsas) que você usa podem um dia se transformarem em finas jóias, por isso não se deixe levar por seus sentimentos passados por Sasuke...

Sakura virou-se para encarar Tsunade, aquela era a primeira que ela se referia ao rapaz pelo nome, normalmente usava adjetivos como pato (pobre) ou seco(pobre) para nomeá-lo.

Tsunade continuou.

- Uma rea (prostituta) como esposa, nem mesmo os patos (pobres) querem isso. Eles apenas as usam para satisfazer seus afrechos (desejos sexuais).

Sakura não ousava dizer uma única palavra. E Tsunade continuou seu discurso sobre como era o mundo.

- A uma rea (prostituta) sábia lhe resta procurar um bacán (homem rico) que a acamale (sustente). E você, minha cara, tem nas mãos muito mais do que uma concubina pode sonhar.

- O que eu tenho de tão especial? – perguntou fazendo pouco caso.

- Tem ao filho do ex-governador que está encantado por você.

- Naruto?!

- Ele veio me procurar no outro dia e disse o quanto gosta de você, ele a poderia levar ao altar. De dama da noite passaria a pertencer a alta sociedade e circularia entre as pessoas mais influentes de Buenos Aires. 

- Naruto já tem uma noiva.

- Uma noiva que não ama! – rebateu Tsunade – Um noivado de aparências fundamentando em interesses econômicos por parte da família da noiva.

- Isso é tudo o que importa? Morlacos (dinheiro)? – perguntou Sakura triste.

Tsunade abaixou-se para recolher uma rosa caída no chão e aspirou seu perfume.

- O que espera? Amor?

- Sim, eu quero acreditar no amor – respondeu Sakura confiante.

Tsunade jogou a rosa sobre a cama.

- Eis o único amor que vai encontrar nos homens.

A garota olhou desolada para a rosa sobre os lençóis azuis escuros que lembravam o oceano.

- Não pode ser só isso... O amor existe.

Tsunade soltou uma sonora gargalhada.

Desde pequena Sakura sempre acreditara que o amor existia e quando se apaixonou por Sasuke sua certeza na existência desse sentimento foi ainda maior.

- Não haja como se fosse uma daquelas grelas (mulheres) que esperam por seu grande amor na sacada de uma janela – Tsunade voltou a ficar séria – Os homens que se encantam pelas mulheres e fazem de tudo por elas apenas sempre esperam algo em troca.

Sakura se sentiu acuada, mas estava disposta a defender sua crença no amor.

- Disse que o Naruto gosta de mim mesmo eu sendo uma concubina, então isso significa que existe amor.

- Não o use como exemplo. Aquele garoto tem idéias fixas das quais não se livra jamais, e você é apenas uma delas.

- Por que não acredita no amor? – questionou-a Sakura.

Tsunade pegou outra rosa do chão.

- A natureza criou uma flor tão perfeita e delicada como a rosa e pôs nela um monte de espinhos que são capazes de rasgar as peles mais ásperas.

- O que está dizendo? – perguntou a jovem percanta (garota) confusa – Responda por que não acredita no amor?

- Eu já lhe mostrei o que é amor – disse apontando para a rosa sobre a cama.

- Não existe apenas esse tipo de amor carnal... – replicou Sakura desgostosa com a idéia de Tsunade sobre o amor.

Ela não concebia a opinião de Tsunade que somente encontraria nos homens um amor de origem carnal.

- Não falei sobre sexo... – a madama se justificou - Eu lhe mostrei a rosa. 

Tsunade estendeu o braço e aproximou a rosa que tinha em mãos do rosto de Sakura.

- Assim é o amor dos homens: lindo e frágil. Eles são impassíveis de permanecer fiéis ao sentimento. O amor de um homem traz consigo tantos espinhos que lastimam o coração das mulheres fazendo-as produzir o orvalho que molha as pétalas tão delicadas da relação.

Sakura buscava traduzir as metáforas de Tsunade. Segundo a concepção da madama o amor dos homens era lindo, mas fraco demais para existir por muito tempo; e as mulheres lhe sobravam as lágrimas.

- Eu só queria que alguém me amasse de verdade – Sakura confessou num suspiro.

- É isso que nossa alma feminina pede, mas não podemos nos deixar levar por nossos sentimentos. As mulheres que põe o coração na frente da razão terminam chorando eternamente por amores perdidos.

- Como posso ocultar meus sentimentos?

- Seja como a percanta (garota) do tango que dançou com Sasuke. 

- La Cumparsita.

- Sim, seja você “La cumparsita”, aquela que se oculta sobre uma mascara em meio ao baile da Comparsa.

Sakura voltou a virar-se de costas e viu seu reflexo no espelho.

- Ser “la cumparsita”

- Isso mesmo. Dê aos homens o que eles querem e com isso consiga o que quer: jóias, belos vestidos, posição social, tudo o que quiser.

- Não vale viver uma vida sem sentimentos.

- Abra os olhos, Sakura! Você está no mundo real, aqui não se sobrevive só de sonhos. Não é porque o homem que você um dia amou voltou dizendo que seus sentimentos por ele são recíprocos que você deve se deixar vencer pelo coração.

Sakura fez menção de retrucar algo, mas as palavras não saíram por sua boca. Tsunade continuou.

- Ele já a deixou uma vez, e poderá fazê-lo novamente... Agora volte lá para baixo e exiba-se para os clientes, deixe que eles se encantem por sua sensualidade e esqueça desse pato (pobre) nos braços de outro.  Não seja aquela que espera, seja esperada!

Tsunade girou os calcanhares e saiu deixando Sakura entregue ao vazio do quarto e aos ruídos que vinham da parte de baixo do salão onde um tango de letra melosa soava. A garota sentou-se na beira da cama, agarrou a rosa que estava sobre os lençóis e aproximando-a do peito ficou escutando o tango que tocava na milonga que àquela hora fervilhava.

El dia que me quieras

O dia que me queiras

La rosa que engalana

A rosa que engalana

Se vestirá de fiesta

Se vestirá de festa

Con su mejor color

Com sua melhor cor

Y al viento las campanas

E o vento nos sinos

Dirán que ya eres mía

Dirão que já és minha

Y locas las fontanas

E loucas as fontes

Se contarán su amor

Contarão seu amor.

[El día que me queiras – Luis Miguel]


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Notas finais do capítulo

nota da autora: Tsunade tenta mostrar a Sakura que a melhor coisa que ela pode fazer é esquecer seu amor por Sasuke, porém a garota é resistente em aceitar que a coisa certa a fazer é ignorar seus sentimentos.


Espero que estejam gostando!

Agurado reviews!!!



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