—Eu volto pela tarde.
—Eu sei que não. —Sakura observou Sasuke, uma sombra silenciosa, colocar a camiseta enquanto ainda se mantinha sentado na cama. Os anos haviam feito bem ao corpo dele: as cicatrizes de batalha tinham tomado formas escurecidas agora, ao invés do vermelho que mantinham quando eram mais jovens, e os músculos que antes se apresentavam estáveis na forma franzina de adolescente tinham, finalmente, dado à ele a aparência de um homem adulto.
—Sakura, eu…
—Você não precisa se justificar. —Ela comentou, sentando-se também, encarando as costas cobertas pela camiseta de um tom cinza-escuro. —Eu sei que ainda não confiam em você.
Apenas Naruto confiava nele, se fossem encarar a verdade fria. Sakura não poderia julgar os outros amigos. Sabia o quanto Naruto e sua natureza bondosa estavam errados, e que Sasuke, irreverente e imprevisível, não era digno de dúvida quanto à possibilidade de deixar a vila de novo. Então, eles faziam aquilo; se encontravam de vez em quando, esporadicamente, se entregavam nos corpos um do outro e Sasuke permitia à ela e a si mesmo fazer juras que ambos sabiam estarem fadadas a jamais serem cumpridas.
Tinham 21. Eram adultos, tinham suas vidas, seus trabalhos, deveriam ser responsáveis ao invés de impulsivos como estavam sendo. A Haruno, mais do que tudo, não hesitava em admitir seu erro - e estar ligada a Sasuke àquela altura talvez parecesse absurdo, principalmente quando se tinha o entendimento de que ele pudesse não ser capaz de dar à eles a vida que a mulher pensava que mereciam. Depois de tanta dor, tantos anos de luta, não parecia justo que devesse enfrentar mais uma, principalmente se tratando deles dois.
Sasuke se levantou, buscando pelo chão as sandálias que tinham sido jogadas de qualquer maneira na noite anterior. Ele não era idiota: sabia que, em algum momento, teria de se estabelecer ali, teria de se comprometer com ela, oficializar de alguma forma aquele relacionamento configurado de maneira quase insustentável. Mas era insuportável ficar agora, quando todos ainda lançavam à ele olhares tortos de desconfiança justificada por anos de ódio e vingança.
—Eu queria que você pudesse ficar. —Sakura murmurou, alisando o cobertor sobre a cama com uma das mãos. A estampa florida, que alternava entre pétalas rosas e azuis num fundo branco, parecia adequada às duas pessoas presentes na quarto. Havia uma pontada de mágoa na voz dela: se dele ou de si mesma, não saberia dizer.
Sakura jamais assumiria que as palavras guardadas em sua garganta eram, na verdade, "eu gostaria que você tivesse coragem de ficar".