Eu já havia pensado em três nomes: Megan Jones, Nico Di Angelo e Annabeth Chase. Agora restavam três. Percorri o acampamento todo naquela mesma tarde, observando todos e criando uma lista de possibilidades mentalmente. Fui até a beirada do lago de canoagem e achei dois nomes. Uma menina e um menino lutavam ferozmente. Os dois eram muito bons. Apenas quando pararam de lutar que tive chance de conversar. Descobri que a garota se chamava Bailey Carew e era filha de Ares e o garoto, Devon Smith, era filho de Apolo. Os dois concordaram em participar da missão e comecei a procura do último nome.

     Depois de procurar pelo acampamento todo, resolvi deixar a busca para o dia seguinte. Estava muito cansado para treinar, então fui para meu chalé. Precisava pensar. Primeiro, pensar em como iria falar com Annabeth durante a missão. Segundo, tinha que descobrir quem eram aquelas duas pessoas do sonho. Depois de um tempo tentando responder essas e várias outras perguntas, descobri que ficar deitado na cama não resolveria minha situação e fui procurar algum de meus amigos. Estava caminhando na direção do lago de canoagem quando uma flecha passou zunindo pela minha orelha e atingiu o chão. Então percebi que era uma flecha prateada. Me virei e vi uma garota de jaqueta prateada e camisa preta.

       ̶ Thalia?O que você faz aqui? ̶ perguntei, com uma expressão de surpresa.

       ̶ Olá, Percy. Ontem à noite o arco de lady Ártemis foi roubado e ela perdeu seus poderes. Então, pediu as caçadoras para que viessem aqui. Ela acha que o acampamento é o lugar mais seguro para se estar agora. De qualquer jeito queria ver como estavam se saindo os novatos e conversar com Annabeth. Também soube que você está procurando meio-sangues para partir em uma missão. E já aviso que eu não vou. ̶ disse Thalia, um pouco irritada.

       ̶ Está bem. Mas de qualquer jeito, só falta um meio-sangue. E queria escolher um novato.

       ̶ Entendo. Preciso ir, Percy. Até mais.

       ̶ Espere! Pode me fazer um favor?Se... se você encontrar Annabeth...pode dizer que preciso conversar com ela? ̶ eu disse, um pouco inseguro.

       ̶ Hã... está bem. Direi a ela para te procurar.

      E assim Thalia se foi. Comecei a pensar em Annabeth. Queria tanto falar com ela... e pensar que meu pai havia me proibido. Saí andando sem rumo, até que pisei em buraco e caí. O buraco devia ter pelo menos três metros de profundidade e deviam caber no mínimo sete pessoas ali. Comecei a gritar por ajuda e um menino apareceu.

       ̶ Ei!Você consegue me tirar daqui? ̶ gritei para o menino.

       ̶ Me desculpe!Era só um teste! ̶ ele gritou de volta, apresentando um sotaque árabe ̶ vou pegar uma corda!

      Esperei alguns minutos e o garoto voltou e jogou a corda para que eu subisse. Subi com alguma dificuldade, pois não estava com muita disposição.

       ̶ Obrigado. Hã... porque você colocou essa armadilha aí? ̶ eu disse, ao sair do buraco.

       ̶ Espalhei algumas pelo acampamento para testá-las. Sou muito bom em tramar armadilhas de todos os tipos. Me chamo Jamal Ambani. Sou filho de Hefesto. E você? ̶ sorriu ele.

       ̶ Meu nome é Percy Jackson. Sou filho de Poseidon. Prazer em conhecê-lo, Jamal.

     ̶ Igualmente, Percy. Gostaria de treinar um pouco?

     Embora não estivesse com muita disposição, disse que sim, pois queria descobrir um pouco mais sobre Jamal. Talvez ele fosse útil na missão. No final do treinamento, já havíamos combinado que ele iria conosco. Suas armadilhas eram realmente boas e ele lutava bem. Senti que um enorme peso estava sendo retirado de meus ombros e fui para a casa grande falar com Quíron. Concordamos que deveríamos partir o mais cedo possível na manhã seguinte. Avisei aos campistas que iriam participar, menos a Annabeth. Se falasse com ela meu pai não iria ficar feliz. Mas, afinal, precisava dela. Certamente que Poseidon iria deixar eu falar com ela se fosse um assunto da missão. Ao pensar nisso corri até a praia. Tinha que chamar o deus. 

       Fui para a beira do mar e concentrei todos os meus pensamentos em meu pai. Na minha cabeça vieram imagens de todas as nossas conversas e todas as vezes em que o vi. Então comecei a pensar em Annabeth e senti alguém segurando meu braço. Abri os olhos e vi que um homem de terno azul estava parado em minha frente, com uma expressão séria.

        ̶ Percy, porque você me chamou aqui?Estava a caminho de uma reunião importante no Olimpo­ ̶ disse Poseidon.

        ̶ Preciso falar com você. Vou ter que levar Annabeth na missão para resgatar a lira e o arco e terei de falar com ela. Mas preciso de sua permissão ̶ eu disse, preocupado de que meu pai não concordaria comigo.

        ̶ Pois bem. Mas você só poderá falar com ela enquanto estiverem fora do acampamento, na missão. Estou de olho em você, meu filho ̶ disse o deus, não muito convencido de meu argumento.

       ̶ Obrigado, pai ̶ eu disse, me animando completamente

      Assim que Poseidon se foi, saí correndo para encontrar Annabeth. Corri tanto que não vi para onde estava indo e acabei trombando em alguém e caindo no chão. Annabeth estendeu sua mão para que eu me levantasse e assim que o fiz saiu correndo.

       ̶ Annabeth! Preciso falar com você! ̶ gritei, tentando alcançá-la.

      Assim que ouviu minha voz ela parou e se virou.

       ̶ Achei que você não podia mais falar comigo ̶ disse Annabeth, ligeiramente irritada.

       ̶ Eu sei, mas preciso de você na missão. E meu pai permitiu que eu falasse com você enquanto não estivermos no acampamento ̶ eu disse, esperando que ela se acalmasse.

       ̶ Está bem. Irei participar da missão ̶ disse ela, sorrindo um pouco.

       ̶ Ótimo. Hoje à noite faremos uma reunião na casa grande para conversarmos. Será às oito horas.

       ̶ Estarei lá. Foi bom falar com você, Percy ̶ disse Annabeth.

       ̶ Bom falar com você também, Annabeth ̶ eu disse, sorrindo como nunca havia sorrido.

      Depois da breve conversa, saí andando sem rumo até me deparar com Nico, que acabava de sair de seu chalé, com um grande sorriso no rosto.

        ̶ Qual o motivo desse sorriso? ̶ perguntei.

        ̶ Hã...nada ̶ respondeu ele, tirando o sorriso do rosto.

        ̶ Está bem, então. Não se esqueça da reunião na casa grande. Será ás oito horas.

        ̶ Não me esquecerei, mas talvez vou me atrasar ̶ ele disse, um pouco nervoso.

        ̶ Não faz mal. Até mais tarde ̶ eu disse, sorrindo.

        ̶ Até ̶ disse Nico, continuando a caminhar.

       Também continuei a andar e fiquei andando pelo acampamento até o final do dia, pensando na missão, em quem poderiam ser as duas pessoas do sonho e porque Nico sorria daquele jeito.