Bloody Bones escrita por Bea


Capítulo 19
Capítulo 19




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Hodgins precisava de uns conselhos psicológicos, mas seu psicólogo estava desmaiado poucos metros à sua frente. O etimologista também tinha à sua frente um ex-agente do FBI que gritava, segurando a garganta, como se alguém estivesse acabado de beber um copo de água fervendo. A mulher grávida sobre a cama espalhava palavras que seu amado muito provavelmente não ouviria. Já vira muitas coisas que o fez enjoar, desmaiar, ficar com medo... mas nada que envolvesse tudo isso de uma vez. As coisas começaram a se mexer sozinhas e Hodgins teve que se apoiar contra a porta.

Booth então parara de gritar, parecia querer falar alguma coisa, mas nada saia. Se ajoelhou ao lado de Sweets e virou o rosto do jovem psicólogo para cima.

- Ele es-es-tá mor-r-to? - Gaguejou Hodgins.

- Não. - Respondeu Brennan, se inclinando para olhar Booth enquando Hodgins se abaixava ao lado de Booth pegando o pulso de Sweets.

- Ele não tem pulso.

- É a transformação... - Booth sussurrou. - Eu... eu...

- Booth, ele queria. - Hodgins tentou consolar.

- Eleachava que queria. Não, ninguém pode querer isso...

- Agora não há mais volta. - Foi Brennan quem falou - Booth, você injetou veneno suficiente?

- Sim, tenho certeza... Mas ele deveria estar... Deu, está acordando.

Sweets piscou os olhos e viu tudo embaçado. Piscou novamente e as únicas cores que via eram preto, branco e grande destaque ao vermelho. Fechou os olhos novamente e respirou fundo. Sentia seu sangue, ou o pouco que restou, arder pelo corpo inteiro, então gritou.

- Ele precisa beber!

Sweets reconheceu a voz de Brennan. Houve passos e barulho, depois algo derramou pela sua boca. Tinha o melhor gosto que já provou na vida. Não havia nada semelhante ou passível de uma mínima comparação. Simplesmente queria mais quando acabou. Abriu os olhos e as cores aos poucos voltavam, mas o vermelho se destacava ainda. Tentou falar alguma coisa, mas apenas saíram alguns ruídos.

- Acho que precisa de mais. - Dessa vez foi Hodgins.

- Metade da dose, não queremos ele muito viciado nisso.

"Esqueça". Pensou Sweets, e esse foi seu primeiro pensamento na nova vida. Mais do líquido perfeito desceu pela sua boca. Agora as outras cores ganharam destaque, mas o vermelho ainda tinha superioridade.

- Tudo bem? - Brennan perguntou.

Alguém ajudou ele a se sentar e depois a se levantar, só então notou que esse alguém era Booth.

- Você conseguiu. - Sweets falou meio falhado, depois limpou a garganta. - Parabéns.

- Seu sangue é horrível.

- Obrigado.

- Hey. - Hodgins pôs a mão no ombro dele. - Como se sente?

- Bem. Aquela coisa que vocês me deram era ótimo, o que era?

- Algo que se depender de mim você nunca mais vai beber. - Booth falou e depois indicou à mão de Hodgins, que estavam sujas com sangue. - Seja bem-vindo à nossa vida, ou seja, você não tem mais uma.

- Sweets reagiu bem... - Comentou Brennan com Booth quando todos já tinham ido.

- Ele ainda não sentiu as mudanças de verdade. E mesmo que se sentisse mal, ele não deixaria transparecer, iria fazer que que nos sentíssemos culpados.

- Mas você se sente culpado.

- É claro! Sangue é bom, é gostoso, a sensação de estar sugando o sangue de alguém é incomparável... Mas é um preço grande. Você é obrigado a matar pessoas, você está aqui e sabe como é ficar tomando sangue pelo canudinho, não é a mesma coisa. E nós temos um ao outro, se um de nós se alimenta, poderemos os dois viver tranquilamente por alguns dias. Brennan... condenei ele...

Brennan ficou em silêncio. Não iria discordar, pois estaria mentindo, mas também não iria concordar, pois isso machucaria Booth, apesar de tudo.

- Brennan...

- Seeley.

- Bones.

- Shoes.

Os dois riram. Riram até o ar faltar nos pulmões e não conseguirem mais falar. Brennan deitou-se na cama exausta e com o pulmão pedindo por ar. Booth sentou ao seu lado e segurou sua mão.

- Temperance Brennan? - Ele esperou até que ela olhasse para ele para então continuar - Tantas barreiras nós já ultrapassamos, acho que nós vamos passar por essa. Não, eu tenho certeza. E a partir do momento em que nós sairmos daqui, quero que sejas minha esposa.

- Booth...

- Por favor, só me diga se aceita ou não.

Ela olhou para ele analisando a situação. Mais da metade de si dizia que era loucura. A metade que sobrou, ligeiramente mais sincera, dizia que tudo aquilo já era uma loucura sim, mas firmar os laços de matrimônio na frente de um juiz seria um ato normal.

- Você me ama? - Ele pergunta, interrompendo a análise de Brennan.

- Claro que amo.

- Então...

- Então eu aceito.

Um sorriso explodiu no rosto de Booth. Ele se levantou e a cada dois passos longos, mudava de direção. Mal continha a ansiedade. Então parou e sentou-se novamente. Levou a mão ao bolso e tirou um anel ali guardado.

- Aqui.

Booth pegou a mão de Brennan e pôs a aliança, depois levou aos lábios e beijou suavemente os dedos dela.

Sweets estava sentado na maca onde pouco antes estava Logan. Estava tão imóvel que o barulho da sua respiração era imperceptível. Este fato, porém, não passava imperceptível a Hodgins.

- Você está bem?

- Melhor que nunca. - Sweets girou o rosto do precisão -Você está bem?

- Acho que sim... isso tudo só é diferente do que eu imaginava...

- Sabe o que é mais interessante? - Sweets trocou de lado na maca - É que apesar de eu ver tudo normal e colorido, as cores quentes se destacam. O vermelho, as pessoas. É o sangue.

- Deve ser algum efeito colateral.

- Você ainda não acredita em vampiros?

- Não. E você?

- Você acabou de perguntar isso para um, caro amigo. Os dois se encararam em silêncio. Hodgins foi quem falou primeiro.

- Daqui a meia hora posso iniciar o procedimento. Está pronto?

- Claro.

- Sabe... Aquela vez que a coveira enterrou a mim a Brennan, nós escrevemos uma carta de despedida... Caso não desse tempo... Você nem estava conosco ainda... - Estamos falando da Coveira, sei tudo que se deve saber sobre ela.

- Então... Talvez você deva fazer uma...

- É, talvez... Isso parece suicídio.

-É suicídio, caro amigo.

Booth estava com fome, fome de comidanormal. Caminhou tranquilamente e sorridentemente até a cozinha mais próxima. Abriu um armário e achou um pacote de bolachas de chocolate. Não era muito fã, mas era o suficiente. Seu olfato em poucos segundos denunciou o aproximação de Sweets. Booth aguardou olhando para a porta.

- Booth.

- Sweets.

- Está bem?

- Estou, e você.

- Melhor do que nunca.

Booth ri. - Não sabe o que está dizendo.

- Isso não me parece muito ruim.

 - E não é por que você está bem alimentadinho. Quando a imagem começar a ficar anos 50, ah, daí você precisa ver o quanto é bom você ter que se segurar para não matar um paciente seu.

- Mas não vou chegar a esse ponto. Amanhã estaremos livres.

- Você tem uma chance Sweets. Se submetendo a isso é tudo ou nada. Se você tentar conviver, você poderá ter uma semi-vida, terrível, mas uma vida.

- Booth, não adianta, eu vou fazer isso.

Booth soltou o ar e começou a mastigar uma bolacha.

- Booth, Hodgins estava me dizendo que ele e Brennan escreveram uma carta de despedida quando a Coveira enterrou eles. Você sabia disso?

- Não... eu... Bones escreveu uma carta de despedida?

- Ela e Hodgins.

Booth olhou para baixo pensativo, com uma curiosidade grande o corroendo por dentro. Houve um toque de telefone ao longe. Os dois aguardaram e então o da cozinha toca. Booth atende.

- Booth.

- Sweets está por aí? - Era Brennan.

- Está sim.

- Hodgins está procurando por ele.

- Nós já estamos indo. Ele está aí?

- No laboratório.

- Certo.

Booth desligou o telefone e guardou o pacote de bolachas no lugar onde estava antes.

- Está na hora.

- Certo.. então... - Sweets tirou uma folha do bolso interno do paletó - Guarde com você.

- Não acha melhor deixar aí, e... você sabe...

- Bem... - Sweets analisou a folha dobrada nas mãos - Tudo bem. Está aqui, certo?

- Certo. Vamos?

Brennan estava novamente sozinha no seu quarto. Olhava para as paredes claras de MDF que nem chegavam a encostar no teto. Parecia que nunca sairia dali. Parecia impossível que apenas há alguns meses estava com Booth na Europa e que talvez dali há alguns meses estaria casada com Booth e criando o filho - ou filha de acordo com Booth - deles.

A mansão estava em um profundo silêncio. Os suaves ruídos dos aparelhos já era uma coisa que Brennan ignorava. Se via em silêncio. Passou suavemente os dedos pelos pontos ainda não cicatrizados na barriga diversas vezes. Ficou fazendo isso por meia hora, talvez. Então sentiu algo puxando sua barriga, uma pequena picada. Depois a ardência. Era agradável no começo, mas depois começou a aumentar e parecia que água fervendo estava percorrendo seu corpo ao invés de sangue. Ela já tinha sentido isso antes. Seus olhos se encheram de lágrimas e uma sede a tomou, mas era insuportável. Era sua pior sede elevada em uma potência incontável. Brennan não conseguia gritar. Inclinou-se para frente e sua vista vacilou, em seguida sua consciência também resolveu abandoná-la.

Foi Booth quem escutou o barulho que Brennan causou com sua queda. Ele correu o mais rápido que pode, tirando tudo que tinha a sua frente, pisando em tudo que era obstáculo, mas nada foi o bastante para que ele chegasse a tempo de poupar Brennan de sua queda. A antropóloga estava ao chão. Nada mais a ligava às máquinas, tudo havia se partido. Tinha muito sangue por todo corpo dela, divididos entre os próprios machucados e os respingos deles. Booth não tinha tempo para verificar isso, precisava salvá-la. Ele pegou o corpo de Brennan nos braços e assim levou-a até onde estava antes, na parte de Hodgins do laboratório.

Hodgins estava sentado em uma mesa olhando fixamente para um ponto numa amostra de sangue através de um microscópio.

- O que aconteceu? - Ele perguntou para o fato de Booth ter saído correndo da sala. Então ele vê Brennan e repete a pergunta - O que aconteceu?!

- Ela estava no chão, sem mais nada. - Booth a pôs sobre uma maca ao lado da de Sweets - Ela está viva ainda. Consigo ouvir a respiração dela.

Hodgins foi até a mulher, sem muito saber o que fazer. Examinou seu corpo e a gravidade dos ferimentos.

- Ela vai ficar bem, acho.

- Ele andou até um armário e pegou um pequeno quite de equipamentos - Booth, só não sei sobre a criança...

- Você quer dizer Bones ou a criança?

- Não, não há uma escolha.

- Ele trocou os luvas por novas e começou a pegar os instrumentos

- Vamos ter retirar a criança, esta não é uma escolha. Creio que se ficar assim, os dois corpos não irão resistir.

- Vocêcrê? Estamos de vidas aqui!

- Da próxima vez, pede ajuda para um amigo médico! Eu sou só um etimologista.

Booth urrou e empurrou a maca de Sweets que deslizou alguns metros até encosta na parede. Um braço pendeu com o impacto e Booth ficou alguns segundo observando a imagem.

- Hodgins?

- Booth, estou ocupado no momento, se puder sair...

- Sweets não tem batimentos cardíacos.

- Er... - Hodgins olhou para Booth e prendeu a respiração por alguns segundos - Eu ia te falar isso...

- Eletambém morreu?

- Não sei lhe dizer, acho que é efeito do antídoto.

- Brennan morrer, não há mais motivos para eu ficar aqui.

- Booth...

Booth não respondeu, apenas botou as mãos, que ainda estavam sujas de sangue, nos bolsos e caminhou para fora do laboratório, sem impedir uma de suas tantas lágrimas de desespero.


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