A Lenda da Lua escrita por Paola_B_B


Capítulo 74
Capítulo 21 - Eu sou o destino (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Vamos a mais uma parte do capítulo ;)



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POV Alice

A ideia que veio no maravilhoso aniversário de Bruninha ganhava forças em minha cabecinha. Iria abrir uma empresa de cerimonial. Precisaria de bons funcionários, fornecedores de confiança, um espaço para conversar com clientes, fotos das festas que eu produzi... Ah! Vai ser tão legal! Acho que vou fazer um curso de logística! 

Se bem que se for tão bem sucedida como sempre fui, serei um sucesso! 

Afinal, depois de quase duas semanas não se falava em outra coisa que não fosse o aniversário da princesa Bruna. A decoração saiu em diversas revistas, assim como os vestidos da família que foram perfeitamente escolhidos por mim e reformados pela minha pessoa também! Claro que Rose e Esme me deram uma mão...

A repercussão do duelo entre Otelo e Peter foi gigantesca e Daniel contou com alegria o fato para alguns jornalistas. Os humanos adoravam tudo aquilo, se viam em outra época. Eu os entendia, era muito legal! E esse tal de Otelo... Depois da luta ele simplesmente sumiu. Parece que conversou rapidamente com Dan, mas então Pufh! 

Concentrei-me em seu futuro. Logo a sua imagem no meio de uma clareira me veio a mente. Ele estava com sua espada e treinava sozinho alguns movimentos de luta que mais pareciam uma dança. 

Voltei à realidade e ao meu sonho que em breve iria se realizar. Talvez eu devesse dar uma nota para uma revista famosa dizendo que eu entraria no negócio.

- Meu Deus Alice! - reclamou Ed dos meus pensamentos. 

Lhe mandei a língua. Os incomodados que se retirem! 

- E o que farei, pentelha! - disse prepotente se retirando da sala onde eu estava deitada no colo de Jasper.

Mas antes que eu o visse sair uma visão me fez estancar. 

OH MEU DEUS! 

POV Bella

Charlie me fazia companhia no refeitório. Veio buscar Lara que saía mais cedo hoje, os dois iriam visitar os pais dela que moravam em outra cidade. Há algum tempo atrás papai foi conhecer os sogros o que foi motivo de piada por muito tempo dentro da família.

Pouco a pouco os outros professores chegavam a mesa e os alunos lotavam o refeitório. 

- Vou esperá-la almoçar e vamos em seguida. - respondeu Charlie após eu perguntar que horas eles viajariam.  

- Os pais dela te encaram bem?

- Bem até demais. Mas são sinceros quando dizem que não se importam por eu ser vampiro. Como médico eu diria que eles precisam de uma tomografia urgente. 

Ri de sua cara emburrada. 

- Porque quer que te odeiem? Tem que começar a se aceitar papai, eu sei que sua história foi dura, mas não deve se odiar pelo que você é. - disse séria. 

- Odeio a pequena semelhança que existe entre eu e Aro, mesmo que seja de espécie. 

- Isso é absurdo Charlie! James era um crápula e por isso vou me odiar por ser da mesma espécie?

- É diferente. - fez uma careta.

Revirei meus olhos.

- Nem você acredita nisso. - constatei e ele nada disse.

Tomei um gole do meu suco observando os alunos rindo e conversando de maneira animada. 

- Caos tem aparecido? - perguntou Charlie acabando com a paz que eu estava sentindo. 

Suspirei e voltei meu olhar para ele. 

- As vezes sinto sua presença silenciosa dentro da minha cabeça... Mas desde que Jane ameaçou Nessie ela não se pronunciou mais. 

- Não é só isso... - percebeu ele.

- Não. Na verdade tenho tido uns pesadelos... São reais demais. Acho que são memórias dela. Mas logo Edward me acorda. - dei um meio sorriso. 

- Lara está demorando. - murmurou ele olhando para a entrada do refeitório. 

Meu telefone tocou. 

- Bella! Vampira! Carro! Lara! - Alice berrava no telefone. 

Charlie tinha os olhos esbugalhados. No mesmo instante ouvimos o barulho de lataria se arrastando no concreto. 

Senti minha espinha gelar e corri para fora seguindo Charlie que paralisou ao avistar a cena. 

O cheiro de sangue invadiu minhas narinas. 

Meu coração batia forte com o nervosismo. Oh Não! Charlie ficará péssimo. 

- Lara! - meu pai estava desesperado quando correu para perto das ferragens. 

O carro estava contorcido e imprensava Lara a outro carro. O sangue pingava na rua e seu coração batia cada vez mais fraco. 

- Não se mexa! - ordenou Charlie com a voz trêmula, só então percebi que ela estava consciente. 

A minha volta o som de burburinhos se tornava alto. 

Corri até meu pai. Seu desespero era eminente. 

- Não posso tirar o carro, ela não vai aguentar até chegarmos ao hospital, mesmo que eu corra a toda a velocidade. - murmurava ele. 

- Charlie. Se acalme, vamos salvá-la. - disse firme, porém eu não tinha completa certeza. 

Eu queria salvá-la, mas as circunstâncias me apontavam o contrário. Meu pai me olhou com dor. Ele sentiu minha mentira, infelizmente. 

- Tem que haver um jeito. - disse olhando para os ferimentos de minha madrasta. 

- Desculpem! Não houve tempo. Alice teve a visão com apenas segundos de diferença. - disse Edward que acabara de chegar. 

Olhei-o com lágrimas nos olhos e então voltei meu olhar para meu pai que segurava as mãos de Lara com delicadeza. Seus olhos estavam fechando. 

- Transforme-a. - Edward foi firme. 

- Carlisle já deve estar chegando com a ambulância. - murmurou meu pai sem tirar os olhos desesperados de sua namorada. 

- Não há tempo. - sussurrei. - Transforme-a Charlie, ela é sua companheira. 

Charlie me olhou furioso.

- Não vou condená-la! - rugiu me fazendo dar um passo para trás. 

Sua dor era enorme.

Senti um toque delicado de Edward em meu ombro antes dele se aproximar de Charlie. 

- Eu entendo seus pensamentos Charlie, mas era o que ela queria. Se não transformá-la ela irá morrer. Alice viu. 

- Quando ela se for, irá para um lugar bom, ela merece ir para um lugar bom. - disse ele firme. 

- Eu tenho certeza que ela iria para um lugar ótimo, mas e quanto a você?! - perguntei com dor em minha garganta de tanto segurar o choro. 

- Eu a amo. Não vou prendê-la a mim, não vou condená-la. Não serei egoísta. - respondeu firme. 

Eu não compartilhava do seu sentimento, eu não sabia o que era o amor. A única coisa que entendo é a paixão. Em minha cabeça eu louvava sua atitude, em meu coração eu não podia conceber. 

- Você não vai aguentar perdê-la novamente Charlie. E sua atitude está sendo muito mais egoísta do que transformá-la. Ela queria.   Ela queria viver com você pela eternidade. Não tire dela a sua escolha. 

- Você também não transformaria Bernardo. - rebateu Charlie, percebi seus olhos correndo de um lado para o outro, ele estava começando a se convencer.

-É verdade, eu não o transformaria, mas existem casos e casos. Como foi o meu, como foi o de minha família. É o destino de Lara, Charlie. Você não a encontraria novamente se não fosse para ela continuar com você. Não enxerga? Se deixá-la morrer, ela vai voltar daqui anos, te encontrará novamente e será vítima de mais uma morte, até que você decida por sua vida. 

Finalmente Charlie olhou para Lara, seu desespero era ainda maior. Sua expressão era assustada enquanto fitava o rosto da namorada. Ela o fitava com amor, com a luz de sua vida prestes a se apagar. Nossa discussão não durou mais que dois minutos. 

- Bella, pode segurar os ferimentos enquanto eu puxo o carro? - perguntou meu vampiro. 

Assenti e usei meus poderes. Edward foi até o carro e o puxou. A ferragem fez um barulho estridente até que Lara caía nos braços de meu pai que a colocou sobre seu colo. 

Com meu poder mantive a pressão que o carro fazia, já que alguma artéria poderia ter sido rompida e aquilo que a matava poderia estar mantendo sua vida. 

- Ela não vai aguentar por muito mais tempo. Transforme-a. - disse. 

Meu pai estava desolado. 

- Charlie. - chamou Edward impaciente. - Charlie! Transforme-a! 

- Não sei se consigo. - disse ele olhando para Edward como uma criança perdida. 

Me cortava o coração vê-lo daquela maneira. 

- Eu vou ajudá-lo. Se não conseguir parar...

- Me tire de cima dela. - completou meu pai voltando seu olhar para a amada. - Me desculpe... - sussurrou e então sem mais delongas abocanhou seu pulso. 

O coração de Lara parou de bater no mesmo instante Charlie tirou os dentes do pulso da amada. 

Ficamos olhando para a jovem nos braços do vampiro. A respiração presa, o coração batendo forte em expectativa, até que como o bater de asas de um pássaro o coração inerte voltou a bater.

Soltei o ar aliviada. 

- Porque ela não está gritando? - perguntou Charlie olhando-a com contemplação. - Realmente deu certo? - acariciou seu rosto. 

Edward se aproximou, mas recebeu um rosnado de advertência. Meu vampiro ergueu os braços em sinal de paz. 

- Tem que fechar seus ferimentos. - disse ele. - Bella, pode parar com a pressão. 

Fiz o que meu marido mandou. 

- Me responda rapaz. - Charlie não estava muito paciente.

Meu vampiro suspirou. 

- Ela está segurando. Agora leve-a para outro lugar. Não acredito que aguentará segurar por muito mais tempo. 

Charlie ergueu-se com Lara em seus braços e sumiu de nossas vistas. 

Olhei para Edward com meus olhos marejados. 

- Está tudo bem agora, meu anjo. - disse ele suavemente, mas eu conseguia visualizar a pequena ruga de preocupação em sua testa. - É melhor ligar para os pais de Lara, eles iam para lá hoje não é?

Assenti pegando o celular e me distanciando da multidão que se formara a para observar o "resgate". Muitos alunos choravam pelo que acontecera sua professora querida. 

POV Edward

Deus... Isso vai dar muita merda. Mas não adianta mais fugir. Adiamos o máximo de tempo possível. Não dá mais. 

- Tio Ed.

- Oi pequena. - dei um sorriso pequeno para os dois adolescentes em minha frente. 

- Como aquele carro foi parar ali? Não tem nenhum motorista. Como aconteceu o acidente? - perguntou confusa. 

Bruninha era esperta. 

- Não foi acidente pequena... Tentaram matar Lara. 

- O que?! - proferiu Bernardo com seus olhos arregalados. 

- Porque? - perguntou Bruna. 

- Para atingir seu avô. E o pior é que funcionou. Quando Charlie perceber que não foi acidente... 

- Não vai ser preciso ele perceber. - disse Jacob com Nessie em suas costas. - Alice acabou de me ligar, ela queria saber se estava tudo bem com Nessie. Ela falou com Dan a respeito do que acabou de acontecer, ele está furioso. 

- Quem não estaria? Ele tem Charlie como pai. - bufei. - Se tivessem feito isso com Carlisle ou Esme eu iria fazer um belo de um estrago. 

- Sim, mas antes precisamos saber quem era a vampira. - completou Jacob. 

- Que vampira? - perguntou Bella ao se aproximar. 

- A que apareceu na visão de Alice jogando o carro na direção de Lara. - expliquei.  

"Deixa eu ver." - pediu minha princesa por pensamento. 

Fiz o que ela pediu, apesar de não ajudar muito já que a vampira estava de costas. 

Ela franziu o cenho.

- Falou com os pais de Lara? - perguntei, Bella respondeu com um aceno positivo.

- Eles encararam bem, e agradeceram por transformá-la. 

Bem que Charlie dizia que os pais de Lara eram meio loucos... Quem em sã consciência agradece por transformar a filha em uma bebedora de sangue?

- Onde estão meus seguranças? - perguntou Bruninha de repente. 

- Está sem a proteção da guarda hoje pequena. E de alguma forma essa vampira sabia, pois se a guarda estivesse aqui ela não conseguiria chegar perto da escola. - explicou minha esposa. 

- Jacob, leve eles para casa... Vou rastrear essa vampira. - disse andando rumo ao carro arremessado. 

- Vou com você. 

Sorri para minha esposa, não adiantaria mesmo pedir para ela não ir. 

- Professora! - alguns alunos vieram até nós com lágrimas nos olhos. 

- O que vai acontecer com a professora Lara?

- Ela vai ficar bem. - respondeu Bella delicadamente. - Mas vocês não a verão por um bom período de tempo. Charlie teve que transformá-la. Então até que ela esteja controlada ela ficará longe. 

- Como o ex-diretor Joseph?

- Exatamente. Jake, fale com o diretor antes de ir para casa. - o lobo assentiu e foi em direção ao atual diretor. 

Deixei Bella acalmando seus alunos e fui até o carro. 

POV Bella

Dei tchau para meus alunos e segui Edward que andava rapidamente em direção a floresta a frente da escola. Acelerei meu passo  para ficar ao seu lado. Logo peguei o rastro. 

- Esse cheiro é familiar. - murmurei. 

- Você também achou? - não soou como pergunta. 

Seguimos o rastro por mais um tempo entre as árvores, havia uma árvore que estava com um cheiro mais forte. A vampira deveria ter se encostado ali para esperar um momento certo. 

- Não pode ser... - sussurrou meu vampiro me deixando confusa. 

- O que foi?

- Esse cheiro é de Zafrina, Bella.

- Quem?

- Foi graças a ela que eu fui capturado aquele dia. Ela tem o poder da ilusão. Me deixou enxergando o escuro até me levar para o cativeiro. Alice não pode ver para onde me levaram, pois ela se concentrava em mim e eu estava focado em seguir no escuro. 

- Mas todos os seguidores de Victória foram mortos...

- Eu nunca enxerguei seu rosto por algum motivo Bella, só conheço seu nome, pois escutei Line a chamando certa vez. 

- Mas você não a reconheceu na visão de Alice. 

- Porque ela estava de costas... Talvez eu conheça seu rosto... Talvez ela estivesse infiltrada no grupo de Victória e Line. 

- Ótimo! Como se já não tivéssemos inimigos suficiente. James, Victória, Line, os Volturi... E agora mais essa tal de Zafrina! 

Edward me olhou seriamente.

- Talvez não seja um novo inimigo meu anjo... Talvez seja o mesmo, só que escondido atrás de uma ilusão. 

Os Volturi sua idiota!

Ah não! Volta a ficar quietinha! 

Como posso ficar quieta quando você está tão distraída e não percebe o óbvio?!

Não é óbvio! Você que está falando! 

Não vou deixar Nessie em perigo! Muito menos Edward! Não vou perdê-lo novamente! 

Hey! Do que você está falando?

POV Edward

Bella ficou paralisada de repente. Deve ter entrado em choque. 

- Bella, tudo bem, vamos dar um jeito. - murmurei a abraçando.

Mas ela não retribuiu. Segurei seus braços e me afastei para olhar seu rosto. Seus olhos azuis estavam opacos. 

- Bella?! - a sacudi levemente, mas nada acontecia. 

- Ela não está em choque. - um voz grossa soou a cima. 

Olhei imediatamente na direção da voz. 

Era um homem vestido inteirinho de branco, seus pés descalços. Os cabelos negros eram curtos, os olhos castanhos, e um ar de sabedoria impregnado em suas feições preocupadas. Estava sentado sobre um galho de uma árvore. 

- Quem é você? - inquiri irritado ao perceber que não podia ler sua mente.

Eu nem havia o escutado chegar!

- Bella está em uma discussão interior.

- Quem é você?! 

Seus olhos que até agora estavam fixos em minha esposa vieram em minha direção. 

- Sou um velho amigo. - sua voz era calma ao contrário da minha. 

- Não me lembro de você. E acredite, a memória de um vampiro é quase perfeita. - ele sorriu mesmo que minhas palavras tenham sido ditas de maneira desdenhosa e hostil. 

- Posso ajudá-la. Você quer que eu a ajude? - era estranho o seu tom de voz, um misto de sabedoria com inocência. 

A questão era: como confiar em um cara que encontro por acaso em cima de uma árvore enquanto rastreio uma vampira que tentara matar a namorada de Charlie?

- Não precisa confiar, só estou perguntando se você quer que eu tire Bella da briga interna com Caos. 

- Como... Como leu a minha mente? Como sabe sobre Caos? - a confusão em minhas palavras era praticamente palpável.

- Posso ler sua mente do mesmo modo que você pode ler a mente de todos. - exceto de Bella. - Sim, exceto de Bella. E antes que pergunte eu posso bloqueá-lo da mesma maneira que sua esposa o bloqueia. Como sei sobre Caos? Bem... O que posso dizer é que eu sou o responsável por ela estar interferindo na vida de vocês. 

- Então tire Caos dela! Bella está sofrendo com isso. Anda tendo pesadelos. Ela pensa que ela e Caos são a mesma pessoa. 

Ele não disse nada, apenas ficou me olhando profundamente. Engoli em seco. 

- É verdade? É Bella a responsável pela migração dos lunares para a Lua? Ela foi a responsável pelo Caos que se alastrou na Terra nos tempos mais antigos? É dela que toda história referente a Lua diz respeito?

- Sim... Mas isso aconteceu em sua primeira vida. 

Assenti lentamente.

- Disse que podia ajudá-la. - ele assentiu e Bella cambaleou em meu peito. - Tudo bem, meu anjo?

- Acho que sim... - sussurrou levando a mão a cabeça. 

- Sua cabeça vai doer por um tempo. - o homem lhe chamou a atenção. 

- Quem é você?

- É o que eu estou tentando descobrir, mas ele ainda não me disse seu nome. - comentei. 

- E porque não posso ver sua alma? - perguntou Bella em seguida. 

- Você já a viu uma vez. 

Bella piscou analisado o homem que mantinha um sorriso calmo no rosto. 

- Sua voz... - sussurrou para si mesma e então arregalou os olhos. - Você é o homem que apareceu no dia da batalha contra Victória e Line... Foi você quem tirou Line de cena! Onde ela está agora? O que fez com ela?!

- Ela está bem, eu já cuidei de sua irmã. Ela finalmente compreendeu. Agora deixe Bella em seu corpo e pare de atormentá-la. - disse ele em um tom que estava longe de ser de ordem, era mais como uma proposta. 

Esse corpo também é meu! - bateu o pé como uma criança mimada. 

Aquele papo estava me deixando confuso. Que merda estava acontecendo?

- Sabe que não é verdade criança. Agora deixe-me conversar com Bella. 

Caos bufou e a expressão antes maliciosa e perigosa deu lugar a doçura de minha esposa. 

- Estou aqui. - sussurrou. - Agora pode explicar o que está acontecendo?

O homem pulou da árvore e ficou de frente para Bella. 

- Antes de contar a história de Caos vou lhe responder o que vem se perguntando por tanto tempo. Você e Caos possuem a mesma alma. 

Minha esposa assentiu lentamente. 

- O que não quer dizer que vocês duas sejam iguais. Caos recebeu esse apelido por tudo o que causou milhares de anos atrás, em uma época em que os humanos estavam começando a aparecer na Terra. 

"Ela nasceu em uma grande família, muitos irmãos e irmãs, pais amorosos, avós extremamente religiosos assim como seus bisavós, tataravós... Na época era muito comum famílias com 3 ou 4 gerações ainda vivas. A mortalidade apesar de mais alta do que a de hoje, não chegava a devastar gerações. Além do mais não existia a velhice. As vezes um duelo ou outro ocorria dentro da família, a honra era de extrema importância, portanto um dos combatentes sempre acabava morrendo. Algumas guerras territoriais também aconteciam." 

"Os tempos eram difíceis, a população de lunares crescia cada vez mais, a fome começava a enlouquecer e infelizmente não era incomum encontrar grupos invadindo vilarejos e roubando o pouco alimento que outras famílias conseguiram estocar. Lembrem-se que não existiam indústrias nem grandes latifúndios, ou seja, cada família era responsável pela produção de seu próprio alimento. Pensando nesse passado que percebo que a humanidade soube driblar esses antigos problemas. Não digo que os humanos são mais inteligentes, o que quero dizer é que o povo lunar não é só diferente biologicamente, mas também emotivamente. Lunares são intensos em relacionamentos, não só entre parceiros, mas também com sua família. E muitas vezes os "problemas emotivos" eram postos na frente das próprias necessidades biológicas."

Olhei para Bella entendendo perfeitamente o que o homem quis dizer. Quando eu estava em cativeiro minha esposa simplesmente esqueceu-se que tinha que comer. Ela só continuava vivendo por Nessie. 

 - Brigas entre vilas começaram em todo o mundo. O desespero pela fome era quase palpável, e o povo começava a perceber que tinha muita gente para pouca comida. Para piorar uma nova espécie surgia, uma espécie que se alimentava das mesmas coisas que os lunares. Os 12 governantes lunares não conseguiam conter as batalhas, a matança desvairada. Foram tempos de escuridão na Terra.

"Foi então que em uma dessas batalhas chegou a pequena vila em que Caos morava. O grupo que conquistava o território não teve piedade nem das crianças. As únicas sobreviventes da chacina foram Caos e sua irmã caçula Line. As duas fugiram para dentro da floresta. Sobreviviam a base de poucos frutos e água da chuva. Raramente encontravam algum animal para aplacar a fome. A maioria já estava extinta. Conforme as meninas foram crescendo foram percebendo o quão cruel o mundo tinha se tornado. Viram escondidas diversas vilas sendo devastadas, assim como a delas fora. O ódio foi crescendo em seus corações."

"Caos e Line continuavam a andar pelo mundo, nunca ficavam no mesmo lugar. Eram nômades em busca de alimento. Mas Caos não queria aquele futuro para sua irmã, sua única família que restara. Não foram poucas as vezes que não dormia a noite para buscar mais alimento. Quando a irmã acordava e se deparava com um roedor qualquer assando no espeto, tratava de contar uma mentira qualquer de como tinham sorte por um animal estar passando por ali."

"Em uma de suas buscas por alimento acabou se deparando com um grupo de três homens humanos. Curiosa em encontrar aquela nova espécie tão parecida com a sua ficou observando os seus movimentos. Eles começaram a brigar como gorilas depois de uma pedra brilhante ser vista no chão. Caos continuou a observar incrédula e seus pensamentos não puderam evitar a seguinte frase: São apenas animais! E como apenas animais eles serviriam muito bem de alimento. Ignorou seus avisos mentais de que os governantes disseram claramente que era proibida qualquer tipo de violência contra os humanos e que eles não eram alimentos."

"Quando a primeira gota de sangue tocou em sua língua ela não pode mais se controlar. Devorou os três humanos. Sentiu o poder correr em suas veias e com a mente já perturbada imaginou que os governantes não queriam que se alimentasse dos humanos, pois assim todo lunar teria o mesmo poder que eles. Pensou em caçar mais um para levar para sua irmã, porém sentiu-se ameaçada por alguém descobrir sua fonte de poder."

"O sangue e a carne humana alimentou o ódio e o egoísmo já existentes em seu coração. Com sua irmã em seu encalce começou a bolar planos contra aqueles que tanto lhe fizeram mal. Foi então que começou a construir sua fama. Em cada vila que chegava devastava toda vida existente. Alimentava sua irmã e partia para o próximo local. Não tinha pressa, aproveitava cada lugar. Muitos tentaram pará-la, porém apenas quando um governante interferiu ela não conseguiu resistir e ficou gravemente ferida. Neste dia foi descoberto seu segredo. Line a levou para longe e quando Caos se recuperou tratou de caçar mais humanos, precisava ficar mais forte que qualquer um pertencente as 12 famílias."

"Conseguiu seu objetivo e nem ao menos se deu conta dos séculos que se passaram e nem de como os humanos haviam evoluído. Em uma de suas caças acabou por encontrar um jovem pescando em um riacho. Com a boca salivando ficou o observando, mas lhe chamou a atenção o método utilizado por ele na pesca. Uma espécie de emaranhado de varetas de bambu que faziam uma barreira na pequena corredeira. Como uma rede fixa e de lá o homem tirava muitos peixes grandes. Porém devolvia ao rio as fêmeas e os filhotes: Se eu levar para a minha família os pequeninos ou as futuras mães, chegará um momento em que não haverá mais peixes. Disse ele de repente, ela nem tinha notado que tinha sido descoberta sentada sobre uma árvore."

"Caos ficou em silêncio apenas observando o trabalho do humano, quando ele tentava puxar assunto ela não respondia. Algo naquele homem a impedia de fazer-lhe qualquer mal. Quando ele se despediu ela nada disse. Voltou para junto de sua irmã e pela primeira vez não deu ouvidos a o que ela lhe dizia, aos planos loucos que lhe contava. Infelizmente Line repetira os passos da irmã ao se alimentar de humanos."

"As duas ficaram muito mais tempo do que normalmente ficavam em um lugar. A insistência de Caos começara a intrigar a irmã. Mas Caos estava apaixonada pelo humano sorridente e despreocupado. Ele a fazia questionar sua própria loucura, ele fazia com que Caos voltasse a ser aquela garotinha alegre que amava a família grande e barulhenta. Ele começou a mudá-la, mesmo que nunca realmente conversassem, mesmo que ele fizesse monólogos enquanto pescava."

"Quando Line descobriu o que tanto a irmã fazia durante as manhãs, a inquiriu perguntando o que estava afinal acontecendo com ela. Perguntou-lhe se havia esquecido do que acontecera com sua família e da promessa de vingança. Ao receber uma resposta negativa a mais nova fez com que Caos tomasse uma atitude e voltasse a ser quem era mesmo que no fundo se sentisse completamente infeliz com a sua decisão. As duas partiram e nunca o mundo ficou tão abalado. Magoada e confusa com seus sentimentos ela como um furacão interminável devastou muito mais que a fome e ficou conhecida como a encarnação do Caos."

"Os lunares estavam desesperados, a fome afinal havia acabado, mas se Caos continuasse no mesmo ritmo o povo seria extinto. Os humanos também estavam em perigo e guerreiros corajosos tentavam a enfrentar, nenhum conseguiu até a chegada do jovem. Caos paralisou após vê-lo depois de um ano com apenas memórias de seu rosto e seu sorriso torto. Ele conversou com ela, ou melhor, proferiu o seu monólogo habitual. Porém pela primeira vez ela lhe respondeu, com lágrimas escorrendo de seus olhos e palavras fervorosas dizendo-lhe o quanto sofreu e queria que todos sentissem o que ela havia sentido. O jovem também discutiu e com seu caráter incontestável, a fez enxergar do quão errada estava."

"As coisas se encaminhavam para o lado certo, porém Line chegou e a acusou de estar trocando sua família por um humano qualquer. A briga foi feia e Line acabou por matar o jovem, ela não percebeu que ao fazê-lo matou sua irmã junto. Não na forma propriamente dita, porém matou sua vontade de viver. De joelhos ao lado de seu amado, Caos matou sua própria irmã. Foi então que eu apareci."

POV Bella

Meu rosto estava molhado com as imagens que apareciam em minha mente. Caos chorava dentro de mim me fazendo chorar também. 

- O jovem era Edward não é? - perguntei com a voz rouca. 

Senti a mão de Edward apertar a minha. Olhei para o homem com meu coração devastado. 

- Sim era ele. Quando eu cheguei ao local fiz uma proposta para Caos. Dei a ela a escolha de renascer. Avisei-lhe que sua próxima vida não seria fácil. Ela deveria pagar por tudo o que fez. Perguntou-me se a perda de seu amado não era suficiente. Não, não era. Ela com uma última olhada para o jovem em seus braços disse que aceitava a minha proposta. Alguns minutos depois de eu levá-la, Carlisle apareceu e o transformou em vampiro. Porém sua memória foi apagada por mim.

- Então eu nasci?

- Não ainda. - respondeu ele. 

Funguei sem entender. 

- Eu não seria louco de colocar Caos em uma família de tanto poder. A história se repetiria. Coloquei-a em uma família humana. E por muitas vidas o fiz novamente. Infelizmente nas primeiras encarnações, mesmo não lembrando de quem ela realmente foi no passado, ela tendia a vingança. E cada ação negativa lhe trazia mais sofrimento. Mas o lado bom de tudo isso é que Caos começou a aprender. Tornou-se receptiva a bons sentimentos, tornou-se resignada aos seus sofrimentos e começou a pagar sua dividas. No momento certo a coloquei na família real da lua, foi então que você nasceu. 

"Deixem que eu lhes explique algo sobre vidas e almas. Cada pessoa tem a graça divina da vida, juntamente com o livre arbítrio. Ou seja, cada um vive a vida do jeito que quiser, mas ninguém deveria viver como se seus atos não tivessem consequências. Cada passo dado gera uma direção, se você pisa em alguém para seguir essa direção, mais na frente você sofrerá as consequências de seu ato.”

“Não existe castigo divino. Deus é muito superior ao sentimento da raiva ou de punição. Ele perdoa nossos erros, mas não pode nos proteger das consequências daquilo que nós mesmos causamos. Você Bella, ou melhor, sua alma, em sua primeira oportunidade de vida , seguiu um caminho errôneo mesmo que seus familiares tenham-lhe ensinado o certo e o errado como as leis dividas foram escritas, acabou por deturpar seu aprendizado e por mais sofrimentos que tenha passado não poderia ter feito o que fez. Sofreu por tantas vidas as consequências de seus primeiros atos, mas agora sua divida está paga.”

“Admito que colocá-la com tamanho poder me deixou apreensivo, mas eu tinha que, de certa forma, testá-la. Saber que por mais tentação que possuísse não iria se desvirtuar. Seus próprios passos levaram-na novamente ao seu antigo amado, o que me fez extremamente feliz, sabendo que ele não deixaria você seguir o caminho errado. Mas você ainda colhia as consequências dos seus antigos passos e aqueles que um dia sofreram em suas mãos sentiram o desejo de vingança e tudo deu no que deu.”

“Vocês dois passaram a encarnar como humanos, como almas afins que são viviam uma em busca da outra, mas os tantos outros que também encarnaram davam um jeito de mantê-los afastados. Isso não foi bom para nenhum dos dois, não fizeram grandes males para a sociedade em que viviam, porém nunca conseguiam a plena felicidade.”

“Meu motivo de existência é traçar caminhos justos, mas minha grande satisfação é a felicidade plena de cada alma. De modo que decidi dar-lhes o mesmo destino do que em suas primeiras vidas. Coloquei Edward para renascer e Bella com sua memória de princesa para cuidar-lhe como seu anjo. E quando o caminho de Carlisle cruzou novamente com o de Edward, a história se repetiu. Porém eu não poderia deixá-la como anjo da guarda. Meu objetivo era fazer com que se encontrassem novamente.”

Explicou o homem.

- Então mandou Bella e Daniel para o Brasil? – perguntou sem entender Edward.

- Exato. – sorriu. – Mas entenda que meu trabalho não é somente vocês dois, eu precisava que Daniel encontra-se sua esposa, os dois também possuem suas próprias histórias, seus próprios destinos, suas próprias dividas e suas próprias recompensas. Entendam que são muitas almas para somente eu construir caminhos e cruzá-los ao longo da história, de modo que para que uma história de certo eu tenha que adiar o final feliz de outra.

- Porque eu fiquei sem memória?

- Foi o meio que encontrei de você não voltar a ser Caos. Se você lembra-se da morte de seu companheiro poderia voltar a sentir o ódio e consequentemente iria querer vingança. Então tudo o que permaneceu em sua alma foi o primeiro e mais forte extinto: Encontrar sua alma afim. No caso, Edward que na época enfrentava seus próprios fantasmas.

- Porque nós não recuperamos a memória quando nos reencontramos, assim como aconteceu com Daniel e Nati? – perguntou meu marido.

- Daniel e Natalia não haviam falecido na guerra da Lua. Eles não viveram outras vidas até o então momento. Eu apenas os tornei crianças novamente. Então quando se encontraram a memória veio naturalmente. Já com vocês dois foi diferente. Você, Edward, morreu na Lua, e reencarnou como humano diversas vezes. Foi agricultor, caçador, político, ator e então músico, para então nascer na família Masen. O mesmo aconteceu com você Bella, porque também morreu na Lua, não só espiritualmente quando viu a destruição de seu companheiro, mas também fisicamente ao salvar todos os que estavam na Lua os mandando para a Terra. Você foi muitas coisas também, dona de casa, mãe exemplar, lutadora pelos direitos das mulheres e então grande bailarina. Então coloquei-a ao lado de seu irmão em frente a casa de Charlie.

Franzi o cenho tentando entender tudo o que ele falava.

- Você disse que Edward foi músico antes de entrar na família Masen e eu fui bailarina antes de voltar a ser princesa da Lua. É por isso que meu marido é tão bom no piano e eu sempre quis seguir a carreira de dança?

- Sim. Toda pessoa leva algo consigo de cada vida. Tanto boa quanto ruim. – sorriu sereno.

- Eu agradeço estar nos contanto tudo isso, pois mesmo que eu não possa ler sua mente, de algum modo confio no que diz. Mas tenho mais uma pergunta. – o homem assentiu para meu marido e logo disse sem deixá-lo fazer sua pergunta.

- Não há problemas em me questionar. Estou aqui para responder suas perguntas. Entendo que queira saber o que está acontecendo com sua companheira. O fato é que Caos e Bella são a mesma pessoa, porém suas memórias ficaram divididas em seu subconsciente, criando uma espécie de dupla personalidade. Caos não pertence mais a esse mundo, ela é apenas uma memória, alguém que Bella foi. Mas ela teve que aparecer e tomar o controle para mostrar-lhe, Bella, que você também é forte sozinha e que existem coisas que precisamos realizar sem ajuda. E no momento certo você retornou ao controle impedindo que sua antiga personalidade cometesse os mesmos erros.

De alguma forma todo o meu ser correspondia aquilo, de alguma forma eu sabia que era verdade.

- Porque está contando isso só agora? Porque nos deixou perdidos e desesperados sem saber o porquê das coisas? – perguntei com lágrimas nos olhos.

- Estou fazendo isso hoje, pois um ciclo acaba de terminar. Em pouco tempo o futuro rei da Lua vai cumprir seu objetivo e uma nova era começará. Assim como aconteceu a milhares de anos quando os antigos governantes do povo lunar usaram seu poder para criar a atmosfera na Lua e condições necessárias para uma vida digna. Vim trazer uma nova profecia.

Chegará um momento em que descentes elementares cairão diante de seu inimigo e aqueles protegidos protegerão. Lágrimas devolverão a casa que lhes foi concebida e uma nova era se iniciará em parceria com a antiga raça que antes fora protegida.

O que aquilo significava? Não fazia sentido algum! O homem sorriu.

- Agora eu preciso ir. – disse dando-nos as costas e seguindo entre as árvores.

- Espera! – pedi. – Quem afinal é você?

Ele virou-se e sorriu.

- Tenho muitos nomes. Há quem me chame de anjo da justiça, há quem me chame de castigo de Deus, há quem me chame de Karma, há quem me chame de linhas tortas. Prefiro o termo tecelão, pois sou o responsável por tecer o caminho da alma e cruzá-la com outros caminhos de outras almas, criando o enorme tapete de vidas. Mas nesta história... Eu sou o destino.

Fim do capítulo 21.


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Notas finais do capítulo

Pois é gente, muita coisa né? Espero que tenham gostado do penultimo capítulo.
Tudo o que vocês ainda tem dúvida coloquem nos comentários para eu não esquecer nenhuma ponta solta na história.
E visitem meu blog! Lá estão todas as fics ;)
mahfics.blogspot.com.br