Bianca Black

 Estávamos trancados há uma hora. O silencio incomodava a todos, dava para notar. Eu estava tão entediada que conversaria com Noah!

 - Então, o papo está bom, né? – Danny disse tentando puxar assunto.

 - Muito. – eu disse sarcástica.

 - Estou com fome. – Améllia disse deitando no colo de Rayra.

 - Será que conseguimos convocar comida daqui? – Noah perguntou.

 - Se você souber onde encontrar. – Rose Weasley disse dando de ombros.

 - Accio Rosbife. – ele disse fechando os olhos.

 Olhamos ao redor; tudo continuava normal.

 - Acho que não deu certo. – eu disse.

 Noah suspirou e colocou a mão em cima da barriga.

 - Não aguento mais ficar aqui. – Luke disse se levantando. – Vou dar uma volta.

 Olhei-o se afastar. Ele entrou na primeira fileira de livros que encontrou. Não sei, mas eu acho que Luke está meio estranho. Ele não é de se afastar assim. O que havia de errado com ele?

 - Então, querem fazer algo? – Tiago perguntou a nós.

 - Que tal cortar nossos pulsos? – Louise disse entediada.

 - Muito desperdício. – ele disse colocando a mão no queixo, pensativo. – Pensei em algo mais divertido.

 - Em que, exatamente? – Scorpius disse bocejando.

 - Em um jogo. – Tiago respondeu dando de ombros.

 - Verdade ou Consequência! – Alvo disse com os olhos brilhando.

 - Não. – sua prima disse seca.

 - Chata. – ele resmungou.

 - Que tal Mentira? – Rayra disse sorrindo.

 Olhei para ela e arqueei a sobrancelha. Ela piscou e voltou a falar.

 - É um jogo trouxa, mas minha mãe costumava jogar de um jeito mais... Bruxo. – disse.

 - E como é? – Tiago quis saber.

 - É bem simples. – eu respondi. – Nós juntamos nossas mãos e lançamos um feitiço.

 - Mas não podemos dizer nenhuma verdade, só mentiras. – Rayra completou.

 - Se contarmos uma verdade, nossas mãos ficaram verdes fluorescentes e só se apagaram quando à contarmos exatamente. – eu disse me levantando e indo até Rayra.

 - E que tipo de mentira temos que contar? – Améllia perguntou.

 - Alguém te faz uma pergunta e você responde alguma mentira. – minha irmã disse dando de ombros.

 - Topam? – perguntei.

 - É, pode ser legal. – Rose Weasley disse dando de ombros.

 Os outros grifinórios concordaram, inclusive Líllian, para nossa surpresa.

 Nos sentamos em um circulo, intercalando um garoto e uma garota. Ficamos assim: Tiago, Rayra, Noah, Améllia, Alvo, Louise, Scorpius, eu, Danny, Rose e Líllian.

 Faltava mais uma pessoa, ou então não daria certo.

 - Precisamos do Luke. – eu disse.

 - Precisam de mim pra que? – ele disse.

 Me virei e o encontrei atrás de mim, com o olhar aquisitivo e as mãos nos bolsos.

 - Vamos jogar um jogo chamado Mentira e precisávamos de mais uma pessoa. Agora se sente entre elas. – eu disse indicando Líllian e Rose.

 Ele olhou pra mim com uma cara de Fala sério?! Eu apenas coloquei minhas mãos na cintura. Ele apenas suspirou e fez o que eu mandei.

 - Ok, - eu disse sorrindo. – coloquem suas mãos em cima da minha. Rayra irá fazer o feitiço.

 Eles concordaram e colocaram uma das mãos em cima da minha. Rayra pegou sua varinha e murmurou o feitiço, fazendo uma fumaça verde fininha passar por nossas mãos, sumindo logo depois.

 - É só isso? – Danny perguntou ao meu lado.

 - Pensou que iriamos cortas nossos pulsos e fazer um pacto de sangue? – perguntei.

 Ele corou e abaixou um pouco a cabeça.

 - Como vamos saber pra quem fazer a pergunta? – Louise perguntou olhando para sua mão.

 - Você deverá perguntar para a pessoa sentada do seu lado esquerdo. – eu respondi. – Tiago, você começa.

 - Ok. – ele disse sorrindo. – Rayra, você é mesmo namorada do Daniel? – perguntou.

 - Não. – ela respondeu balançando a cabeça. – Sou namorada do Taylor Lautner, mas nós estamos dando um tempo. – completou piscando.

 Rimos e esperamos pela pergunta que ela faria ao Noah.

 - Noah, você já pensou em ser meu cunhado? – minha irmã perguntou venenosa.

 Corei e abaixei a cabeça. Aquela vaca!

 - Sim. – ele disse suavemente.

 - Tem certeza? – Líllian perguntou.

 Levantei minha cabeça, curiosa, e olhei para a mão direita de Noah. Ela estava verde.

 - Eu nunca pensei em namorar... Aquilo! – disse me indicando.

 Sua mão continuou verde.

 - Vai ter que nos dizer a verdade Noah... – Scorpius disse sorrindo de lado.

 - Ok! – ele disse levantando as mãos para o alto. – Uma vez, no terceiro ano, Bianca me bateu por colocar tachinhas no tênis dela. Ai eu pensei que se um dia eu tivesse uma namorada, queria que tivesse esse tipo de atitude confiante; que não deixasse ninguém se intrometer com ela. – terminou, fazendo com que sua mão deixasse de emitir o brilho verde chamativo.

 - Foi isso? – eu perguntei com a boca meio aberta.

 - Esperava mais? – ele disse.

 - Vindo de você, não espero nada. – eu disse virando meu rosto.

 - Vamos continuar, sim?– Rose Weasley disse fazendo Noah olhar para ela.

 - Certo. - disse voltando ao jogo. – Améllia, é verdade que você e o bonitão ai estavam juntos? – Noah perguntou indicando Scorpius com o queixo.

 - Sim. E vamos nos casar no próximo outono. – Améllia respondeu sorrindo.

 - Pensei que seria no inverno. – Scorpius disse entrando na brincadeira.

 - Ah querido, vai estar tão frio! Você sabe que eu amo ver as folhas caírem. – Améllia disse sarcástica.

 Sua mão continuava apagada, o que significava que continuava a contar mentiras. Ela se virou para Alvo e o avaliou.

 - Você me acha bonita? – ela perguntou direta.

 Ele a encarou por alguns segundos. Piscou varias vezes, engoliu em seco, mas respondeu.

 - Não.

 Sua mão continuava palidamente branca, o que significava que ele havia mentido.

 Améllia sorriu e se aplumou em sua postura de princesa francesa, com as costas eretas e os braços no colo.

 Alvo balançou a cabeça e se virou para Louise.

 - Hã... Você gosta da minha irmã? – perguntou.

 - Eu a amo. – Louise disse colocando as mãos no coração.

 Rimos dela.

 - Ok, minha vez. – disse pondo uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha.

 Louise sorriu e olhou bem para o primo.

 - Normalmente eu perguntaria algo que te envergonharia, mas não hoje. – a loira disse.

 - O que você quer saber, Louise? – Scorpius perguntou usando o mesmo tom que a loira usava.

 - O que eu realmente quero saber, você não responderia. Mas lá vai... – ela disse cruzando as pernas. – Você é virgem?

 - Uau! – Tiago disse sorrindo. – Ela te pegou.

 - Não, eu não sou. – Scorpius respondeu olhando-a.

 Louise sorriu. O loiro bufou e se virou para mim.

 - Manda ver! – eu disse arrumando o cabelo atrás da orelha.

 - Você já teve alguma fantasia com alguém, aqui dessa sala?

 Olhei bem para ele, diretamente nos olhos. Ele fez mesmo essa pergunta?

 Minha pele começou a formigar, um sinal de que eu estava prestes a matar alguém. Mas eu me contive. Suspirei e olhei para seus olhos azuis.

 - Não. – respondi.

 Essa era a verdade! Eu já havia tido sonhos nada agradáveis com Noah. Resultado de dez garrafas de cerveja amanteigada depois de uma derrota do time. Eu havia visto ele sem camisa e comecei a imaginar... Certas coisas.

 Eu devo ser uma pessoal realmente desprezível!

 - Com quem? – Alvo perguntou.

 - Ninguém que interesse há nenhum de vocês! – eu disse.

 - Own... Ela ficou nervosinha! – Noah debochou de mim.

 - Vá pro inferno. – eu disse calmamente.

 - Inferno é qualquer lugar onde você esteja. – ele retrucou piscando.

 Desviei o olhar. Encarei Daniel e lhe perguntei, direta:

 - Você já traiu minha irmã?

 - Desculpe amor, mas já. – ele disse balançando a cabeça.  – Eu acabei te confundindo com a Angelina Jolie, me desculpe.

 Minha gêmea sorriu para o namorado e lhe mandou um beijo. O loiro lhe mandou outro e se virou para a ruiva ao seu lado.

 - Como se sente tendo que conviver “civilizadamente” com nós? – perguntou indicando nós, os sonserinos.

 - Sinceramente? Não é tão bom quanto eu imaginava, mas eu vou sobreviver. – ela disse entediada.

 Sua mão emitiu um leve brilho verde que sumiu rapidamente. Ela se endireitou, limpou as mãos na saia e se virou para Luke.

 - Você sente raiva de mim?

 - Sim? – ele respondeu com outra pergunta olhando para sua mão.

 Ela não mudou, então Luke olhou para a ruiva Weasley e disse:

 - Sim!

 Ela sorriu de leve e corou.

 Luke olhou para Líllian. Ela pareceu não se incomodar, pois o encarou com a mesma intensidade do loiro.

 - Nesse momento, você me odeia? – ele perguntou com a voz suave.

 - Não. – ela respondeu automaticamente. – Quer dizer... Sim!

 Sua mão ficou verde imediatamente. Tiago soltou uma gargalhada e começou a cantar “Lilly gosta do Luke...” sem parar. A ruiva olhou para ele com a expressão demoníaca. Pegou sua varinha e fez uma pilha de livros caírem em cima do irmão.

 - Sua ruiva... Falsa! – ele disse reprimindo palavras feias.

 Tiago pegou sua varinha e lançou na irmã um jato de água, bem no rosto. Há essa altura eu e os outros já estávamos de pé afastados com medo de sermos atingidos.

 Líllian grunhiu e lançou outro feitiço que ricocheteou e pegou na ponta do cabelo de Rayra. Minha irmã soltou um grito que me fez agir instantaneamente.

- Protego! – eu gritei.

 Os Potter foram lançados para trás fazendo-os pararem.

 - O que vocês têm na cabeça? – perguntei totalmente alterada.

 - Foi ele quem começou! – Líllian disse tentando tirar o cabelo molhado do rosto.

 - EU? Foi você, pirralha! – Tiago disse se levantando.

 - Eu não quero saber quem começou! – eu disse. – Todo mundo estava se divertindo, mas vocês tinham que estragar tudo, não é? – disse com a mão na cintura. – Os dois vão ficar sentados naquele canto, quietos!

 Eles me encararam e continuaram parados.

 - Eu disse pra vocês irem pro canto! – gritei.

 Eles se assustaram e fizeram o que mandei. Os outros ficaram parados, me olhando como se eu fosse louca, ou algo parecido.

 Passei por entre eles e comecei a caminhar na direção das prateleiras mais afastadas. Eu já estava em uma das ultimas quando decidi parar e me sentar. Olhei ao redor e vi que estava na seção de Herbologia. Peguei um livro qualquer e comecei a ler.

 Eu já estava no terceiro capitulo do livro quando senti um cheiro gostoso de perfume. Olhei ao redor e não vi ninguém. Voltei a ler. Eu estava prestes a trocar de pagina quando senti o cheiro mais forte. Olhei para minha direita e lá estava Noah, parado e me encarando.

 - Seu demente, você me assustou! – eu disse com a mão no peito.

 - Adoro esses apelidos que você me dá, sabia? – ele disse sarcástico.

 Fechei o livro em minha mão e me levantei. Comecei a caminhar na direção oposta a de Noah.

 Eu estava prestes a virar no final do corredor quando ele me parou e fez algo que eu nunca imaginaria que fizesse.

 Ele me beijou.

 Eu o empurrei e dei um belo tapa em sua cara.

 Quem ele pensava que era pra fazer isso? O Brad Pitt? Robert Pattinson?

 - Adoro quando você faz isso. – ele disse massageando o rosto.

 Noah puxou meus braços e voltou a me beijar. Eu tentava empurra-lo de todas as maneiras possíveis, mas não conseguia; ele era forte, muito mais forte que eu.

 Me vendo sem alternativas, mordi com toda força sua boca. Ele gemeu e me soltou. Mas antes que eu pudesse reagir de qualquer maneira, ele me puxou novamente.

 Dessa vez, uma de suas mãos estava em minha nuca, me impedindo de me afastar. Ele diminuiu o ritmo do beijo. Ele não estava desesperado para me beijar; movia sua boca com calma contra a minha.

 Meu corpo começou a relaxar; minha mente não processava muito bem o momento.

 Eu suspirei e segurei seu rosto, beijando-o também.

 Depois de alguns segundos, meu cérebro voltou a funcionar e o afastei bruscamente.

 - O que você...? – ele não me deixou terminar de falar.

  Sua boca pressionava a minha com força novamente.

 Eu não pude resistir dessa vez. Beijei-o com a mesma ansiedade que ele me beijava. Ele me puxou para mais perto, aprofundando o beijo. Nossas bocas se mexiam nervosamente.

 Deviam ter se passado minutos, mas pareceram horas.

 Noah começou a diminuir o ritmo do beijo, até que ele não existia mais. Abri meus olhos e encontrei os seus extremamente azuis.

 Eles pareciam sinceros. Me perguntei por que eu estava tão feliz com aquilo.

 Noah sorriu. Achei aquilo estranho. Ele não estava com um sorriso do tipo super feliz no rosto, e sim um sorriso vitorioso. Me afastei dele e o olhei de cima a baixo.

 - O que você fez? – perguntei seca.

 - Bianca desculpe... – ele disse sorrindo. – Era só uma aposta boba, não sabia que eles nos trancariam aqui.

 - Aposta? – perguntei sentindo uma pontada no estômago.

 - É. – ele disse achando graça. – Eu e uns amigos apostamos uma vassoura nova como eu conseguiria te beijar e você gostaria.

 - E como eles saberiam disso? – perguntei sentindo uma lagrima descer por meu rosto.

 - Legilimens. – ele disse.

 Senti outra lagrima descer por meu rosto e logo após mais vieram.

 - Bianca... – ele tentou me dizer, mas sai correndo e lá.

 Fiz o caminho até a entrada da biblioteca com Noah me seguindo. Peguei minha varinha com mão tremula e a apontei para a porta de madeira assim que a vi.

 - Bombarda Maxima. – gritei.

 Um barulho muito forte ecoou por todo o castelo e senti o chão tremer levemente. No lugar da porta de madeira havia um grande buraco e havia poeira por toda parte.

 Corri para fora dos destroços do que havia sido a porta da biblioteca. Passei e esbarrei em algumas pessoas, mas não me importava com elas. Só queria sair dali para chorar em algum lugar em paz.

 Eu estava indo na direção do lago. Ele era proibido nesse horário, mas eu estava pouco me lixando para isso.

 Me sentei na grama perto do lago e olhei para a lua.

 Ela estava encoberta por uma grande nuvem cinza. Desviei meus olhos inchados dela e olhei para o lago. Me aproximei e peguei um pouco de água para limpar o rosto.

 Eu me sentia tão... Humilhada!

 Noah havia me ridicularizado! Ele havia me beijado por uma aposta estupida! E o pior era que eu havia gostado, que eu queria beija-lo de novo, e de novo... Eu me sentia tão suja! Eu queria me afogar!

 Grunhi e me levantei. Eu precisava sair dali. Logo o zelador faria sua ronda e me acharia ali, com certeza.

 Me virei para voltar ao castelo, mas parei assim que vi uma pessoa parada há dois metros de distância de mim.

 Era uma mulher alta, magra, de cabelos loiros e expressão fria. Ela sorriu.

 Segurei com força em minha varinha, mas não pude fazer nada.

 A última coisa que vi foi um clarão verde muito forte.

Cassie Knight

 Eu estava preocupada. Não via meus irmãos ou meus amigos já havia um tempo.

 Eu não conseguia ver nada, pois estava com um forte dor de cabeça e toda vez que tentava, ela piorava.

 Eu estava no Grande Salão, com Hugo tagarelando ao meu lado. Ele se queixava de sua irmã não tê-lo esperado para irem juntos até a Biblioteca.

 - A Biblioteca! – eu disse sorrindo.

 Ele olhou para mim sem entender.

 - Você é um gênio Hugo. – eu disse beijando seu rosto.

 Me levantei e corri para fora do salão, atraindo muitos olhares. Eu estava há apenas alguns metros da Biblioteca quando senti um tremor. Virei o ultimo corredor que me distanciava da Biblioteca e vi vários destroços no chão.

 Uma garota suja de fuligem corria em minha direção. Ela passou rápido por mim, assim não consegui ver quem era.

 Voltei minha atenção para a parede destruída e pude perceber que haviam pessoas lá dentro.

 Atravessei os destroços e pude ver meu irmão caído no chão coberto de sujeira.

 Luke sorriu e se levantou.

 - Por que não pensamos nisso antes? – ele disse estralando os dedos.

 - Aquela garota é insana! – escutei alguém gritar.

 - O que aconteceu aqui? – perguntei.

 - A Bianca explodiu uma parede, foi isso que aconteceu! – Luke disse sorrindo ainda mais. – Eu adoro aquela garota!

 - Pra onde ela foi? – Noah Clark me perguntou.

 - Ela quem? – eu quis saber.

 - Bianca, pra onde ela foi? – me perguntou novamente.

 - Não vi ela. – eu disse, mas logo me lembrei da garota que esbarrou em mim. – Na verdade, eu vi uma garota que estava chorando sair correndo daqui.

 - Chorando? – Rayra perguntou. – Por que minha irmã estaria chorando? – quis saber.

 - Droga! – Noah disse.

Ele chutou um pedaço de concreto e já ia na direção da saída quando a diretora chegou acompanhada de mais quatro professores.

 - Estamos ferrados. – Luke disse.