Scorpius Malfoy

Suspirei.

Havia mais alguma coisa para acontecer na minha vida?

Primeiro descubro que sou, de um jeito suicida, apaixonado por uma garota cuja família odeia a minha. Segundo, minha prima é uma espécie de vidente e fica vendo coisas ruins o tempo todo. Terceiro, há algum louco rondando minha casa. Eu poderia continuar falando, mas não tenho paciência pra isso agora.

Olho para o céu e contemplo a cascata de fogos de artifício. Várias imagens dançavam no céu. Cavalos alados, magos de chapéus pontudos que eu já havia estudado, mas não me lembrava quem eram... Enfim, parei para observar a noite gelada.

Meus pais e nossos convidados se abraçavam e comemoravam. Mas eu não. Eu não gostava de comemorar, principalmente sabendo que a minha Rose corria perigo.

Eu devia mesmo ser muito imbecil por ainda não ter me declarado, dito ou feito alguma coisa. Eu era (e sou) um completo covarde como o bom sonserino que eu sou. Mas saber que alguma coisa vai acontecer a ela me faz pensar que eu deveria agir. Que eu deveria fazer alguma coisa.

Me afastei de todos e me sentei em um banco no jardim de minha casa. Aconcheguei-me mais em meu casaco e fechei os olhos.

- Não pense, faça. – ouvi Améllia dizer perto de mim.

- Você não sabe na furada em que eu vou me meter. – eu disse a ela.

- Então me conte. – ela respondeu se sentando ao meu lado.

Contei a ela sobre Cassie e o que ela havia dito. Contei também sobre a pessoa que estava rondando nossa casa. Ela apenas escutou tudo em silencio e me encarou.

- Não vai dizernada? – perguntei.

- Dizer o que? Que você não devia ajudar a Weasley? Não, claro que não. – ela disse soprando as mãos. – Você deve protegê-la, afinal você a ama, não é? – perguntou.

- Sim. – respondi olhando para o céu. – Mais do que eu deveria.

~*~

- Vamos Luke! – tia Dafne gritou.

Estávamos na sala de minha casa, prontos para irmos para Hogwarts. Minhas malas e as de Louise e Cassandra estavam no hall de entrada. Meus pais conversavam perto da porta com o marido de minha tia.

- Já estou descendo! – Luke disse aparecendo no topo da escada com seu malão nas costas.

- Será que você poderia se arrumar mais rápido? – Louise disse entediada no sofá. – Eu pretendo pegar o trem neste século.

Luke lhe mostrou a língua e caminhou para fora de casa.

Balancei a cabeça e sorri.

Me levantei da poltrona de couro preto e caminhei para onde estavam nossas coisas. Peguei as minhas e trouxe para o carro as de Cassie e Louise através de levitação.

Me acomodei no banco da frente enquanto meus primos iam atrás.

Meu pai nos levaria em seu carro e minha mãe e meus tios iriam por pó de flu. Eles não queriam que viajássemos dessa maneira, diziam que era perigoso. Uma bobagem em minha opinião.

Fomos até a estação conversando sobre a declaração de Daniel. Rimos dos comentários absurdos de Louise e das palhaçadas de Luke. Nem percebemos que já havíamos chegado.

Descemos do carro e fomos tirar nossas coisas do carro. Eu estava com Luke parado perto do porta-malas do carro quando vi Rose Weasley.

Ela parecia abatida, não tinha aquele sorriso feliz que sempre carregava quando voltava para a escola e sua amada biblioteca. Ela estava parada perto dos pais com seu irmão, Hugo. Seu pai percebeu que eu olhava e me cumprimentou com uma carranca. Eu apenas retribui o aceno e sai dali acompanhado de Luke.

Encontrei meus pais já dentro de King’ Cross. Eles estavam acompanhados dos pais de Rayra e Bianca, e os pais de Danny e Améllia.

Danny e Rayra estavam abraçados, o que fazia os outros alunos olharem para nós. Rolei os olhos.

- Vocês podiam ser mais discretos? – perguntei. – Não quero todo mundo me encarando. Eu sei que eu sou lindo, mas atenção demais enjoa.

- Não há descrição quando o assunto é amor. – Danny disse beijando o rosto de sua namorada.

- De onde você tirou isso? – perguntei sorrindo.

- De um site na internet. – respondeu sorrindo de lado.

- Ele não tem QI suficiente para criar isso sozinho, é claro. – Bianca disse.

- Pare de dizer essas coisas sobre o meu namorado Bianca! – Rayra reclamou.

- Relaxa cunhada, - Améllia disse piscando – já, já nós arrumamos um namorado para ela.

- Há-há. Muito engraçado. – Bianca disse. – Mas se bem que o Potter mais velho seria perfeito. – completou vendo o dito cujo passar ao longe.

Tiago desfilava com sua mais nova paquera pela estação.

- Aquela garota não é sua ex-namorada Danny? – perguntei.

- É sim, Katlyn Somers. – ele respondeu.

- Uma graça de casal. – Louise disse debochada.

- Olha quem vem lá. – Luke disse com um sorriso diabólico no rosto olhando Líllian Potter.

Eles se olharam como se fossem dois animais prestes a se matar por uma caça.

Luke sorriu presunçoso e desviou o olhar fazendo-a ficar mais vermelha que seu cabelo flamejante.

- O que você e essa garota têm afinal? – Louise perguntou.

- O sentimento mais puro e verdadeiro. Ódio. – ele disse sorrindo abertamente. – E é reciproco. – completou.

- Você é doente. – Danny disse de boca aberta.

- Gente, - Cassie disse aparecendo ao lado de sua mãe. – nós encontramos uma cabine vazia.

- É melhor vocês irem antes que alguém a ocupe. – tia Dafne disse.

- O trem ainda vai demorar pra sair. – Danny disse.

- Não vai não. – Cassie disse sorrindo.

O apito do trem soou dando ênfase a sua frase.

- Merlin! Você é vidente garota? – Danny perguntou brincando.

- Talvez. – ela respondeu piscando.

Nos despedimos de nossos pais. Recebi várias ordens. Cuide de seus primos, não deixe Louise se meter em brigas na primeira semana, Luke não pode ficar muito tempo com a garota Potter... Parecia que eu estava virando babá.

Entramos no trem e acenamos. Quando o trem entrou em movimento, caminhamos até a cabine que Cassie havia mencionado. Mas como o mundo é muito pequeno e o Expresso de Hogwarts menor ainda, encontramos Líllian Potter. Ela caminhou em nossa direção com um olhar assassino.

- Então você vai mesmo estudar aqui? – perguntou a Luke.

Nós reviramos os olhos. Os outros entraram dentro da cabine, deixando a mim e Luke com a fera.

- É o que parece, não? – ele disse irônico.

- Só espero que saiba seu lugar. – ela disse cruzando os braços.

Eu apenas fiquei os observando.

- É claro que sei. – ele disse sorrindo. – Acima de você.

- Só nos seus sonhos. – ela disse.

- Nos seus sonhos. – ele sussurrou em seu ouvido fazendo-a arrepiar.

Soltei uma risadinha.

- Me solte. – disse empurrando Luke. – O seu ainda esta por vir Malfoy. – disse a mim.

Líllian saiu pisando duro pelos corredores enquanto eu e Luke riamos dela.

Entramos na cabine. Os outros se divertiam fazendo piadas um da cara do outro. Ficamos nesse clima até o carrinho de doces passar. Apenas eu e Luke compramos doces, mas toda a atmosfera do lugar mudou.

- Então, para que Casas vocês querem entrar? – Améllia perguntou.

Olhei para meus primos.

- Sonserina! – Luke e Louise disseram em uníssono.

- Isso realmente importa? – Cassie perguntou.

Parei com um doce a centímetros da boca. Ela nos olhava de um jeito que parecia culpado. Fitei seus intensos olhos azuis mesclados de vermelho. Ela já sabe para que Casa ira, conclui.

- Na verdade, não importa realmente. – eu disse dando um ponto final ao assunto.

Ficamos em silencio por um bom tempo, só se ouvia o trem se movendo e uma conversa baixa entre Daniel e Rayra.

- Acho melhor irmos por nossas vestes. – Améllia disse olhando pela janela.

Fomos até os vestiários nos últimos vagões do trem e nos trocamos.  Eu fiquei m pouco para traz enquanto os outros iam na frente. Estava arrumando minha gravata quando esbarrei em alguém.

 - Me desculpe. – eu disse instantaneamente.

 Olhei para cima e encontrei dois brilhantes olhos azuis. Rose apenas me olhou e começou a andar. Segurei-a pelo pulso.

 - Qual seu problema? – perguntei virando-a para mim.

 - Sinceramente, você. – ela disse me encarando.

 - Pensei que, naquele dia, nos tivéssemos resolvido tudo. Pensei que tivéssemos esquecido tudo. – eu disse olhando-a nos olhos.

 - Como você consegue arruinar tanto assim a minha vida? – ela disse pausadamente.

 - Da mesma maneira como você não sai da minha mente. – eu disse baixinho.

 - O que? – ela perguntou me encarando.

 - Eu... Por mais que você me odeie, eu... – fui interrompido pelo guarda-costas dela.

 - Rose. – Alvo Potter disse atrás de mim. – Ele está te incomodando? – perguntou.

 - Na verdade, é a sua prima que está me incomodando. – eu disse olhando-o e me virando para sair, mas não antes de escuta-lo perguntar:

 - O que ele quis dizer?

 Voltei para cabine e encontrei todos fazendo baderna novamente. Fiquei quieto em meu canto absorvendo o que havia acabado de acontecer. Eu estava mesmo preste a me declarar para Rose Weasley? Eu devo mesmo ser insano!

 - Scorp! – Améllia disse estralando os dedos. – Chegamos.

 - Ah, obrigada. – eu disse meio aéreo.

 Descemos do trem e nos misturamos na multidão.

 Na verdade não nos misturamos. As pessoas simplesmente não gostavam de ficar muito próximas de nós.

 Pegamos uma carruagem vazia e seguimos para o Castelo em meio a risadas. Quando chegamos lá, fomos recebidos pela professora McGonagall. Ela estava com Cassidy à sua esquerda que conversava com um senhor pequeno e com cara de furão. Meus primos ficaram para serem selecionados para suas casa enquanto eu e os outros fomos para a mesa da Sonserina.

 Sentamos no lugar de sempre, bem no meio da mesa. E, como sempre, eu estava de frente para a mesa da Grifinória. Só que dessa vez não era eu quem encarava alguém, alguém é que me encarava.

 Alvo Potter tinha os olhos fixos em mim. Eu sustentei seu olhar por não sei quanto tempo até perceber que não era eu quem ele olhava. Olhei para minha esquerda e vi Améllia conversando com Bianca animadamente. Olhei novamente para o Potter e segui seu olhar. Ele estava mesmo encarando Améllia?

 Fui interrompido pela diretora, que começou seu chatíssimo discurso. Fiquei encarrando sem prestar atenção até que ouvi aplausos e percebi que ela havia chamado meus primos.

 Louise, Luke e Cassandra vinham caminhando na direção do Chapéu Seletor, que estava em cima do banquinho costumeiro.  Louise parou em sua típica posse arrogante.

 Ela foi a primeira a ser chamada.

 - Hum... Não há como negar, você é tem um temperamento forte. – O Chapéu disse. – Uma legítima... Sonserina! – ele gritou.

 Uma salva de palmas foi erguida da mesa da Sonserina que recebia minha prima. Ela caminhou lentamente até onde nós estávamos sentados. Eu a abracei e ela se sentou.

 Nos viramos para ver a seleção de Luke.

 - Ah! – o Chapéu disse. – Sonserina! – gritou rapidamente.            

 Luke sorriu e se sentou ao lado de Danny.

 Sorri e voltei para ver Cassie se sentar no banquinho.

 Todo o salão ficou em silencio.

 - Ah! Há quanto tempo não vejo uma mente tão pura assim. Certamente não é como seus irmãos. Não é como ninguém aqui. – o Chapéu continuava a dissertar.

 Louise me olhou apavorada.

 - Vai demorar muito? – eu gritei.

 - Cale-se Malfoy! – o Chapéu gritou. – Você sabe para onde vai. – disse antes de gritar: - Grifinória!

 Todos ficaram em silencio absoluto.

 Eu tomei uma iniciativa e comecei abater palmas, seguido por meus amigos e toda a mesa da Grifinória.

 Cassie caminhou até lá meio insegura. Eu sorri para ela, fazendo-a esboçar um pequeno sorriso.