14.  O que é Imprinting?

Ela arregalou os olhos e deu mais um passo para trás.

-Jake, calma. Eu só...

-Jake? - me virei para onde ela olhava.

Jacob estava parado a margem da floresta que cingia a praia, a uns quatrocentos metros de distância.

Suas mãos estavam cerradas em punho ao lado do corpo, que tremia violentamente. O ódio mortal contido em seus olhos seria capaz de pulverizar alguém.

-Você.Bateu.Nela - grunhiu furiosamente - Você machucou ela!

Um rosnado animal rolou por seu peito e, depois disso, tudo aconteceu muito rápido.

Ele correu três passos e saltou, mergulhando de cabeça no ar. Seu torso se curvou para baixo e, com o som áspero de algo se rasgando, ele meio que explodiu. Sua roupa foi reduzida a farrapos, que se espalharam no ar, e quando ele voltou a tocar o solo, já não era mais humano. Agora ele era um lobo castanho avermelhado -  lindo -, gigante e  colérico, que avançava com determinação surpreendente e velocidade assombrosa para seu alvo. Stacey.

Dei dois passos para trás, horrorizada.

-JAKE, NÃO! - gritei em desespero.

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Ao ouvir o som da minha voz, ele vacilou, dando tempo suficiente para que um lobo negro, que acabara de sair da floresta, pudesse morder sua pata traseira, interceptando-o. O lobo-Jacob guinchou de dor ao sentir os dentes afiados do outro em sua carne, mas não reagiu. Ele havia caído em si, percebi isso pelo olhar arrependido que me lançou enquanto se deixava arrastar de volta para a floresta.

Eu estava tremendo e algumas lágrimas de choque rolavam por meu rosto. Só me dei conta de que agora tinha mais gente ali quando recebi um abraço quente e aconchegante. Olhei para cima.

-Seth? - sussurrei.

Ele me deu um sorriso confortador.

-Já passou, Nessie. Só fique calma, ok?

Assenti fracamente, olhando em volta.

Embry, Jared, Quil, Colin e um outro garoto que eu não conhecia seguravam e tentavam acalmar uma Leah furiosa, que queria avançar em Stacey. Essa última, por sua vez, estava abraçada firmemente ao primo e parecia muito assustada.

-EU SABIA QUE NÃO PODIA CONFIAR EM VOCÊ, SUA VACA! - Leah gritava - SABE O QUE EU FARIA AGORA SE NÃO ESTIVESSE SENDO SEGURADA?... EU FARIA AQUILO QUE O JACOB FOI IMPEDIDO DE FAZER: EU TE ARREBENTARIA!

Jaden passou Stacey para suas costas.

-Vamos com calma, Leah. Você está fora de si.

Leah rosnou para ele.

-Cala a boca, seu idiota! A culpa disso tudo é sua. Sua e dessa sua boca grande.

O garoto tremeu e eu percebi o perigo. Ele estava suficientemente perto de Stacey para causar um estrago bem feio, caso se transformasse. Acho que não fui a única a reparar, todos os outros observavam a cena em silêncio e de olhos arregalados.

-Jaden, relaxa cara, você pode machucá-la. - Jared avisou.

Jaden assentiu e, aos poucos, foi parando de tremer. Abraçou Stacey novamente.

Eu não conseguia entender aquela relação. Estava na cara que Jaden e Stacey transavam, mas, ao mesmo tempo, se tratavam como irmãos. Era estranho.

-Ai, que droga, Leah, para de se contorcer. - o menino que segurava os braços da loba reclamou.

Eu nunca havia visto aquele garoto antes. Ele parecia bem mais novo do que os outros, pois apesar de seu corpo ser grande e cheio de músculos, seus traços faciais ainda eram meio infantis.

-Vai à merda, moleque! - Leah grunhiu.

Ele bufou.

-Você é tão estúpida!

-Estúpida é a senhora sua mãe. - rebateu ela.

-Argh, sua insuportável, você não...

-Leah, Chris, parem já com isso! - a voz de Jacob veio de trás das árvores, interrompendo a discussão.

Ele saiu da floresta, seguido por Sam. Vestia apenas uma bermuda surrada, estava sem camisa e descalço.

Subiu os olhos até mim, e havia muito arrependimento em seu olhar. Veio caminhando, cautelosamente, em minha direção.

Eu ainda estava agarrada à cintura de Seth, a cena assustadora não saía da minha cabeça e eu sentia que se não me segurasse em alguém, iria despencar no chão que nem jaca podre. Estava completamente desnorteada, meu corpo e mente pareciam anestesiados.

Jake chegou perto de mim e ergueu as mãos na altura da cabeça, eu franzi a testa, sem conseguir entender sua atitude.

-Desculpe - ele sussurrou - Mas não precisa ter medo, Ness, eu jamais machucaria você.

Minha testa se franziu mais ainda. Ele achava que eu estava com medo dele? Que absurdo! Olhei para Seth, que me colocou carinhosamente nos braços de Jacob.

Ele me abraçou fortemente, percebi que estava se esforçando muito para não chorar pelo que havia feito antes. Afundei minha cabeça em seu peito e estiquei meu braço, pousando minha mão em seu rosto, sobre seus lábios. Mostrei a ele tudo o que havia acontecido, sob a minha perspectiva, e no final das imagens coloquei um ponto de interrogação bem grande.

-Ah, eu sou um idiota... - falou com a voz entrecortada - Eu queria tanto que você confiasse em mim, queria te mostrar o quanto eu zelo por sua segurança, o quanto isso é importante para mim. Mas eu estraguei tudo, não é?

-É claro que não, seu bobo. - minha voz não passava de um sussurro - Você não estragou nada, eu não achei que você fosse me machucar.

-Não?

Neguei com a cabeça.

-Na verdade eu fiquei com medo pela Stacey... - respirei fundo - Você não ia matá-la, ia?

Ele deu um riso rouco em meu ouvido.

-Não, amor. Eu não iria matá-la, queria apenas que ela levasse um susto. Mas, se eu não fosse um lobisomem cuja função é proteger os seres humanos, acho que eu poderia bem considerar a hipótese. Ela passou dos limites. - falou olhando para o sangue em meu braço, onde a garota havia enfiado suas unhas.

Mas eu já não ouvia mais nada, minha mente parou de funcionar quando ele me chamou de ‘amor’.

Jake apoiou o queixo sobre minha cabeça e senti que seu corpo voltou a tremer um pouco. Olhei para cima, ele tinha os olhos fixos em Stacey. Um tremor um pouco mais forte abalou seu corpo.

-Jacob! - Leah, Seth e Sam falaram juntos.

Ele tirou meus braços de sua cintura e me afastou delicadamente de seu corpo. Segurei em sua mão antes que ele se afastasse. ‘Jake, vai com calma.’ Ele assentiu.

Caminhou até onde Jaden e Stacey estavam, em um canto mais afastado.

-Esse é o primeiro e último aviso que estou te dando, garota. - avisou apontando o dedo para o rosto dela - Eu não quero te ver, nunca mais, perto da Nessie. Entende isso? Se tiver uma próxima vez, eu não vou parar, juro que não vou.

Ela ergueu uma sobrancelha.

-Você está dizendo que, se tiver uma próxima vez, vai me matar? - perguntou cinicamente.

Jacob tremeu e ela se escondeu atrás do primo. Leah estava rosnando.

-Jaden - Jake disse entre dentes - Leva essa garota daqui. Tira ela da minha frente, ou eu não respondo por mim.

O garoto assentiu rapidamente, rebocando Stacey de lá. Antes de sair de nosso campo de visão, ela falou por cima do ombro:

-Não se preocupe Jacob, eu não vou mais incomodar o seu precioso imprinting.

Jake colocou as palmas das mãos nas têmporas, apertando fortemente. Veio até mim e pegou minha mão, seus olhos me convidavam a sair dali.

[...]

-Onde você está me levando? - perguntei enquanto ele estacionava meu carro em uma rua de terra, à beira de algumas árvores.

Ele saiu do carro, deu a volta e abriu a porta para mim.

-Eu quero te mostrar o lugar mais bonito de La Push, tenho certeza de que seu trabalho vai fazer muito sucesso se você colocar fotos daqui.

Peguei a mão que ele me oferecia e aproveitei para chegar mais perto. Estava bem escuro agora, por isso eu não conseguia enxergar quase nada.

-Ai - resmunguei baixinho quando seu braço roçou no machucado que as unhas de Stacey haviam provocado em mim.

-Oh, Ness, me desculpa, eu...

-Jake - interrompi - Está tudo bem, não se preocupe.

-Não, não está tudo bem - ele disse analisando o meu braço, eu só não sei como ele conseguia enxergar alguma coisa naquele breu - Isso está bem feio, temos que limpar para não infeccionar. Você tem kit de primeiros socorros no carro?

Assenti.

-Sim, no porta-luvas.

Ele foi até o carro e pegou a pequena maleta.

-Vamos fazer um curativo aí - falou - Agora vem. - e saiu me puxando para as árvores.

Caminhamos durante alguns minutos, e quando eu pensei em perguntar novamente onde estávamos indo, ele me puxou por uma abertura entre as árvores e a minha pergunta não-feita foi respondida.

-Esse aqui é o penhasco de La Push. - anunciou Jake.

O lugar era indescritivelmente lindo, parecia meio mágico, sei lá. Era realmente alto, o que não me encorajava a chegar muito perto da ponta, e tinha uma vista perfeita para a First Beach. Dei alguns passos em direção a beirada, enfeitiçada pela lua cheia que parecia ainda maior vista dali, talvez por que ali estivéssemos mais perto do céu.

Jake me abraçou por trás e colocou a cabeça em meu ombro.

-O que achou? - perguntou em meu ouvido.

-Lindo.

-Vamos nos sentar?

-Na ponta?

-Claro.

Ele pegou minha mão, mas parou ao perceber minha hesitação.

-Não confia em mim? - indagou olhando em meus olhos.

-Claro que eu confio. - respondi sem desviar o olhar.

Sentamo-nos na grama em silêncio. Eu me perdi em pensamentos olhando para a imensidão do mar, lembrando-me de tudo o que havia acontecido comigo naqueles sete dias. Céus, essa fora a semana mais louca da minha vida!

Jacob apoiou minha mão em seu joelho, fazendo com que meu braço ficasse esticado, e abriu a maletinha de primeiros socorros. Pegou um algodão, soro fisiológico e começou a limpar meu machucado.

-Enfermeiro Jake. - falei sorrindo, ele sorriu também.

-Serei o que você precisar que eu seja.

Ele limpou todo o sangue, pôs um pouco de pomada e, por fim, colocou um band-aid sobre cada corte. Finalizou seu trabalho com um beijo demorado por cima do curativo, “para sarar mais rápido” - falou com seu sorriso de sol.

Eu sorri e encostei a cabeça em seu ombro. O vento gelado bateu em meu rosto e eu me arrepiei. Jacob percebeu e me aconchegou em seu peito quente, o calor contido ali era incrível.

-Esse seu calor sobre-humano me deixa cada vez mais fascinada. - confessei baixinho.

Ele riu.

-Com o passar do tempo você acaba acostumando. - deu de ombros - Eu me acostumei.

Sorri com essa ideia. ‘Com o passar do tempo’, isso me fazia sentir absurdamente bem.

-Jake? - chamei em um fio de voz - Posso te perguntar uma coisa?

-Qualquer coisa.

Respirei fundo.

-Tudo bem, então. O que é... Imprinting?

O corpo dele enrijeceu, e seu coração que normalmente batia em um ritmo firme e constante, agora parecia uma britadeira.

-Ness, eu... - começou, mas não conseguiu concluir sua frase.

-É esse o assunto que você vem escondendo de mim desde que eu cheguei aqui? - perguntei, já sabendo a resposta.

-Eu não estava escondendo nada de você - falou ofendido - É só que... - e parou de falar novamente, era como se as palavras se perdessem em algum lugar dentro dele.

Balancei a cabeça, contrariada. Eu não aguentava mais aquele suspense todo.

-Ok, acho que já chega de mistério. - falei zangada - Eu quero saber o que é isso, sei que tem algo a ver comigo. A Stacey falou para você, mas estava olhando diretamente para mim. Jacob, o que é Imprinting?

Ele virou seu corpo para mim e olhou em meus olhos.

-Imprinting é algo que nós, lobos, sentimos quando encontramos a nossa “parceira ideal”. - falou fazendo aspas no ar - Aquela que tem os genes exatamente compatíveis aos nossos. Não sendo a regra, e sim a exceção, o Imprinting não acontece com todos os transmorfos, pelo simples fato de que só existe uma mulher ideal para cada lobo no mundo inteiro. Na verdade, esse acontecimento é algo muito raro, ou pelo menos deveria ser, uma vez que existem bilhões de mulheres por aí, e apenas uma é a parceira perfeita.

“Os anciãos vêm, há muitas gerações, estudando quais poderiam ser os reais motivos de algo tão magnífico acontecer com os lobisomens. Chegaram à conclusão de que ele serve para gerar lobos mais fortes para a alcateia, o que realmente faz sentido, pois como eu já te disse, a parceira perfeita tem os genes exatamente compatíveis com os do lobo que sofre a impressão com ela.”

-Espera aí - falei, interrompendo o seu relato - Você não está me dizendo que teve esse negócio comigo, né?

Ele assentiu, temeroso e envergonhado.

-Sim, Nessie, eu tive esse ‘negócio’ com você. - falou com um pouco de mágoa na voz - Você é o meu objeto de imprinting, a minha impressão.

Sacudi a cabeça freneticamente, tentando assimilar as ideias. Jacob me olhava em expectativa.

-Ah, claro - falei por fim, amargurada - Está tudo explicado agora. Esse carinho todo, essa admiração, essa proteção. Tudo por causa dos meus genes. Você não estava protegendo a mim, afinal, estava apenas cuidando do meu maldito DNA.

Ele abriu a boca lentamente, mas não emitiu nenhum som.

-Eu deveria saber - continuei - Na verdade, acho até que eu já sabia. Quem seria tão bom para uma aberração como eu, por livre e espontânea vontade? Você só é assim comigo por que sente que essa é a sua obrigação, você não escolheu isso! - acusei, me levantando e virando as costas para ele.  

-Não, Nessie! - ele falou com a voz embargada, e havia tanta dor em suas palavras que foi como uma punhalada em meu coração. - Olha para mim! - implorou.

Virei-me em sua direção e meu estômago gelou ao perceber que ele chorava.

-Jake, não precisa chorar, eu...

-Precisa sim! - falou, seu lábio inferior tremeu e ele o mordeu com força - Acho que, no final das contas, não tinha nada a ver com você. Eu não queria te contar por isso, por que eu não sei te explicar a complexidade do que sinto. Eu estava com medo de te falar por que eu sabia que era bom demais para ser verdade, você e eu, juntos...

Eu caminhei até ele e me ajoelhei ao seu lado, abraçando-o com força. Seu sofrimento era algo com o que eu não podia lidar. Ele descansou a cabeça em meu peito, chorando baixinho.

-Calma, lobinho - falei carinhosamente, as lágrimas silenciosas escorriam por meu rosto sem permissão - Pode me desculpar por ter sido tão idiota? Eu não deveria ter te interrompido, deveria ter escutado até o fim.

Ele levantou a cabeça e olhou em meus olhos. Outra punhalada em meu peito, porém mais forte dessa vez. Um golpe lento e doloroso. Era a primeira vez que eu via seu olhar sem brilho nenhum.

-Mas não importa, não é? - perguntou - Você já tem a sua opinião formada, por mais equivocada que ela seja.

-Não. - neguei - Pode falar. Eu juro que serei imparcial.

Ele balançou a cabeça.

-Nessie, entenda, eu te expliquei apenas a parte prática do imprinting. Tecnicamente, sua função nisso tudo seria somente reproduzir. A questão é que parece que ninguém se importa com os sentimentos dos lobos.

-Sentimentos? - perguntei, surpresa - Não é apenas... proteção? Companheirismo?

Jacob deu um riso fraco.

-Sabe amor à primeira vista? - perguntou me olhando intensamente - Daqueles que vemos nos filmes melosos e naqueles gibis de garotas adolescentes? Então... O imprinting é muito, muito mais forte do que isso. Muito mais intenso.

“Quando eu te vi pela primeira vez, tudo que me tornava quem eu era se desfez de mim. O amor por todos que eu conhecia: meus amigos, minha matilha e até mesmo pela minha própria família, tudo isso ficou em segundo plano, por que cada parte de mim foi ocupada por você. A partir do momento em que eu te conheci, Ness, eu passei a respirar você. Cada vez que eu olho para o seu rosto eu sinto a mesma coisa que um cego que vê o sol pela primeira vez; ouvir as batidas do seu coração faz o meu se aquecer; e quando você me beija ou se aconchega em meus braços, como fez há alguns minutos, eu caminho nas nuvens.”

Eu não conseguia fechar a boca. Jacob estava... se declarando? Para mim?

-Ness, eu nem sei... - tomou ar - Eu nem sei dizer o quanto eu te amo. É inenarrável. Eu morreria por você. Enfrentaria qualquer coisa para estar ao seu lado, por que meu amor por você é tão grande que o meu ‘eu’ se torna insignificante. Eu te amo mais do que se julga possível alguém amar outra pessoa.

Ele dizia tudo aquilo com tanta emoção que era simplesmente impossível questionar suas palavras. E a forma como ele me olhava, me venerando... sua dedicação beirava o fanatismo.

Eu me sentei no chão, segurando a mão dele.

-Você não se sente mal com isso? - perguntei cautelosamente, para não magoá-lo - Saber que você nem pôde escolher, e... - ele pôs o dedo sobre os meus lábios.

-A minha alma te escolheu, Ness. O meu espírito guerreiro. Você, de todas as mulheres do mundo, é a única que pode me mostrar a felicidade em sua plenitude. O imprinting não obriga os lobos a nada. Ele serve para que, ao vermos o nosso grande amor, não o deixemos escapar. Sofrer uma impressão é meio que ‘acordar para o amor verdadeiro’, entende?

Assenti, meio insegura.

-Então... eu sou o seu ‘amor verdadeiro’? - perguntei, temendo que ele percebesse a minha leve incapacidade de compreender suas palavras.

Ele deu uma risadinha, provavelmente da cara de paçoca que eu estava fazendo.

-Sim, moça - falou sorrindo - Você é meu amor verdadeiro.

Eu franzi a testa.

-Isso é meio injusto. - falei indignada.

-Injusto?

-É... E se, hipoteticamente, eu não gostasse de você? Ou então, pior, se eu já fosse casada com outro? Se eu já tivesse filhos? Isso é muito injusto com vocês, lobos, Jake. Se, por algum motivo, eu não pudesse ou não quisesse ficar com você, isso te traria muito sofrimento, não?

Ele negou com a cabeça.

-Não, Ness... em momento algum eu disse que você era obrigada a corresponder. Por isso eu não te contei antes, por que eu não queria que você ficasse comigo por pena, eu queria ver se tinha alguma chance de ter você para mim sem esse negócio de amor incondicional, entende? Se você já fosse casada, ou fosse freira e não quisesse saber de homens, ou até mesmo se não quisesse saber apenas de mim... Eu já ficaria feliz só de ver que a sua felicidade se dava dessa forma.

-Nossa, eu... Não sei o que dizer. - eu disse atordoada, abanando o rosto com as mãos para clarear as ideias.

-E isso que eu ainda nem acabei de falar. - ele disse com um sorriso torto.

-Não?

-Não... Ainda tem o negócio das visões da Alice.

-E você vai me contar agora? - perguntei, esperançosa.

-Huum... - fez um suspense - Vou!

-Eeeeba! - falei batendo palminhas, Jacob riu.

-Sabe aqueles sonhos que ela te contou? Aqueles nos quais o meu rosto aparecia?

-Sim. - falei rapidamente, ansiosa.

-Era por sua causa. - ele falou sem mais delongas.

Eu inclinei a cabeça para o lado, mordendo o lábio.

-Boiei. - falei de uma vez por todas, provavelmente ele pensaria que eu era a garota mais burra do planeta.

-Ela consegue te ver, não?

Assenti.

-Meio embaçada, mas consegue.

-Então, os nossos destinos, meu e seu, estavam tão interligados que, quando estávamos perto de nos conhecer para cumprir a nossa ‘sina’, ela até conseguiu me ver. - Jake explicou, pacientemente.

E finalmente eu entendi, quase como um clique em minha mente.

-Aaaaaaah... Certo!

Um silêncio estranho se formou entre nós. Eu não sabia como agir, e Jacob parecia meio apreensivo.

Aproximei-me lentamente dele, enlaçando seu pescoço com meus braços e beijei seus lábios delicadamente. Ele repidamente correspondeu, abraçando minha cintura e me apertando contra seu corpo quente.

-Você me leva para o céu quando me beija assim. - ele confessou entre meus lábios.

Eu sorri e dei uma leve mordidinha em seu lábio inferior. Jacob gemeu roucamente, e desceu uma das mãos que estava em minha cintura para a base de minhas costas. Ele fez carinho ali, para depois colocar a mão por baixo de minha blusa. Minha vez de gemer. Jake deixou meus lábios, desceu com sua boca quente pela linha do meu maxilar até chegar em meu pescoço, onde passou a língua lentamente. Essa foi a gota d’água.

Puxei seus cabelos, trazendo-o para mais perto, e acabei tombando de costas na grama.  Ele deitou por cima de mim, sua boca macia ainda trabalhando em meu pescoço, enquanto a mão que estava em minhas costas acompanhava a linha da minha coluna. Sua outra mão desceu até minha coxa e apertou-a levemente, fazendo-me arfar.

Eu capturei sua boca para mim, fazendo o contorno de seus lábios com minha língua, e enlacei sua cintura com uma perna. Ele se animou mais do que deveria com isso. Pôs as duas mãos em minha barriga e começou a tirar minha blusa.

Olhei-o com os olhos arregalados, realmente assustada. Eu tinha medo disso, tinha medo de ultrapassar os limites. Ou de não saber fazer direito.

Ele saiu de cima de mim rapidamente, me olhando cheio de culpa. Sentou-se um pouco afastado e abaixou a cabeça, maltratando os cabelos. Eu fiquei sem ação, não sabia o que dizer para ele. O pior de tudo foi ver que ele se culpava por aquilo.

-Desculpe por isso, pequena. - sua voz era um sussurro quase inaudível, cheia de vergonha - Eu sou mesmo um animal, não é? Agora você não vai mais confiar em mim.

Sentei-me ao seu lado, abracei sua cintura, beijei seu ombro e coloquei minha mão espalmada em sua bochecha. “Que droga é essa que você está falando? É claro que eu confio em você! Dããh! ”

-Obrigado, amor. - falou baixinho.

Ele ainda estava estranho, e alguma coisa me dizia que não era o nosso pequeno ‘incidente’ o único motivo de seu comportamento incomum.

Deitei-me no chão, de barriga para cima, e fiquei admirando o céu cheio de estrelas. Logo Jacob já estava deitado ao meu lado. Peguei sua mão, entrelaçando nossos dedos.

-Jake, você está estranho - falei, eu não estava nada contente com aquela situação - O que está rolando?

Ele olhou intensamente em meus olhos.

-Eu iria te perguntar a mesma coisa. - falou, tenso - O que está rolando... Entre a gente?

Aquilo me pegou de surpresa. Rolei os olhos teatralmente, tentando descontrair a situação.

-Fora o negócio do amor incondicional e o fato de você ser o meu escravo para o resto da vida? - perguntei brincalhona.

Oba, deu certo, ele riu!

-Sim, sua doida, fora isso.

-Ok, então... - respirei fundo - Eu acho que eu sou a, hm, garota da semana, né?

Ele me olhou com o cenho franzido.

-Sério? Você acha isso? - perguntou, surpreso - Aah, nossa... Eu não esperava por isso.

-Por quê?

-Por que eu imaginei que você quisesse algo mais sério. Não, na verdade, eu queria que você quisesse algo mais sério.

Dei um sorriso torto, arqueando uma sobrancelha.

-Você está me pedindo em namoro, Black?

CONTINUA ~*