Um Presente para Edward ! escrita por sisfics


Capítulo 34
Capítulo 33




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Edward Pov

- Como se você fosse o filho perfeito. - Rose resmungou, segurando a barriga.

Meu pai deu uma risada alta e pegou Glorinha no colo. Rosalie continuaria com a discussão e eu persistiria só para deixá-la irritadinha.

- Mas eu sempre tive as melhores notas. - reforcei meu argumento.

- Meu Deus, não tive dois filhos, mas escuto as mesmas coisas até hoje com Bella e Alice. Acredita que elas competiam pela minha atenção? - Renne falou para mim.

- Admita, tia. A senhora sempre quis que eu fosse sua filha também. - Alice disse piscando duas vezes seguidas com um sorriso engraçado.

- Para de tentar roubar minha mãe, Alice. - Bella reclamou.

- Não falei. - Renne sussurrou.

- Acho que meus filhos voltaram a ter dez anos. - minha mãe murmurou, encostando a cabeça na mão.

- Ela que está com ciúmes. - brinquei.

Esme se levantou com sua bolsa e foi para perto da porta, onde meu pai estava com Gloria. Emmett terminava de se despedir de Phill, por isso não estava defendendo a esposa que já caminhava na direção na porta da sala.

- Ciúmes, eu? Tem graça, pirralho. - me chamou como fazia quando éramos pequenos - Sabia que o Edward não batia nem no meu ombro até quase os quinze anos, Bella?

- Rosalie, quieta. - rosnei.

Bella me olhou dos pés à cabeça e enrugou o cenho.

- É difícil de acreditar. - completou.

- Uma vez ele cismou de entrar no time de basquete, se lembra Esme? - meu pai falou.

Minha mãe cobriu o rosto e assentiu.

- Aquilo foi vergonhoso. Colocaram ele para servir a água do time e ele ficou revoltadinho a semana inteira.

Bella riu da minha cara, mas tentou se segurar depois de ver meu rosto irritado.

- Não gosto de me lembrar dessas coisas. - resmunguei.

Gloria que já estava dormindo, se ajeitou no colo do meu pai e fui até eles para me despedir.

- Obrigado por estarem aqui.

- Vocês vão mais tarde para casa da sua irmã, não é? Para passarmos o dia de Natal juntos também.

- Acho que sim. - dei de ombros.

- Renne. - Rose chamou.

A mãe de Bella foi se despedir dela também.

- Por favor, quero que vocês apareçam por lá também. Acho que você vai enlouquecer com as macacões que comprei.

- Ah, querida, isso é muito gentil. - minha sogra sorriu sem graça.

- Dê um beijo no seu avô. - Bella disse atrás de mim.

Quando vi, Nessie estava em seu colo, completamente sonolenta e abraçava meu pai que se esticava com cuidado para lhe dar atenção e não acordar Gloria.

Bella e minha mãe se cumprimentaram de longe e Nessie quis dar um abraço na avó que corou um pouco por causa do carinho. Me despedi da minha mãe, de Emmett e de Gloria, quando alguém gritou. Rosalie estava segurando a barriga com uma cara de surpresa e Bella ao seu lado estava com os olhos arregalados.

- O que foi? - eu e Emm perguntamos juntos.

- O primeiro chute. Ó Deus! - Bella sorriu enquanto contava - Abracei Rosalie e o bebê chutou.

- Sério? - Emmett estava com a cara de babaca mais perfeita da face da Terra, enquanto algumas lágrimas brotavam nos olhos de minha irmã.

- Meu Deus, não acredito que ele se mexeu. - ela apoiou a mão na barriga quando beijou o marido.

Meus pais a circularam de cuidados, enquanto eu abria a porta. Rosalie me abraçou também ainda chorando e agradeceu por tudo.

Todos foram embora em seguida, pois já estava muito tarde.

- Mãe, porque os bebês chutam? - Nessie perguntou do colo da avó.

- Porque eles gostam de se mover lá dentro. Porcurar uma posição certa para ficar e se movimentar.

Ela enrugou o cenho e fez um bico.

- Eu ia preferir ficar paradinha.

- E você ficou muito paradinha quando estava na barriga da mamãe, sabia? Sempre preguiçosa. - Bella fez cócegas nela que riu e desceu do colo de Renne.

- Também é hora de irmos. - Phill disse se aproximando.

- Levo vocês de carro. Não há táxis sobrando essa noite. - Jasper falou.

Senti que ALice ia recusar, mas Bella disse mais que depressa:

- Ah, que ótimo Jas. E é bom que a Alice vá na frente para ela esticar bem a perna com o gesso, tá?

- Claro. Eu cuido disso.

Todos nós nos despedimos e logo foram embora. Éramos só os três novamente. Nessie se agarrou na minha perna e coçou os olhos.

- Não podemos mesmo ver os presentes agora, pai?

- Não filha, você prometeu. Assim que amanhecer nós fazemos isso juntos.

- Já é tarde. Hora de dormir, não acha?

- Eu a coloco na cama para você. - peguei a pequena no colo.

- Tudo bem... eu vou... er... tomar banho.

Subimos as escadas, Bella deu um beijo de boa noite em Nessie e foi para nosso quarto. Rennesme dormiu rápido. Depois de vestir a camisola e abraçar fofo, ela logo fechou os olhos e ressonou com um sorriso ainda estampado no rosto. Ajeite seus cachos no travesseiro, fiz carinho até que tivesse a certeza de que estava dormindo e acendi a luz do abajur para que ela não ficasse com medo de madrugada.

Nosso quarto estava com as luzes apagadas e a porta do banheiro apenas encostada. Consegui puxar a porta sem fazer barulho e fiquei algum tempo admirando Bella deitada na banheira com seus olhos fechados. Era o momento perfeito para conversarmos.

Bella Pov

Ouvi o barulho de passos na direção da banheira e encontrei Edward com seus olhos fixados em meu rosto.

Me sentei mais e o encarei.

- Já está dormindo. - disse colocando as mãos dentro do bolso do jeans.

Eu assenti ainda em silêncio e esperei que ele dissesse mais alguma coisa, mas não recebi mais nenhuma resposta.

- Quer... quer.. er... tomar banho... comigo? - perguntei com a garganta seca.

Edward demorou alguns segundos para responder o que me deixou tensa, mas ele caminhou até a pia e começou a tirar suas roupas. Virei para frente e abri espaço para ele. Em um minuto se sentou ao meu lado e passou um de seus braços ao meu redor, me fazendo sentar em seu colo.

Encostei minhas costas em seu peito e apoiei minhas mãos nas suas.

- Me responde uma coisa? - sussurrou no meu ouvido.

- Sim. - sabia o que ele iria perguntar.

- Você ainda mantêm contato com ele? - sua voz estava quase sumindo.

Virei meu rosto para olhá-lo de frente e avaliei sua expressão. Na verdade, Edward parecia preocupado.

- Não gostei do que fez mais cedo. - respondi.

Ele abaixou o rosto, até encostar a testa no meu ombro.

- Agi de forma infantil, Bella. Mas quero que saiba que por muito tempo pensei que você tivesse me deixado por causa dele, então, por favor, não se irrite dessa maneira comigo.

Subi minha mão pelo seu peito e levantei se rosto.

- É com você que estou agora, Edward. E é só isso que importa pra mim. Você sabe muito bem que eu jamais te esqueci.

Seus olhos cerraram e uma de suas mãos envolveu minha nuca. Me puxou para mais perto e meu beijou nos lábios.

- Me desculpa? - pediu, enterrando o rosto no meu ombro.

Nos abraçamos mais forte.

- Você não cometeu erro nenhum para que eu te perdoe. - sussurrei - Eu te amo.

Ele sorriu e fez com que eu encostasse meu rosto em seu peito. Tentei relaxar, mas alguns segundos depois um novo assunto surgiu na cabeça dele e percebi pois senti sua inquietação.

Olhei para cima e analisei a linha que tinha surgido entre as sobrancelhas.

- O que houve? - passei a mão em seu rosto.

- Estava me perguntando se foi tão ruim quanto você pensou que seria. - sussurrou com receio.

- Deixe de ser estúpido, Edward. É claro que não foi.

Fazendo uma análise rápida de como tinha sido a nossa noite, eu conseguia admitir que nem os problemas da parte da manhã tinham afetado aquele momento.

A maneira como minha filha ficou feliz assim como todos na mesa. Era especial demais para mim. Edward suspirou aliviado e sorriu torto.

- Pensei que tudo o que tinha acontecido de manhã pudesse estragar de alguma forma seu primeiro Natal aqui. - ele apoiou o queixo nos meus cabelos - O primeiro de muitos. Eu prometo.

Sorri silenciosa ao me aconchegar mais nele.

- Por alguns minutos sim. Tive até medo de ir para a sala quando nossas famílias chegaram. - confessei.

- É, eu percebi.

- Mas depois de um tempo vi o quanto estava sendo idiota de não passar por tudo isso com você. Mesmo eu ainda estando irritada com a história das cadeiras. - seu riso fez meu corpo tremer - Acha mesmo que eu acreditei nessa conversa barata das cadeiras?

Ele puxou meu rosto pelo queixo e parecia meio confuso.

- Que conversinha, Bells? Acha que eu estava brincando? - assenti - Era verdade, meu amor. Você ainda não tinha se dado conta que não caberia todos aqui?

- Então, porque passou no escritório? - rosnei.

Ele riu ainda mais da minha cara antes de acertar um beijo na ponta do meu nariz.

- Não podia te contar antes o motivo de ter ido lá, mas acho que agora já está mesmo perto da hora.

- Perto da hora de quê?

- De te mostrar os presentes que tenho para você. Espero que não tenha mais pavor de tudo que te dou.

Acho que pela cara que fiz ele soube da resposta imediatamente.

- Ah, não, Bella. Não vou querer reclamações ou coisas do tipo, tudo bem? - senti minhas bochechas pegando fogo e escondi o rosto em seu peito.

- Há uma coisa. - murmurei.

- Diga.

- Não tenho presente nenhum para você. Fiz minhas compras de Natal antes de voltarmos.

- É por isso que está fazendo esse drama todo? Espero que seja.

Dei de ombros em resposta e voltei a olhar em seus olhos que estavam de um verde vivo naquele instante.

- Não vejo problema nisso, sabia? - murmurou - Você já vai me dar um presente de Natal que vai ser melhor do que qualquer outra coisa que poderia ter pensado.

- Sério? - não entendi sobre que estava falando - Você quer dizer: essa noite?

- Não. Na verdade, essa noite já foi parte do presente, mas o que eu quero mesmo vai acontecer de manhã. Agora, por favor, não seja curiosa.

- Como posso não ser?

- Apenas esqueça. Volte a ter medo do que eu vou te dar. É bem mais engraçado. - fiz uma careta e ele riu ainda mais.

- Mas, então, onde está meu presente? - falei sem animação.

Ele apertou meu queixo entre os dedos e roubou um beijo.

- Assim você me mata com tanto entusiasmo. Não desmereça. Foi difícil de encontrar. Aliás: muito difícil.

- O que é?

- Quer dicas? - brincou.

- Não. Quero saber o que é.

- Hum... vamos dizer que o primeiro presente a fará corar e o segundo ... - parou para pensar num instante - O segundo te surpreenderá bastante.

Gelei ainda mais. Só agora eu tinha notado que antes ele dissera "presentes".

- Presentes? Dois? Você está louco?

- Não fale assim antes de vê-los. Tenho certeza absoluta que amará demais os dois. É claro que o segundo vai ter uma espécie de carinho maior. É algo que faz parte de nós.

Fiquei ainda mais confusa e acabei estreitando os olhos por isso.

- Quer ver agora? - perguntou, tirando um fio de cabelo do meu rosto e o prendendo atrás da orelha.

- Acho que vai ser melhor. Antes que você me torture mais com essa suas dicas. Você não é muito bom nisso.

- Acho que o problema está com você, amor. É tão óbvio. - revirei os olhos e me apoiei nas laterais para levantar.

Antes disso, Edward puxou meu rosto e me beijou mais uma vez, então levantamos juntos e jogamos uma água no corpo na ducha ao lado.

Vesti um roupão e me sentei na pia do banheiro, enquanto penteava os cabelos.

- Você fica aí, tudo bem? Eu volto num instante. Preciso preparar umas coisinhas lá dentro. - apontou para a porta da suíte antes de enrolar uma toalha na cintura.

- Pode ir.

Ele saiu em seguida, me deixando para terminar de me secar. Pensei que ele demoraria muito tempo mais, porém em questão de dois minutos estava de volta já vestido, com minhas roupas de dormir na mão e um sorrriso torto estampado no rosto.

- Já? - perguntei.

Ele deu de ombros.

- Não são presentes enormes. - deu de ombros.

- Ah, sim. Então eu posso descartar a possibilidade de um carro. - debochei.

- Isso foi uma indireta?

- Não! - quase gritei.

Ele riu da minha cara e se apoiou na pia com os braços cruzados e um largo sorriso.

- Até a parede parece mais ansiosa do que você, meu amor.

- Ai, Edward. Não implique comigo. Sabe que não gosto d...

- Desse tipo de atenção. É eu sei. - percebi que seus olhos estavam me admirando no espelho já que eu resolvera me virar para me vestir.

- Não há nada aí que já não tenha visto. - sussurrou, me fazendo corar.

- É para que você não se canse.

- Acho meio difícil. - revirei os olhos e terminei de vestir a calça cumprida.

- É melhor te mostrar logo esse presente ou vamos terminar nossa noite aqui. - disse para si mesmo, enquanto me pegava pela mão.

Deixei toda a bagunça do banheiro para depois e o segui. Quando entramos no quarto, tudo parecia como antes. Nada fora da posição que eu tenha percebido de imediato. Mas conforme fomos nos aproximando da cama, vi que um dos travesseiros estava no meio do colchão e havia um certo volume embaixo dele.

Edward se sentou na beira e me trouxe para sentar ao seu lado.

- Não gosto de ser piegas, clichê e tal, mas preciso pedir que feche os olhos.

Suspirei alto quando não podia mais ver nada. O senti se mexendo na minha frente, depois veio o som baixo de algo de abrindo.

- Pode abrir os olhos, Bells.

O nervosismo se alivou quando fiz o que pedira. Eu estava um pouco perplexa ao ver a peça em suas mãos.

Edward arqueou uma das sobrancelhas e esboçou um sorriso.

- Sabia que você ia ficar corada. - botei a mão no rosto e o senti quente.

- Er...er... é lindo.

Ele tirou o colar de dentro da caixa azul de veludo e o colocou na minha frente.

- Posso? - perguntou.

Me virei de costas para ele e prendi o cabelo num coque. Edward abriu o fecho, pousou o pingente de coração no meu colo e fechou o colar. Seus dedos percorreram devagar o meu pescoço e meu ombro.

- Sabia que ficaria lindo em você. - sussurrou no meu ouvido quando me abraçou - Você gostou?

Olhei para baixo, passando a ponta dos dedos devagar por todo o colar.

- Eu amei, meu amor. É lindo!

- Bem que Nessie disse que você gostaria.

Me virei ainda em seus braços, sentindo minha bochechas corarem ainda mais.

- Nessie?

- Sim. Nossa filha sabe guardar muito bem segredos, sabia?

Não consegui acreditar que ela estava envolvida. Eu tinha simplesmente amado ainda mais por saber que tinha escolhido todo para mim e até consegui esquecer um pouco daquele desconforto usual.

Edward segurou meu rosto e me beijou devagar antes de completar:

- É só metade. - sua mão foi de novo para debaixo do travesseiro, mas apesar da curiosidade, não consegui tirar meus olhos do dele - Lembra-se dele, Bella?

Quando virei o rosto, uma outra caixinha só que de veludo preta e menor estava em sua mão. Ele a abriu, me mostrando o pequeno anel que imediatamente reconheci. O mesmo anel de sete anos atrás.

Edward Pov

Bella finalmente entendeu qual era o presente que poderia me dar. Melhor do que qualquer coisa que o dinheiro poderia comprar. Algo que só estava em nós. Nosso amor e o fruto dele, esse era o presente que eu não podia perder de novo.

Ela ficou um pouco nervosa quando viu o anel. Sentia seus tremores incontroláveis, mesmo com meus braços ao seu redor.

Seus olhos transbordaram, me deixando um pouco nervoso pela falta de palavras e quase implorei para que dissesse alguma coisa.

- Só estou... surpresa. - ela disse num sussurro muito fraco, enquanto mais uma lágrima molhava sua bochecha rosada.

- Eu também. - falei, tentando parecer calmo.

Apesar de uma máscara de confiança, a verdade era que estava tão nervoso quanto ela e tinha ainda mais vontade de tremer. Era a segunda vez que dava aquele anel para ela e esperava que fosse a última.

- Onde o achou? Você disse que tinha jogado fora depois que conseguiu recuperar com minha "falsa mãe".

- Também pensei que tinha jogado fora depois de todos esses anos, mas na verdade não. Eu guardei. Pensei que tivesse se perdido na mudança para esse apartamento, mas o encontrei semana passada. - sorri torto, a fazendo dar um sorriso maior ainda.

- Me lembrei dele esses dias. - confessou.

Ela sacudiu a cabeça, provavelmente para afastar um pensamento ruim que as vezes nos chegava.

- Deus, é como eu me lembrava. - respondeu analisando a peça.

Eu tirei um fio de cabelo de seu olho e o prendi atrás de sua orelha com os outros cachos.

- Também é como eu me lembrava. - me referi a estar com ela, mas pareceu não notar por estar tão distraída.

- Deveria ter ficado com ele. Cometi mais um erro ao dar o anel para T...

- Shhhhi. - pousei um dedo sobre seus lábios - Sem essa história. Está enterrado, por favor. - assentiu com um sorriso.

- Voltou para a verdadeira dona. - cobri seu rosto com minhas mãos e a beijei.

Bella se enroscou em meu pescoço, procurando por abrigo, se aninhando em meu peito. Logo eu a estava a abraçando com tanta força que a deixei sem ar.

- Obrigada por isso. - sussurrou em meu pescoço, quando nos separamos.

Eu sorri e a puxei para nos deitarmos.

- Sabe o que eu estava pensando aqui? - perguntei.

Ela negou, ainda escondendo o rosto em meu pescoço e eu nos cobri com o edredom.

- Que você antigamente era mais atrapalhada. Quando ganhou o anel da primeira vez, acabou caindo da cama e me puxando junto com você.

Ela sorriu com a lembrança e me apertou mais forte.

- Quer que eu repita?

- Basta um beijo. Já ficarei bem feliz. - sussurrei.

Meu pedido foi logo atendido.

Isabella Pov

Três semanas depois

O apartamento parecia ainda mais confuso do que antes.

- Me deixe te ajudar. - Alice rosnou mais uma vez.

- Alice, sossegue nessa porcaria de sofá e me deixe terminar isso aqui sozinha, tudo bem? - falei do alto da escada.

Ela deu uma careta e se encostou na parede. Continuei limpando o alto das prateleiras e cantarolando qualquer coisa para evitar aquele olhar de piedade de Alice.

- Não faça essa cara. - resmunguei um tempo depois - Se ficasse quieta, você já teria tirado o gesso. Ouviu o que o médico disse na última consulta, né?! Então nem tenta me ajudar nisso aqui. Eu vou contratar uma empregada e nem você nem eu vamos fazer isso.

- Tô louca para tirar esse troço aqui. Está coçando mais agora. - tentou enfiar um dedo pelo gesso.

Joguei o pano que estava em minhas mãos na sua cara o que a fez fugir para o corredor.

- Que isso?

- Tira esse dedo daí, peste. Se amanhã a gente chegar no médico e ele disser que você tem que ficar mais uma semana com isso, eu vou quebrar os seus outros três membros.

Alice riu e ainda se escondendo atrás da parede perguntou:

- Tá de tpm, amiga?

- Não. - rosnei.

Eu estava só nervosa. Fazia quatro dias que Renne e Phill tinham ido embora. Os pais de Edward voltaram para casa uma semana antes. Alice voltou a morar no apartamento sozinha e eu tinha ido de vez para o apartamento de Edward. Tudo estava perfeito e isso me dava um certo medo.

Eu desci da escada, peguei o pano no chão e fechei a escada.

- Tem motivo para isso? - ela perguntou.

- Acho que sim. - dei de ombros - Amanhã tenho um jantar com meu chefe. Acho que ele quer me dar uma promoção. Meu diploma pesou muito na sua decisão. Mas estou com medo mesmo assim.

- Ora, esse homem foi atrás de você em Washington, acho que ele confia mesmo no seu talento. Deixe de besteira.

- Amanhã teremos um jantar com os advogados que estão cuidando de um processo de danos morais contra nós.

Caminhei até a cozinha e lavei a mão na pia. Alice veio atrás, se sentou ao lado de Nessie que comia um pedaço de bolo de chocolate.

- Então está nervosa por causa disso?

- Mais ou menos. - voltei para sala e arrastei minha amiga comigo - Acho que meu serviço acabou. - olhei em volta e não vi mais nada que faltasse para eu arrumar.

- Acho que acabei por hoje. - virei para ela e vi o perigo eminente.

- Alice, onde estão as muletas?

Ela revirou os olhos e se sentou no sofá.

- Deus, Bella, vê se relaxa um pouco. Não tem mais nada para arrumar agora vai tentar arrumar minhas pernas também?

Me sentei derrotada no chão.

- Se ficar se exaurindo dessa forma não vai chegar bem amanhã.

- Bate na boca, Alice.

- Desculpa? O que Edward disse sobre isso? - revirei os olhos.

- Não consegui conversar com ele nem ontem, nem hoje. Preciso pedir que pegue Nessie na escola. Ele estava tão distraído hoje de manhã.

Olhei para fora, a claridade brilhante do meio-dia.

- Será que ele ainda está trabalhando? - perguntei para mim mesma - Deve ser um caso difícil. - concluí.

A mínima distância dele me incomodava. Eu sentia sua falta. Como uma abstinência.

- Me faça esquecer amanhã. Conte alguma coisa. Não nos falamos desde sexta-feira.

- Ah, sim, claro. Meu gesso me irrita. Eu não posso fazer compras porque meu gesso me irrita. Renne ligou para mim e disse a ela que meu gesso me irrita. E estou pensando em me mudar para Nova Iorque, se o meu gesso não me irritar.

- Outro dia Edward me pediu que eu... Se mudar? - a imagem da janela se desfigurou e seu rosto iluminado tomou lugar - Você... você...

- Achei que reagiria melhor. Talvez com mais entusiasmo. Ah, sabia que você pode simplesmente transferir o nome do contrato de aluguel daqui para o meu nome. Fiquei tão feliz quando o corretor me contou isso.

- Corretor? Alice, porque estava me escondendo isso? - ela deu de ombros.

- Muito tempo livre. Já comentei que meu gesso me irrita? - dei uma risada inevitavelmente alta.

- Deixe de ser boba. Me conte o que anda aprontando.

- Bem, sexta-feira liguei para o corretor. Contei a história toda, mas sem muitos detalhes. Só disse que você estava voltando para o seu esposo e...

- Você disse esposo? - me forcei para não gaguejar. Parecia estranho.

- Sim. Ele me disse que você tinha posto solteiro no contrato, mas não há problema se é o que está pensando. E decidi que vou me mudar. Se você não se importar, assim que eu tirar o gesso, pretendo procurar um emprego. Talvez com as indicações de meus antigos patrões de Washington.

- Antigos patrões? O que houve com a revista? - ela escondeu um sorriso.

- Liguei ontem para lá. Nadine ficou triste por me perder, mas disse que faria a melhor carta de recomendação que já existiu e dará todos os meus direitos, mesmo eu tendo pedido demissão.

- Jeito Alice de conquistar as pessoas? - resmunguei, cruzando os braços.

- Isso é ciúmes. - antes que eu respondesse ela continuou - Foi só isso. Você ficaria feliz caso eu me mudasse para cá?

Levantei do chão e me sentei ao seu lado no sofá.

- Ainda pergunta, irmãzinha. - a apertei em meus braços, tomando cuidado com sua perna.

Ela me abraçou de volta até que ficasse sem ar, então me soltou com um sorriso enorme.

- Termine de dizer o que começou. Era algo sobre Edward...

- Nada demais. Você falou sobre minha mãe e lembrei que ele há uma semana me pediu que trouxesse para cá as minhas coisas que deixei na casa da minha mãe em Forks quando esvaziei o apartamento.

- Ah, sim. Acho que eu terei que fazer o mesmo a partir de agora, né?!

- Trabalho à vista. Ele está com grande curiosidade em ver as fotos, vídeos, lembranças, tudo que guardo de Nessie.

- É como se tentasse recuperar o tempo perdido.

- Sim, mas ele faz isso muito bem. Aliás, não passo mais quase tempo nenhum com minha filha. Ele a usurpa de mim. - fiz um bico infantil o que a fez rir.

Quando Alice ia dizer algo sobre o assunto, a campainha tocou. Inclinei a cabeça para ela.

- Está esperando alguém? - negou - É conhecido ou o porteiro não teria deixado subir. - demos de ombro.

Antes que eu levantasse do sofá, Nessie saiu pela porta da cozinha correndo com a boca ainda suja da calda do bolo e abriu a porta.

- Nessie?! - chamei sua atenção.

- É o Tio Jasper. - explicou, saindo no corredor.

Logo voltou com Jasper sendo puxado pela sua mão.

- O porteiro ligou, mãe. Vocês não ouviram porque tavam falando, falando, falando.

Jasper deu uma risada baixa e passou a mão pelos cachos dela.

- Essa menina parece ficar mais esperta a cada dia que passa.

- Mais tagarela também. - resmunguei me aproximando - Tudo bem, Jazz?

Nos cumprimentamos e ele assentiu com calma.

- Acabei de vir do escritório. Edward estava com humor de cão por causa de um caso aí.

- Óima notícia. - ele sorriu, ainda sem olhar para mim, com olhos somente em Alice - O deixei em casa antes de vir para cá. Ele me contou uma coisa, então vim ver se era verdade.

Percebi que não estava mais falando comigo, então arrumei logo uma desculpa para sair dali.

- Filha, como você consegue se sujar tanto com um pedaço de bolo tão pequeno? Vem. - a puxei quase correndo para a cozinha.

- Ah, mãe, eu quero brincar com o Tio Jasper. Ele é melhor no videogame que meu pai. Eu sempre venço do papai. Com o Tio Jasper é mais emocionante. - segurei uma risada.

- Vou falar isso para o seu pai mais tarde.

- Iiiii, fala não, ele vai ficar com ciúmes.

- Tudo bem, então promete pra mamãe que vai se limpar, tá? - dei um pedaço de lenço de papel para ela que fazia bico, enquanto tirava a calda do rosto.

- Fica aqui. - fui para a porta, mas de forma que não me vissem da sala e não que estivesse orgulhosa do meu ato, mas eu estava espiando.

- Sei que você deve preferir ir com Bella. Mas acho que seria uma forma de pedir desculpas. - Jasper falou baixo demais.

- Não é preciso. Tenho certeza que Bella já fez seus planos para me levar.

- Eu insisto. Pensei que você estava menos incomodada com minha presença depois do meu telefonema de semana passada.

Daquele telefonema eu sabia. Não que Alice estivesse menos incomodada, mas estava mais mexida.

- Não fico incomodada com você. - estava quase gaguejando.

- Então me deixe te levar para tirar o gesso, tudo bem? Eu passo aqui de manhã para te buscar e juro que farei o que pedir.

Eu sabia que essa hora ela estaria vermelha.

- Acho que tudo bem.

- Que ótimo. - ele vibrou.

- Own. - não me contive.

Foi baixo o suficiente para que ninguém me ouvisse, mas o bastante para Nessie me repreender.

- Ouvindo a conversa dos outros. Que feio, mamãe. - me condenou com uma cara séria.

Realmente, aquilo era ridículo. Me afastei da porta e deixei que os dois conversassem por mais meia hora até que o celular de Jasper tocou e ele teve que sair. Ele veio se despedir de mim e Nessie, depois se despediu dela e foi embora.

Alice bateu palmas assim que fechou a porta e foi suspirando para seu quarto, ainda andando com dificuldade por causa das muletas.

- Mamãe, o que aconteceu com a Tia Alice? - Nessie perguntou.

- Boa pergunta filha. Acho que sua tia está apaixonada

[...]

Nessie pulou do meu colo com pressa e entrou correndo no apartamento em procura do pai. Fechei a porta com calma, deixando nossas bolsas em cima do sofá da sala. O apartamento estava silencioso demais, então subi os degraus da escada atrás deles dois.

Edward estava no nosso quarto, sentado na cama com um monte de papéis em volta de seu colo. Ele segurava Nessie como se a estivesse ninando e aumentou ainda mais o seu sorriso quando me viu.

- Oi, amor. - eu disse me sentando ao seu lado.

Ele se esticou, tomando cuidado com Nessie e me deu um beijo no rosto ainda sorrindo apesar de parecer bem tenso.

- Oi. Como foi na Alice?

- Tive que suportá-la reclamando do gesso, mas foi bom. Jasper esteve lá e disse que você estava com problemas. O que houve?

Ele abaixou o rosto, vendo Nessie passar a mãozinha em sua barba mal feita e acariciou seus cachos.

- Não é nada demais. Problemas do trabalho. Eu acho que... passei tempo demais longe do escritório.

Uma pontadinha de culpa me cobriu quando ele disse isso.

- Pai, a mãe disse que acha que a Tia Lice tá apaixonada. Lembra que você tinha me dito a mesma coisa só que com o Tio Jasper.

Ele deu uma gargalhada e a pôs sentada em seu colo.

- Mas como é isso, hein?!

Ela cobriu a boca para rir e continuou:

- Existe dama de honra com minha idade ou eu já sou grande demais?

Edward deu mais uma gargalhada, a pôs no chão e se levantou.

- Só não diga isso na frente do Jasper, okay?

Eu sorri, enquanto ele me abraçava.

- Iiiii, vai começar a melação. - ela pôs as mãos na cintura assim que nos viu.

- Nessie?! - a olhei assustada.

- Ela sai com cada uma. - Edward murmurou rindo.

- Mãe, a gente vai lanchar? Eu tô com fome.

- Vai lavar as mãos e já vamos comer. - ela saiu correndo do quarto, então Edward aproveitou para me dar um beijo de verdade.

- O que aconteceu que está te preocupando tanto? - perguntei quando nos afastamos.

- Nada de importante. Esses papéis. Coisas demais para ler, interpretar, a lei e a justiça é cheia de brechas. Isso me irrita profundamente.

- Por isso preferi as palavras. - dei de ombros.

Ele sorriu e se sentou de novo.

- Se importa se eu não jantar com você? Vou ficar num dos quartos de hóspede. Preciso terminar de ler essas determinações do juiz aqui. - apontou para uma pilha um pouco alta.

- Acho que tudo bem. Me senti um pouco culpada agora.

- Porque, meu amor?

- Acho que te usurpei demais nas últimas semanas. - ele sorriu - Aliás, tenho feito isso desde que chegamos na sua vida.

- Não vou nem te responder. Sabe que isso é completamente ridículo. Amo estar com vocês.

- Se você diz. - dei de ombros.

- Porque não me ajuda a levar tudo isso aqui para lá? - o beijei mais uma vez antes de ajudar a levar todos os papéis e deixá-los na mesa de cabeceira do quarto de hóspedes.

Ele nem desceu para lanchar com a gente, então não esperei que fosse dormir comigo. Depois de comermos, levei Nessie para a cama e fui dormir também.

Na manhã seguinte, quando acordei, ele não estava mais em casa, não preparou o café ou avisou que sairía. Levei Nessie para a escola e fui para o jornal. Liguei para o escritório dele para avisá-lo de novo que ele teria que buscar Nessie na escola, mas ninguém me atendeu no telefone pessoal, muio menos no da empresa. Só esperava que ele não esquecesse.

Edward Pov

- Porque me chamou aqui? - perguntei assim que entrei no escritório de Jasper.

- Bom dia pra você também. Estou passando bem de saúde também caso queira saber.

- Jasper, estou sem tempo. - rosnei.

- Leu tudo que precisávamos para hoje?

- Hoje? - enruguei o cenho ao me sentar de frente para ele.

- É, Edward. O coquetel que eu te falei. Precisamos discutir com o Sr. Vitor sobre a próxima conciliação. Aliás, tenho uma ótima notícia. - esfregou as mãos uma na outra.

- Hoje, Jasper? Como assim hoje? Você não me avisou nada.

- Claro que avisei, Edward. Mandei que a sua secretária colocasse na sua agenda e falei com você por telefone. Porque achou que eu estava com tanta urgência na leitura daqueles papéis. Você sabe que eu preciso de você essa noite. Aquele velho não confia em mim, aliás não sei porque, eu tenho mais cara de competente do que você.

- Cara, cala a boca. - pedi para tentar raciocinar.

Ele cruzou os braços e se jogou contra a cadeira preta. Pensei nas possibilidades para mais tarde e assenti comigo mesmo.

- Que horas? - perguntei.

- Será só um coquetel às cinco. Algum problema?

- Nenhum. - me senti um pouco mais calmo apesar de ainda estar com a sensação de que alguma coisa daria errado - Qual era a ótima notícia que você queria me dar?

- Ah, sim. - quase pulou - Na verdade são três ótimas notícias. A primeira é que assim que fecharmos o caso do Jornal e o dinheiro for para nossas gordas poupancinhas, poderemos pensar melhor sobre aquela proposta da venda do escritório e nos aposentarmos. - o sorriso dele aumentava a cada palavra.

- Ainda pensa em vender? - me assustei.

Eu já tinha esquecido completamente daquela história.

- É claro que sim, Edward. Bem a segunda ótima notícia é que eu tenho um caso da vara da família para você. Sabe como odeio essa coisa de separação de bens. - ele tirou uma pasta caramelo debaixo de outras e me entregou - Será algo para relaxar, pense assim, tudo bem? - revirei os olhos, folheando as primeiras páginas.

- A terceira ótima-perfeita-maravilhosa-notícia é que amanhã eu vou levar a Srtª Brandon para jantar e espero que você me cubra nessa.

Larguei as folhas na mesma hora.

- Tá de brincadeira, né?! Você chamou a Alice pra jantar? - os olhos dele brilharam.

- Eu disse que ia conseguir. - respondeu rindo - Não consigo parar de pensar nessa mulher desde aquela noite que eu estava na boate com aquela garota que eu nem me lembro o nome.

- Jasper, você é um cafajeste.

- Até pouco tempo você também era, pai de família. - ele jogou as pernas sobre a mesa e suspirou - Eu a ajudei hoje mais cedo com a história do gesso. A levei no hospital para tirar aquele treco fedorento e consegui convencê-la de sair comigo. Ai, ela é linda demais, não é não?

- É. - concordei, voltando a olhar para os papéis.

Me lembrei de Nessie na noite passada perguntando se poderia ser a dama de honra de Jasper e Alice. Eu planejava que ela fosse a dama de honra do meu casamento primeiro. Tinha que ser em breve.

- Alô? - cinco dedos balançavam na frente do meu rosto - Dormindo acordado, bonitão. Nem pra me ouvir falar, hein?! Você está ficando com essa péssima mania de novo.

- O que houve? - perguntie, coçando os olhos.

Estava quase dormindo mesmo.

- Esquece. Volta para a sua sala, vai. Me deixa aqui sozinho imaginando onde levar a pequena.

- Jasper, você está me dando nojo.

- Não disse nesse sentido, idiota. - gritou, jogando um apontador em mim antes que eu saísse da sala.

Voltei para minha sala começando a analisar o caso do Sr. e Srª Stuart.

Bella Pov

Tentei ligar um milhão de vezes para Edward, mas ele não atendia o celular de jeito nenhum. Vitor me observava inquieta no táxi enquanto estávamos num engarrafamento gigantesco perto da quadragésima segunda.

- Eu disse para não virmos por aqui. - sussurrei, ficando vermelha.

Ele ajeitou a barriga dentro do cinto, apoiou a mão no vidro e suspirou alto.

- Algum problema pessoal, Isabella? Não larga esse celular.

- Só queria saber se meu... meu ma-rido... pegou nossa filha na escola. - ri sem graça - Me desculpa, Vitor? Sei que não deveria estar fazendo isso.

- Você parece mesmo ser uma mãe superprotetora, apesar de não ter cara de mãe. - sorri ficando ainda mais rosa.

Todos diziam isso. Não era comum achar uma mulher com vinte e cinco anos com uma filha do tamanho de Nessie. Suspirei, recostando a cabeça no encosto do banco traseiro.

- Você vai gostar dos rapazes. São simpáticos. Espero que não esteja me achando um canalha por te obrigar a fazer horas extras. Sabe que eu preciso te avaliar em diversas situações antes de te promover.

- É claro, Vitor. Não estou pensando nada disso. Não se preocupe.

- Meu filho, pelo amor de Deus, assim vamos nos atrasar. Aperta essa buzina. - ele exclamou com seu jeito peculiar.

O motorista do carro assentiu mais que depressa e tentou cortar caminho, mas Nova Iorque era mesmo um inferno a qualquer hora e qualquer dia da semana. Chegamos no lugar combinado com quase uma hora de atraso, mesmo com a dianteira que tivemos ao sair do jornal. Antes de irmos para a mesa, liguei mais uma vez para Edward e desliguei antes que a voz irritante daquela mulher da caixa postal pudesse terminar de dar seu recado.

Caminhamos até uma mesa, onde os advogados nos esperavam. Vitor já chegou batendo nas costas deles e rindo, mas não consegui prestar muita atenção em seus rostos, até que um deles me chamou.

- Bella?! - olhei para o alto e encontrei Edward.

Ele me olhou assustado.

- O que está fazendo aqui? - foi a única coisa que consegui perguntar.

- Vocês se conhecem? - Vitor perguntou.

- Melhor do que o senhor teria a capacidade de imaginar. - Jasper sussurrou.

- Pensei que estivesse em casa. - Edward disse baixo, entrando na frente de Vitor e Jasper para que não pudessem ouvir.

- Pensei o mesmo de você. Porque não me disse que ia trabalhar até mais tarde? Aliás, porque não atendeu o telefone? Com quem deixou Nessie?

Ele arregalou os olhos.

- Oh, meu Deus. - sussurrou.

- Edward, me diz que você buscou nossa filha. - rosnei.

Antes que eu perguntasse mais alguma coisa, ele começou a andar para a porta do restaurante, mas Vitor pôs a mão em seu ombro.

- Onde vai, meu rapaz?

- Ele não vai a lugar nenhum. - rosnei - Vitor, me desculpa, mas eu tenho que sair.

Ele enrugou o cenho, olhando Edward desconfiado.

- Aconteceu alguma coisa? Espero mesmo que seja muito importante.

- Sim. É muito importante. Talvez Edward possa explicar para o senhor. - aquilo tudo saiu como um rosnado.

Vitor cruzou os braços e pelo pouco que eu o conhecia sabia que aquela expressão significava uma grande insatisfação. Mas minha filha era mais importante que meu emprego. Eu também tinha outro motivo para querer sair de lá: estava prestes a gritar com Edward.

É claro que estava com medo do que meu chefe podia achar mas saí correndo de lá assim que minhas pernas atenderam ao meu comando. Edward deu dois passos na minha direção, mas eu o fuzilei com os olhos e Jasper segurou seu braço.

Entrei no primeiro táxi que vi parado em frente ao restaurante antes mesmo que o passageiro que estivera ali dentro pudesse terminar de pagar.

- Boa noite. Vamos pela cinquenta e nove? Acha que essa hora está sem trânsito? - o motorista me olhou assustado - Estou com muita pressa. - expliquei.

Ele arrancou com o carro, mas em menos de dois minutos estávamos presos num novo engarrafamento por causa de uma batida ali perto. Um carro do corpo de bombeiro passou apertado ao nosso lado o que me deixou ainda mais angustiada. Tentei ligar para Alice, talvez ela tivesse mais chances de buscar Nessie, mas não consegui falar com ela em casa. Liguei para a escola, mas a secretaria também não atendia. Só faltava eu ligar para os bombeiros. Ah, espera! Eles já estão aqui do meu lado.

- Inferno! - resmunguei.

O taxista me olhou com uma sobrancelha erguida e tentei esboçar um sorriso para acalmar a ele e a mim, mas não funcionou.

Mais alguns minutos dentro do carro pareciam uma eternidade, eu estava preocupada com o que Nessie estaria pensando ou se estava bem e, principalmente, segura. O toque do meu celular me deu um susto, me fazendo quicar no banco, e toda atrapalhada demorei a atender.

- Alô?

- Mas onde diabos você estava com a cabeça? Cadê você? E o Edward? Porque os dois não atendem o celular? - Alice rosnou.

- Alice, eu precisava mesmo te pedir uma coisa.

- Acho que a coisa está agora mesmo tomando banho e com a barriga roncando de fome. Pode me dizer como isso aconteceu?

Suspirei alto, relaxando no banco o que ressaltou até o motorista. Ele devia estar confuso pela minha mudança repentina. Indiquei com o dedo para que voltasse e sibilei a palavra "restaurante".

Ele entendeu o recado e enquanto eu voltava a falar com Alice já entrava na primeira esquerda para voltar as quadras que tínhamos andado.

- Ainda bem que ela está com você. Não vai acreditar no que aconteceu.

- Estou curiosa mesmo. A garota estava pensando que vocês dois tinham morrido. Sorte a sua que a escola ligou para mim depois de uma hora de atraso dos dois. O que aconteceu com o seu celular?

- Passei as últimas horas tentando ligar para Edward. Me desculpa?

- E o dele?

- Deve estar desligado. Alice, você não sabe o quanto foi útil. Eu pensei que ele tivesse ido buscá-la, mas parece que esqueceu. - ela fez um som estranho do outro lado - Sim, eu estou aborrecida. - rosnei confirmando seu pensamento - Mas nem vou poder falar com ele agora. Não posso perder meu emprego.

- Como?

- Te explico mais tarde. - o táxi já estava na quadra do restaurante - Diz para Nessie que mandei ela te obedecer, se comportar, diz que eu a amo e que nós vamos passar para buscá-la aí mais tarde, está bem?

- Que horas?

- Em breve. - eu não ia querer mesmo prolongar muito aquela discussão.

Nem sei para que estava lá, mas Vitor ficava insistindo em me carregar para todos os lados.

- Beijos amiga. - ela disse antes que eu desligasse.

Soltei um pouco antes do restaurante, fui andando até a porta e entrei sem que a recepcionista me parasse. Vitor e Jasper conversavam enquanto Edward assumia uma postura cansada, com os ombros caídos e o rosto retorcido.

Me aproximei pelas suas costas e sentei ao seu lado, dando um pequeno susto nos três.

- Bella?! - ele exclamou.

- Nossa, você não demorou nada, criança. - Vitor disse ajeitando a barriga.

- O que... - Edward começou.

- Vamos conversar sobre o que realmente interessa aqui. Perdi alguma coisa? - perguntei sem me direcionar a ele.

Era difícil ignorar a presença de Edward ali. Estava irritada demais com ele para olhar em seus olhos. Sentia suas esmeraldas me avaliando como se pedissem desculpas, mas eu não me virei.

Vitor começou a conversar com Jasper sobre toda a situação e Edward tocou minha mão embaixo da mesa. Eu a puxei. Estava mesmo irritada.

Mantive minha frieza com ele até que a reunião acabou e ele disse que íamos para casa.

- É engraçado saber que vocês são casados. - Vitor disse já na porta do restaurante, enquanto esperávamos o carro de Edward e o de Jasper - Quando vi a foto da filha de vocês no seu escritório garoto soube na hora que conhecia aquele rosto, mas não me lembrava de onde. - ele olhou para mim - O mundo é mesmo muito pequeno.

Um manobrista conseguiu achar um táxi para meu chefe, que logo se aprumou todo e sorriu.

- Foi ótima a reunião, meus queridos. Nos vemos depois. Até amanhã, Bella. - ele entrou no carro amarelo.

O silêncio que se seguiu não era só porque o assunto tinha acabado, mas sinceramente porque eu estava tentando controlar dentro de mim a minha hostilidade. Duvido que ele esquecesse de ir às suas reuniões e audiências.

- Er... espero que o manobrista traga logo o carro, né?! - Jasper disse rindo nervoso.

- Eu também. - rosnei, dando um passo na frente.

Edward cruzou os braços parecendo meio confuso e logo em seguida os carros chegaram. Ele bem que tentou conversar, mas eu cortei logo qualquer idéia durante o caminho até o meu antigo apartamento. Alice também não fez mais perguntas, sabia que eu estava enfezada, e por incrível que pareça Nessie foi correndo para os braços do pai assim que chegamos. Não que eu estive com ciúmes, mas isso era meio contraditório. Só podia ser ironia do destino.

Quando chegamos no apartamento dele, subi com nossa filha no colo para seu quarto e a pus para dormir. Enquanto isso, ele tomou banho e me esperou no quarto. Fiz de tudo para demorar a chegar a hora de ir deitar, mas já estava na sala há tempo demais e achava que já estava calma o suficiente para perguntar o que tinha acontecido sem soltar um grito.

Entrei no quarto sem olhar para ele, comecei a me despir para tomar banho e foi quando ele veio para perto de mim.

- Bella?! - chamou baixo.

- O que houve?

- Está muito chateada comigo, meu amor?

- Quer a verdade? - ele não respondeu nada e só se apoiou na parede ao meu lado enquanto eu tirava o sapato - Espero que você tenha um bom motivo para não ter atendido os meus telefonemas e , principalmente, por ter esquecido de buscar nossa filha.

- Foi por causa da reu...

- Não, não foi. - o cortei - Edward, estou muito aborrecida e só quero que prometa que não vai mais fazer nada disso. Me promete?

Ele abaixou o rosto visivelmente no seu limite de exaustão, mas eu também estava cansada, não custava nada ele só me prometer.

- Não sei porque está fazendo essa tempestade num copo d'água, Bella. Nessie está bem, olha eu juro que não vou mais esquecer nenhuma função minha de pai. Mas é que...

- Não falo disso, Edward. Primeiro: não estou fazendo uma tempestade em copo d'água. Só vim para o quarto agora, justamente para evitar brigar com você. Segundo: não são suas obrigações como pai que eu quero que cumpra melhor, até porque você já as cumpre muito bem. Só por favor me prometa que não vai me ignorar mais dessa forma e nem ser tão desligado com a gente.

- Ignorar você? Pensei que o assunto fosse com nossa filha.

- Não deboche da minha cara. - rosnei.

Ele respirou fundo, acho que pensando melhor no que dizer.

- Me explique melhor então. - murmurou um tempo depois.

- Essa semana inteira você esteve tão absorvido com o trabalho que não ouviu o que eu disse. Pode confessar que você não esqueceu e sim não ouviu o que eu tinha te pedido.

Ele gaguejou por alguns segundos, mas não achou nada para dizer.

- Não vai admitir, não é? - não respondeu - Tudo bem, vamos conversar sobre isso outra hora. - já estava só de roupas íntimas então fui para o banheiro.

Esperava mesmo que acabasse ali, quanto mais tempo passasse, mais eu ficaria calma e esqueceria, mas Edward me seguiu até lá. Sentei na beirada da banheira e abri a torneira.

- Quero conversar sobre isso agora.

- Acho melhor não. - resmunguei.

- Você tem que entender, Bella. Eu não ignorei o que você tinha me pedido, eu só esqueci. Não precisa me julgar. Eu estava trabalhando, você também nem me avisou que iria naquela reunião. Meu trabalho é importante.

- O meu também. - respondi calma.

- Não queira comparar as nossas cargas, Bella. - aquilo sim me irritou demais e pela primeira vez tive vontade de ter continuado mesmo lá embaixo.

- Você não está me menosprezando, não é? - meu tom de voz aumentou um pouco, mas deveria me controlar não só por nós dois mas também por nossa filha.

- Não. - rosnou.

- Não parece. - me virei de novo para a banheira.

Esperava que ele entendesse isso como um fim de conversa, mas continuou atrás de mim esperando que eu dissesse mais alguma coisa.

- O que mais quer, Edward? Já pedi para conversarmos amanhã.

- Só não consigo entender porque ficou assim. Já prometi que não vou mais fazer isso, ainda está tão irritada assim? Deus!

- Sim fiquei muito irritada. Esperava que você me ajudasse.

- Mas Bella, eu... estava num momento delicado. Estava pressionado. Ocorreu um problema.

- Vai dar desculpas desse tipo sempre que cometer um erro? Não estou te julgando. Só esperando que admita que estava errado.

- Mas, como queria que eu adivinhasse, droga? - gritou.

- Eu falei com você. Você nem me ouviu, Edward. Sabe que está errado. Não seja um advogado na nossa relação. Não quero argumentações. Inferno!

- Argumentações?

- Sim. - bufei.

- Boa noite, Bella. - rosnou antes de sair do banheiro às pressas.

Porque ele não admitia que tinha que ter me ouvido? Eu não tinha gostado nem um pouco do que dissera, talvez amanhã pudéssemos conversar civilizadamente. Entrei na banheira e fiquei lá até ter a certeza de que ele já estivesse dormindo.

Depois, fui para a cama e deitei o mais distante possível.

Edward Pov

- Vamos logo? - chamei da porta.

- Não vai acordar a mamãe? - Nessie perguntou antes de pegar sua mochila roxa e me entregar.

- Isso está pesado demais para você, sabia? - resmunguei.

Ela deu de ombros, como se não pudesse fazer nada.

- E a mamãe? - perguntou de novo.

- Ela não precisa acordar tão cedo assim para te levar na escola, amor. Vamos logo, ela poderá ir pro trabalho mais sossegada.

Saímos do apartamento, então tranquei a porta e chamei o elevador.

- Pai, se eu te perguntar uma coisa você responde? - segurou minha mão.

- Claro.

- Porque você e mamãe brigaram ontem a noite?

Senti um pequeno nó se formando na minha garganta, enquanto entrávamos. Peguei Nessie no colo porque sabia que ela ainda estava sonolenta e também porque queria estar olhando em seus olhos ao responder.

- De onde tirou isso?

- Vocês estavam com caras estranhas quando foram me buscar ontem na Tia Lice e eu acordei de noite com você... falando bem alto... Eu não queria que você e mamãe brigassem.

- Meu amor, nós não brigamos.

- Não? - entortou a cabeça me fazendo sorrir.

- É claro que não. É verdade que eu e sua mãe estávamos irritados, o pai por causa do trabalho e a mamãe porque eu fiz uma besteira, mas não chegamos a brigar.

- Que besteira você fez, papai?

- Bem... er... eu esqueci de... te buscar na escola. - confessei como se fosse um crime.

- Por isso demoraram tanto para ir me buscar? - assenti envergonhado - Você esqueceu mesmo de mim?

- Não é bem assim. - o carro estava alguns metros então esperei abrir a porta para continuar falando.

A coloquei sentada no banco, prendi o cinto de segurança em volta de seu corpo e ajeitei a mochila ao seu lado .

- O papai não esqueceu você por mal, meu amor. É que tinha muita coisa na minha cabeça por causa do trabalho e eu não sei o que me deu. Você perdoa o papai?

Ela entortou a cabeça para um lado e para o outro, avaliou bem o meu pedido e depois respondeu com um enorme sorriso:

- É claro, papai! - me abaixei para ganhar um beijo no rosto.

- Que beijo gostoso. - apertei sua bochechas a fazendo rir - Agora, você me promete uma coisa? - assentiu entusiasmada - Me prometa que não vai mais preocupar a sua cabecinha comigo e sua mãe. Somos adultos e sabemos resolver nossos problemas sozinhos.

"Na teoria" - eu pensei.

- Prometa que você não vai ficar pensando nisso.

- Eu prometo.

- Então tudo bem. Vamos para a escola?

- É, né, vamos! - deu de ombros.

Eu dei uma gargalhada, então fechei a porta do carro e fui para o meu lugar. Esperava mesmo que Bella me perdoasse. Acho que estava tão irritado ontem a noite que cheguei a ofender, mas pediria perdão essa noite.

[...]

Ela cozinhava de costas para mim quando cheguei na cozinha. Bella não notou minha presença por isso parecia tão natural e relaxada enquanto fazia aquilo. Ao mesmo tempo, continuava com a cabeça inclinada de uma forma que a deixava com uma expressão de dúvida. Talvez não estivesse gostando do que estava na panela, mas apesar de querer que isso fosse verdade, ou não afinal eu também ia comer, eu tinha que admitir que ela estava estranha.

Não era para menos. Eu tinha que pedir desculpas, mas não sabia por onde começar. É claro que com Rennesme tinha sido muito mais fácil. Como ela mesmo dizia: "Os adultos complicam demais as coisas". Pensei em chamá-la devagar, perguntar se estava bem, introduzir o assunto e então eu me jogaria a seus pés.

Talvez fosse uma boa tática, mas seria patético também. Eu sabia que estava errado, mas o orgulho me impedia de admitir. Queria só continuar agiando naturalmente até que ela fizesse o mesmo. Enruguei o cenho ao pensar que era nossa primeira briga desde que voltamos. Ontem à noite me fez lembrar até das discussões que tínhamos quando ainda namorávamos. Elas passavam sempre tão depressa por nós.

Rosalie tinha certa razão quando me disse uma vez que nós dois éramos apressados demais e levávamos tudo muito a sério. Talvez fosse por isso que Bella tenha ido embora sem querer explicações, e eu não tenha insistido nela da forma que queria.

- Ainda vai demorar. - ela falou de repente, me assustando.

- O que disse?

- O jantar vai demorar. - respondeu sem vontade - Não precisa ficar esperando. Eu chamo quando terminar.

Continuava de costas para a bancada onde eu estava, então fiquei curioso para perguntar como tinha me notado.

- Como sabia que eu estava aqui?

Jogou o peso de uma perna para outra, pôs uma das mãos na cintura e suspirou.

- Conheço seu perfume, Edward. E até a sua respiração pesada quando está pensando em algo que te deixa preocupado.

- Ah. - foi só o que consegui responder.

Ela então soltou a mão e segurou uma colher que tinha deixado ao lado da panela, mas assim que tocou o metal, soltou com um pulo e fez um chiado.

- Droga! - disse antes de levar os dedos na boca.

Levantei depressa, atravessei a porta da cozinha até chegar nela.

- Queimou os dedos? - perguntei segurando sua mão.

- Nada demais. Sabe como sou atrapalhada. - respondeu de cabeça baixa.

Puxei a mão para o alto e dois de seus estavam vermelhos nas pontas. A puxei para que viesse até a pia comigo e os coloquei embaixo da águia fria. Ela reclamou por um segundo, mas logo se aquietou.

Depois de aliviar a ardência, fechei a torneira e sequei sua mão com cuidado. Ela não se moveu nenhuma vez, enquanto eu tomava conta de sua mão, então sem que notasse a girei para que ficasse encostada na pia e fui chegando cada vez mais perto.

Quando finalmente notou, eu já estava próximo o suficiente para sentir seu perfume.

- Eu devia cuidar de você sempre. De você e da Nessie. Não sei onde estava com a cabeça, meu amor. Entendo que você tenha ficado tão aborrecida, não pelo que eu esqueci de fazer, mas pelo que eu não esqueci de falar.

- Edward...

- Por favor, me desculpa? Eu não sei onde estava com a cabeça durante essa semana. Não deveria ter descontado em você. Te ofendi demais, Bella. Me desculpa? - ela levantou seus olhos até encontrarem os meus e suspirou.

- Esquece isso. - tentou me afastar com as mãos.

- Eu bem que queria, mas temos que fazer direito dessa vez. Não pode ser como há sete anos, quero colocar tudo à limpo agora. Me desculpa?

Senti certo desconforto ainda enquanto pensava, mas depois relaxou um pouco e, vendo que eu estava sendo sincero, assentiu e suspirou.

- Desculpo. Só prometa que não vai mais gritar comigo daquele jeito.

Não segurei o sorriso torto, então segurei seu rosto e acertei seus lábios com um beijo bem delicado.

- Eu prometo. - sussurrei.

Ao invés de me empurra, suas mãos agora circularam meu pescoço, então nos beijamos de verdade. Era bem mais fácil conversar assim com os dois calmos, mas aquele momento não durou muito. Logo Bella me afastou quando ouviu uma pequena risadinha atrás de nós.

Nessie estava ajoelhada no banco onde antes eu estava sentado e nos olhava com um sorriso enorme no rosto.

- Não atrapalhei, né?! - perguntou, fazendo um bico.

Bella me empurrou ainda com as bochechas um pouco coradas e um sorriso tímido no rosto.

- Deveria estar fazendo seu trabalho de casa, mocinha. - disse indo de novo para o fogão.

- Com certeza! - resmunguei, fazendo as duas rirem.

Voltei para onde estava antes e me sentei ao lado de nossa filha.

- Já terminei o trabalho. Esqueceu que eu sou inteligente?

- É claro que não. - Bella disse com pesar, me fazendo rir.

- Eu vim aqui só pra perguntar uma coisa.

- Pensei que você fosse a mais inteligente. - ela fechou a cara com um bico lindo.

- Pai? Posso te fazer uma pergunta ou você tá ocupado agora?

- Claro que não, filhota. Pode dizer.

Bella avaliou o rosto de nossa filha e depois tentou segurar uma risada. Para que eu não visse, se virou para o fogão e passou a hiperventilar.

Ainda não tinha entendido sua reação. O que ela tinha visto no rosto de Nessie que eu não conseguia enxergar?

Nossa filha se sentou no banco ao meu lado e perguntou:

- Como os bebês são feitos?

Eu tentei me convencer de que não tinha entendido a pergunta e de que estava ficando completamente surdo ou algo do tipo, mas o que Bella fez depois não me deixou me enganar. Ela começou a rir da minha cara com tanta vontade como se eu estivesse vestido de palhaço ou algo do tipo.

- Er... o que você perguntou? - ela bufou de leve.

- Você entendeu, pai. Quero saber como os nenêns são feitos.

Onde já se viu uma criança desse tamanho perguntando uma coisa dessa? Era para acabar com meu juízo. Era muito pequena para saber esse tipo de coisa e se dependesse de mim ficaria sem saber até os trinta anos. Mas eu não podia sair da minha função de pai, então fiz a coisa mais certa a se fazer.

- Pergunte a sua mãe. - sussurrei.

Ela estreitou os olhos, então Bella se aproximou de nós ainda segurando o riso e respondeu:

- Eu já expliquei a diferença entre meninos e meninas. Essa é contigo.

- Você tá de brincadeira, né?! - me segurei para não gaguejar.

Ela negou com o dedo e cruzou os braços.

- Para falar a verdade, filhota, a mamãe está mesmo curiosa para saber como o papai vai explicar. Vamos, papai. Estamos esperando.

Eu não tinha escapatória. Tentei relembrar a história da cegonha, a do repolhinho, a da sementinha, mas nenhuma delas era boa o suficiente. Sempre tinha alguma brecha e do jeito que aquela garota era, eu só acabaria em situação pior.

- Assim... - Nessie recomeçou - Eu perguntei para Tia Jane e ela disse que o papai coloca uma semente na barriga da mamãe. Apesar de achar isso muito louco por que não tem como ele abrir a barriga dela, aí ela disse que para isso os dois tinham que se amar e mais um monte de coisas. Sabe, vocês se amam, a Tia Rose com o Tio Emmett também se amam, mas o pais do Frederic são divorciados e mesmo assim vem um bebê por aí. Como pode?

- Recaída. - Bella soltou sem pensar.

Ela só podia estar querendo piorar as coisas para o meu lado, então percebendo que eu estava mesmo com uma enorme dificuldade naquele assunto, decidiu tomar a frente e dissolveu a dúvida da nossa pequena.

- Isso significa que eles ainda se amam. - deu de ombros.

- Mesmo divorciados? - perguntou entortando a cabeça.

- Pode ser que sim, querida. Você mesma diz que os adultos são tão complicados. É difícil de explicar.

- Tô ansiosa pra crescer pra entender.

- Não diga uma besteira dessa. - murmurei, cobrindo o rosto.

Bella riu da minha cara mais uma vez, então puxou meu queixo de forma que eu a encarasse e me deu um selinho. Nessie riu baixinho ao nosso lado, enquanto nos encarávamos, então ela me soltou e pediu que eu levasse nossa filha para lavar as mãos.

O jantar foi bem mais leve, enquanto ela arrumava a cozinha coloquei Nessie para dormir, depois fomos para o nosso quarto e conversamos abraçados sobre o trabalho e a nossa relação na nossa cama até que seus olhos não aguentassem e se fechassem. Seria bem mais fácil administrar tudo dividindo o peso com Bella.

No dia seguinte, ela levou Nessie para escola de táxi, e eu fui para o trabalho mais cedo por causa de uma reunião que Jasper tinha marcado para mim sem que eu soubesse previamente. A empresa estava quase vazia e eu cheguei antes mesmo de Mel estar na sua mesa. Estava organizando alguns papéis na minha mesa, completamente distraído até que duas batidas me fizeram pular. A porta do escritório estava aberta e uma moça loira com um longo casaco preto estava recostada na porta.

- Bom dia. - sussurrou com um sorriso.

- Er... bom dia. Srª Stuart? - perguntei vacilante.

Ela assentiu de mal-humor, enquanto entrava na sala e tirava o casaco.

- Então acho que é você o Dr.Cullen.

- Sim. É um prazer conhecer a senhora.

- Também é um prazer conhecê-lo. Esperava algo diferente. - ela me olhou de cima a baixo e sorriu torto - Por favor, só me chame de Madison.

- Como preferir. - tentei ser formal.

Ela caminhou até minha mesa e se sentou. Voltei para minha cadeira e abri os botões do paletó.

- Só esperava a senhora mais tarde. Me desculpe?

- Como disse antes: sem o senhora. - ela espiou o porta-retrato atrás de mim e sorriu de novo - Bonitas. Não tanto quanto o irmão.

Cruzou as pernas, respirando fundo, aumentando ainda mais seu sorriso de satisfação.

- Er... na verdade são minha esposa e filha. Mas obrigado assim mesmo. - bati as folhas de dois processos juntas e as guardei na gaveta da esquerda, procurando também a proposta de contrato.

- Esposa? Filha? Hum... curioso.

- É mesmo. Bem, Srª Stuart, me desculpe mesmo não estar preparado. Eu cheguei mais cedo hoje para terminar todas as cláusulas de contratação, mas pelo visto meu sócio não me informou direito o horário da reunião.

- Ah, tudo bem. - deu de ombros - Você consegue aprontar isso enquanto eu estou aqui?

- Claro, se a senhora não se incomodar. - eu começava a fazer o que era preciso quando ela respondeu.

- Por favor, eu peço de novo para que esqueça essa história de senhora, afinal espero que em breve e graças a você eu me torne senhorita novamente. - ela riu baixo de uma piada que não disse em voz alta - Enquanto isso, podemos nos conhecer melhor?

- Nenhum problema. - respondi sorrindo sem graça.

Ela se inclinou sobre minha mesa e começou a falar enquanto me observava.


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