Edward Pov

Tantas vezes imaginei esse momento, até pensei no que dizer. Mas jamais pensei em ficar com tanto ódio quando a visse.

Como se tudo o que senti todos esses anos me cegassem num único minuto. Como se nem tudo que passei com Nessie por todo esse tempo fosse suficiente para me fazer esquecer todo aquele rancor.

- Edward... - sussurrou.

Parecia nervosa. O ódio cresceu, eu queria sair dali mais rápido possível antes que eu explodisse, mas meus pés não me obedeciam, não queriam se mover. Meus olhos me obrigavam a olhar para o rosto que sonhei por muitas noites nos últimos anos.

Mas o rosto não era o mesmo. Eu sonhava com Bella, a adolescente sonhadora que queria viajar pelo mundo e abrir um jornal. Que queria ter dez filhos e ganhar o prêmio Nobel. Essa era Isabella, nada mais do que uma máscara fria e fechada.

- O que você está fazendo aqui? - demorei ainda alguns segundos para perceber que aquela era mesmo minha voz.

Bella arrumou a postura e passou as mãos pelo sobretudo. Tentou abrir a boca para dizer alguma coisa, mas nada saiu.

- O que faz aqui Bella? - perguntei de novo.

Ela vestiu sua máscara fria novamente e me olhou por debaixo de seus longos cílios.

- Vim buscar minha filha. - dessa vez sua voz saiu completamente.

A frase se repetiu na minha cabeça por várias vezes seguida enquanto ela me encarava irritada. Buscar Nessie? Seria tirá-la de mim?

- Não!

- O que disse? - ergueu a cabeça incrédula.

Dei um passo na sua direção e ela fez o mesmo me encarando com um certo receio.

- A Nessie não está aqui. - rosnei.

Ela arregalou o olhos e deu mais um passo.

- O que fez com minha filha? - se desesperou apontando o dedo na minha cara.

- Nossa filha! - corrigi com ódio - O que acha que eu faria Bella? - perguntei incrédulo.

Ela estava pensando o que de mim?

- Você não respondeu. - tentou se defender, mas abaixou o dedo.

- Nessie está na escola. - ela se desarmou ficando exposta.

Sacudiu a cabeça tentando assimilar tudo e se apoiou na parede.

- Escola? - perguntou uns segundos depois.

Seus lábios estavam entreabertos deixando o ar entrar e sair muito superficialmente.

A boca pintada de vermelho em contraste com a pele branca, os olhos cor de chocolate. Meu ódio aumentou por ver que eu era fraco perto dela. Tão fraco que não conseguia resistir aos seu jeito de mulher.

- O que pensou? Que eu a deixaria sozinha? - gritei - Que eu não cuidaria dela depois de ver que era minha filha? Que eu a abandonaria na porta de uma pessoa qualquer como você fez? Porque você foi embora? Desgraçada!- avancei mais dois passos e a segurei pela cintura a aproximando de mim.

Dor física foi o que eu senti ao tocar nela. O calor de seu corpo passou pela palma da minha mão como um choque. Seus cabelos voaram no meu rosto me torturando com o perfume de morango.

- Porque? - perguntei de novo me surpreendendo com o fato de ainda ter voz.

Ela levantou o rosto assustada e com raiva. Apoiou suas mãos no meu peito e tentou me empurrar, mas a segurei mais firme fitando os lábios próximos do meu.

- Me solta agora! - rosnou me dando um soco de punho fechado.

Era como tirar a prova. Tocá-la, sentir o perfume, o calor, até a dor que me proporcionara com a pancada. Tudo era a prova de que era real. Não mais uma miragem, delírio ou sonho.

Voltou. Estava aqui, nos meus braços. E me odiava tanto quanto eu a odiava.

Conseguia ver em seu rosto. Os lábios retorcidos, a pele ruborizada, os olhos estreitos.

- Me larga, Edward! - gritou me empurrando.

Dessa vez a deixei sair. Cambaleou alguns passos para trás.

- Está louco? - gritou abaixando o vestido e o sobretudo que subiram um pouco com a "pequena luta".

Talvez tenha sido com essa frase, esse questionamento que minha mente tenha saído do estado de insanidade. Onde eu estava com a cabeça a agarrando dessa maneira? Era loucura. Era ela que me deixava assim.

- Eu... preciso ir. - falei antes de entrar no elevador e apertar o botão da garagem.

Ela não me impediu ou foi atrás de mim. Não era o tipo de coisa que Isabella faria, mas sim o que eu desejava que fizesse.

Isabella Pov

- Alô?!

- Alice, sou eu...

- Bella?! Aconteceu alguma coisa, amiga? - perguntou preocupada.

- Eu... eu... - tentei me segurar.

- Não acredito! - sussurrou - Você foi atrás dele, não foi? - previu tudo.

- Fui! - deixei mais uma lágrima cair.

- Porque você não esperou? Você não disse que queria conversar comigo antes?

- É... eu sei, mas foi um súbito. Foi tão depressa. Quando eu vi já tava na porta dele e...

- Onde você tá?

- No prédio dele. Tentando pegar um táxi.

- E ele?

- Foi embora depois do showzinho que fez...

- Na frente da Nessie?

- Não! - respondi mais que depressa - Ela não tava aqui.

- Vem pro hotel, okay? E a gente conversa.

- Tá bem. - enxuguei mais uma lágrima.

Desliguei o telefone e fiz sinal para um táxi que parou no meio-fio.

Eu ainda não entendia a minha reação. Fiquei sem-palavras na frente dele, como se só olhar de novo em seus olhos pudesse acabar com o auto-controle que construí por seis anos.

Um toque e eu me desestruturei até o último fio de cabelo.

Rosalie Pov

- Podemos remarcar a reunião para semana que vem? - perguntei baixo.

- Claro, Rosalie. Ficará até melhor para mim. - ele assentiu sorrindo.

- Isso é ótimo! - levantei e comecei a catar as pastas e papéis.

Ele me ajudou a recolher todas as apresentações.

Foi quando senti de novo o desconforto, como senti nessa manhã e ontem a noite.

Segurei a barriga com força, sentindo a tontura mais forte do que a algumas horas.

Nunca tinha sentido isso na minha vida.

- Você tá bem? - Chuck segurou meu braço.

- Acho que não! - consegui sussurrar.

Senti algo quente, e então, veio a pontada forte.

- merda... - segurei na mesa.

Chuck me segurou pela cintura.

- Rose, o que tá acontecendo?

- Me ajuda! - foi a última coisa que eu consegui dizer antes de ver a mancha de sangue.

Edward Pov

- Oii! - ele disse, enquanto subia no meu colo.

- Oi Nessie. - respondi desanimado.

Comecei a caminhar na direção no carro.

Ela pôs a mão no meu rosto e alisou a barba mal feita.

- Você tá com cara de que tá preocupado, papai.- observou.

A coloquei no carro e tranquei a porta, dei a volta e entrei, mas não dei a partida.

- Como foi a escola? - tentei fugir do assunto.

- Foi legal! - deu de ombros - Tenho um monte de trabalho de casa para fazer. O senhor vai trabalhar em casa hoje, pai? Sabe, eu pensei que...

- Eu tenho que te contar uma coisa. - respirei fundo e apertei o volante lembrando dos olhos que encontrei mais cedo.

- Fala! - respondeu com simplicidade.

- Aconteceu uma coisa hoje de manhã.

- O que? - perguntou curiosa, porém receosa.

- A mamãe voltou!

Isabella Pov

- Mas, voltar? Eu não sei se...

- Eu vou com você. - ela me cortou segurando minha mão.

- Alice, eu não preciso que você faça isso.

- Mas, eu quero, Bella. - se levantou da cama e começou a andar de um lado para o outro do quarto.

- Quando você quer ir? - perguntou.

- Amanhã, no máximo depois de amanhã. Não quero ficar muito tempo longe do Jake.

- A mãe dele ficou de avisar se acontecesse alguma mudança. - lembrou.

- Eu sei, mas logo agora que teve uma melhora, ele pode acordar, e eu quero estar do lado dele quando isso acontecer.

Ela abaixou o olhar sem esperanças.

- Eu sei que ele vai ficar bem. - rosnei alto demais.

Era o que eu mais queria que acontecesse.

- Isso é o que eu mais quero agora, não precisa ficar nervosa. - resmungou cruzando os braços.

- Vamos voltar ao assunto principal?

- Edward!?

- Rennesme! - rosnei.

- Desculpa?! - pediu se sentando numa poltrona ao lado do telefone - Vamos tentar ligar para Rose de novo?! Ela vai ajudar de alguma forma, se atender o telefone, né?!

- Deixa a mulher viver a vida dela, por favor? - supliquei.

- Como? - perguntou confusa.

- Rose já ajudou demais. Acho que isso é algo que eu tenho que resolver apenas entre nós dois. - tremi ao dizer, mas não deixei que Alice percebesse - Vou na casa dele agora.