Capítulo VIII – Ataques mentais

Meus passos praticamente se arrastavam pelo corredor. Logo entrei na sala onde teríamos aulas contra as artes das trevas. Sentei em meu lugar e aguardei os alunos chegarem.

- O que você tem? - perguntou Rose sentando ao meu lado.

Sorri sem querer mostrar os dentes.

- Bella, você anda estranha esses dias. - sussurrou preocupada.

Suspirei.

- Nessie me fez uma pergunta e acho que nem eu sei responder. - minha voz soava cansada.

- Que pergunta?

- Quem eu realmente sou.

Seus olhos azuis estralaram assustados. A cor foi presente da minha magia que a deixou exatamente como ela era quando humana.

- Não sabe quem você é?

- Eu achava que sabia, mas não sei mais... Quer dizer, eu nunca tinha agredido Vanessa antes, o máximo que tinha feito foi lhe dar uns puxões de orelha... Ela está tão magoada comigo e sinto que não é somente por causa disso. Existe algo a mais.

- Não se sinta culpada, foi errado ter batido nela, mas você agiu em um momento de desespero.

- Ela não me ama Rose. - uma bola formou-se em minha garganta. - Tem idéia do que é ver nos olhos de sua própria filha que ela não te ama?

- Não fala besteira!

- A minha vida inteira passei com pessoas a minha volta me odiando, eu nunca me importei com isso... E agora ironicamente a vida faz com que a pessoa que mais amo me odeie. E o pior de tudo é que não sei o porquê seus sentimentos mudaram. Com Sirius eu entendo e aos poucos vou fazer com que compreenda meu lado, porém Nessie... Eu não faço idéia do que fazer! - desabafei em um sussurro desesperado.

- Eu não sei o que falar minha irmã. - disse ela com uma feição sofrida.

Sorri e estalei um beijo em sua bochecha. Eu, ela e Alice éramos muito unidas e nos chamávamos de irmã quando precisávamos de apoio.

- Já me ajudou me escutando... Acho que precisava desabafar com alguém que não fosse Edward.

Antes que ela pudesse me falar alguma coisa a sala encheu-se de alunos. Minha filha sentou-se com suas amigas bruxas, olhou-me rapidamente com sua expressão séria. Não consegui identificar a pergunta que passava em seus olhos.

Lembro-me da vez em que eu esperava em casa seu retorno de Hogwarts, ela tinha 14 anos. Edward saíra para caçar, mas retornaria antes da chegada da filha. 

Sempre que Vanessa vinha passar as férias conosco nós estabelecíamos residência fixa, na época estávamos muito perto de encontrar Pedro Pettigrew, o bruxo que se transformava em rato para se esconder do mundo, já que fingira ter sido assassinado por Sirius - o que o levou a Askaban - por conta de ter tentado proteger o esconderijo de Lily e Thiago.

Eu não tinha idéia que um bruxo das trevas tinha me reconhecido quando fui comprar comida e alguns doces para Nessie. Ele me ouviu conversar com o vendedor a respeito dos doces serem para a minha filha de 14 anos. Ele apesar de estúpido por tentar me enfrentar sozinho, soube fazer as contas e ligar o fato de eu ter sido dada como morta justamente na mesma época em que me descobri grávida.

"- Então quer dizer que a poderosa Bella Swan teve uma filhinha! Para mantê-la escondida acredito que ela não possua seus poderes. - gargalhou me deixando estática.

Como ele sabe de Nessie?!

- Andou tomando chá de fita? - sorri cínica. - Desde quando Bella Swan ama alguém? Pelo menos o suficiente para ter uma filhinha? - debochei.

Eu precisava fazê-lo se confundir! Não posso permitir arriscar a vida de Nessie!

- Não vai me confundir com seu ar cínico! Conheço seus truques! - riu. - Quem diria hein... Por isso escondeu-se.

- Está começando a me ofender. - disse com um biquinho.

Sorri maliciosa me aproximando sorrateiramente de seu corpo.

- Acha mesmo que eu teria uma filha? E se eu tivesse acha que ela seria fraca? - meus dedos caminharam lentamente por seu peito.

Percebi ele engolindo em seco.

- Não me ameace. - sussurrei. - Eu só sou quem sou, pois não existe ponto fraco. - minha expressão mudou para furiosa e eu o empurrei para o chão. - Bella Swan não ama ninguém seu idiota! O amor enfraquece e como pode ver... - sorri para o homem que se contorcia de dor no chão. - Eu estou longe de estar fraca.

Deixei-o gritar mais um pouco, apreciando seu sofrimento e finalmente acabando com o desgraçado. Sumi com seu corpo e fui pegar minhas compras no chão. Dali duas horas minha filhinha chegaria e imagino que teria fome."

- Bom dia. - a voz de Sirius chamou a atenção e me tirou de minhas lembranças.

Todos fizeram silêncio e fitaram os três professores a frente.

- Abram no capítulo 9. - orientou Sirius.

- Mas hoje seria o capítulo 8... O estudo de Aurores, começando por Bella Swan. - disse Hermione confusa.

Logo os alunos começaram a conversar entre si sobre as histórias que conheciam sobre mim. Bem, isso seria interessante. Sorri erguendo uma sobrancelha para Sirius que fechara a cara para mim.

- Se querem saber sobre Bella Swan deveriam perguntar ao professor Snape. - sorriu maldoso. - Afinal era ele que tinha uma queda pela professora.

Prendi meu riso. Enquanto a turma simplesmente arregalou os olhos para Severo. Espera aí! Aquilo eram bochechas vermelhas? Segurei meu riso. Snape grunhiu e falou.

- Acredito que seja melhor que o professor Black conte sobre Bella Swan, afinal foi ela que lhe deu essa terrível educação ao adotá-lo como filho.

Fiz um biquinho ofendido para Severo que tossiu sem graça. Lupim parecia se divertir com a picuinha dos dois professores então tomou a frente.

- Então acho melhor eu falar, já que nenhum dos dois poderá falar imparcialmente sobre nossa antiga professora de proteção contra as artes das trevas... Suas principais características físicas são os grandes e maliciosos olhos, os cabelos longos e volumosos, sua beleza era avassaladora e ela a utilizava ao seu favor nas lutas contras as trevas. Acredito que tenha uma foto dela na página 720. 

Realmente tinha. Eu usava uma calça jeans preta toda colada no corpo com uma bota de salto altíssimo. Minha blusa da mesma cor deixava uma faixa da minha barriga aparecendo. O sobretudo completava o figurino. Meus cabelos enormes formavam grandes ondas me deixando com ar selvagem. Sinto falta dos meus cachos, esse liso escorrido que uso como disfarce é totalmente sem graça. Meus olhos, como disse Lupim, extremamente maliciosos davam uma piscadinha para a câmera. Era notável meu nariz empinado até mesmo na fotografia. Para completar, minha varinha branca rodava em meus dedos.

Um dos gêmeos Weasley soltou um assovio fazendo a turma rir.

- São incontáveis os bruxos que ela mandou para trás das grades. - os que matei também, completei mentalmente.

Lupim olhou rapidamente para mim sorrindo e então sentou-se sobre sua mesa.

- Bella Swan foi sem dúvidas a melhor auror.

- Melhor que o olho tonto? - perguntou Rony.

- Sim, melhor do que ele... Na verdade foi ela quem deu esse apelido para Moody. Ela é dona de um poder que ninguém sabe ao certo de onde vem.

- Professor. Já ouvi falar que ela era capaz de derrotar você-sabe-quem, é verdade? Ela poderia ter acabado com ele? - perguntou um garoto ao fundo.

- Sim ela poderia. - quem respondeu foi Sirius.

- E porque ela não terminou com ele? - perguntou Harry.

- Ela estava com problemas com o namorado. - respondeu Sirius.

O que?! Não consegui segurar minha língua pelo tom de meu filho.

- Explique essa história direito. - ordenei irritada.

Os alunos pularam com a minha interrupção. Sirius sorriu maldoso.

- Sabe que não é verdade Sirius. - me ajudou Lupim.

Meu filho suspirou.

- Ela não sabia de Voldemort. - disse ele resignado. - O ministério escondeu dela o começo das atuações do lorde das trevas e quando mam... Bella pediu férias eles disseram que não havia problemas. Quando ela finalmente descobriu sobre Voldemort ele já havia criado um império de trevas e estava poderoso demais e a Swan fraca por conta de problemas do coração.

- Problemas do coração? Dizem que ela não tem coração. - a voz de minha filha me quebrou.

Os três professores pareceram surpresos com as palavras de minha filha.

- É o que ela faz as pessoas pensarem Nessie. Era o que a tornava poderosa, pois ninguém acreditava que ela tinha um coração, todos acreditavam em sua frieza aparente. Mas a verdade é outra. - me surpreendi pelas palavras de Sirius.

- Pensei que iria concordar comigo professor Black.

- Bella me decepcionou Nessie, mas eu ainda sei exatamente quem ela é.

- E quem ela é?

- Uma bruxa de extremo poder, prática, boca dura, ótima atriz e metida. Que sabe acabar com o mau sem grandes problemas, mas quando o assunto é família e amor fica completamente perdida e não sabe agir.

Senti meu coração se apertar com as palavras de meu filho. Rose sorriu discretamente para mim.

- Mas Bella Swan está morta. - disse Hermione. - Porque falam dela como estivesse viva?

Antes que qualquer um abrisse a boca uma batida na porta soou.

- Com licença professores, desculpem atrapalhar a aula. - disse o professor Dumbledore.

Sua voz estava cansada e ao mesmo tempo preocupada e então tudo aconteceu.

POV Edward

Sentei-me embaixo de uma árvore juntamente com minha irmã Alice. Jazz e Emm saíram para caçar.

- Está chegando o aniversário da Bella. - disse Alice sorridente. - Vamos fazer uma festa enorme. - bateu palminhas.

Revirei meus olhos.

- Sabe que não podemos fazer festas Alice, só uma pequena comemoração na nossa torre. - cortei seu barato a levando a fazer um biquinho. - Não faça bico, as coisas estão todas bagunçadas, não é hora para festas.

- Chato. - mostrou a língua me fazendo rir.

Estiquei-me e deitei em seu colo. Alice tirou meu capuz e começou a mexer em meus cabelos e eu quase dormi em seu colo. Minha mente viajou para as duas criaturas mais importantes em minha vida. Bella e Nessie. Eu me sentia péssimo em ver a tristeza nos olhos das duas. Por mais que eu dissesse para Bella que Nessie a amava e visse versa, nenhuma das duas acreditava. Eu não entendia como isso podia acontecer! Por Deus! Elas sempre se trataram tão bem...

Uma série de palavras desconexas passou em minha mente. Abri meus olhos.

- O que foi Alice?- a baixinha me olhou confusa e de repente mais uma vez aquela onda de vozes passou em minha mente.

Uma pequena dor incomoda começou em minha fonte.

- Está com dor de cabeça?

- Tem algo errado... Estou escutando vozes... Parece que são cada vez mais... - arfei percebendo que eu começava a escutar todas as mentes dos alunos, era como se meu poder estivesse descontrolado.

As vozes pararam quando a imagem de Dumbledore apareceu em minha mente.

- Não é bem vindo aqui. - disse ele com um gracejo, como se não se ofendesse em eu estar tentando vigiar sua mente.

O problema era que eu não estava fazendo isso por que eu queria.

- Precisamos falar com Dumbledore. - disse arrastando Alice para a sala do diretor. 

Minha cabeça era invadida por frases de diversas vozes. Tentei ao máximo me controlar para não grunhir. Alice arfou ao meu lado e eu sabia que ela estava tendo uma visão. Continuei a puxando até finalmente chegarmos a sala do bruxo. 

- Não era necessário vir pedir desculpas. - disse ele lendo um jornal.

- Não é essa questão senhor. O fato é que eu não tentei ler sua mente por vontade própria. - minhas palavras chamaram sua atenção. - Tem alguém ultrapassando os escudos de Bella... Foi capaz de desbloquear meu próprio escudo. 

Dumbledore arregalou seus olhos se levantando de sua cadeira.

- Eu vejo Harry... Ele está caindo no chão... - dizia minha irmã.

- Voldemort está atacando. - disse e correu para fora da sala. 

Seguimos com ele até uma sala. O bruxo pediu licença para entrar e nesse exato momento Harry caiu de onde estava sentado. Seus amigos o seguraram, mas sua expressão era desnorteada. 

Estava prestes a ver o que estava acontecendo dentro de sua cabeça quando minha bruxinha me impediu.

- Não entre na mente de Harry. - sussurrou. - Eu vou protegê-lo. 

Assenti em sua direção e observei sua expressão ficar séria. Eu ouvia Dumbledore murmurando palavras para Harry, tentando fazer com que ele lutasse. Então as vozes que ainda estavam em minha mente pararam e o bruxo pareceu aliviar-se. 

Bella sorriu. Em seu peito o cristal de sua varinha brilhava, era possível enxergar mesmo por baixo de sua blusa. Observei Hermione observando minha bruxinha, e ela notou também. Não me surpreendi ao vê-la mandar uma piscadela para a garota e em seguida colocar o dedo no lábio pedindo segredo. 

- Estou bem. - disse Harry levantando-se com a ajuda de Sirius.

Ele parecia irritado. 

- Não deixe que Voldemort mexa com sua mente Thiago. - o garoto parecia gostar quando o padrinho chamava pelo nome do pai. - Ele quer te enfraquecer, não deixe. - dizia quando passou por nós.

Sirius ergueu sua cabeça e olhou para mim.

- O que Voldemort queria? - perguntou. 

- Eu não sei. Ele desbloqueou minha mente, pude escutar todas as mentes do castelo de uma vez só. Não me deixou controlar. - respondi com pesar. - E você não é como ele Harry. 

O garoto ergueu o olhar para mim de modo confuso. 

- Seus pensamentos... Preocupa-se demais com as semelhanças entre você e Voldemort e isso está permitindo que ele entre em sua mente. 

- Como sabe? - perguntou ele.

- Porque eu tenho o dom de ler mentes, não preciso de uma fraqueza para entrar na mente de alguém, porém quando essa mente é protegida eu não consigo entrar. Os bruxos precisam de uma fraqueza para entrar na mente de outra pessoa, Voldemort não é diferente. Agora se eu entro tranquilamente em sua mente, imagine ele. 

Sabia dessas coisas graças a Bella que me contara. Eu gostava de ouvi-la me explicar sobre feitiços e bruxarias. Confesso que o assunto me fascinava. 

- Não pode permitir que alguém entre em sua mente Harry.

- Eu não consigo impedir. - respondeu frustrado. 

- Posso ajudar nisso. - ofereci. - Podemos treinar. Eu tento entrar em sua mente enquanto você me bloqueia.

Ele pareceu meio hesitante.

- Se incomoda-se com a minha presença traga Sirius e seus amigos junto. - dei de ombros e segui meu caminho junto com Alice que quicava ao meu lado.

- Eu me lembro dele tão pequenininho e olha como ele está agora! Quase um homenzinho. - gargalhei com essa. 

Alice tinha problemas, só pode!

Assim que chegamos ao jardim percebi minha bruxinha vir até nós. Ela sorria verdadeiramente e isso me fez sorrir também, já que fazia alguns dias que eu não a via com um semblante tranqüilo. 

- Oi meu vamp. - disse ela se jogando em meus braços abertos. 

Alice levantou-se sorrindo.

- Vou me encontrar com a Rose, vocês têm dez minutos sem preocupações com identidade.

Traduzindo. Temos dez minutos antes que os alunos saiam do castelo. 

Bella sentou-se entre minhas pernas e eu a abracei. 

- O que aconteceu para seu humor ter melhorado? - perguntei beijando sua bochecha. 

Ela sorriu e apertou mais meus braços ao seu redor. Contou-me sobre a aula sobre ela. Bella estava animada, suas esperanças cresceram em relação aos filhos. Talvez ela não precisasse aplicar umas palmadas em Sirius também.

- Isso me deixa feliz bruxinha, não gosto de te ver tão triste... Isso me lembra tempos atrás... E não terminou bem. 

- Eu sei, mas as coisas acontecem por algum motivo Edward. O destino gosta de esfregar na minha cara que é ele quem manda. - disse azeda me fazendo rir. 

Mordi seu pescoço puxando lentamente sua pele. Bella soltou um alto gemido o que me fez rir. 

- Cuidado meu bem... Alguém pode achar que eu estou sugando seu sangue. - sussurrei em sua orelha.

- Por mim você pode fazer o que quiser comigo Ed. - murmurou ela com os olhos fechados e a cabeça apoiada em meu ombro.

Ri sacana e subi minha boca por sua mandíbula, queixo e finalmente sua boca.

- Não me tente minha bruxinha. - sussurrei antes de beijá-la profundamente.

Nossas línguas dançavam lentamente quando escutei o som de passos. Desgrudei minha boca da sua rapidamente e fitei nossa volta. 

- O que foi? - perguntou a bruxa em meus braços.

- Escutei passos. - ela procurou também, mas deu de ombros. 

- Deve ser um dos alunos saindo escondido, lembro quando Thiago saía com sua capa de invisibilidade para entrar na floresta negra. Impressionante a quantidade de vezes que Lily me chamou para buscar o garoto Potter das encrencas em que se metia. - sorriu nostálgica. - Às vezes me pergunto se eu não poderia ter saído mais cedo aquele dia... Talvez eu tivesse conseguido salvar Lily e ajudar Thiago mas...

- O destino gosta de esfregar na sua cara quem é que manda. - completei e ela sorriu triste.

- Infelizmente sim. 

Beijei sua testa para que ela pudesse ir embora, os alunos começavam a sair do castelo e nós ainda não podíamos ser vistos juntos.

Fim do capítulo.