A última Cartada escrita por daghda


Capítulo 21
Confusões


Notas iniciais do capítulo

Não vou falar muito nessa nota. Apenas que tem sido um aprendizado. Nesse trecho da fic vou emaranhar tres ações diferentes, em locais diferentes, mas que estarão ocorrendo simultaneamente na linha do tempo.
To feliz por ter tido ousadia para empreender isso.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/10152/chapter/21

 

Pela manhã de segunda feira Snape tomou seu posto na pequena e suja casa onde Lord Voldemort costumava reunir seus comensais, de onde não mais poderia sair até que o Lord voltasse. Era pequena, faltavam inúmeras telhas, mas fora alterada, aumentada magicamente para que coubesse a pomposa mesa de reunião que Voldemort fizera questão de conjurar no ambiente, encimando-a com o soberbo trono à cabeceira, onde ele se acomodava durante as reuniões.

 

Muitas coisas atormentavam a cabeça de Snape, e ele sabia que toda cautela seria pouca diante de alguns dos melhores Comensais da Morte. Sabia que alguns haviam aprendido alguns truques com o obscuro mestre e poderiam tentar oferecer-lhe veritasserum, só pra averiguar. Ele não podia chamar atenção para si, portanto, por precaução, pensando que não poderia recusar alguma bebida que eventualmente lhe oferecessem, optou por tomar regularmente a poção que revertia o efeito do soro da verdade, a mesma poção com que protegera o segredo de rabicho certa vez.

 

Snape permaneceu em seu posto e enquanto, cumprindo as ordens que recebera, aguardava as notícias e passava boa parte de seu tempo treinando alguns feitiços de duelos, contra-feitiços, azarações, algumas que ele mesmo criara,  tudo em um boneco animado que ele mesmo conjurara. Outra parte do tempo passava lendo livros de teoria da magia, feitiços avançados, poções, e em um desses livros, que ele havia disfarçado com uma capa negra de couro de dragão sem nenhum enunciado, pois sabia que não seria aceito pelos outros comensais e nem pelo Lord das Trevas por se tratar de um livro de magia branca defensiva, ele se deparou com a teoria e instruções práticas para realizar um feitiço pelo qual sempre nutriu um secreto interesse: o feitiço do patrono. Sim, ao ler lembrou-se de que teve extrema dificuldade para aprender  esse feitiço, por causa de algo básico, sem o qual o feitiço não se projetaria: precisava buscar na mente uma lembrança feliz, e sabia que em sua vida teve muito poucas, ou quase nenhuma lembrança desse tipo.

 

Ainda assim, lembrou-se de si mesmo invocando o patrono diante de Dumbledore e se surpreendeu ao constatar que naquele momento não sentiu nenhuma dificulodade e. por isso, decidiu tentar novamente. Executara esse feitiço pouquíssimas vezes e não faria mal treiná-lo um pouco mais, fora das vistas. Não queria ser vencido por esse feitiço, não queria mais sentir dificuldade em executá-lo. Tentou uma, duas, três vezes pelo caminho errado, tentando usar lembranças de seus êxitos e recompensas como comensal da morte, cada vez que trazia um resultado satisfatório ao lord, mas diante dessas tentativas, sempre se frustrava, via sair da ponta da varinha uma profusão de fumaça negra que tentava por alguns segundos tomar a forma de monstros horripilantes, mas não perdurava e o levava a exaustão. Mas não desistiu. Ele sabia que já o havia conjurado algumas vezes. Só precisava recordar quais lembranças ou emoções ele usou naquelas ocasiões.

 

Mas foi ao pensar em sua mãe que obteve o primeiro resultado satisfatório. Lembrou-se que ela todos os anos em que ele esteve em Hogwarts ia buscá-lo na estação de King’s Cross ao final de cada período letivo, em cada uma de suas férias. Ele cresceu acreditando que ela sempre fizera questão disso porque era o único momento em que ela podia estar a sós com o filho sem sofrer todas as agressões e humilhações que seu pai trouxa costumava desferir contra eles. E apesar de não serem momentos exatamente felizes, ele conseguia se recordar da sensação de conforto sutil que sentia ao ouvi-la prometendo a ele que faria sua comida predileta. Mas ainda assim essa lembrança, apesar de ser a única a que Snape conseguia acessar na mente no momento, não estava sendo forte o suficiente e a fumaça, apesar de estar sendo produzida na cor prateada, como o livro descrevia que deveria acontecer, não chegava a tomar forma alguma e após alguns segundos se esvaia no ar.

 

Lembrou-se que nas poucas vezes que conseguiu exito com esse feitiço ainda como estudante do sétimo ano, ele adotava a forma de uma raposa. Mas da última vez, assim como executá-lo, somente esse seu ato e principalmente seu êxito, já o surpreendera, surpreendeu-lhe perceber que ele já não mais possuia a forma de raposa como antes, mas de uma corsa. Não lhe ocorria facilmente o porquê.

Cansado, suado, mas ainda sem nenhuma intenção de parar e desistir, Severo se colocou a postos para mais uma tentativa, e começou a se concentrar nas viagens de ônibus ao lado da mãe, pensou no calor quase imperceptível que sentia partir dos olhos tristes da mãe em sua direção cada vez que eles pousavam sobre ele quando se encontravam na estação, mas diante do esforço mental que chegava a turvar-lhe os olhos, e também pelo esgotamento em que já se encontrava, não conseguiu impedir sua mente de devanear em direção a seu passado e atingir uma memória muito anterior, de uma conversa de criança em um parquinho infantil, onde sentado ao lado de uma garotinha ruiva em um banquinho de concreto, falavam sobre as pequenas magiazinhas tresloucadas que crianças acabam por realizar ainda antes de aprender a controlar os poderes. E nesse momento ele sequer pode notar que mentalmente, em meio as palavras descontraídas das duas crianças na mente do bruxo, as palavras se formaram quase espontaneamente ‘expecto patronum’ e uma imensa corsa prateada se projetou pela segunda vez de sua varinha. Tamanho foi o susto que Severo levou ao ver seu patrono que se desconcentrou e o animal de luz se dissolveu no ar.

 

Foi quando se lembrou. Nitidamente, como se estivesse revendo a cena se reformular diante dos seus olhos no espaço aberto do céu azulado.

 

Ele já vira um patrono muito semelhante antes. Era, sem dúvida o mesmo animal. Era o patrono de Lílian. Ele quis tentar novamente, mas já se encontrava esgotado ao extremo, e sabia que o nó em sua garganta ao pensar nela não o ajudaria por hora, e de mais a mais um corvo imenso entrou nesse exato momento pela janela  da casa fazendo as vezes de coruja e aos pés da ave um pergaminho escurecido e mal enrolado foi estendido diante de sua face. Ele o apanhou e leu as poucas palavras.

 

Severo. As coisas estão correndo bem por aqui, embora possa ser mais moroso do que eu imaginei.

Seja como for, confio que as coisas estejam transcorrendo bem por aí. Envio esta para alterar um pouco as instruções deixadas antes de minha partida.

Não quero mais os relatórios diários. E não quero ser incomodado, a não ser que seja algo realmente sério. Ou seja, a menos que o Dumbledore em pessoa descubra nosso quartel ou alguém consiga capturar os Potter, não me importunem.’

 

Sem assinar, despedir, ou qualquer outra palavra Cortez, o pergaminho apresentava um rasgo logo abaixo da última linha escrita.

 

Snape pensou calmamente e sentiu a confiança em Dumbledore aumentar um tantinho. Não sabia o que o bruxo tinha arquitetado, mas conseguira, sem dúvida, afastar o Lord do país, e pelo tempo que ele necessitava para fazer o que quer que tenha planejado.

 

A terça feira transcorreu como ele esperava que acontecesse. Poucos foram os comensais que levaram ao pé da letra as ordens do Lord se reportando ao quartel escondido onde Snape deveria colher todas as informações sobre as atividades deles e coordenar todas as tramitações. E ele aproveitou cada um dos dedicados comensais para propagar a nova ordem do lord que ele recebera, de não interrompê-lo por nada menos do que os Potter capturados. Mas melhor assim. Com isso ele tinha mais tempo pra si e podia se cansar menos em esconder o que estava fazendo atraiçoadamente contra eles mesmos.

 

E aguardava ansiosamente o anoitecer, pois o início de sua ação deveria acontecer exatamente ao anoitecer desta terça-feira que teimava em transcorrer tão lentamente. E decorrer por toda a madrugada, e se avançar até a quarta-feira. Seja como for, sabia que ao amanhecer uma batida investigativa iria se dirigir ao beco diagonal e escarafuncharia toda a travessa do tranco. Avisou o maior número de comensais que pode sobre essa investida da ordem, exatamente como Dumbledore o orientara a fazer. Mas essa confusão não seria suficiente para ocupar a atenção de todos os comensais. Por isso quando se apercebeu que o relógio já apontava as dez horas da noite, estava na hora. Acionou os bruxos que estavam sob o forte domínio de sua maldição Impérius e os fez tomar os postos que ele tão cautelosamente arquitetou. Quatro bruxos, funcionários do ministério, que já se encontravam antes sob a maldição lançada por Lucio Malfoy e Bartô Crouch Jr., se encaminharam com caras felizes e aluadas para o ministério, mesmo depois de terminado seus horários de trabalho. Ao mesmo tempo fez com que os comensais de segunda classe que deixara enfeitiçados e escondidos no ‘Cabeça de Javali’ em Hogsmead saíssem enfim de seus esconderijos e fosse correndo atrás de inúmeros outros comensais, desaparatando aqui e aparatando ali, dizendo que algo errado ocorria com os bruxos infiltrados nos ministérios, que eles pareciam ter saído do controle da maldição impérius de Lucio e Bartô e tinham partido para o ministério totalmente aturdidos, mas dispostos a delatar ao primeiro que encontrassem tudo o que lhes ocorrera.

 

A coisa estava funcionando bem para Snape e às cinco da manhã todos os comensais ainda estavam metidos no ministério em uma busca inútil pelos corredores e salas, na tentativa desesperada de encontrar os bruxos e submetê-los novamente a maldição Impérius, mas vendo-os apenas de relances, deslizando pelas pontas de seus dedos. Cada vez mais irritados e temerosos, encontravam sobre todas as mesas cartas denunciadoras redigidas pelos bruxos. Cartas que pareciam se proliferar, e realmente se proliferavam, pois Snape os fez redigir a carta e lançar-lhes feitiços multiplicadores. 

 

As Seis da manhã, no entanto Snape fez com que os comensais que estavam sob seus domínios dissessem aos outros que os bruxos escaparam do ministério e estariam à solta pelas ruas de Londres. Ao mesmo tempo, boa parte dos comensais que tentavam recapturar os bruxos precisou se dirigir para a travessa do tranco, deixando os trabalhos do resgate extremamente desfalcados. E pelas ruas do centro, no meio dos trouxas, os comensais encontravam as mesmas cartas espalhadas, em que todos os planos do Lord das trevas se revelavam.

 

Na travessa do tranco uma guerra disfarçada começava a ser travada. Bruxos fingindo estar apenas olhando vitrines movimentavam dissimuladamente as varinhas para mandar azarações a outros bruxos que parecessem suspeitos, até que de repente os humores já não mais puderam ser disfarçados e o embate veio às claras bem no meio da pequena rua suja e escura.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Abração
Daghda Mac Bel