Amor e ódio entre Duas Sacadas escrita por Lorelei


Capítulo 1
Capítulo 1




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Lucie Pov’s

Eu olhava para todos aqueles caminhões de mudanças agradecendo aos céus. Eu e a minha mãe iríamos para Filadélfia daqui a dois dias. Ficaríamos hospedadas em um hotel até a partida já que a nossa casa fora vendida antes do previsto. Eu não podia estar tão feliz. Não gostava de nada naquele lugar. Não que a nova casa despertasse algum interesse de minha parte, acredito que será a mesma porcaria de sempre. Já troquei de cidades três vezes, isso que só tenho 15 anos. 

Apesar de eu já morar neste lugarzinho por 6 anos eu não tinha ninguém para me despedir. Não tinha ninguém que fosse sentir a minha falta, a não ser é claro que você considere o Sr. Willians. Billi Willians. Quem é? Um velho rabugento que morava ao lado da minha casa. Há e não se esquecendo da Sra. Berry. Abigail Berry. Ela? Uma velhinha, também rabugenta.

O Sr. Willians nunca falava com ninguém apenas fumava, ouvia seus discos de vinil velhos, lia jornais o dia todo e fazia palavras cruzadas. Tinha um cachorro para proteger a sua casa. Proteger não sei do que por que afinal quem iria assaltar um velho que sobrevivia apenas de sua maldita aposentadoria e por vezes comia pão velho? Se bem que se me perguntassem eu diria que ele era um grande pão-duro e unha de fome que guardava dinheiro embaixo do colchão. Aposto como fazia isso, mas no estado em que estava sua casa ele jamais precisaria de um cachorro.

A Sra Berry. Que prefere ser chamada de Abigail tinha uma porção infinita de gatos. Brancos, pretos, marrons, cinzas e toda cor que você puder imaginar. O cachorro do Sr. Willians e os gatos da Sra. Abigail viviam brigando. Ela recebia aposentadoria também e todo dinheiro que tinha era gasto em ração para gatos. Por vezes eu pude assistir da sacada de minha casa o Sr. Willians e a Sra. Abigail brigando cada um do seu quintal.

- E a Senhora que cuide melhor destes gatos. Meu cão não tem por que não almoça-los.

- Esse cão dos infernos. Tão rabugento quanto o Senhor

- Esses gatos fedorentos como a Senhora

- Velho rabugento. Não é à toa que vai morrer sozinho.

- E a Senhora? Quem vai comparecer no enterro. Os parentes de seus gatos para agradecer pelo tempo que Senhora Cuidou deles.

Eles brigavam e brigavam e pensavam que odiavam um ao outro. Aquilo era amor. O exemplo mais puro. O dia que eu resolvesse amar alguém eu não iria brigar. Para que perder tempo com isso?

Mas continuando, acho mesmo que só eles sentiriam a minha falta. Abigail tinha um problema na coluna, todos os velhos que eu conheço têm. Ou pelo menos vivem reclamando de dores na coluna, pois bem ela vai sentir minha falta para carregar suas compras.

O Sr. Willians vai sentir minha falta para ouvir discos de vinil. Às vezes, tarde da noite ele punha algum daqueles discos velhos para tocar e tirava o tapete da sala para poder dançar com uma vassoura ou com o abajur. Eu observava o espetáculo da minha sacada, atenta para qualquer passo ou movimento, até o dia em que decidi que já estava pronta e quando ele começava a ouvir os discos e dançar em sua sala eu dançava em minha sacada. Ele sempre deixara a janela da sala aberta para que eu pudesse vê-lo. Pelo menos duas vezes por semana, ou até três quando estávamos animados nós dançávamos. Nunca comentamos nada sobre isso, eu o via fechar a janela e apagar as luzes, sinal de que aquele dia ele já havia cansado de dançar. Olhava para mim e dizia-me para apagar a luz do meu quarto com o tom de rabugice de sempre. Sempre me perguntei o porquê daquilo. Ele podia me dar aulas, podia me ensinar grandes passos ou mesmo sair um pouco de casa e encontrar alguém com quem dançar. Mas algo o impedia. Eu o achava estranho.


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