Voltamos para La Push duas horas depois. Carlisle havia examinado Nessie, lhe dado alguns medicamentos e restrições e também pediu que voltasse duas vezes por mês para que eles continuassem o exame para ele poder nos ajudar. Ela estava muda, sem falar muita coisa enquanto voltávamos totalmente em outro mundo. Não quis interromper o curso de seus pensamentos, iniciando os meus. Eu precisava por em prática tudo o que eu nunca havia imaginado para mim, porque agora era oficial. Ela seria minha para sempre, enquanto vivêssemos. Tínhamos grandes chances de virarmos humanos apenas com a prática do autocontrole, que estávamos adquirindo com os ensinamentos de Carlisle e isso era bom. Tinha medo também de não conseguir proporcionar tudo aquilo que Nessie precisava medo de não ser o suficiente, mas eu precisava pelo menos tentar.

Meu pai estava na garagem com Sue, parecendo nos esperar. Estacionei o Rabbit um pouco preocupado, mas ao invés de sair do carro, encostei minha mão delicadamente na barriga de Nessie. Ela me olhou, um pouco constrangida, mas depois sorriu.

- Fico pensando se vou conseguir isso... – ela suspirou, deixando transparecer o medo que tinha.

- Não acho que seja difícil. Meu pai vai me ajudar, eu sei disso. – falei, meus olhos fechados, como se fosse uma prece.

- Se... Se por acaso não for possível conseguir um controle tão grande para me mudar, porque isso Jake, só depende de mim, eu não sei o que vou fazer.

- Nessie, eu vou te amar de qualquer modo. Não importa, entende? Eu só fico preocupado com você, tendo que agüentar um velho... Pode haver outros modos, posso tentar ficar assim para sempre se...

- Jake – ela me interrompeu – Eu quero isso. Por nós dois. Por nós três – ela acrescentou, com um sorriso se formando nos lábios ao olhar para a barriga.

- Ela não merece isso, vamos tentar colocá-la num mundo completamente normal, está bem? Assim ela não precisará passar por tudo o quê passei...

- Vamos encarar os fatos de frente. E se ela não for humana? Há uma grande chance disto acontecer. Ela vai virar lobisomem, já está previsto há muito tempo.

Ela sacudiu a cabeça com impaciência, tentando se livrar daquela atmosfera de tensão que pairava sobre nós.

- Jake, ela não precisa saber... Ela vai saber na hora certa. Não acho que a reserva está precisando de alguém para salva-la. Não há mais vampiros que ameacem La Push.

- Nessie. Não há como fugir disto. – falei, pegando sua mão na minha. – Eu sei o quanto foi difícil da primeira vez que me transformei... Se Sam não estivesse comigo, não saberia o que fazer.

- Eu quero que ela pelo menos cresça normal, ok? Não desejo que ela cresça numa atmosfera cheia de vampiros e lobos, com a pressão de ser a Escolhida pela tribo. Jake, só isso que eu peço... Vamos fazê-la crescer normal, longe de tudo isso...

- Nessie... Longe de tudo o quê? – perguntei, encarando-a.

Ela deu um longo suspiro e pousou sua outra mão sob minha bochecha.

- De tudo o quê nós dois fomos obrigados a viver, sem nenhuma escolha.

Desta vez eu também suspirei, sem a mínima intenção de prolongar aquela discussão. Já havíamos tido confusões demais por hoje.

- Se você acha que é melhor assim, o quê eu posso dizer?

Ela deu um sorriso torto meio satisfeito e me deu um selinho rápido. Saímos do carro e eu a ajudei a entrar em casa, olhando de relance para meu pai, como um aviso que falaria mais tarde com ele.

- Vai me colocar para dormir, é? – perguntou ela no meu colo, sorrindo.

- Fiz isso a vida inteira, amor. – respondi, beijando a ponta de seu nariz.

Consegui empurrar a porta com o pé e colocá-la na minha cama depois. Eu sabia que precisávamos de um lugar só nosso agora e esse pensamento me atormentava cada vez mais. Fechei a luz do quarto, espiando ela se espreguiçar e se remexer na cama, para começar a dormir depois.

Meu pai estava na sala agora, assistindo distraído um documentário na televisão. Procurei Sue com os olhos, mas não a encontrei.

- Cadê a Sue?

Ele se virou e olhou para mim, com seus olhos cansados pela idade se apertando na minha direção.

- Jake? – ele perguntou meio incerto. Eu arqueei a sobrancelha.

- Sou eu pai – disse, me aproximando dele.

- Oh, aí está você. A velhice está me roubando à visão, meu filho. – comentou ele, com pesar. Eu sentei ao seu lado, colocando o braço por trás dele no sofá.

- Então precisa de óculos.\t\t 

Ele riu, como se eu estivesse contando alguma piada.

- Preciso de muitas coisas já. Sue tem sido uma boa amiga, me ajudando e cozinhando para mim.

Eu sorri, compreendendo sua preocupação.

- Então está em boas mãos. Mas me diga pai, porque eu preciso saber, como se consegue o autocontrole para parar com... Isto? – perguntei, dando a entender o que realmente queria.

- A Nessie quer mesmo isso, não é?

Assenti, e ele girou seu corpo para ficar de frente para mim.

- Não é uma coisa muito fácil, filho. Apenas alguns conseguiram isso, sem serem naturais. Porque você sabe, quando a Ameaça está longe da reserva, nós deixamos de ser lobisomens. – falou ele, com a feição concentrada.

- E... Se por acaso houver escolha, como no meu caso? Se eu deixar só o Sam como Alpha, fazendo com que Seth e Leah voltem a segui-lo, eu posso virar humano novamente, não é?

- Isso é com você e seu bando. E claro, com Sam e os outros. Mas o autocontrole vem com a força de vontade que você tem dentro de si, e a necessidade real de deixar de "nos proteger" para voltar ao seu normal. Você sabe o sangue que tem filho. – disse ele, deixando que cada palavra sua me penetrasse como uma faca.

- Pai, eu nunca vou deixar a reserva, escutou? Eu sei que sou Alpha por direito, mas se eu pudesse, nunca teria virado um lobisomem, pai. O Sam parece se dar muito bem com esse fardo, mas eu não. A Nessie e eu temos outros planos.

- Força de vontade. É a chave... Eu nunca fui um lobo, mas sei que qualquer um consegue o que quer com força de vontade. – disse ele, com seu sorriso triste para mim.

- Preciso falar com o bando. E com Sam...

Ele me segurou pelo ombro, antes que eu pudesse me levantar.

- Antes que você faça uma besteira, saia para pensar e depois volte para dormir. Amanhã você fala com Sam.

Eu olhei para meu pai com desconfiança, mas sua cara de inocência não foi por menos, como soube depois.

- Está bem... Qualquer coisa me liga, se a Nessie precisar.

Ele sorriu com carinho e pela primeira vez senti sua afeição por minha namorada.

- Ligo sim, mas não se preocupe. Eu posso estar surdo e cego, mas ainda sei cuidar de uma mulher. - e nisso ele piscou para mim.

Eu ri, porque não tinha nada pra falar depois dessa. Sai de casa com a cabeça a mil, mas não virei lobo. E por um motivo bem simples: Não queria mais vozes em minha cabeça. Porque provavelmente eles se magoariam comigo se soubessem o que eu estava pensando.