Edward caiu no sofá com Bella. Os dois me olharam com os olhos suplicantes.

- Eu... Eu não tive. Eu não sabia... Não sei o quê... – tentei dizer, vendo o olhar de Bella perder o foco. Meu Deus, eu estava contribuindo para matar aqueles seres que agora faziam parte da minha família, arrancando o bem mais precioso deles. Mas não tinha escolha também. Ela era o meu senso de direção, ela era quem me levava para onde quisesse; não eu.

- Pode nos fazer um... Favor? – perguntou Edward, com seu rosto retorcido de dor.

- Claro...

- Mantenha contato... Só pra gente saber como... Ela está.         

Eu assenti, com meus olhos fitando o chão. Eu não sabia o que dizer, nem o que fazer. Mas faria de tudo para diminuir a tristeza de Edward e Bella. Disto eu tinha certeza.

Ela desceu com os olhos meio vermelhos em baixo, marejados de lágrimas. Doeu em mim saber o quanto ela estava sofrendo por isto. Eu a ajudei com as malas e ela saiu da sala apressadamente, sem dizer nada e nem olhar para ninguém, mas eu parei na porta, e olhei para cada um daqueles vampiros que eu tinha ajudado a despedaçar por dentro. Eu sabia que para eles, os dias não seriam mais tão felizes agora.          

- Eu vou cuidar dela. – disse, tentando passar essa certeza para todos. Pude ver todos sorrindo, menos Bella, que mantinha os olhos fechados de dor.

- Muito obrigado, Jacob.

Disse Edward, na última vez que eu o vi.

Os dias se passavam lentamente em La Push agora. No começo foi difícil para todos nós, inclusive para Nessie, que não estava acostumada com a vida na reserva. Era tudo mais rústico, mais simples do que ela costumava ter. Mas ela sempre insistia que estava bem e que não poderia estar melhor. Lembro-me agora de como foi difícil quando chegamos a La Push, depois daquele dia em que ela escolheu aonde queria ficar. Estava chovendo muito, e quando comecei a dirigir rumo à reserva, ficava pensando se não seria melhor voltar e deixá-la lá, com seus pais e nunca mais voltar. Mas isto seria pior do que qualquer coisa. Ela chorava muito e fomos o caminho inteiro abraçados, com ela molhando meu peito nu de lágrimas difíceis de soltar, mas eu sabia que seriam as últimas que ela deixaria escapar. Meu pai foi totalmente receptivo, e deixou que ela dormisse comigo em meu quarto, contanto que eu continuasse a cumprir as minhas tarefas na reserva. Mas a coisa mais difícil, sem dúvida, foi quando Sam nos chamou para ter aquela tal conversa que há um mês ele disse que precisava ter, com todo o bando e as pessoas que sabiam.

- Tem certeza que eu preciso ir? - perguntava Nessie, com a mão apoiando as costas.

- Ness, tenho. O Sam disse que era para eu te levar...

- Tudo bem, mas se eu começar a atrapalhar, pode me mandar embora.

Eu ri, envolvendo-a com um abraço por trás, a fazendo apoiar a cabeça em meu ombro.

- Isso é bom... Já estou com essa dor nas costas há uma semana, não agüento mais!

- Tem certeza que não precisa de um médico? - perguntei, depositando um beijo calmo em seus cabelos presos.

Ela pareceu se inquietar com a palavra médico, e eu lembrei que seu avô era um. Beijei mais uma vez seus cabelos e comecei a levá-la para porta de casa.

- Jake, eu estou bem, não precisa me tratar feito uma criança. Vamos, já posso escutar os uivos dos lobos. - disse ela, com um sorriso terno nos lábios. Eu abri a porta para ela do Rabbit e entrei em seguida, dirigindo para a praia de La Push, onde iria acontecer a tal reunião.  

- Tem certeza que estamos no lugar certo? - perguntou ela, assim que estacionamos para ir para a praia.

Havia tochas iluminando o caminho e uma enorme fogueira iluminava a praia inteira, fazendo grandes formas no ar. Os lobos estavam lá, pude ver. Estavam todos com seus imprinting, menos Leah, Seth, Cody e Brady. Meu pai também estava lá, conversando com Sam e os outros líderes.

- Acho que é uma celebração... Mas não sei do quê. Pode ver todos ali? - disse, apontando para os garotos que pulavam uns nos outros, uivando.

- Claro. Olha, a Sue e a Emily também estão aqui! Fiquei sabendo que a Emily está grávida de quatro meses...

- Ao que tudo indica, sim. Vamos meu amor, só falta à gente. - a ajudei a sair do carro, segurando de leve sua cintura para irmos até lá. Ultimamente ela não se levantava muito, de tanta dor nas costas.

Meu celular vibrou em meu bolso. "Cullen" indicava o visor. Nessie se esticou para ler, mas eu o levei ao ouvido.

- Ness, acha que pode ir andando na frente? - perguntei, um pouco preocupado.      

- Hm, posso... - disse ela, me olhando curiosa.

Eu me virei para atender. Alice esperava ansiosamente do outro lado da linha.          

- Diga.           

- Ela está bem? Previ algo como ela sentindo dores... - disse ela, incerta.

- Dores nas costas... Mas estamos fazendo ela se sentar com uma bolsa de água quente nas costas e fazendo-a tomar apenas chás quentes, e está dando resultado.

- Carlisle pediu para você comprar um remédio para ela. Ele disse que esse estágio de gravidez é o mais difícil, ainda mais que não sabemos que tipo de... De criança ela está carregando.

- Ok. Acha que pode continuar mandando para a casa de Sue? Ah, e aquele remédio para insônia está acabando e ela está começando a se queixar novamente... Pode mandar mais um desse também?

- Posso sim, Jake. E... De resto? Ela fala de nós? - eu suspirei, temendo que essa parte chegasse como sempre acabava acontecendo.

- Hmm, não. Sinto muito...

- Tudo bem. Hm, vamos mandar, ok? Um... Um beijo Jake. Obrigada. - disse ela, meio desconcertada.

Corri para alcançar Nessie, que ainda estava na metade do caminho segurando as costas. Antes que ela falasse alguma coisa, carreguei-a como um bebê e comecei a andar mais depressa, para chegarmos à fogueira.     

- Já não estou tremendamente pesada? Tudo bem, só faz dois meses, mas olhe só para mim! - disse ela, apontando para o corpo com uma cara de repulsa. Eu beijei sua boca rapidamente, a fazendo rir depois.

- Ainda continua sexy.

- Olha, que mordomia! - disse Sue, com um olhar terno para nós dois. Nessie riu, fazendo carinho na minha bochecha.

- Ele é tão protetor. - disse ela, depositando um beijo em meus lábios depois.

Deixei ela no chão e Sue e Emily logo arrastou uma cadeira trabalhada para ela se sentar. Alguém me abraçou por trás, me fazendo assustar com gesto.

- Não me reconhece maninho? - disse a voz rouca de Rachel.

- Hey garota! - disse, me virando para vê-la com uma felicidade estampada em meu rosto. Mas havia algo de diferente nela... Ela estava mais feliz, com mais massa corporal...

- O quê o Paul andou te deixando comer? - brinquei, levando um tapa em resposta.

- Eu estou grávida, seu mané! - eu fiquei sem reação, olhando para Rachel e depois procurando aquele desgraçado que havia engravidado minha irmã mais velha.

Logo avistei ele, e ele me encarava, com um misto de felicidade e surpresa em seus olhos.

- Paul, você engravida minha irmã e nem para me contar? - eu soltei, um pouco nervoso.

- Achei que isso não seria muito legal de dizer... - falou ele, coçando a nuca, totalmente sem graça.

- Meu pai já sabe? - perguntei, sorridente.

- Vai saber! - disse ele, sorrindo também.

- Não é maravilhoso? - perguntou Rachel, me abraçando.

- Bem, você tem companhia agora. - ela me soltou, me olhando curiosa.

- A Ness também...? - dizia ela, tentando desvendar meu enigma. Eu assenti, fazendo-a dar um grito e sair correndo em direção à Nessie.

- Próximo Passo. Fazer delas mulheres honestas. - disse Paul, ao meu lado.    

- Quando? - perguntei, olhando para ele em expectativa.

- Hoje mesmo. Depois da reunião. Marquei com ela de ir à um restaurante em Port Angeles.

- Boa sorte. Acho que devo te agradecer por me livrar de uma irmã como essas... - brinquei, e ele riu.

- Me dando um presente, isso sim. Como vão as coisas com a Nessie, cara?

- Dores. Insônia. Mas até que ela tem sido forte. Não vi mais ela ficar triste e sei o quanto deve estar sendo difícil ficar longe da família.       

- Longe de vampiros? Há, até parece que ela deve estar sentindo falta.

- Você nem imagina o quanto. Ela sonha com eles às vezes e acorda precisando de carinho. - ele deu uma cotovelada em meu ombro, piscando para mim.

- Aí você atenciosamente atende aos pedidos dela e enche ela de carinho, hein? - começamos a nossa lutinha infantil como fazíamos antes, mas meu pai pigarreou tão alto, que não teve como não parar para verificar se estava tudo bem.

- Podemos começar?

Todos se ajeitaram em volta da fogueira, cada um com seu par, e começamos a ficar em silêncio, alguns segundos depois. Meu pai estava sentando ao lado de Sue e o velho Quil. Olhei para Leah de relance, mas ela não pareceu notar. Estava entretida demais observando Sam passar a mão na barriga de Emily. Sue deveria estar substituindo o marido, Harry Clearwater. Fazia sentido, porque ela sempre estava em casa nesses últimos tempos, conversando com meu pai horas e horas seguidas. Algo pareceu rodopiar no fogo e este abaixou magicamente, fazendo-nos entrar na atmosfera mágica dos lobos.

- Há uma nova era se aproximando de nós rapidamente. Um ato no passado que pareceu não nos envolver, nos fez chegar onde estamos. Está tudo em transformação, novamente. Chega à era em que um novo Guerreiro virá e provará que merece ficar para proteger nossa tribo, matando Aquele que nos impede. Mas desta vez, jovens lobos, nós não estamos mais em guerra com os Frios. Nós fizemos uma aliança com eles. - disse meu pai, olhando para Nessie carinhosamente. - Mas mesmo assim, a ameaça ainda nos tem por perto.

- Há necessidade de um de nós ser o próximo Guerreiro, Billy? - perguntou Embry, compenetrado.

Meu pai sacudiu a cabeça. Todos nós nos entreolhamos no mesmo instante.

- Não será nenhum de vocês. Mas sim os filhos que uma destas três jovens carrega. - disse ele, olhando para o velho Quil depois. Este me pareceu acenar com a cabeça para meu pai, como uma permissão para ele continuar e depois Sue fez o mesmo.

- Tenho permissão para revelar isto. Fiquem sabendo que este é um segredo que nós carregamos desde os nossos antepassados, e que essa certeza corre em nossas veias junto com o nosso sangue místico.

Há tempos atrás, ocorreu a Ephraim Black um sonho que não o deixava em paz. Este decidiu compartilhar com a tribo, para ver se o sonho o deixava e se esclarecia através dos sinais da conversa. Ele juntou seus guerreiros mais fiéis e as mulheres destes e convidou sua jovem esposa para se sentar ao seu lado, como nunca fizera antes. Todos ficaram impressionados com a atitude do Alpha, mas as mulheres se sentiram úteis naquela conversa e agradeceram Ephraim depois, lhe prometendo uma coisa.

Ephraim se sentou com a sua mulher e começou a contar seu sonho, um pouco apreensivo com esta atitude inovadora, mas sabia que no fundo, já era a hora.

- Eu venho sonhando, meus jovens amigos e amigas, com um sonho muito perturbador há um mês. Creio que preciso passar ele para vocês, assim os Deuses me enviarão outros sonhos depois. - todos os guerreiros assentiram, esperando pela profecia do Alpha.

- Acordo em nossa floresta, mas em tempos mais estranhos, pois todos usam panos demais para cobrir seus corpos e vivem em grandes casas feitas de madeira. Então sonho com uma criança, vinda da tribo, mas que possui o sangue dos Frios em seu corpo. Creio que este é um aviso, que muito adiante, viveremos em paz com nossos inimigos, e isso me deixa profundamente feliz. Mas deixem que eu continue o sonho. Bem, esta pequena criança carrega nossos poderes e os poderes dos Frios em seu sangue, se tornando imensamente poderosa. Seu poder é tanto, que eu a vejo acabando com a vida de um Frio extremamente poderoso no futuro. Seu lobo, meus jovens companheiros, é tão grande e de uma cor tão brilhante, que pode assustar qualquer um de nós. Mas na verdade, esta pequena criança que carrega um poder imenso de um laço poderoso no futuro; é uma mulher. - o jovem Alpha viu seus companheiros se entreolharem boquiabertos e as esposas todas preocupadas, então se viu na intenção de continuar o discurso.

- Esperem. Por isso pedi que trouxessem as esposas. Porque as mulheres terão um grande papel daqui pra frente, na história Quileute. Elas nos salvarão mais uma vez dos Frios e protegerão por muitos e muitos anos a nossa reserva. - um e outro guerreiro pareceu entender o sonho do Alpha, mas muitos pensaram que ele estava delirando, que por estar tremendamente apaixonado por Hillua, sua bela esposa, queria que esta ficasse feliz ao seu lado com histórias inventadas.

Hillua, vendo a situação piorar, chamou a atenção de todos timidamente.

- Se meu marido diz que nós mulheres teremos um grande papel no futuro, por que duvidar? Fico tremendamente feliz por podemos ajudar nossos maridos enquanto estes lutam para proteger nossa reserva, e creio que vocês também. Vamos repassar isso até as gerações futuras, com a promessa de que nossas mulheres serão bem protegidas e ensinadas. Nós vamos fazer de tudo para proteger a tribo, agora que sabemos disto. - disse a jovem esposa, com sua voz doce e angelical, fazendo com que todos os guerreiros amolecerem e aceitarem o tal sonho profético.

- Daqui para frente, toda a mulher que estiver no meio mágico, deverá saber que nós somos lobos e quais são nossos segredos e lendas porque ela terá o poder de todas as gerações. E que os Deuses avisem quando estiver na hora dela chegar!  

Dali em diante, as mulheres compareciam nas reuniões e opinavam sempre que podiam, protegendo umas as outras, sabendo que nas próximas gerações seria gerada uma menina que salvaria toda a reserva novamente."