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giovana macedo
ID: 70171
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  • 07/12/2010


  • Eu lembro de quando eu tinha oito anos, e a coisa mais legal era falar que odiava ler, não tinha nenhum livro, eca, coisa de adulto, e quando chegava em casa abria aquela gaveta escondida, no fundo do armário, e pegava um livro pequeno, até fino, com as letras grandes que a minha avó me dera. Eu não só lia, devorava-o, viajava naquelas palavras. Fui a primeira a aprender a ler e escrever da classe, sempre lia os textos em voz alta, todo mundo achando cafona, e eu toda orgulhosa. Quando terminava de ler um livro, não me bastava, deitava na cama e ficava horas fazendo a minha continuação da história. E lá se ia uma tarde inteirinha. As vezes até noites em claro!

    Desde então me pego trocando pessoas por livros. Colocando sentimentos em letras, intensificando com palavras não só a alegria, mas também a dor. Com toda essa babaquiçe de alegria, dor, sofrimento, euforia, no final as estórias, textos, frases e poesias não servem só pra sentimentos. Também são ótimos baús para perversões, fantasias, desejos, traumas, fugas. Você escreve e se livra do peso que carrega sozinho, ao preço de que cada conto lido lhe marca com um sentimento que não é seu. 

    Então entramos em outra mania minha, deixar de lado meus sentimentos, esvai-los em libertadoras palavras, pra me tomar da angústia de alguém. Chorar lágrimas que não são de meus olhos, lutar batalhas impessoas, enfrentar dilemas em terceira pessoa. Alguns dizem que isso me faz sentimental, amargurada, distante e muito próxima. Quem sabe isso que me aproxime da escrita, da fala, da expressão, da leitura, do ouvir, do entender. 

     

    Quem lê tal profunda constatação dos sentimentos, mal imagina a perversão que se passa em mim. Mal imagina o quão essa minha expressão é agressiva ao desafiar-lhe os costumes, ao fazê-lo pensar em minhas palavras por dias. Não vê que o que falo e escrevo lhe perturba o mais profundo preconceito, contradiz sua mais pura religião. Lhe escuto tão bem para conhecer-te e levar-te pelo mal caminho, fazê-lo entrar em meu mundo, mostrar como é angustiante ver tudo pelos meus olhos, e afundar você no prazer consumante de minhas fantasias. De suas fantasias, de seus segredos. Esconder-lhes te trás um prazer culposo, liberta-los lhe trás um prazer pleno. Não há porque escondê-los. Lembra da minha habilidade de viver angústias alheias? Também vivo prazeres alheios, só me satisfaço em seu deleite, pra que me negar seu prazer, não é mesmo?

     Afinal, eu trago o que há de pior nas pessoas, e elas adoram;

     

                                                       Giovana Macedo ;

     



    GiMacedo mudou seu nome para Gi Macedo01/11/2011
    Gi Macedo mudou seu nome para giovana macedo17/08/2013